DW.COM 06/02/2024
O Parlamento senegalês decidiu adiar para 15 de dezembro as eleições presidenciais de 25 de fevereiro. O Presidente Macky Sall segue no poder, mas a oposição alerta para "situação catastrófica".
Os deputados senegaleses decidiram, na segunda-feira (05.02), adiar as eleições presidenciais deste mês para dezembro, uma medida sem precedentes que suscitou preocupação internacional num país normalmente visto como um farol de estabilidade na África Ocidental.
O projeto de lei foi aprovado quase por unanimidade, com 105 votos a favor e um contra, depois de os deputados da oposição terem sido retirados à força do hemiciclo.
A medida abre caminho para que o Presidente Macky Sall permaneça no cargo até à tomada de posse do seu sucessor, apesar da crescente preocupação com a erosão da democracia.
"A situação é completamente catastrófica, a imagem do Senegal está arruinada e não creio que recuperemos desta falência democrática, deste tsunami no Estado de direito, tão cedo", disse o deputado da oposição Ayib Daffe após a votação.
Mais cedo, as forças de segurança utilizaram gás lacrimogéneo para dispersar pequenos grupos de manifestantes da oposição, que gritavam "Macky Sall ditador" em frente ao Parlamento.
Protestos violentos eclodiram nas ruas de Dacar após o anúncio do Presidente de adiar as eleiçõesFoto: Seyllou/AFP
Tensão social
O ambiente de tensão instalou-se no Senegal desde o último sábado, quando Sall anunciou um adiamento da votação de 25 de fevereiro, poucas horas antes do início oficial da campanha.
Violentos protestos abalaram a capital Dacar no domingo, e dois candidatos da oposição, incluindo a antiga primeira-ministra Aminata Touré, foram detidos e posteriormente libertados.
Na segunda-feira, o Governo suspendeu o acesso à Internet móvel, alegando a disseminação de "mensagens odiosas e subversivas" nas redes sociais.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou aos senegaleses para evitarem a violência e absterem-se de todas as ações "que possam pôr em causa o processo democrático e a estabilidade", a propósito dos tumultos dos últimos dias.
Polícia foi acionada para conter protestos perto do Parlamento esta segunda-feira (05.02)Foto: JOHN WESSELS/AFP
"Plano presidencial"
Adotada um dia antes por uma comissão preparatória, a proposta de adiamento das eleições foi apoiada por deputados do partido de Sall, que não tem conseguido unir-se totalmente em torno do sucessor preferido do Presidente.
Moussa Diakhate, presidente do comité legislativo pró-governamental, afirmou que "o Presidente Macky Sall disse que cumpriria dois mandatos e manteve a sua palavra".
Mas a oposição suspeita que o adiamento faz parte de um "plano presidencial” para evitar a derrota, ou mesmo para prolongar o mandato de Sall, apesar de este ter dito que não se candidataria à reeleição.
Sall designou o primeiro-ministro Amadou Ba como seu sucessor. No entanto, com o partido no poder dividido quanto à sua candidatura, Sall enfrenta uma possível derrota nas urnas.
No sábado, Macky Sall disse que tinha adiado a votação devido a um diferendo entre a Assembleia Nacional e o Conselho Constitucional sobre a rejeição de candidatos.
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