segunda-feira, 8 de maio de 2023

ANGOLA. Cuanza Sul: Chegar ao hospital é uma verdadeira odisseia

Por  Óscar Constantino (Sumbe)  DW.COM 08/05/23

Na província angolana do Cuanza Sul, os municípios da Cela e Kilenda debatem-se com problemas relacionados com o transporte de doentes. A causa é a degradação das vias de acesso aos principais hospitais das localidades.

A má situação das vias de acesso, por onde até são obrigadas a circular ambulâncias com pacientes, está a gerar preocupação na província angolana do Cuanza Sul. Kilenda é um dos municípios onde a situação é particularmente grave. Aqui, os doentes têm mesmo que ser levados de trator até o hospital para receberem assistência.  

"Muitos pacientes não chegam com vida", afirma o padre Justino Gonga, que exerce a sua atividade no município de Kilenda. "Muitos vêm de outros lugares recônditos e temos testemunhado muitas mortes por causa do péssimo estado das vias de acesso", adianta o padre.

Justino Gonga faz questão de dar exemplos concretos: "Na zona do Morimbo é um sofrimento terrível. Está mal mesmo. Os doentes são levados de trator e morrem pelo caminho. Esse troço, até para andar a pé, é complicado. E na comuna da Kissanga Kungo, além de falta de ambulâncias operacionais, os moradores também enfrentam problemas relacionados com a falta de qualidade das vias de acesso. E pacientes morrem pelo caminho, antes da chegada ao hospital." 

Estradas no Cuanza Sul: Obras de beneficiação são anunciadas, mas não trazem melhorias desejadasFoto: Óscar Constantino/DW

Situação preocupa a população

Em declarações à DW o ativista dos direitos humanos Joaquim Teixeira confirma que o mau estado da estrada tem estado a "ceifar" a vida de muitos - uns porque sofrem acidentes e outros porque não conseguem chegar a tempo ao hospital para o tratamento médico:  

"Esse hospital precisa de uma estrada bem cuidada. Quando um paciente está em estado crítico, muitas vezes já não tem hipótese de chegar ao hospital, [significa] que essa mesma estrada está a tirar a vida de muitas pessoas", explica Joaquim Teixeira.

"Muitas pessoas quando levam os seus familiares ao hospital também se acidentam. O governo tem de olhar - com olhos de ver mesmo - para essa estrada. Isso é urgente, se é que queremos deixar de ver pessoas a morrer antes de chegar ao hospital", apela.

Obras sem qualquer efeito

Entre a população, as queixas multiplicam-se. Um cidadão, frequente utente das vias danificadas, que não quis mencionar o seu nome, contou à DW África que, por exemplo, as mulheres grávidas passam muito mal quando têm que fazer no trajeto das suas aldeias para o hospital. "Foram feitas algumas obras", lembra o cidadão, mas essas obras "em nada teriam ajudado a população."

"Uma parturiente sai da cidade e chega aqui aflita. As obras feitas em nada valeram. Se houvesse uma inspeção séria para controlar e fiscalizar as obras, [a estrada] não estaria nessas condições! Como vê, a obra nem sequer terminou", lamenta.

Outro cidadão indignado com a situação é Zeca Dias, um taxista que muitas vezes trasporta pacientes das aldeias circudantes para o hospital do município de Kilenda. Em conversa com a DW África, desabafa: "As pessoas queixam-se muito do estado das estradas por ser uma via principal de acesso ao hospital. Um doente que tem 30 minutos a uma uma hora de vida poderiam socorrê-lo em menos tempo, mas perdem muito tempo na via. Isso é inaceitável! Pedimos ao Governo que preste atenção, por ser uma via de acesso para o hospital que fica longe da cidade.” 

Sumbe, capital do Cuanza Sul: "Muitas obras, poucos benefícios de longo prazo"Foto: DW/M. Luamba

Administração local promete melhorias

Daniel Lupini, representante da administração local de Kilenda, contactado pela DW África, promete mudanças para breve, afirmando que "as zonas críticas vão ser beneficiadas":

"A administração municipal antevê vários projetos e dentro destes projetos serão tidas em conta todas as inquietações levantadas. Os estudos para as obras já foram feitos e temos uma carteira de projetos que vai abranger quase todos os sectores sensíveis para os munícpes da Kilenda", diz.

Já o administrador do município da Cela, Wako Kungo, contactado pela DW África, não quis pronunciar-se sobre o tema, remetendo-se ao silêncio.

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