sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Junta no poder no Burkina Faso expulsa coordenadora da ONU

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POR LUSA   23/12/22 

A coordenadora da Organização das Nações Unidas (ONU) no Burkina Faso, a italiana Barbara Manzi, foi declarada 'persona non grata' e pediram-lhe "para deixar o país" a partir de hoje, pela junta no poder, num país marcado pela insegurança.

"Barbara Manzi, coordenadora residente do sistema das Nações Unidas, é declarada 'persona non grata' no território do Burkina Faso. Pede-se-lhe, portanto, que deixe o Burkina Faso hoje, 23 de dezembro de 2022", lê-se na declaração do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Segundo a ministra dos Negócios Estrangeiros, Olivia Rouamba, esta expulsão justifica-se em particular pelo facto de Manzi ter decidido "unilateralmente" retirar o pessoal não essencial da ONU em Ouagadougou.

"É desacreditar, manchar a imagem do país e desencorajar potenciais investidores. É inconcebível e temos de assumir as nossas responsabilidades", disse a ministra numa entrevista na televisão nacional.

"Além destes factos, soubemos que a Sra. Manzi estava a prever o caos no Burkina Faso nos próximos meses. Não sabemos em que base ela pode fazer isso. Estão a ser feitos grandes esforços ao nível da segurança e a ONU deve formar uma estrutura de apoio", acrescentou a ministra.

Desde 2015, o país tem lutado para enfrentar ataques de grupos rebeldes ligados à Al-Qaida e ao grupo extremista Estado Islâmico que já mataram milhares e forçaram cerca de dois milhões de pessoas a fugir das suas casas.

Rouamba, contudo, reforçou a diferença entre "a pessoa da Sra. Manzi e a ONU", organização com a qual o Burkina Faso "mantém sempre uma muito boa cooperação".

Uma fonte diplomática confirmou à agência France-Presse que uma "longa lista de recriminações" tinha levado "a diplomacia do Burkina Faso a assumir as suas responsabilidades".

Além do pedido de retirada de pessoal não essencial, Manzi é também acusada de uma "tentativa de influenciar negativamente" e de "interferir nos assuntos políticos do Burkina", de acordo com esta fonte.

A expulsão acontece dias após dois cidadãos franceses que trabalhavam para uma empresa do Burkina Faso terem sido expulsos por suspeita de serem espiões.

O Burkina Faso não é o primeiro país da África Ocidental a expulsar um funcionário da ONU este ano.

Em julho, o Mali, vizinho do Burkina Faso, também envolvido numa grave crise de segurança, expulsou Olivier Salgado, o porta-voz da Missão das Nações Unidas no Mali (Minusma), por publicar o que a junta no poder disse ser "informação inaceitável" na sequência da detenção de 49 soldados marfinenses em Bamaco.

Manzi, que era também coordenadora humanitária da ONU, estava no Burkina Faso desde agosto de 2021. Apresentou as suas credenciais ao ex-presidente Roch Marc Christian Kaboré, que foi derrubado em janeiro de 2022 por um golpe militar.

O Burkina Faso é governado desde o final de setembro pelo capitão Ibrahim Traoré, autor de outro golpe militar.

O seu primeiro-ministro, Apollinaire Kyélem de Tembela, disse em meados de novembro que queria "diversificar as relações de parceria até encontrar a fórmula certa para os interesses do Burkina Faso".

Disse também que "certos parceiros" nem sempre tinham sido "leais", sem nomear, contudo, nenhum país.

Entre os novos parceiros previstos, a questão de uma possível aproximação à Rússia surgiu no Burkina Faso desde o golpe que levou ao poder o capitão Ibrahim Traoré.


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