Por: Filomeno Sambú JORNAL ODEMOCRATA 24/09/2022
As mulheres revendedoras de legumes (vulgarmente conhecidas por bideras) exortaram o governo a apostar seriamente na produção e potencialização de setor agrícola e das infraestruturas, como defendia Amílcar Cabral durante da luta de libertação, como um dos desafios para desenvolver o país e garantir que a Guiné-Bissau saia da crónica dependência de importação de produtos alimentares.
Algumas bideras foram ouvidas pela nossa equipa de reportagem para falar dos 49 anos da independência da Guiné-Bissau, sobretudo dos progressos conseguidos nos setores da agricultura e do trabalho que deve ser feito para melhorar os aspetos do comércio e a feira de legumes.
A Guiné-Bissau proclamou unilateralmente a independência a 24 de setembro de 1973, pela voz do lendário comandante João Bernardo Vieira, depois de 11 anos de luta sangrenta contra as forças portuguesas.
Uma das bideras no mercado improvisado de Bairro d’Ajuda (Espaço Verde), Decoliciana Malú Mango, defendeu que a aposta de Amílcar Cabral nas infraestruturas e na potencialização do setor da Agricultura deve ser encarada pelo Estado guineenses como um dos desafios para desenvolver o país e garantir que a Guiné-Bissau saia da “crónica dependência”.
“Amílcar Cabral dizia que cada um assumisse o que sabia fazer e que ninguém fosse egoísta. Quem fosse mecânico, agricultor, motorista ou eletricista… que ocupasse da sua profissão para desenvolver o país. É sim, uma brilhante ideia que esse homem nos deixou, mas o sonho caiu e o país está em apuros”, afirmou e defendeu que é urgente apostar na agricultura.
Decoliciana Malú Mango não poupou críticas aos sucessivos governos que acusa de terem abandonado o setor da agricultura e colocado o povo na dependência, para sobreviver, porque “um país que aposta e vive da sua própria agricultura consegue desenvolver-se e resolve muitos problemas sociais”.
“O povo guineense é dependente de ajudas de outros países, não obstante ter uma terra verde e arável para produzir as quantidades de produtos que forem necessárias”, lamentou.
Defendeu que é urgente colocar o setor da agricultura no centro das preocupações, investir nas pequenas atividades de rendimento das mulheres, construir infraestruturas comerciais de grandes dimensões em Bissau e nas regiões para desenvolver o setor, porque o comércio não pode continuar a ser praticado nos “becos”.
A vendedeira pediu às autoridades que estabeleçam planos de cooperação em matéria da agricultura com países potencialmente conhecidos nesta matéria, bem como a adquirir máquinas agrícolas e motobombas para as horticultoras, para mecanizar o setor.
“Tendo os meios necessários disponíveis, as mulheres podem produzir em grande quantidade e deixar de importar produtos”, afirmou, para de seguida revelar que mais de noventa por cento dos produtos agrícolas, frutas e legumes, consumidos na Guiné-Bissau são importados.
“Por exemplo, a cebola, a cenoura, a beterraba e outros vêm de Dakar, Ziguinchor, Marrocos. Os produtos que o nosso país tem produzido com frequência nos últimos tempos são: quiabo, djagatu, pepino, badjigui e um pouco pimenta”, descreveu., para se seguida alertar que estão a correr sérios riscos de ficar em casa, se a situação se mantiver, por falta de frutas e legumes, uma situação que diz derivar-se do mau cultivo e aumento dos preços desses produtos no mercado externo.
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