Por Jorge Herbert
Há poucos dias, o Ministro da Educação veio falar sobre a possibilidade de inclusão da língua árabe no sistema de ensino guineense, o que provocou uma onda de indignação de muitos guineenses, autênticos guardiões dos valores e princípios inculcados por cinco séculos de colonização.
Se o Ministro foi infeliz na forma de comunicar essa intenção, o Presidente da República, numa tentativa de serenar esses ânimos e fugir da acusação de tentar islamizar o país, foi desastroso a rejeitar essa possibilidade de introdução da língua árabe no ensino guineense, com a garantia de um veto pela sua parte, alegando a laicidade do Estado guineense!
O Presidente da República ao fazer essa declaração, misturou o ensino de uma língua com a religião. Até diria eu que fez bem em misturá-los, porque sim, é de um grupo de guineenses que praticam determinada religião, os principais interessados no ensino/aprendizagem da língua árabe, de que estamos falar.
Sr. Presidente da República da Guiné-Bissau, laicidade e laicismo significa a ausência da participação do Estado em assuntos religiosos e vice-versa. Quer dizer que nenhuma religião é favorecida nas suas atividades pelo Estado. Ora, quando os católicos e restantes guineenses estudam no sistema de ensino guineense na língua com que também rezam, o que impede que os muçulmanos aprendam dentro do sistema de ensino e de forma opcional, a língua com que rezam?! Não podemos fechar os olhos e negar a realidade, que as etnias que praticam o muçulmanismo constituem a maioria do povo guineense! Não podemos esquecer que, um dos graves problemas que a sociedade guineense enfrenta, é a escravização das crianças muçulmanas aliciadas para a aprendizagem do Alcorão, dentro e fora da Guiné-Bissau... A inclusão de Árabe como língua opcional no nosso sistema de ensino, não só poderia ajudar a minimizar esse problema, como acho tratar-se de um direito dos povos que constituem a maioria dos guineenses e que se expressam ou querem expressar-se e rezar em língua árabe...
Caro Presidente da República da Guiné-Bissau, onde está a laicidade do Estado guineense, quando o Estado participa diretamente na organização da peregrinação dos muçulmanos a Meca e não o faz com mais nenhuma outra religião praticada na Guiné-Bissau?! Onde reside a laicidade do Estado, quando membros do governo participam na oferta de toneladas de açúcar e arroz aos muçulmanos, no início do Ramadão, mas não oferecem nem um só cabaz de Natal à uma família cristã na época natalícia?!
Sr. Presidente da República, no exercício do seu cargo, não pode esquecer que a defesa dos direitos do povo e a sua independência de atuação deve nortear as suas atuações. Julgo que, por receio de mais indignação popular com impacto na sua popularidade, levou-o a cometer um erro de avaliação, que fere gravemente os interesses de um grupo de guineenses, que constituem tão só a maioria do povo guineense, ao ponto de garantir o veto de um eventual diploma, sem conhecer os pormenores do seu conteúdo e em que moldes essa proposta chegará ao seu gabinete! Espero que repense essa posição extrema e respeite essa grande e importante fatia da população guineense...
Jorge Herbert
Concordo que foi uma declaração infeliz do mais alto magistrado da nação.
ResponderEliminarCaro Jorge Herbert,
ResponderEliminarEu sou um atento leitor e admirador dos teus escritos e intervençoes, mas desta vez, permita-me, com todo o respeito, discordar com a tua opiniao nao na forma e conteudo com os quais concordo, mas na oportunidade de o fazer neste context pos-eleitoral que cristalizou posiçoes e ainda nao se recompose completamente. Se é certo que o caracter laico do estado da GBissau nao impede que o Arabe seja ensinado como lingua segunda e opcional a semelhança de outras linguas estrangeiras, na verdade seria um erro fatal que fosse o actual inquilino do palacio rosa a faze-lo e no contexto conturbado em que ainda vivemos, facto que daria aos seus adversarios e arqui-inimigos uma arma ponderosa para minar e descredibilizar o seu presente mandato e quiça destruir todas as esperanças nele depositadas, visando a Concordia nacional e a coesao social que a nossa sociedade precisa. As palavras do Ministro foram, nao so infelizes, mas também desastrosas, demonstrando falta de bom senso, de boa leitura politica e de omissao na leitura, da interpretaçao correcta da historia recente e do contexto real que o pais atravessa. Para ser dirigente politico nao basta ter coragem politica, é preciso ter inteligencia politica para compreender como, porqué e quando devem ser implementadas reformas estruturantes num pais multidimensional. O Presidente tem razao em falar de veto, porque a proposta do Ministro nao é clara e, da forma como foi feita a declaraçao, prejudica claramente a unidade do pais e, como é sabido, a primeira funçao de um presidente é contribuir para a construçao da unidade e do bem estar dos seus concidadaos. Nha mantenhas di rispito i di ermondadi.