Alassane Ouattara, de 78 anos, anunciou na quinta-feira (06.08) a sua candidatura às eleições presidenciais da Costa do Marfim de outubro. Voltou assim atrás na sua decisão de não concorrer a um terceiro mandato, anunciada em março, que visava dar oportunidade à nova geração de políticos do país.
"Face a este caso de força maior e por dever cívico, decidi responder favoravelmente ao apelo dos meus concidadãos pedindo-me para ser candidato nas eleições presidenciais de 31 de outubro de 2020. Sou, portanto, um candidato às eleições presidenciais de 31 de outubro de 2020", afirmou.
Outtara, no poder desde 2011, diz que reconsiderou a sua posição devido à morte do primeiro-ministro Amadou Gon Coulibaly, um aliado de Ouattara que era o candidato designado pelo partido no poder. "Mas, como diz o ditado, 'O homem propõe, Deus dispõe'. Os recentes acontecimentos trágicos com a morte do primeiro-ministro deixam um vazio na equipa que eu tinha posto em prática para prosseguir e consolidar o programa de desenvolvimento económico e social para o qual depositou a sua confiança em mim", defende o Presidente.
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Alassene Outtara gaba-se de ter recuperado a Costa do Marfim, que foi atingida por uma década de crise nos anos 2000, e que sob os seus dois mandatos conheceu um crescimento económico recorde, saudado pela comunidade internacional. De acordo com Outtara, "quatro milhões de marfinenses foram retirados da pobreza" entre 2011 e 2018.
Alterações constitucionais levam a recandidaturas
Os opositores de Ouattara afirmam que o limite de dois mandatos presidenciais na Constituição o impedem de se candidatar novamente. Mas o chefe de Estado diz que os seus dois primeiros mandatos não contam, uma vez que são anteriores à adopção da nova Constituição, em 2016.
O partido da oposição, a Frente Popular da Costa do Marfim (FPI), classifica a decisão de Ouattara como "deplorável". O porta-voz da FPI, Issiaka Sangare, acrescentou ainda que "a Costa do Marfim poderia ter dado outro sinal que permitisse que a democracia continuasse".
Alpha Condé |
Mas os opositores entenderam a alteração como um estratagema para reiniciar o contador dos mandato presidenciais, permitindo-lhe candidatar-se novamente.
Depois de meses de silêncio, o partido Rally do Povo Guineense (RPG) anunciou na quinta-feira (06.08) Alpha Condé como seu candidato formal. Por seu turno, o Presidente, de 82 anos, reconheceu o pedido mas ainda não se comprometeu oficialmente.
"Se querem que aceite a vossa proposta, têm de se comprometer a fazer do RPG o que ele era, um partido que não se esquece de ninguém", disse Condé aos delegados do partido, referindo-se às mulheres, aos jovens e aos pobres.
Mão de ferro
Condé tem enfrentado um movimento de protesto em massa, e as críticas dos Estados Unidos e da antiga potência colonial França. Os confrontos mortais desde outubro, perante a possibilidade de Condé concorrer a um terceiro mandato, ceifaram dezenas de vidas.
O antigo líder da oposição tornou-se o primeiro Presidente democraticamente eleito da Guiné em 2010, tendo sido reeleito em 2015. Mas os críticos afirmam que se tornou autoritário, intolerante à dissidência e cada vez mais tentado a empunhar amão de ferro.
Condé tem sido "tão decepcionante", disse o líder da oposição Cellou Dalein Diallo, antigo primeiro-ministro, no início deste ano. Ele criou "uma república das bananas - uma ditadura em tudo menos no nome", disse Diallo.
Uma aliança de partidos, sindicatos e grupos de base que se opõem à alteração da Constituição também proferiu um juízo igualmente brutal no início deste ano. "Tomou-se por Mandela mas decidiu tornar-se Bokassa", disse, referindo-se a Jean-Bedel Bokassa, o antigo presidente da República Centro-Africana que se declarou imperador.
DW
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