quinta-feira, 2 de julho de 2020

Cientista Delfim da Silva kuma👇


Prezado camarada,

Eu acho que viste o "filme" parlamentar, todo. Refiro-me ă sessão parlamentar, histórica, de ontem, dia 29 de junho em Bissau.

Ă medida que a sessão parlamentar decorria, estava eu a lembrar-me do meu texto-proposta de 20 de março de 2019, a "pedir" ao PAIGC para ser um pouco mais realista.

Passo a resumir, já a seguir, o que, nessa altura, eu defendia: uma vez que nāo obteve a maioria absoluta naquelas eleiçőes legislativas de 2019, sugeria ao PAIGC (naquele meu texto) que adotasse um pragmatismo político inteligente.

Eu sei que ser pragmaticamente inteligente, năo é uma coisa fácil. Mais do que a razão, é, muitas vezes, a emoção que acaba por falar mais alto. Mas longe de ser impossível, essa minha "proposta" de então, era mesmo uma opção disponível, racional.

Apreensivo com as consequèncias políticas da euforia dessa "maioria relativa" de março de 2019, "pedi" ao PAIGC para também convidar o Madem G-15 e o PRS para, todos juntos, garantirem a sustentabilidade de um Executivo que, impreterīvelmente, deveria ser projetado num horizonte de legislatura (2019-2023).

Por quê? Porque o MADEM G-15 e o PRS não deveriam, de maneira nenhuma, ser considerados pelo PAIGC como "inimigos inerentes", isto é, como formaçőes politicas intrínsecamente "inimigas", com os quais era proibido estabelecer compromissos.

Ao contrário: o MADEM G-15 e o PRS podem ser - e é normal que assim sejam - circunstancialmente (isto é, conjunturalmente) partidos adversários do PAIGC (note-se: não como inimigos permanentes), mas todos eles, certamente, estariam disponiveis para articular parcerias estratégicas em nome do interesse nacional, isto é, para juntos promoverem o bem político comum.

É claro que a definição desse bem comum guineense - se for bem entendido - não pode constituir um privilégio apenas do PAIGC: tinha de ser concebido, construído e interpartidariamente apropriado e implementado. De aí, o imperativo de um diálogo interpartidário e, também, o imperativo de uma partilha interpartidária de responsabilidades no Executivo.Era assim que eu via as coisas naquele mês de março de 2019.

É claro que eu não fui ouvido, e, como depois se viu, as coisas tomaram um outro rumo político.

Sublinho: defendia eu - na altura - que o PAIGC deveria abrir-se nāo apenas ao partido APU. É claro que obter o apoio do partido APU é muito importante, sem dúvida. Mas esse apoio não seria suficiente, nem técnica nem politicamente para fecundar uma legislatura que se queria pacificadora da classe política bem como da sociedade civil; reformista do Estado constitucional, e desenvolvimentista na esfera económica e social.

É disso que eu me lembrei enquanto seguia a sessão parlamentar de ontem 29 de junho de 2020, exatamente seis meses depois do segundo sufrágio das eleições presidenciais. E quinze meses depois da formação daquela maioria absoluta de março de 2019, hoje já defunta.

Fonte: Abel Djassi

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