sexta-feira, 20 de março de 2020

EXPOSIÇÃO DA ECONOMIA GUINEENSE FACE À PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS COVID-19

Por Aliu Soares Cassama

A Guiné-Bissau está, como qualquer outro país do mundo, exposta às consequências do vírus dada a interdependência das economias num mundo globalizado e não tanto pelo peso das relações comerciais privilegiadas que mantém com a China.

O impacto da pandemia do Coronavírus na economia mundial é enorme. Uma estimativa feita pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento aponta para uma perda direta de 1 trilião de dólares.

Sobre os efeitos do surto na economia guineense, o mesmo circunscreve-se ao comércio, tendo em conta a dependência do país das importações. Os maiores compradores da Castanha de Caju são asiáticos (onde se situa o epicentro da pandemia deste novo Coronavírus) e esses investidores têm problemas de mobilidade e de liquidez, o que lhes condicionará vir para a Guiné-Bissau na época mais importante para a nossa economia que é a “Campanha do Caju” o que poderá ter um impacto significativo na arrecadação de receita e consequentemente o nosso tesouro público ficará ainda mais pobre.

Um outro aspeto importante tem a ver com as remessas dos emigrantes. O continente com maior número de emigrantes guineenses é o Continente Europeu (Portugal, Espanha, Inglaterra e França). Portugal, com o maior contingente de guineenses, já anunciou uma perda direta mensal de 400 milhões de Euros condicionados pelo encerramento de fábricas, de universidades, de escolas, restaurantes etc... e os trabalhadores serão pagos em 60% dos respetivos salários. Obviamente que esta medida irá reduzir o rendimento dos emigrantes guineenses em terras lusas e também irá reduzir a circulação da liquidez na nossa economia, uma vez que a maior parte das famílias guineenses depende da remessa desses emigrantes.

Uma outra vertente tem a ver com a exposição da economia guineense à economia Global. Os maiores doadores do orçamento de Estado da Guiné-Bissau são países europeus, e estes países estão a ser fortemente fustigados pelo Coronavírus. À data de fecho deste artigo a economia europeia já perdia somas avultadas em euros, ou seja, a economia europeia entrará certamente em recessão, e havendo uma recessão na economia do velho continente as economias vulneráveis como a nossa vão-se ressentir.
O nosso mercado poderá ter restrições na oferta e fazer disparar os preços dos produtos essenciais, ou seja, cesta básica (arroz, açúcar, óleo, cebolas, leite, farinha, etc...) já que todos estes produtos são provenientes dos dois continentes mais atingidos pelo coronavírus (Ásia e Europa).

No entanto, nem tudo é mau! Os países com quem mantemos relações comerciais permanentes têm uma forte estabilidade monetária (FCFA/EURO). Existe uma paridade fixa entre o Euro e o FCFA razão pela qual não haverá desvalorização entre estas duas moedas. Claro que várias moedas de mercados africanos caíram muito nos últimos dias, sendo o principal motivo o mesmo: O novo coronavírus freia o crescimento mundial, implode as cadeias produtivas e derruba os mercados financeiros.

A atividade económica na Guiné-Bissau tem andado lenta nos últimos anos e os efeitos do coronavírus podem exacerbar os constrangimentos da economia. Podemos constatar pelos dados recentemente apresentados que a nossa economia tem uma divida pública a rondar os 140 mil milhões de FCFA, dos quais 112 mil milhões são provenientes da emissão de títulos do tesouro. Havendo uma quebra na arrecadação de receitas, a nossa economia poderá caír numa situação de default (que é a terminologia inglesa para a incapacidade do país de honrar com o compromisso da divida externa). Juntando a descapitalização das finanças públicas aos efeitos do coronavírus, a economia guineense poderá arruinar-se no curto prazo se medidas contundentes não forem tomadas
Sejamos Prudentes!

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1 comentário:

  1. Sim senhor,falou quem sabe.
    Obrigado Aliu,falou um economista sério não aqueles que só apontam críticas sem apontar soluções.

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