domingo, 20 de outubro de 2019

Ussumane Grifom Silva Camará - ATTADAMUN: A laicidade do Estado foi ferida?

Por Ussumane Grifom Silva Camará

Muitas das vezes quando falamos da laicidade do Estado não a tratamos no seu conceito da não interferência do Estado nos assuntos religiosos e/ou da não sobreposição duma religião à outra, mas sim buscamos padronizar as atualizações (e/ou usos e costumes) religiosas à civilização ocidental e, esquecemos que a própria civilização ocidental tem no cristianismo como base principal. Ou seja, ao mesmo tempo que estamos a condenar a sobreposição duma religião (seus usos e costumes) à outra, estamos a fazer o contrário: sobrepor uma religião à outra. Não sei se faço entender?

"As pessoas padronizam em paradigmas ocidentalizadas o que se chamam de modernidade, mas esquecem que existem em cada espaço e grupo seus modos convencional de vida", disse um irmão meu.

O exemplo claro desse erro de julgamento é a questão levantada por Miguel de Barros: porquê se permitiu aos rapazes o uso de calção e às meninas se exige vestes mais compridas. É tão redutor o entendimento de quem pensa que na cultura islâmica o homem é tratado de igual modo a mulher, e esse tratamento inclue o vestuário.

Ora pois, na cultura islâmica veste decente para os homens é no mínimo até aos joelhos (homi pudi rassa ku kalson ku tchiga djudju) e, enquanto que para os mulheres veste decente é a que vai até os pés (mindjer ka pudi rassa ku ropa ku ka tchiga pé). E, esse da reza é, também, aplicável no dia-a-dia: homi pudi sardia ku kalson té na djudju, má mindjer ka pudi sardia ku ropa ku kaba na djudju. É também laicidade conhecer e respeitar as regras de cada religião.

Sendo a Attadamun uma instituição religiosa muçulmana (como tantas outras cristãs que existe no país) tem a liberdade de garantir que dentro do seu espaço seja respeitada as regras islâmica. Isso não é descriminação, não. Quem lá vai, seja para estudar ou não, deve saber que vai entrar numa instituição que tem seus princípio, ou respeita ou não vai! Simples!

Só porque a Guiné-Bissau é um país de civilização ocidental, consequência da colonização portuguesa (na época Estado cristão), por isso os muçulmanos da Guiné-Bissau são obrigados adotar a cultura ocidental, se eles se revêm na cultura oriental?

Cada comunidade tem seus modos de ser e estar, o estúpido é quem vai obrigar, em nome de igualdade dos direitos e/ou em nome da modernidade, os Fulas a pôr uma mulher régulo se comunidade Fula é patriarcal, e/ou quem vai obrigar os Budjugus a ter rei e não rainha, se a comunidade Budjugu é matriarcal, e/ou quem vai obriga-los a fazer sucessões por via de votos, se estas fazem-se por descendências! Isso é uma questão de índole sociológico e antropológico, e não jurídico! O Estado tem a obrigação de garantir que nenhuma religião (e/ou etnias) fere a outra, e não ditar seus usos e costumes.

Julgar os usos e costumes oriental baseado no entendimento de usos e costumes ocidental é um erro grave e demostra o quão minimalista é o entendimento da pessoa.

Entretanto, é repudiante qualquer ato humilhação e, se vem duma pessoa que dispõe da pedagogia como a ferramenta de vida, é mais grave ainda!

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