Por Umaro Djau
A Guiné-Bissau testemunhou mais uma marcha, este sábado, durante a qual os partidos com a maioria parlamentar exigem a nomeação de um primeiro-ministro e de um novo governo.
Pessoalmente, estou solidário com a causa, com as manifestações e com as exigências, porque a Guiné-Bissau precisa e ela se encontra numa fase de extrema dificuldade.
Todavia, permitam-me discordar com o tom usado por alguns dos intervenientes. Por exemplo, na sua alocução, o Presidente do PAIGC (e o provável nome a ser indicado para ocupar o cargo do primeiro-ministro) disse ser esta a "última chamada de atenção, última exigência pacífica que fazemos não só ao povo guineense, mas também à comunidade internacional".
As palavras "última" e "pacífica" pressupõem cenários nublosos e alternativas preocupantes. Apesar de ser incompreensível até agora a posição do Chefe de Estado guineense, na minha perspectiva, Domingos Simões Pereira deve evitar o uso de linguagens que possam conduzir o país ao abismo, com o recurso à violência civil ou doutra natureza.
Aliás, nas democracias, há só duas formas de participação cívicas reservadas ao povo:
1. Participar num processo eleitoral, votando;
2. Participar nas reivindicações e/ou manifestações, protestando ou reclamando um direito.
Portanto, infelizmente para o povo e para os partidos políticos -- já que passaram as eleições -- a única opção é continuar a protestar contra a inércia e reivindicar.
Ainda no seu discurso, DSP teceu alguns pontos que podem ser tidos como um criticismo contra a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental. Na verdade, apesar dos seus esforços teóricos, a CEDEAO parece não estar bem sintonizada, no ponto de vista prático, no tocante à crise em curso.
É muito provável que os pontos da discórdia estejam relacionados com a continuação ou não da aplicação dos compromissos assumidos no âmbito dos acordos e das adendas de Bissau-Conacri-Lomé e, sobretudo, se deve haver ou não a obrigatoriedade no seu cumprimento.
Ao assumir, repetidas vezes, a posição segundo a qual as "leis do país são para cumprir," DSP mostra claramente a sua inclinação para um novo começo que não seja condicionado aos acordos políticos que, aliás, o próprio partido se subscreveu nos últimos quatro anos. Reparem, o uso da palavra "leis" tem um significado mais profundo daquilo que nos possa transparecer. Reclama-se aqui a autonomia política do país. Mas, também, chegamos a este ponto de dependência (política e diplomática) regional por culpa própria, por consentimento.
De qualquer das formas, voltando à natureza dos discursos, cabe-nos a obrigação de reforçar junto aos nossos aderentes e seguidores a necessidade da preservação de paz social, através de manifestações pacíficas, evitando assim validar os "ensaios de golpes" de que o líder do PAIGC fala.
É esta a nova Guiné-Bissau que queremos construir para nós e para as futuras gerações.
--Umaro Djau
25 de Maio de 2019
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