[ENTREVISTA MAIO 2019] O diretor-geral do Hospital Nacional Simão Mendes, Augusto Mendes, disse que a maior dificuldade daquele que é considerado o maior centro hospitalar do país é a falta dos recursos humanos e de verbas para assegurar o funcionamento da cozinha interna. Mendes revelou igualmente que a falta de técnicos, especialistas e do pessoal menor (de cozinha e limpeza) constitui preocupações para a atual direção. Outra preocupação tem a ver com a falta de dinheiro para a alimentação dos pacientes, exceto os da pediatria, CTA, Consulta externa e estatística, que constitui a maior dor de cabeça da direção.
Augusto Mendes fez esta observação numa entrevista exclusiva ao semanário O’ democrata na qual informou que o hospital necessita de recursos humanos, de acordo com as necessidades de cada serviço. Contudo, deixou claro que para além de meios financeiros, precisa do aval ou autorização do Ministério da Saúde Pública, isto é, de determinadas aprovações do Ministério da Saúde Pública.
“Precisamos de recursos humanos, mas tudo deve ser feito com base numa recomendação do Ministério da Saúde Pública para o recrutamento de novas pessoas ou empresas de limpeza”, explicou.
Contou ainda que atualmente o hospital não tem contrato com nenhuma empresa de limpeza e as pessoas contratadas individualmente para a limpeza dos diferentes serviços do hospital, a “maioria está com a idade de ir à reforma, tendo em conta que determinados serviços devem ser feitos por pessoas mais jovens”.
Dados estatísticos revelam que Hospital Nacional Simão Mendes conta com cerca de 600 profissionais, dos quais 24 (pessoal menor) distribuídos para todos os serviços que o hospital oferece, 29 parteiras (28 efetivos) e dois técnicos especialistas em partos e uma ginecologista obstétrica (novo ingresso). Conta com 111 médicos, dos quais 18 especialistas, nomeadamente: três em cardiologia, seis em medicina geral integral, três em CTA, dois em cirurgia, um pediátrico, um pneumónologo e dois em oftalmologia. Tem ainda treze assistentes sociais.
Relativamente à alimentação, o especialista em medicina explicou que habitualmente o Ministério das Finanças desembolsava uma certa quantia em dinheiro que o diretor não revelou, para suportar as despesas das refeições que o hospital fornece aos pacientes assim como a dos médicos em serviço. Segundo Augusto Mendes, desde outubro passado o ministro das Finanças cortou essa verba.
Como solução, a direção que lidera é obrigada a redobrar esforços para poder assegurar o funcionamento da cozinha. O diretor contou que é das receitas diárias que são pagas as refeições, mas que é um valor que não consegue cobrir todas as despesas.
Revelou que a atual direção pretende para breve, estabelecer cooperação com as escolas de culinária, que passarão a enviar estudantes com experiência reconhecida para estágio, para cobrir a insuficiência do pessoal na cozinha.
O serviço de cozinha conta com 17 pessoas, das quais duas efetivas, treze contratadas e duas estagiárias. Soube o jornal Democrata ainda que a ementa varia de acordo com as disponibilidades financeiras da direção e que a mais frequente é o guisado. Há dias em que a direção disponibiliza apenas 60 000 francos CFA para alimentação.
DIRETOR RECONHECE QUE MÉDICOS PEDEM DINHEIRO AOS PACIENTES PARA TRATAMENTO
Quanto às queixas dos utentes e de alguns doentes que frequentam os serviços de cirurgia em como cada médico do HNSM estabelece o preço de intervenção cirúrgica, incluindo os kits necessários, o diretor reconhece que é uma prática que vem de há muito tempo, mas a sua direção conseguiu contornar a situação, estabelecendo um preçário único para todos os tipos de serviços cirúrgicos, que será afixado nos diferentes serviços e pontos estratégicos de forma a fazer com que os utentes tenham informações.
“Acreditamos que o preçário único estabelecido pode ajudar a resolver certas situações e acabar com a desorganização e más práticas enraizadas neste centro hospitalar”, observou, tendo, no entanto, esclarecido que nos últimos tempos foram definidos preçários que incluíam os custos dos materiais, porque facilita os utentes a identificarem o preço exato de uma determinada intervenção cirúrgica. No dia em que o paciente é submetido à intervenção médica, o médico só vai ser informado porque terá todos os materiais registados na sala.
“Antes pagava-se e só depois é que os médicos faziam uma lista dos materiais a serem comprados”, disse o diretor Augusto Mendes.
Com a nova estratégia definida pela direção do HNSM, o pagamento passará a ser efetuado através de uma caixa, “o médico não pode usar as instalações públicas para tirar proveitos pessoais, se quiser proveito pessoal que abra a própria clínica”.
Considerou a relação com os três parceiros internos do hospital como boa, justificando que todos estão a trabalhar para a melhoria da situação clinica dos pacientes.
Questionado sobre informações em como ONG AIDA terá falhado em compensar os serviços isentados aos utentes em 50%, o diretor esclareceu que apenas mandam os pacientes para lhes serem aplicados descontos de 50%.
“Naturalmente, deviam fazer a reposição a favor do hospital caso contrário o hospital é que sofre. Vamos ter uma reunião com a direção da AIDA para esclarecer algumas questões. Mas sempre temos boa relação e ela tem sido uma parceira importante para o hospital. Apenas umas questões a serem esclarecidas, portanto, alguns aspectos ou equívocos”.
Para o diretor, atualmente a eletricidade não constitui preocupação para o hospital, ou melhor, o hospital tem um grupo de geradores e a eletricidade da pediatria e maternidade está por conta dos Médicos sem Fronteiras.
Soube ainda O Democrata de uma fonte hospitalar que há meses foi instalado um serviço que antes funcionava no hospital 03 de agosto, mas que agora funciona dentro de hospital Simão Mendes de uma forma independente, que é o serviço de estomatologia. Segundo o diretor, uma parte de receita proveniente daquele serviço é canalizada para a direção e outra fica para o hospital, fato que o deixa mais confortável e acredita que o novo serviço vai ajudar o hospital a atender os pacientes com fraturas de mandíbulas ou maxilares.
Graças à cooperação entre o hospital e as ONG`s parceiras, o central hospitalar em referência não tem dificuldades nem rotura de medicamentos e Kits de cesariana. Segundo disse o diretor, os kits de cesariana são disponibilizados pela ONG AIDA num armário na maternidade para, em caso de rotura, a ONG EMI fazer a reposição apόs cada parto por via cesariana, dos materiais usados e bem como de um incentivo para as parteiras. O oxigênio de 99 garrafas que está a ser usado foi requisitado à Clinica Madrugada e pago pelo governo. E garantiu a reabertura da fábrica de oxigênio do hospital para breve, tendo em conta as diligências em curso.
Por sua vez, o delegado Nacional da ONG Ajuda Intercambio e Desenvolvimento (AIDA), Vitor Madrigal, informou que no âmbito das necessidades do hospital a sua organização colocou armários em diferentes serviços do hospital com caráter de urgência, a disposição de pacientes carenciados e em estado grave. Os armários que contém medicamentos, kits de cesariana de acordo com as necessidades de cada serviço. No âmbito destas deligências, a ONG assume 50% dos custos de análises laboratoriais, raio x, ecografia, para doentes considerados carenciados e em estado grave e tudo é feito através dos critérios estabelecidos pela própria ONG.
E nega, contudo, qualquer hipótese de a sua organização deixar de repor as despesas assumidas e revelou que diariamente fazem a reposição em todos os serviços onde a AIDA assumiu isentar 50% dos custos ao hospital, mas tudo a um preço diferente do que um utente paga normalmente.
“Isto é uma informação irônica, a AIDA faz pagamentos diretos para cada caso e serviço através do carimbo na prescrição médica”, referiu.
Por: Epifania Mendonça
Foto: E.M
odemocratagb.com
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