Bissau, 28 mai 2019 (Lusa) - O bastonário da Ordem dos Jornalistas na Guiné-Bissau, António Nhaga, lamentou hoje o aumento de notícias falsas no país, condenando uma situação que "não dignifica" o país.
Lembrando que o fenómeno das notícias falsas na Guiné-Bissau está diretamente ligado à independência do país, porque as "fake news" foram elementos de sustentabilidade da luta armada, o bastonário da Ordem dos Jornalistas lamentou, contudo, que em democracia os políticos tenham entrado por essa via "outra vez".
"Isto não dignifica o país e o comportamento da classe política está cada vez mais a condenar" a Guiné-Bissau.
A tensão política na Guiné-Bissau está a provocar o aumento de "fake news" nas redes sociais, com falsas notícias da morte do presidente do parlamento e alterações a um comunicado do Governo português sobre a situação no país.
No domingo, um artigo divulgado na rede social Facebook, que depois foi retirado, dava conta da morte do presidente da Assembleia Nacional Popular, parlamento guineense, Cipriano Cassamá.
Aquela publicação seguiu-se a outras tantas, divulgadas durante a semana, que davam conta que Cipriano Cassamá estaria gravemente doente.
A falsa notícia espalhou-se rapidamente e levou a mesa da Assembleia Nacional Popular a divulgar um comunicado à imprensa na segunda-feira, no qual considera que o "palco político montado desde a imposta crise institucional com início em 2015 conheceu as mais absurdas situações e fez emergir, lamentavelmente, a parte mais vil da nossa condição humana".
No comunicado, a Assembleia Nacional Popular desmente a morte de Cipriano Cassamá e explica que o presidente do parlamento deslocou-se a Lisboa na sequência de fortes dores nos joelhos provocadas pela artrose e está na capital de Portugal a receber tratamento "e em franca recuperação, estando previsto o seu regresso para breve".
"A bem da sanidade da nossa convivência social e política, não deixa de merecer um veemente e indignado repúdio desta instituição representativa do povo, esse processo desencadeado por gente sem a mínima humanidade e respeito pela vida. O desespero não pode e nem deve constituir o nosso guia. Acima de qualquer luta política está a nossa existência humana, que deve ser vivenciada com a plena observância de valores e princípios de amor ao próximo", refere-se no comunicado do parlamento.
A mais recente vítima da tensão política que se vive na Guiné-Bissau foi o Governo de Portugal, na sequência de um comunicado emitido no sábado sobre a situação no país.
No comunicado, o Governo português manifestou "preocupação com o atraso na nomeação de um Governo na Guiné-Bissau, apesar de estarem reunidas todas as condições exigíveis" para que isso aconteça.
"Portugal recorda que os resultados das eleições legislativas do passado dia 10 de março e os acordos interpartidários subsequentes permitiram constituir uma maioria parlamentar e, portanto, garantir a viabilização do Governo", refere-se no comunicado emitido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Mas, no Facebook, começou na segunda-feira a circular uma versão alterada do comunicado que referia que "Portugal recusa e desmente de maneira categórica as informações sensacionalistas publicadas por alguns meios de comunicação guineenses nas suas edições de 25/05/2019, com uma falsa nota à imprensa adjunta".
"Portugal não participa nem estimula qualquer articulação para supostamente nomear o primeiro-ministro da Guiné-Bissau. As informações contidas naquela nota têm sido elaboradas, como é habitual em sede de PAIGC, sem contrastar com o gabinete de imprensa do Governo de Portugal", pode ler-se no falso comunicado a circular nas redes sociais.
António Nhaga considerou também como uma "situação vergonhosa" alterar o conteúdo de uma declaração de um Estado.
"Isso não nos dignifica enquanto guineenses", disse.
Outra vítima das "fake news" nas redes sociais é a imagem da Rádio Televisão Portuguesa, que está constantemente associada a notícias que não deu.
Este mês, as redes sociais divulgaram também informação sobre a morte do chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, Biagué Na N'Tan, que se encontrava fora do país a receber tratamento médico.
António Nhaga disse também à Lusa que a Ordem dos Jornalistas vai organizar uma conferência sobre "fake news" em junho no país para debater o impacto negativo das notícias falsas.
DN
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