O desempenho dos gestores do sector empresarial do Estado continua a merecer objeto de análise, tendo em conta práticas de gestão reprováveis do passado que arruinaram diversas empresas públicas, tais como: DICOL, SILO DIATTA, SOCOTRAM, ARMAZENS DO POVO, etc…) fruto de grandes investimentos com dinheiro do povo guineense e que foi mal-usado e/ou desviado para fins contrários aos objetivos preconizados àquelas unidades.
Durante muitos anos, não houve rigor e nem cultura da prestação de contas por parte de gestores públicos, o que , associado à impunidade, levou estes a fazer o que quisessem à margem das regras de gestão, por não temerem qualquer punição, mesmo tendo a noção que os atos praticam lesava o interesse público, com elevados prejuízos para o Estado.
Esta tendência ainda se mantém e ninguém se importa com os prejuízos que essa gestão ruinosa causa ao Estado e consequentemente aos cidadãos contribuentes. Todos querem enriquecer rapidamente e ninguém está preocupado com os resultados das empresas no final do exercício económico ou ano fiscal.
Sabemos nós que as empresas, para sobreviverem, precisam de satisfazer as necessidades dos seus clientes. Muitos ainda pensam que o lucro é que determina o que é uma empresa e que a principal preocupação desta deve ser o consumidor. Como dizia o guru da gestão Peter Drucker, é o consumidor que determina o que é uma empresa.
As empresas públicas devem também maximizar lucros. Um gestor de uma empresa pública deve, ao contrário do que muita gente pensa, preocupar-se com o bom desempenho da sua unidade produtiva na perspetiva desta obter bons resultados.
Há algumas dessas empresas que têm um grande potencial económico mas que não têm atingido o nível de receitas que delas se espera, privando o Estado de importantes rendimentos que poderiam ser obtidos se as mesmas fossem geridas com critérios de gestão baseados na transparência e na prestação de contas, como acontece em qualquer parte do mundo.
Para que o setor empresarial do Estado seja mais transparente, proponho a privatização de algumas empresas públicas, o que permitirá o aumento da eficiência, produtividade e competitividade da economia como um todo e dessas empresas em particular, permitindo ainda criar novas oportunidades de negócio, atrair investimento privado, modernizar o tecido empresarial, reduzir o peso do Estado e da dívida pública na economia. É evidente que as privatizações podem gerar desemprego através da possibilidade de despedimentos de alguns recursos dispensáveis, uma vez que os privados que compram as empresas públicas tenderão naturalmente a cortar nos custos.
No setor privado, a incompetência e a falta de honestidade levam ao despedimento. No setor público, isso não acontece. Esta situação tem permitido abusos inqualificáveis.
Nas empresas públicas continua a existir uma cultura de facilitismo e de irresponsabilidade. Ninguém é obrigado a provar a sua competência nem a justificar abusivas ausências ao trabalho. Uma situação que tem sido ruinosa para o Estado, onde o absentismo e o comportamento irresponsável chegam a ser premiados.
Se o governo quiser tornar as empresas públicas mais atrativas aos olhos dos investidores, terá de fortalecer a sua saúde económica e melhorar a qualidade dos serviços prestados.
É preciso trazer os melhores quadros para as empresas públicas, ou seja, pessoas que possam promover vantagens competitivas e comparativas, transformando conhecimento em resultados.
O Governo atual é de gestão e a realidade impõe ao Estado uma intervenção mais acentuada no setor económico mas sem asfixiar o setor privado. Obviamente que não se pode entregar tudo ao setor privado. Por esta razão, é vital a atuação das empresas públicas na economia guineense, mas para que esse papel seja sustentado, parece-me que é necessário rever as estratégias atuais e definir outras que sejam capazes de garantir maior flexibilidade, rapidez, proximidade, qualidade e inovação na execução dos serviços públicos. No caso da Guiné-Bissau, as empresas públicas devem replicar as boas práticas de gestão das empresas privadas e adaptá-las à realidade organizacional pública.
Por : Aliu Soares Cassamá
Mestre em economia
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