segunda-feira, 30 de julho de 2018

Mercado da UEMOA: MULHERES ‘BIDEIRAS’ QUEIXAM-SE DAS COBRANÇAS ILÍCITAS NA FRONTEIRA COM O SENEGAL

[REPORTAGEM] As mulheres vendedeiras que utilizam o mercado transfronteiriço de animais instalado no setor de Bigene, região de Cacheu no norte da Guiné-Bissau, pela União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA), queixam-se de ‘cobranças ilícitas’ e de más condições da estrada que liga o território guineense ao senegalês.

As guineenses, na sua maioria comerciantes de porcos e cabras provenientes da República do Senegal, acusam as autoridades fronteiriças da prática de cobranças ilícitas com as quais não concordaram, porque, segundo as suas explanações à nossa equipa de reportagem, são obrigadas a pagar cada semana de três mil francos CFA.

As acusações foram refutadas pelo delegado dos serviços veterinários no setor de Bigene, Adriano Malam Sanhá, que explicou a O Democrata que talvez as cobranças alegadas pelas vendedeiras têm a ver com as taxas municipais da parte das autoridades do Senegal.

Nené Gomes, uma jovem comerciante de porcos, que compra os animais no Senegal para revender em Bigene, concretamente no mercado da UEMOA, disse que no início de Maio de 2018, as autoridades fronteiriças começaram a cobrar na aldeia fronteiriça de Binacu N’din uma nova taxa no valor de três mil e quinhentos francos CFA por cada carro carregado de animais. A curiosidade é que as comerciantes não souberam precisar entre as autoridades senegalesas e guineenses quem cobra a referida taxa.

O mercado da União Económica e Monetária da África Ocidental destinado a venda de animais foi instalado em Bigene e recebe animais provenientes na sua maioria do Senegal, da Gâmbia e do mercado interno. É um espaço com um cercado de ferros com um único portão de entrada para permitir o melhor controlo.

No interior do mercado vêem-se as barracas improvisadas pelas mulheres, nas quais mantêm seus animais, esperando os potenciais compradores. Também vende-se vacas. Para as vacas foram construídas três piscinas abastecidas com a água para matar a sede aos bovinos.

O mercado tem água disponível, graças a um depósito instalado no mercado, para as necessidades básicas dos utilizadores. O mercado fica situado numa zona do Bairro Novo, concretamente na antiga plantação de cajueiros do Comité do Estado do setor de Bigene.

MULHERES CORREM RISCO DE VIDA E PERDA DOS ANIMAIS NA ESTRADA

As más condições da estrada na parte guineense provoca queda dos carros que transportam os animais do Senegal para o mercado da UEMOA em Bigene. Nos acidentes além de risco de vida que constitui para as mulheres vendedeiras, também tem as suas consequências económicas, porque as comerciantes perdem seus animais, uns morrem pela queda brutal e outros escapam e perdem-se pelas matas.

Algumas mulheres já ficaram gravemente feridas nos acidentes que, segundo dizem, acontecem com frequência na estrada em péssimas condições entre a Guiné-Bissau e o Senegal.

“Quase caímos na estrada com os carros todas as semanas, apesar de haver alguma melhoria nas últimas semanas. Registamos poucas quedas de viaturas que transportam os animais para o nosso mercado aqui em Bigene. Nas quedas os nossos porcos morrem e perdemos o nossodinheiro. A estrada não está nada boa”, conclui Nené Gomes.

O setor de Bigene dispõe do maior mercado de venda dos porcos a nível do território nacional. Clientes provenientes de todas as regiões do país visitam o mercado para comprar animais, uns para serem sacrificados nas cerimónias tradicionais, outros para a revenda em outros mercados.

Às vezes os bichos morrem pela força dos abanos dos carros, sobretudo quando entram nos 7 quilómetros em terra batida no limite fronteiriço da parte senegalesa. Dentro do território senegalês, a estrada está em boas condições, afirmam as comerciantes.

O nosso repórter teve a oportunidade de ver animais mortos entre porcos e cabras, cujas mortes foram provocadas pelas péssimas condições da estrada.

As comerciantes apelam a intervenção do Estado da Guiné-Bissau com vista a sanear a situação da estrada e das cobranças que consideram ilícitas por parte das autoridades fronteiriças, entre Senegal e a Guiné-Bissau.

Os motoristas das viaturas alinharam na mesma lamentação com as mulheres, relativamente asmás condições da estrada. Os ajudantes reforçaram as lástimas relativamente aos sacrifícios que enfrentam a cada vez que viajam do território senegalês para o guineense, com carros carregados de porcos e cabras vindos do Senegal ou da Gâmbia, de acordo com as matriculas que constatamos no terreno.

Os serviços da veterinária do setor de Bigene proibie a venda de carne de animais mortos por exaustão devido aos movimentos dos carros, no mercado da UEMOA, revelou Adriano Malam Sanhá.

ADRIANO MALAM SANHÁ ACUSA A PARTE SENEGALESA PELAS COBRANÇA

O delegado da Veterinária em Bigene, Adriano Malam Sanhá, disse que as cobrançasalegadamente tidas como ilegais podem estar a ser feitas pela parte senegalesa, acrescentando que pode estar a tratar-se de uma taxa municipal de três mil francos CFA aplicada pelas Câmaras. Testemunhou que deslocou-se recentemente ao Senegal e viu alguns avisos sobre aaplicação de algumas cobranças municipais na fronteira.

Sanhá sublinhou que da parte guineense, o serviço de Migração e Fronteiras e a Guarda Nacional cobram uma taxa de entrada, sem, no entanto entrar em detalhes sobre o valor praticado.

O Comité do Estado setorial cobra também um valor simbólico de 300 (trezentos) Francos CFAde utilização do mercado pelos comerciantes. Quem lamentou a situação das cobranças aosmicrofones do jornal O Democrata foi o jovem moto-taxista Mamadi Mané (Bá Queba) que também vende no mercado UEMOA.

Os serviços da Veterinária cobram a taxa de inspeção num valor de 200 (duzentos) Francos CFA por animal que entra no território nacional. Antes custava 250 francos cfa, mas a Direção-Geral da veterinária decidiu baixá-la. Assim como os que transportam seus animais para Bissau pagavam quinhentos francos, mas o preço foi baixado para trezentos francos CFA por porco.

O responsável da Veterinária em Bigene garante que o mercado de animais está em progresso, apontando o número de pessoas que estão a solicitar um espaço para montar seus negócios. E acredita que o mercado poderá ser uma boa fonte de receitas para os cofres do Estado da Guiné-Bissau.

O mercado é controlado pelo Comité do Estado de Bigene. Por seu lado, os serviços veterinários cuidam apenas da componente de inspeção da saúde dos animais.

VETERINÁRIA PRESERVA VIDA HUMANA E ANIMAL NO SETOR DE BIGENE

O jovem Adriano Malam Sanhá disse que o serviço estatal que representa no setor de Bigene tem como missão principal preservar a saúde animal e das pessoas que vivem em Bigene.

“Ao longo da fronteira fazemos a inspeção, prevenção e tratamento dos animais, mas o maior serviço que prestamos aqui tem a ver com a inspeção. O Setor de Bigene é o ponto de entrada por onde entram mais porcos em todo país e a partir do qual se faz a distribuição para o resto da Guiné-Bissau”, notou Sanhá.

Tal como as mulheres, lamenta a situação da estrada, que considera como sendo a maior das dificuldades que enfrentam. É um troço de sete quilómetros em terra-batida em péssimas condições, fato que condiciona muito o abastecimento do mercado.

As péssimas condições de estrada que liga o limite fronteiriço ao interior na sede do setor de Bigene provoca enormes perdas de animais e acidentes.

Os animais que saem do mercado transfronteiriço de Bigene abastecem os mercados de Bula, Canchungo, Bissau e outras regiões do país, daí a sua importância na economia nacional e dazona monetária.

CRIADORES DE ANIMAIS DE BIGENE NÃO GOSTAM DA PREVENÇÃO

Os criadores de animais no setor de Bigene só procuram os serviços veterinários no momento de aflição, ou seja, quando seus animais se encontram muito doentes, revelou Adriano MalamSanhá, fato que em sua opinião cria grandes dificuldades a sua corporação. Assim é favorecida a componente de tratamento em detrimento da prevenção, a opção mais barata.

“Não gostam de vacinar os animais com vista a preveni-los de doenças: Apenas recorrem ao nosso serviço quando os animais adoecem: Depois da nossa intervenção e do tratamento do animal, que de acordo com as normas deve-se deixar passar 15 dias para depois deve vaciná-los, infelizmente os proprietários optam por deixar o animal outra vez vulnerável às doenças invocando a falta do dinheiro para pagar as vacinas que custam entre 200 a 300 Francos CFA. Nos períodos de campanha de vacinação, às vezes as vacinas são grátis ou os criadores pagam um valor simbólico de 100 francos para cabras e 150 para vacas, isto é se a Direção-Geral da Veterinária custear a compra dos medicamentos.

A pequena cidade de Bigene não dispõe de um matadouro para o abate de animais. Porém oresponsável da veterinária no setor disse que já solicitou a administração local para melhorar a estado do mercado para poderem avançar para o abate de animais. Poder-se-á abater, por mês,uma a duas vacas. A carne de porcos é a mais consumida pelos citadinos.

Contudo, Sanhá garante que a sua instituição continuará com a sensibilização dos criadores de gado, para lhes incutir na mente de que os animais não precisam de vacina apenas quando adoecem, mas também nos períodos cujo calendário veterinário define como momentos de prevenção de doenças.

Os serviços da veterinária leva a cabo regularmente a desparatização interna e externa no setor de Bigene, mas sempre com dificuldades pela falta de colaboração dos criadores de gado.

//Jornal o Democrata

Bissau On-line

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