Uma criança não é um ativo mas, na transmissão de uma ideia, é incomensuravelmente valiosa. Lembre-se, por exemplo, da cortante imagem do pequeno corpo de Aylan Kurdi numa praia da costa turca. A criança síria de três anos de idade estimulou uma discussão em torno da crise dos refugiados que muitas vozes não tinham conseguido até então.
Talvez seja por isso que, quando começaram a surgir as imagens de crianças a serem separadas dos seus pais, no Texas, a fotografia acima ganhou o seu espaço, mesmo não estando relacionada com o assunto.
A imagem foi tirada num protesto que teve lugar no dia 10 de junho, em Dallas, contra as políticas de imigração norte-americanas, mas não se trata de um caso real.
No âmbito do protesto, organizado por um grupo de defesa dos direitos dos latinos, os Brown Berets de Cemanahuac, foi criada uma espécie de jaula onde estavam algumas crianças, filhos de manifestantes, para representar os efeitos da lei de “tolerância zero”.
O menino que vê na fotografia começou a chorar porque, alegadamente, ficou confuso com a situação, mas esteve ali apenas uns segundos, conforme explica a CNN. Pode vê-lo fora da 'cela' improvisada abaixo.
Para o olho desconhecedor, no entanto, a imagem parece mesmo (era suposto) real e foi partilhada milhares de vezes, incluindo pelo realizador e jornalista Jose Antonio Vargas ou pelo ator Mark Hamill (que depois apagou a publicação).
Quando as retificações começaram a surgir, já era tarde demais, pois o alcance da imagem já estava fora de controlo. A razão pela qual a administração norte-americana se tornou alvo de crítica - mais de 2 mil menores separados dos seus pais no espaço de cinco semanas – não deixou de existir, mas a polémica instalou-se: houve quem dissesse para não se deixarem comover com “os atores infantis”.
Esta não é a primeira vez que imagens falsas tomam conta de assuntos da ordem do dia. Recorde o caso da imagem adulterada da adolescente Emma González, após o tiroteio no liceu de Parkland, ou os vários casos de fotografias de alegados terroristas que acabam por não se confirmar.
NAOM
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