Aladje
(FIFA.com) Sábado 29 de junho de 2013.Portugal tem uma arma secreta nesta Copa do Mundo Sub-20 da FIFA. Tão secreta, aliás, que nem mesmo os torcedores portugueses parecem saber quem ela é ou de onde saiu. E não é por acaso. Ao contrário de seus companheiros de seleção, Aladje, de 19 anos, nunca atuou nas categorias de base de clubes lusos ou sequer fincou raízes no país que acolhera anteriormente seu pai, família e tantos amigos.
Nascido em Guiné-Bissau e com ascendência portuguesa, o atacante trilhou um caminho diferente de outros talentos oriundos da nação africana, como os companheiros de equipe Bruma, Edgar Ié e Agostinho Cá – todos que, por sua vez, emigraram para Portugal bem mais jovens. E depois de passar dois anos na Itália, atuando por equipes menores, somente agora ele parece dar o passo decisivo para enfim se tornar conhecido na nação que escolheu defender.
A julgar pelos três gols que marcou na primeira fase do Mundial da Turquia, Aladje está, sim, no caminho certo. “É algo natural para mim: não sou conhecido porque nunca joguei em Portugal”, explica ao FIFA.com. “Mas agora meus amigos contam que as pessoas falam de mim por lá. Ainda preciso seguir trabalhando, mas um dia as pessoas vão me conhecer melhor.”
Pode parecer um objetivo simples, mas que tem muito valor para o atacante de 1,88 metro, descoberto até tardiamente por um empresário italiano após se destacar nos campos da Academia Vitalaise, em Bissau. Foi por essa razão que, em 2011, com 17 anos, Aladje acabou não fechando com equipes portuguesas que haviam mostrado interesse em seu passe. O destino acabou mesmo sendo a Itália, no Padova.
A primeira tentativa não chegou a ser bem sucedida, e Aladje partiria então para o Chievo Verona, que o emprestaria em seguida para o modesto Aprilia. Em apenas um ano, ele deixava Guiné-Bissau e ia parar na terceira divisão da Itália, em um país com língua diferente e diante de provações as quais muitos jovens da sua idade talvez não tivessem superado.
“Foi muito difícil, porque não falava a língua, não entendia o que o treinador me pedia”, conta o jogador, que agora se diz mais tranquilo no idioma após as aulas dos últimos meses. “E além disso dava muita saudade da família, dos amigos, de Guiné. Sempre ligava para o pessoal, que me dizia para ficar tranquilo, que o primeiro ano era sempre mais duro. No fundo, sabia que este período seria importante para mim.”
Não muito longe de Roma, Aladje lutava quase sozinho para não cair no ostracismo, mas uma temporada mais animadora no Aprilia acabou sendo suficiente para que ele desses dois saltos. O primeiro veio ainda no país da bota: ele assinou com o Sassuolo, recém-promovido para a elite do país. O outro foi exatamente onde ele tanto sonhara: em Portugal, onde conseguiu, no meio da temporada passada, participar de uma espécie de teste para jogadores que ainda estavam se desenvolvendo. Com Edgar Borges já como treinador, as portas da seleção juvenil portuguesa se abriram e ele voltaria à carga já no mês de junho, no Torneio de Toulon, quando marcou três gols na campanha.
Em pouco tempo, o centroavante se tornava peça fundamental da seleção portuguesa e, com tantos companheiros vindo de Guiné-Bissau, ele rapidamente se sentiu em casa. No ataque, o entrosamento com Bruma foi arrebatador e poderia sugerir que os dois conterrâneos fossem verdadeiras almas gêmeas. Longe disso. Enquanto o camisa 11 é brincalhão e está acostumado a dar entrevistas em seu país, Aladje é exatamente o oposto: tímido e de fala baixa, quase incompatível com o futebol vigoroso que apresenta nos jogos.
“Nisso sou mesmo o contrário do Bruma”, diz, quase envergonhado, se soltando apenas para falar da parceria de sucesso que vem fazendo com o atacante do Sporting – os dois já marcaram oito gols no torneio, alguns deles com assistências precisas de um para o outro. “Não tenho a habilidade dele. Ele é pequeno, rápido e faz coisas muito difíceis com a bola. Faz pouco tempo que jogamos juntos pela primeira vez, mas já estamos no entendendo melhor, e isso é bom para a equipe.”
Para a equipe e para o próprio Aladje, que vai, assim, construindo aos poucos seu próprio caminho com a camisa de Portugal e aumentando as chances de realizar alguns daqueles sonhos simples que sustenta. “Ainda quero um dia jogar em Portugal. Seria bom estar de volta para perto da família e dos amigos”, confirma ele, que parece mesmo não se importar com a “fama” repentina. “Quero é ficar conhecido pelo que faço dentro de campo.”
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