Contudo, assegurou que o governo, em particular a instituição que dirige, está a trabalhar dia noite juntamente com os parceiros para colocar os Kits no país, bem como capacitar os agentes sobre o uso dos materiais. Revelou durante a entrevista que o governo conta com o maior número dos Kits que chegarão da Nigéria, mas os mesmos devem ser atualizados, ou seja, compatibilizados os seus Software a fim de permitir a compressão mais rápida dos agentes recenseadores.
“Eu lanço aqui um apelo aos partidos políticos para deixarmos já de lado esta questão da desconfiança. O nível da desconfiança está elevadíssimo no nosso seio, mas é bom saber desde já que tudo aquilo que fizemos até aqui não viola nenhuma lei. O governo está a trabalhar com grandes dificuldades e estamos apenas a pedir aos nossos parceiros que nos ajudem com as promessas feitas”, assegurou a governante.
Ester Fernandes avança, entretanto, que o executivo pretende fazer um “recenseamento de raiz e biométrico” e não manual melhorado, tendo sublinhado que é preciso compreender que tudo isso tem as suas dificuldades e os seus custos e as suas exigências.
O Democrata (OD): Ministra, faltam poucos dias para o início do recenseamento eleitoral. O governo já reuniu as condições técnicas e financeiras para iniciar o registo eleitoral no próximo dia 23 de Agosto?
Ester Fernandes (EF): Governo desde o primeiro dia em que foi empossado deu início a um grande trabalho para que se faça o recenseamento eleitoral na data marcada. Sabemos todos que houve imensas promessas da parte dos parceiros internacionais em apoiar o processo e resta a efetivação dessas promessas, aliás, o governo que sucedemos é que acabou por adiantar algumas verbas para os trabalhos do recenseamento eleitoral.
Apesar de todas as dificuldades registadas neste momento, em particular no concernente às promessas feitas pelos parceiros internacionais em ajudar o país financeira e tecnicamente, nada ainda se vê no fundo de túnel. Então, o governo resolveu disponibilizar algumas somas e com as quais a administração territorial está a trabalhar no processo da sensibilização das populações sobre o recenseamento eleitoral. Iniciamos o processo de sensibilização. Pode não ser de maneira desejada, mas estamos a fazer a nossa parte.
Os jovens estão neste momento nas ruas a propagarem a mensagem do recenseamento que iniciará no próximo dia 23 do mês em curso. Sabemos perfeitamente que faltam nove dias, mas nós continuamos a trabalhar para que no dia 23 de agosto possamos iniciar os trabalhos. Fizemos a demostração com os nossos irmãos-amigos da Nigéria dos Kits que trouxeram para tentar dar uma ajuda ao nosso país. Aliás, como se sabe até aqui a Guiné-Bissau tem sido um país pedinte em vários domínios, mormente no concernente a realização das eleições.
Estamos a trabalhar para que estas eleições não corram da mesma forma que as anteriores, mas infelizmente temos que estar outras vezes a espera que nos venham dar as mãos. Então, foi neste âmbito que surgiu o governo da Nigéria, numa missão dos presidentes das Comissões Nacionais de Eleições da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) e trouxeram com eles uma demostração dos Kits, bem como as promessas deixadas de possíveis ajudas que poderão dar neste domínio.
Lembro que o ministério ontem esteve reunido com o Embaixador da Nigéria e saímos de lá com a esperança de que na verdade a demostração feita já recebeu o pedido do governo para que a Nigéria nos dê ajuda neste sentido. Agora estão a ultimar os seus trabalhos para poder vir à Guiné e dar-nos esse apoio. Também estamos à espera, outra vez, de ajuda do Governo de Timor-Leste, mas que ainda demora chegar. Estavam a ultimar os seus trabalhos internos, dado que tinham saído também das eleições e precisam de se organizar para depois estender ajuda aos seus irmãos guineenses.
Tivemos ontem a informação no Conselho de Ministros, através do primeiro-ministro, que o Timor-Leste já se disponibilizou em vir apoiar a Guiné. Neste sentido, enviará um Comissário que ficará na Guiné-Bissau para acompanhar-nos neste processo até ao final dos trabalhos das eleições legislativas. Portanto, apesar das dificuldades, mas isto nos deixa todos animados, com a esperança de que teremos as eleições no dia 18 de Novembro e que o processo começará com o recenseamento, a 23 de agosto.
OD: O governo aceita o modelo do cartão de eleitor proposto pela CNE, através da Rede de Estruturas de Gestão Eleitoral na África Ocidental (RESAO)?
EF: O Governo aceitou este modelo, porque o governo não tem Kits. Por isso aceita apoio de quem vem ajudar o país. Este governo é o resultado do acordo facilitado pela CEDEAO e a estrutura que esteve aqui a fazer a demostração veio da CEDEAO. Ou seja, veio de um país (Nigéria) que no passado deu-nos ajuda, ou melhor, nos socorreu. É bom lembramos que no momento de grande aflição vieram a Nigéria e o Timor-Leste e estes dois países estão outra vez na linha de frente para nos dar a mão. Agora na verdade, faltam apenas alguns acertos técnicos que terão que ser feitos imperativamente entre os técnicos do Gabinete Técnico de Apoio ao Processo Eleitoral (GTAPE) e os técnicos que virão com o “Software”, para poder ser compatibilizado para iniciar as formações dos jovens agentes recenseadores.
Já temos uma média de mais de quatro mil jovens que serão recenseadores e supervisores. O ministério já deu instruções ao GTAPE para entregar as listas ao grupo de júri que irá selecionar, nos termos dos requisitos que foram pedidos, as pessoas que serão indicadas ou tidas como aptas para fazer esse trabalho.
OD: As brigadas de recenseamento já foram definidas, são quantas?
EF: Na verdade as brigadas não foram formadas ainda, porque a formação das mesmas depende dos Kits. A condição Sine qua non para a formação é a existência do “Software” que ainda não temos e estamos a espera da vinda dos Kits da Nigéria, depois num momento Record serão transmitidos os conhecimentos. Também estamos a espera dos nossos irmãos do Timor-Leste que nos vão acompanhar durante este processo, através de fornecimento dos Kits.
OD: O Governo conta essencialmente com os Kits que chegarão da Nigéria e não se sabe se até a sexta-feira desta semana podem chegar ou não para depois serem atualizados, depois formar os agentes de recenseamento sobre a utilização destas matérias. Senhora ministra, tecnicamente é possível iniciar o registo dos potenciais eleitores no próximo dia 23 de agosto?
EF: Como deve calcular está a falar com uma ministra e não um técnico de GTAPE… mas eu devo dizer que se fizer esta pergunta a um técnico de GTAPE, de certeza que dirá que está tecnicamente preparado para começar o seu trabalho, porque tem a capacidade técnica para o efeito. Agora, não depende dele, mas sim das condições ou circunstâncias em que os Kits chegarem.
Como não temos Kits em mão, portanto nem eu e julgo também que os nossos técnicos não estarão em condições de responder essa pergunta…
OD: A Comissão Nacional de Eleições (CNE) estimou um milhão de eleitores para 2018. Na sua opinião, existem condições técnicas para recensear um milhão de pessoas no país e na diáspora no prazo de trinta dias?
EF: Eu devo dizer que a CNE é uma instituição a parte e o GTAPE é outra. A Comissão Nacional de Eleição deriva-se da Assembleia Nacional Popular (ANP), portanto é uma instituição que fiscaliza o trabalho que o governo faz. Tanto ANP e como o Governo são órgãos de soberania independentes.
Não imagina a velocidade com que este executivo está a trabalhar, sobretudo este ministério que representa o governo neste particular. Não foi o GTAPE que diz tecnicamente estava pronto para fazer as eleições, não foi! O GTAPE não foi tido em consideração em todo o processo de marcação de data de 18 de novembro… pelo menos os nossos antecessores disseram-nos isto.
O Gabinete Técnico de Apoio ao Processo Eleitoral é a condição Sine qua non para que a Comissão Nacional de Eleição entre em funcionamento no processo eleitoral. A CNE, como se sabe, fiscaliza o trabalho feito pelo GTAPE, então esta instituição (CNE) funciona como órgão fiscalizador do processo. A legislação guineense, neste contexto, está bem explicita, ou seja, separa as funções destes dois órgãos do processo eleitoral. Um trabalha no registo dos eleitores e outro supervisiona os trabalhos até publicação dos resultados eleitorais.
Sobre esta matéria, posso garantir que vamos trabalhar. Aliás, como se sabe, não trabalhamos com a projeção. Trabalhamos com as condições que temos, portanto não posso dizer se é um milhão ou não de eleitores que vamos recensear. Os nossos técnicos não falam em um milhão de pessoas, mas sim fala-se em 800 a 900 mil eleitores. Agora não podemos confirmar que vamos chegar neste registo de 2018, um milhão de pessoas.
OD: Ministro disse ha bocado que GTAPE não era tido em conta na marcação da data de eleições, então GTAPE não pode ser responsabilizado…
EF: É verdade que não foi consultado naquela altura, porque senão os técnicos que compõem esta estrutura eleitoral poderiam ter também as suas opiniões que seria sugerir o cumprimento do calendário. Pois, eles trabalham com o calendário para saber os passos que têm que ser dados para chegar a uma determinada data (cronograma) e pronunciar que até aqui fizemos o nosso trabalho e agora se pode marcar a data das eleições. Marcou-se a data das eleições, sem se ter em conta esses pormenores técnicos. Mas porque o mundo impunha-se que houvesse uma data de eleições e procurou-se essa data, no entanto, essa é a grande verdade.
Quando assumimos as rédeas de governação encontramos já uma data fixada pelo Presidente da República. A data foi marcada e não importa agora saber se foi certa ou não. O que importa neste momento é que todos nós trabalhemos para que essa data seja cumprida. Eu, enquanto a responsável desta pasta tenho dado, em conjunto com a minha equipa, passos significativos e tenho igualmente trabalhado para que cheguemos a meta e no final de tudo possamos dizer que trabalhamos e cumprimos a nossa missão.
E administrativamente fizemos já aquilo que foi possível fazer até aqui. Nós estamos a correr a atrás do Comboio para fazer recenseamento sem atraso e consequentemente garantir a realização das eleições legislativas na data prevista, 18 de Novembro, de fomra livre, justa e transparente. O governo com parcos meios, ou melhor, sem dinheiro está a lutar. É verdade que isto está nos afetar também, mas temos esperanças que nestes dias o governo vai desbloquear mais alguma verba para dar um imporão aos trabalhos da sensibilização no terreno.
Nós corremos todo o país e constamos que os trabalhos de sensibilização estão a andar a um bom ritmo. É neste contexto de querer fazer tudo correr bem e no tempo previsto que enviamos os megafones para as ilhas e as regiões de Quinara e Tombali, consideradas zonas mais isoladas ou de difícil acesso do país. Pessoalmente, na qualidade da ministra da tutela, desloquei-me a estas localidades para falar com os governadores regionais, que desde que foram empossados não receberem nenhum apoio para agilizar os trabalhos ao nível local.
OD: Quando é que se iniciou os trabalhos da sensibilização de população sobre o registo eleitoral?
EF: A sensibilização iniciou no dia 23 de Julho, ou seja, com o anûncio da data do recenseamento e concomitantemente iniciou-se a sensibilização que deve prosseguir até o fim do recenseamento. Na verdade, o que falta é reforço de verbas, que já estão garantidas pelas Finanças. Já demos entrada dos documentos na passada terça-feira ( 14 de agosto de 2018) e esperemos que o desbloqueamento não dure mais do que dois dias, para que possamos dinamizar cada vez mais os trabalhos no terreno tanto em Bissau como nas regiões.
OD: Fala-se na questão das chuvas que podem dificultar os trabalhos do recenseamento, sobretudo no interior do país, onde a maior parte da população é camponesa. Como o governo pensa contornar esse obstáculo?
EF: Mas o que é que nós podemos fazer contra as chuvas!? Se nós encontramos essa data já marcada e sabíamos que íamos ter as chuvas neste período, não podemos contornar o problema da natureza e aquilo que temos que fazer é apelar a todos os cidadãos guineenses para que se disponibilizem e adiram ao recenseamento para que Deus nos ajude no dia 23 de agosto, todos os guineenses com a capacidade eleitoral sintam a obrigação de serem inscritos para poderem exercer o seu direito cívico no dia 18 de novembro.
Porque é uma obrigação de todo o cidadão recensear-se para poder ter o direito de escolher quem achar que o pode representar com dignidade e conduzir os destinos deste país! As chuvas estão lá e vamos ter que enfrenta-las, então a única coisa que nos resta, como crente, é pedir a Deus que nos dê a oportunidade naqueles dias para suster o mau tempo e permitir que os seus filhos possam exercer os seus direitos, porque o recenseamento é um direito que a pessoa tem e, ao mesmo tempo, é um dever doutro lado que a pessoa deve ter na consciência para exercer o seu direito de votar.
O meu apelo vai neste sentido e como se sabe não podemos contrariar a natureza, mas temos que nos esforçar mais e mais e sermos determinantes a todo custo, mesmo que estiver a chover, temos que mostrar a nossa firmeza de que queremos mudar o país.
Estamos a trabalhar e o que nos preocupa é que tenhamos Kits e meios financeiros para fazermos os nossos trabalhos. Vamos trabalhar com os jovens e o concurso que lançamos destacou-se mais o desempenho de jovens. Pedimos que as pessoas a serem escolhidas tenham a licenciatura em Engenharia Informática e outras, pelo menos, no mínimo, 11° ano de escolaridade, para quando chegarem os Kits tenhamos jovens à altura e capazes de introduzir dados com maior rapidez possível para que o trabalho flua muito bem.
OD: Os partidos da oposição responsabilizam o governo em particular a ministra de estar a violar a lei eleitoral que indica o período de dois meses para o recenseamento no território nacional e três meses para diáspora. O Governo não teme que no futuro uma formação política concorrente impugnem processo, através de uma ação judicial, alegando a violação da lei, visto que a decisão de encurtar o prazo não foi discutido e aprovado na ANP?
EF: Eu julgo que todos nós devemos saber que este é um governo de consenso e que trabalha com imensas dificuldades, mas com um objetivo claro, realizar as eleições! E para que este país volte à normalidade constitucional, marche sobre rodas como deu sinais em 2014, eu julgo que ninguém de boa-fé poderá dizer futuramente que este governo tinha condição de fazer isto, e não o fez…
Se eu própria, ministra estou a revelar de forma franca e publicamente as dificuldades do governo, mas mesmo assim estamos todos empenhados a trabalhar para cumprir com a nossa missão, não vejo necessidade de alguém depois levantar esta questão. Como é que governo trabalharia com 60 dias para o recenseamento se tinha já a data marcada e tudo programado, portanto isto é a questão de boa-fé e o direito pede que haja boa-fé na nossa conduta e na nossa maneira de ser, tem que haver a boa-fé!
Eu lanço aqui um apelo aos partidos políticos para deixarem já de lado esta questão da desconfiança. O nível da desconfiança está elevadíssimo no nosso seio, mas é bom saber desde já que tudo aquilo que fizemos até aqui não viola nenhuma lei. O Governo está a trabalhar com a grande dificuldade e estamos apenas a pedir aos nossos parceiros que nos ajudem, cumprindo as promessas feitas.
Quando desempenhava as funções da Secretária de Estado e lembro-me que já tínhamos dado passos para que houvesse atualização de cadernos eleitorais. Na altura, fizemos alguns pagamentos e inclusive do “Software” para a manutenção dos dados no servidor central. Já tínhamos mandado algumas cartas a pedir formações sobre certas situações. Mas quando se vai fazer atualização é um processo totalmente diferente que o do recenseamento de raiz, que o governo pretende fazer.
O Governo pretende fazer um recenseamento de raiz e biométrico e não manual melhorado, portanto é bom que se saiba que isso tem as suas dificuldades e os seus custos e as suas exigências. Por isso, é que no princípio de tudo isso, quando o governo entrou em funções, houve cenários aconselhados pelos técnicos e a comunidade internacional para que tudo fosse encaminhado de forma pacífica até que o governo chegasse ao consenso sobre um determinado cenário.
Era para evitar complicações e não foi bem percebido no início, mas isto são águas passadas. E até que se escolheu um cenário, sobre o qual está-se a trabalhar neste momento. O consenso ou a boa-fé neste processo poderá ajudar para que as eleições corram muito bem. Para que o próximo governo a sair das próximas eleições possa trabalhar com a tranquilidade e cuidar dos Kits que vamos receber dos parceiros, evitando assim que em quatro anos depois não voltemos a pedir ou ficar a espera dos Kits.
Este país tem que se afirmar como um Estado normal e que tem filhos inteligentes. Nós temos pessoas inteligentes e capazes de tirar a Guiné-Bissau da situação em que se encontra. Portanto, é chegada altura de pararmos, pensarmos e seguirmos essa linha do consenso que a comunidade internacional pediu a atores políticos obedecendo-nos reciprocamente. Julgo que nenhum partido atacará o governo, sabendo que este é um governo instituído pela comunidade internacional para que, de forma consensual, se trabalhe o país, organize as eleições e dai saía um governo legítimo para conduzir os destinos desta terra.
OD: O modelo de cartão será biométrico?
EF: Sim é biométrico e haverá impressões digitais como foi demostrado. Este governo optou por cartão biométrico e não melhorado como na última eleição…
OD: Um grupo de jovens que tomou parte no último recenseamento eleitoral e que alega estar preparado para o trabalho denunciou recentemente o facto de ter sido excluído em detrimento de jovens militantes do PAIGC. Quer fazer um comentário sobre esse assunto?
EF: Disse hà bocado que os partidos políticos acusam a ministra, mas a ministra representa um governo. Eu vim num quadro e estou a trabalhar dentro deste quadro, portanto eu trabalho em nome do Governo da Guiné-Bissau. Na verdade, houve essa polémica tanto eu como os meus técnicos esclarecemos esta questão. Recebi aqui um grupo de pessoas que estava a representar os referidos jovens que alegam terem sido excluídos do processo em detrimento de outras pessoas. Quando eu cheguei aqui, cumpri apenas a lei que diz que 40 dias antes do processo, os órgãos administrativos locais devem fornecer a lista dos que constituirão a Comissão dos cinco elementos por sector para o processo do recenseamento. Eu já tinha a obrigação, e enquanto tutela do ministério peguei na lei e fiz um ofício a mostrar-lhes esta questão, ou seja, a lembrar-lhes que a lei diz isto e mais aquilo…
Vim aqui com a noção clara de que não há lugares cativos. Desempenhei aqui a função da Secretária de Estado, mas saí porque não é um lugar cativo e veio outra pessoa a substituir-me. Eu abri de forma transparente um concurso de abrangência nacional para toda a agente, isto é, em relação aos recenseadores.
É que mandei conforme a lei para que atualizassem a lista e o ofício que fiz foi remetido às autoridades nacionais. E elas, por sua vez, trabalham conforme a lei e conforme as pessoas que acharam naquele momento cumpriram os requisitos exigidos por lei. Eu não interferi, apenas mandei o ofício a fazer-lhes lembrar do que a lei diz.
OD: Tendo em conta o atraso registado neste processo do recenseamento eleitoral é possível contar com a diáspora?
EF: Estamos a contar com a diáspora conforme a lei do recenseamento eleitoral e acredito que, certamente, vão participar neste processo. Ainda ontem estivemos reunidos e esta questão foi abordada. Seria da nossa parte uma injustiça se não contarmos com os nossos irmãos ou retirar-lhes este direito. Ontem, mandamos as camisolas de sensibilização para a diáspora e neste momento está-se a trabalhar neste sentido no Senegal, na Gâmbia e na Guinée-Conakry, no quadro da campanha de sensibilização para o recenseamento.
OD: Pedia-se a inclusão de outros países da Europa, por exemplo, a Inglaterra. O governo vai contar com esses países?
EF: Claro que serão incluídos. Essa questão até foi levada ao Conselho de Ministros e diz-se durante a reunião que aquilo não devia ser levado ao Conselho de Ministros, porque é um direito que assiste aos cidadãos. No passado não se chegou a estas localidades, porque não havia as condições. Então, é preciso trabalhar ainda mais para que os nossos irmãos, que por algum motivo, estão no exterior possam exercer os seus direitos.
Nós estamos a trabalhar nesta linha e estamos a contar com a diáspora. Estamos a pedir que os meios sejam desbloqueados para que os trabalhos possam ser feitos. Ontem, estávamos a trabalhar num plano de logística em relação à distribuição de Kits, no entanto, estamos a espera para saber quantos Kits teremos em mão para podermos definir planos da sua distribuição em função das brigadas do recenseamento. Estamos a trabalhar sobre um teto e por isso não podemos avançar nada, enquanto não tivermos a confirmação dos Kits.
OD: O Governo não tem a informação sobre a quantidade certa das unidades dos Kits que serão enviados pela Nigéria?
EF: Fiz essa pergunta ontem (terça-feira, 14 de agosto) ao Embaixador da Nigéria, mas disse-me que se não estivéssemos lá naquela hora a falar com ele estaria já a trabalhar com o ministério dos Negócios Estrangeiros do seu país, de formas a obter mais informações sobre este assunto que considera de pertinente. Estamos aguardar a resposta da parte de Embaixada da Nigéria. Contudo, o nosso ministério dos Negócios Estrangeiros está a trabalhar juntamente com o da Nigéria sobre a mesma preocupação.
OD: O atraso registado neste processo tem a ver com a falta dos KITS. Onde estão os materiais ofertados pelo Timor-Leste e em que condição estão?
EF: Os Kits que recebemos de Timor-Leste estão em condições miseráveis onde estão guardados! Não podemos esconder isto, porque, infelizmente, não se mexeu para saber do estado de armazenamento dos Kits. Com aqueda do nosso governo (PAIGC) de Domingos Simões Pereira, as condições de armazenamento pioraram.
Devo dizer que existem algumas quantidades de Kits ai que possam servir para o início dos trabalhos, mas não se pode fazer nada sem a intervenção do governo timorense. O governo timorense tem o “password – palavra-chave”, inclusive se disponibilizou em dar-nos a chave do servidor. Tendo acesso ao servidor vamos ver como é que se poderá compatibilizar aqueles Kits e aproveitar os que ainda estão em condição para dar o início aos trabalhos.
Quero informar que neste momento o governo fez um bom investimento na antiga instalação da Comissão Nacional de Eleições e convido as pessoas para irem visitar aquele lugar agora. A partir deste momento, se conseguimos os Kits que sejam os nossos terão a melhor condição de conservação para serem utilizados no futuro.
O governo disponibilizou uma soma avultosa e investiu naquela instalação e julgo que dentro de dias o GTAPE vai mudar-se para aquelas instalações, enquanto se faz a intervenção nas antigas instalações. Mas o servidor será colocado nas instalações reabilitadas (antiga CNE) e terá toda a condição para funcionar. Ainda quero informar que dentro de alguns dias vamos começar a fazer já a impressão dos mapas de cartografia que foram feitos e o aparelho já está montado e até já se fez a experiência neste sentido, que funcionou muito bem.
OD: GTAPE terá apresentado um orçamento de 1,9 biliões de francos CFA para processo de recenseamento eleitoral sem ter em conta o custo de Kits previstos. Qual o orçamento global que o ministério sobre a sua alçada prevê neste momento e com quantos kits?
EF: Não está disponível ainda, mas já se trabalha neste sentido. Pelo menos, falei com o Secretário de Estado do Tesouro e garantiu que o governo já tem uma conta bancária que irá suportar as eleições. Na conta disponibilizada para as eleições será desbloqueada uma quota-parte para os trabalhos que o GTAPE vai realizar.
Como se sabe, há muitas promessas para apoiar o processo, mas nada ainda se concretizou. Só para a sensibilização, o valor orçado pelo GTAPE se estima em mais de 200 milhões de Francos CFA e desta soma apenas uma pequeníssima parte foi dispensada, portanto vamos receber dentro destes dias outra fatia para o nosso trabalho.
O governo depara-se com as dificuldades do dinheiro e mesmo assim fez esforços e conseguiu desbloquear meio milhão de dólares norte-americanos. E é dentro deste montante de meio milhão vai retirar uma parte para afetar o ministério de Administração Territorial, de formas a prosseguirmos com os nossos trabalhos.
OD: Ainda não entrou nenhum valor na conta do GTAPE?
EF: Na sua totalidade, não. Mas uma parte do dinheiro foi disponibilizada para a sensibilização, porque a sensibilização faz parte deste orçamento e a outra parte do dinheiro foi disponibilizada para cobertura dos trabalhos da maior envergadura.
OD: Senhora ministra, de acordo com a sua explicação, vê-se muitas dificuldades com que o executivo se depara neste processo, em particular de falta do dinheiro para fazer o trabalho. Os partidos criticam e falam das irregularidades cometidas pelo executivo. Na recente sessão parlamentar, a ministra foi acusada de parcialidade na condução do processo eleitoral. Qual é a sua opinião?
EF: Eu não funciono com parcialidades, mas sim com a legalidade. Fui educada enquanto jurista para trabalhar com base na lei e tenho a consciência tranquila que estou a trabalhar com base na lei. Quero apenas esclarecer as pessoas que a impressão que têm não é real, no entanto, estou a trabalhar com base na lei.
E quando se trabalha na base da lei, fixa-se nos objetivos traçados para serem cumpridos. Estas supostas críticas dão-nos mais força para continuarmos a trabalhar na base da lei.
Quero aproveitar a ocasião para apelar às pessoas que unamos os esforços e pedir a Deus que tudo nos corra bem, porque os primeiros interessados devíamos ser nós. Devemos trabalhar para ajudar o governo para que este processo tenha sucesso e não ficando a criticar! Sabemos que este governo nasceu de um consenso e por isso deve ter força de toda a população para que o barco chegue ao bom porto, então esse é o apelo que quero lançar a todo o povo guineense.
Temos que concentrar os esforços todos nos objetivos traçados pelo Presidente da República. O Presidente fixou aquela data e quer mesmo que as eleições aconteçam e nós todos somos obrigados a trabalhar para que cheguemos ao dia 18 de novembro e tenhamos umas eleições livres, justas e transparentes. Para que isso aconteça, o primeiro passo é unirmo-nos em torno do governo para que o recenseamento corra bem e que se inicie na data marcada, 23 de agosto de 2018.
Por: Assana Sambú
Foto: Marcelo Na Ritche
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