domingo, 12 de outubro de 2025

Guiné-Bissau: OAGB DENUNCIA DEGRADAÇÃO DO SISTEMA JUDICIAL

Por Rádio Capital Fm

A Ordem dos Advogados da Guiné-Bissau (OAGB) assinala hoje, 12 de outubro, o Dia Nacional da Justiça com uma avaliação crítica do estado atual do setor, alertando para “um acentuado declínio” da administração da justiça no país, mais de meio século após a independência.

Numa mensagem na sua página oficial no Facebook, assinada pelo seu Bastonário, Januário Pedro Correia, a OAGB recorda que a data celebra a transferência simbólica e formal da soberania em matéria de administração da justiça ao novo Estado em 1974, na sequência da proclamação da independência em 24 de setembro de 1973.

“Infelizmente, este ano, uma vez mais, não temos motivos para festejar ou comemorar a justiça. Os resultados dos exercícios judiciais atuais e precedentes continuam deficitários”, lamentou o Bastonário.

A Ordem considera que o sistema judicial guineense vive uma crise profunda, absolutamente "paralisado e impotente" para dar respostas aos desafios da consolidação de um verdadeiro Estado de Direito democrático, denunciando a falta de independência dos magistrados, a inacessibilidade da justiça ao cidadão comum e a subordinação do poder judicial ao poder político.

Entre os principais problemas apontados, destacam-se a perseguição e a suspensão de magistrados que decidem conforme a lei e a consciência, a falta de cobertura nacional dos serviços judiciais, custos elevados que tornam a justiça inacessível à maioria dos cidadãos, assim como a interferência política nos Conselhos Superiores da Magistratura Judicial e do Ministério Público, ausência de investimento público em infraestruturas, equipamentos e condições de trabalho, desatualização legislativa face aos desafios tecnológicos e a perseguições à advocacia e corrupção no setor judicial sem fiscalização efetiva.

“A justiça falhou a sua missão primordial de garantir segurança, equilíbrio, paz social e desenvolvimento. Falhou na defesa da Constituição, da legalidade e da legitimidade democrática”, sublinhou Januário Correia.

A OAGB critica também a falta de transparência e de um plano estratégico nacional para o setor, a inexistência de relatórios anuais de desempenho e o não funcionamento do Conselho de Coordenação e Concertação dos atores judiciários, que nunca chegou a reunir-se para debater os problemas e as soluções da justiça guineense.

O Bastonário denuncia ainda casos de prisões arbitrárias, violência contra cidadãos e violações de direitos humanos, sobretudo quando o próprio Estado é o protagonista das infrações.

“Urge mudar este paradigma — recuperar a nossa independência, impor o respeito, a autonomia e a integridade da justiça. Caso contrário, sucumbiremos enquanto atores judiciários, enquanto Estado de Direito e enquanto sociedade livre e democrática”, alerta Januário Pedro Correia, apelando à união dos atores judiciais, nomeadamente os advogados, magistrados e instituições de justiça, aos “verdadeiros combatentes pela justiça”, incluindo o PNUD e parceiros internacionais que continuam a apoiar o setor.

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