quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Guiné-Bissau. O líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, atribuiu hoje ao chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau, general Biagué Na Ntan, responsabilidade pela atual situação no país, alertando-o que está a ser usado.

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Por LUSA  24/02/22 

"O principal responsável por esta situação é um homem que eu prezei muito e que durante muito tempo me tratou por sobrinho e que tinha muita estima por mim, mas que a dado passo deste percurso decidiu enveredar por outros caminhos, que se têm traduzido numa oposição ferrenha contra o nosso partido, sem entendermos qual a razão para tal", afirmou Domingos Simões Pereira, referindo-se ao general Biagué Na N´Tan.

Salientando que conhece o general há cerca de 40 anos, Domingos Simões Pereira disse que a imagem que tem de Biagué Na Ntan é a de um homem "integro" e que "sempre esteve ao lado da legalidade e da verdade".

"Quero dizer ao general que continuo a ser a mesma pessoa e a violência não faz parte das minhas opções de vida e muito menos os golpes de Estado", afirmou o líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

Domingos Simões Pereira falava aos jornalistas e a cerca de 300 apoiantes e militantes do partido, que hoje se juntaram na sede do PAIGC, em Bissau, junto à qual era visível a presença das forças de segurança.

Sobre a tentativa de golpe de Estado do passado dia 01 de fevereiro, o líder do PAIGC disse que esperava do chefe das Forças Armadas "a exigência de um inquérito rigoroso, sério, isento e competente".

"Em vez disso, ouvimos ser ordenada a prisão de pessoas, não sabemos baseado em que indícios, casas de pessoas a serem violadas sem mandado judicial, acusações políticas transformadas em sentenças para cumprimento imediato", disse.

"Eu escolhi fazer política para servir o meu país e estou preparado para o fazer enfrentando todos aqueles que decidiram estar no mesmo espaço, utilizando os instrumentos políticos e legais que estão ao nosso dispor", disse o líder do PAIGC.

Mas, salientou, quando se "envolvem elementos estranhos, quando são as Forças Armadas a entrar no jogo, isso muda diametralmente o equilíbrio das forças e enviesa o jogo".

"Razão por que temos de reconhecer que não é Sissoco Embaló que nos oprime e quer abusar, mas as forças que são postas ao seu dispor, mesmo quando em claro desrespeito e em violação flagrante da Constituição", sublinhou, referindo-se ao Presidente guineense.

Domingos Simões Pereira justificou as suas afirmações com o facto de as forças armadas terem viabilizado a "tomada de posse simbólica" do atual chefe de Estado enquanto decorria um processo de contencioso eleitoral, considerando que é por isso que o chefe de Estado hoje não respeita as instituições, "nomeadamente a Assembleia Nacional Popular".

Nesse sentido, o líder do PAIGC questionou o chefe das Forças Armadas sobre se está de acordo com a venda do petróleo do país sem consentimento dos guineenses, se se podem vender ilhas do país ou alugar o território para a guerra com Casamansa, região senegalesa que faz fronteira a norte com a Guiné-Bissau e que luta há décadas pela sua independência.

Domingos Simões Pereira destacou também que quando recorreu ao Supremo Tribunal de Justiça no âmbito do contencioso eleitoral das presidenciais não estava a "comprometer a democracia", mas a "reforçar as instituições da República".

"O que comprometeu todo o processo foi o envolvimento dos militares, que interromperam uma disputa que era salutar e importante em democracia. Hoje até a eleição de juízes envolve a força, a expulsão de uns e a instalação de outros", disse.

"Temos de chamar a atenção do general de que pode estar a ser usado e amanhã é quem terá de responder por tudo o que aconteceu", afirmou.


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O DEMOCRATA  24/02/2022 

O presidente do Partido Africano da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, questionou a neutralidade do Presidente senegalês, Macky Sall nas reuniões do Conselho Superior de Defesa da Guiné-Bissau.

“Será verdade que o Presidente do Senegal participou em alguma sessão da nossa defesa nacional? A ser verdade, com que propósito e como é que isso reforça a nossa segurança?”, questionou, exigindo respostas.

“Podem estar cientes que, eu enquanto político, não deixarei de questionar  e tentar descobrir  cada assunto que  me preocupa a mim e ao  povo guineense”. 

Na sua comunicação, esta quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022, na sede do partido, para falar, entre vários assuntos, da sua permanência no país imposta pelo Ministério Pública,  Domingos Simões Pereira, denunciou planos internos perpetrados por elementos do partido e a tentativa de  eliminá-lo fisicamente, por isso encomendam artigos mal escritos em órgãos de imprensa online, “escritos por próprios camaradas para tentarem nos envolver  e com isso nos eliminar”.

O presidente do PAIGC disse ter informações sobre chegada ao país de franco-atiradores.

“Chegou-nos a informação sobre a chegada ao país de franco-atiradores. É verdade, tem a sua anuência, e com que propósito?”, questionou Simões Pereira, para de seguida admitir que pode ser arredado do poder, mas há milhares  de guineenses que ainda  confiam  no seu julgamento e controlo.

Domingos Simões Pereira disse que tudo que está ser orquestrado [acusações contra a sua pessoa e dirigentes do partido, perseguições políticas, atrocidades, ditadura, etc,] tem cobertura dos militares guineenses, tendo sublinhado que o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), Biaguê Na N’Tan, está a ser conduzido para algo maior que futuramente será perigoso para o país.

Perante estes fatos, o presidente do PAIGC chamou atenção ao CEMGFA que pode estar a ser usado hoje, mas amanhã é quem terá de responder por tudo que lhe acontecer.

Domingos Simões Pereira disse não ter dúvidas que a sua vida está em risco, assim como de muitas pessoas ao seu redor, por isso fez questão de levar isso ao conhecimento da comunidade internacional, não para pedir proteção, sim, para responsabilizá-los.

“Hoje, a começar por António Guterres, pelo Presidente do Ghana, presidente em exercício da CEDEAO, de Angola, João Lourenço, presidente da CPLP, da União Europeia e de todos os outros países, todos estão informados e avisados. Se algo me acontecer, têm de responsabilizar Umaro Sissoco Embaló”, indicou.

O líder do PAIGC foi muito crítico quanto ao silêncio e o posicionamento do General Biaguê Na N’Tan em relação aos acontecimentos de 1 de fevereiro, o ataque ao Palácio do Governo, e disse que esperava dele exigência de um “inquérito rigoroso e sério” sobre o ocorrido.

“Morreu muita gente nesse incidente e precisamos todos saber sem sombra de dúvidas o que é que aconteceu. Não é a versão Sissoco nem a de Nando Vaz que faz fé, mas um inquérito sério, isento e competente”, defendeu, sublinhando que em vez disso, pessoas foram detidas e casas violadas sem mandado judicial

“Ouvimos ser ordenado a prisão de pessoas, não sabemos baseado em que indícios, casas a serem violadas sem mandado judicial e acusações políticas transformadas em sentenças para cumprimento imediato”, lamentou.

Domingos Simões Pereira acusou Umaro Sissoco Embaló de estar a usar militares para implementar ditadura na Guiné-Bissau, usando slogan “ordens superiores”, que agora voltou a substituir tudo que é a lei, a norma e os procedimentos legais, perseguindo pessoas na calada da noite, alegadamente por serem suspeitas da tentativa de golpe de estado.

“As forças de defesa e segurança não devem apoiar quem comete abusos, atrocidades e age contra a lei, mas sim a integridade territorial”, defendeu e disse que é urgente levantar o estado de calamidade, bem como desbloquear as vias de acesso à sede do PAIGC e, consequentemente, permitir que o partido realize o seu Xº congresso ordinário.

“Quero um fim em tudo isso, nas agressões e invasões sucessivas ao PAIGC”, exigiu.

Por: Filomeno Sambú

Foto: F.S
Enviado do iPhone M

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