[ENTREVISTA_dezembro_2021] O diretor-geral da agricultura, Júlio Malam Indjai, afirmou que a Guiné-Bissau pode atingir, este ano, os trezentas mil toneladas de arroz produzido localmente. Contudo reconheceu que a quantidade é pouca, porque o ministério quer que a produção deste cereal aumente, o cereal mais consumido pelos guineenses.
A Guiné-Bissau, de acordo com os dados oficiais, importa anualmente entre 110 a 115 mil toneladas de arroz para a comercialização.
Indjai fez estas afirmações na entrevista ao semanário O Democrata para falar da produção agrícola e das expetativas, em termos de colheitas, um pouco por todo o país, tendo em conta que o executivo apoiou os camponeses em sementes agrícolas e implementou algumas técnicas de cultivo inovadoras.
Acrescentou neste particular que o ministério está a trabalhar com o intuito de aumentar a produção de arroz nos próximos anos.
GOVERNO PERSPETIVA AUMENTAR A PRODUÇÃO DE ARROZ NOS PRÓXIMOS ANOS PARA 700 MIL TONELADAS
O diretor-geral da agricultura disse que aguarda-se, com muita expetativa, que este ano haja uma boa colheita de arroz e que registaram uma boa produção, particularmente, nas zonas por onde passou.
“Houve regularidade de pluvemetria este ano, à semelhança do ano passado. No ano passado houve inundações e cerca de 25 mil hectares de bolanhas de arroz foram destruídas. Este ano felizmente não houve inundações, só que constatamos em algumas zonas a falta de água, nomeadamente na região de Biombo e no setor de Nhacra,” contou, para de seguida assegurar que, na verdade, este ano tanto no Sul, no Norte como no Leste do país vai-se registar boa produção de arroz.
Sobre a produção de amendoim (mancarra), disse que se está a colher o produto um pouco por todo o país e que este ano registou-se um aumento da produção do amendoim, sem avançar pormenores em relação às quantidades. Enfatizou que agora há escassez de espaços para a produção de amendoim, tendo lembrado que anteriormente lavrava-se muito no planalto que agora está a ser invadido por pomares de cajú.
“Os pomares de cajú consumiram grande parte das parcelas que anteriormente eram aproveitadas para outras culturas, sobretudo amendoim, milho, feijão, entre outros”.
Questionado sobre a quantidade da produção agrícola, particularmente do arroz e milho, de acordo com as previsões do ministério, disse que no ano passado tiveram um aumento de sete por cento relativamente ao ano precedente.
“Comparamos as estatísticas dos últimos cinco anos, nós subimos a razão de 15 por cento, não obstante as inundações registadas no ano passado que causaram perdas de cerca de 68 mil toneladas do arroz. Este ano, sem as inundações, acho que a tendência é de aumento. Estamos neste momento em plena colheita do arroz de mangrove, que vai até final deste mês”, contou.
Assegurou que este ano haverá um aumento de quatro por cento em termos de produção de arroz, em comparação com o ano passado. Acrescentou que no ano passado o país atingiu 257 mil toneladas, pelo que se perspetiva que é possível conseguir mais de 300 mil toneladas de arroz, produzido localmente.
“Esta quantidade é pouco para nós, porque queremos fazer crescer a produção deste cereal, se tomarmos em conta que o arroz é o cereal mais consumido pelos guineenses. A média consumível por pessoa por ano, é estimada em 130 quilogramas de arroz. O ministério está empenhado em aumentar a produção do arroz até entre 500 a 700 mil toneladas anuais” disse, acrescentando que no concernente aos outros cereais, como milho, regista-se pouca produção.
INDJAI: “DEVEMOS INVESTIR PESADO NA AGRICULTURA PARA SAIRMOS DA SUBSISTÊNCIA FAMILIAR”
Lamentou a falta de meios para conduzir, no terreno, os inquéritos estatísticos agrícolas para apurar os dados concretos sobre cada cereal, tendo frisado que o “mais correto seria termos o espaço cultivado por cada cultura e contabilizar o rendimento de cada cultura por ano”.
Afiançou que estão a desenvolver um projeto de cooperação técnica com o Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) que, segundo a sua explicação, esse projeto vai permitir-lhes exercitar, em termos piloto, numa região e depois procurar financiamento para a implementação do projeto noutras regiões para apuramento de dados estatísticos no domínio agrário.
Interrogado sobre os mecanismos acionados pelo ministério para apoiar os camponeses que correm risco de fome devido à falta de água nas suas bolanhas, respondeu que visitou pessoalmente as bolanhas afetadas por falta de água devido à pouca chuva nos últimos dias.
“Na aldeia de Como de Jangada, na zona de Nhacra, o que passou ali é um caso inédito e pelas informações que nos deram. Disseram que foram os lobos que estiveram na bolanha e retiraram as tampas dos tubos…! Eu não sei até em que medida o lobo pode descer à bolanha e sacar a tampa para fazer escorrer toda a água que estava retida na parcela…” contou, avançando que houve chuva nos últimos tempos que lhes permitiu gerir a água que ficou retida.
“Eu vi que a situação estava a mudar para positiva, portanto já não correm tanto risco de perder a produção. Há parcelas que poderão produzir, embora não em grandes quantidades”, referiu.
Relativamente à situação da região de Biombo e concretamente em ponta Cabral, explicou que deslocou-se também àquela localidade e constatou no terreno que o arroz já estava na sua fase de produção ou na fase leitosa. Portanto “há esperança que eles poderão aproveitar algumas parcelas, infelizmente grande parte está estragada”.
“As medidas que nós podemos acionar relativamente à situação é ver a possibilidade de precaver alguns apoios em termos de alimentos. Primeiro, apoio em géneros alimentícios para os trabalhos de recuperação de diques e em tubos “PVC” para permitir a drenagem das águas em excesso. Quer dizer, retirar a água, se a quantidade for superior em relação ao nível do arroz ou reter a água quando necessário para permanecer nas parcelas a fim de alimentar o ciclo vegetativo da planta”, notou.
Em relação aos relatos de situações de fome em algumas zonas do país, Indjai afirmou que na Guiné-Bissau não se pode falar da fome, dadas às condições do solo e dos recursos de que o país dispõe, contudo, reconheceu que existem dificuldades e ausência de investimento pesado no setor da agricultura.
“Aqui na Guiné-Bissau dificilmente teremos fome. Digo mesmo que a nossa geração não pode confrontar-se com essa situação, porque nós temos a sorte da terra que Deus nos ofereceu e temos apenas que saber gerir o mínimo que temos para podermos, de facto, constituir a nossa economia” enfatizou, para de seguida defender um investimento pesado do Estado no domínio agrário, porque “sem o investimento não podemos criar riquezas, vamos ficar apenas na subsistência familiar”.
Assegurou que o investimento que se requer no setor de agricultura passa pela aquisição de máquinas agrícolas adequadas para revolucionar a agricultura nacional, de forma a modernizá-la e aumentar a produção a fim de aproveitar o mercado da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental que conta com mais de 300 milhões de consumidores.
“Temos a perspetiva de aquisição de tratores, moto cultivadores, tubos e moto bombas para a irrigação. Temos mais de 25 mil hectares no vale do rio Geba que podemos explorar para a produção de arroz nas épocas seca e chuvosa. No ano passado, aproveitamos 438 hectares no vale do rio Geba que foram cultivados na época seca, graças ao apoio do ministério das Finanças” revelou, adiantando que este ano se perspetiva aumentar o espaço para que se possa produzir mais e em qualidade.
Explicou que diferentes organizações ou cooperativas agrícolas trabalham naquelas bolanhas de acordo com as suas capacidades técnicas, por isso defende que é preciso o apoio do governo ou dos parceiros, de forma a permitir que os produtores desenvolvam melhor as suas atividades e aumentar a produção.
O diretor-geral da agricultura afirmou que atualmente a zona de maior produção de arroz na Guiné-Bissau é o leste do país, Bafatá e Gabú, que dispõem de vasta área que está a ser aproveitada. O Leste dispõe também de condições para a irrigação do arroz.
Outras zonas, por exemplo Quínara, Cacheu e Oio, dispõem de espaço para a produção da época da seca, mas o grande problema é a água.
“É preciso construir micro barragens e criar condições técnicas para transportar a água que nós desperdiçamos no rio Corubal. A grande quantidade da água que sai do rio Corubal para o mar podia ser reconduzida para as zonas onde há necessidade, NORTE e Sul, onde podemos construir reservatórios de água para a irrigação, o cultivo do arroz e horticultura, bem como para bebedouros para animais”, referiu.
Solicitado a pronunciar-se sobre a situação real do sul do país, que outrora era considerado o celeiro de arroz e hoje ultrapassado pelo leste, explicou que a província Sul continua até hoje a ser o maior celeiro de arroz da Guiné-Bissau, mas atualmente está a confrontar-se com enormes dificuldades, entre as quais, o abandono das bolanhas pelos camponeses.
“O abandono das bolanhas deve-se à diminuição da mão de obra, porque os jovens saíram das tabancas em direção às cidades. O trabalho das bolanhas requer força para lavrar com arado e sobretudo a construção dos diques. Outro aspeto tem a ver com a proliferação do cajú. O seu valor obrigou os camponeses a deixarem as bolanhas e a apostar na produção do cajú”.
Indjai disse que o ministério conseguiu introduzir tratores para a lavoura em algumas localidades do sul do país, de formas a reduzir o esforço físico das populações, porque lavrar com o arado requer muita força. Sublinhou que com a introdução dos tratores e o aumento do espaço para o cultivo é possível chamar aquela zona de celeiro da produção, contudo advertiu que o celeiro só se constitui com duas possibilidades de produção.
“Se a zona leste conseguiu expandir a área de cultivo, poderá ser o celeiro da produção de arroz na Guiné-Bissau”, notou.
Por: Assana Sambú
Foto: A.S
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