Mauricio Odemocrata 16/05/2021
O Reitor da Universidade Amílcar Cabral (UAC), Timóteo Saba Mbundé, afirmou que a visita de um Presidente da República de Portugal, depois de quase duas décadas, é extremamente importante, porque é uma forma de legitimação do Presidente guineense no espaço europeu.
Acrescentou que a visita do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa à Guiné-Bissau, particularmente ao seu homólogo guineense, é um ganho político e diplomático para o país, sobretudo para a legitimação e o fortalecimento da imagem da Guiné-Bissau junto da comunidade internacional (bloco europeu).
Mbundé encara visita do Presidente Rebelo Sousa como uma abertura para a diplomacia do Presidente Sissoco junto da comunidade europeia.
O especialista em Ciências Políticas fez estas afirmações durante uma entrevista ao semanário O Democrata para falar das vantagens políticas, diplomáticas e económicas que a Guiné-Bissau pode tirar da visita do chefe de Estado português.
Timóteo Mbunde fez também uma análise sobre até que ponto é que a situação da violação dos direitos humanos ou da liberdade da imprensa e de expressão pode ofuscar a visita do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa à Guiné-Bissau.
Timóteo Saba Mbundé descreveu a visita de Professor Marcelo Rebelo de Sousa como um marco importante e histórico, por se tratar da visita do Presidente da República de Portugal, que não é qualquer país, sobretudo em relação à Guiné-Bissau, porque “é o país que nos colonizou e logo torna-se importante para a inserção internacional da Guiné-Bissau no espaço europeu ou no mundo ocidental.
O também reitor da Universidade Amílcar Cabral (UAC) frisou que ter um Presidente da República de Portugal a visitar a Guiné-Bissau, particularmente ao seu homólogo guineense, é um ganho político e diplomático para o país, sobretudo para a legitimação e o fortalecimento da imagem da Guiné-Bissau junto da comunidade internacional (bloco europeu). Destacou neste particular que o chefe de Estado guineense desde que assumiu a primeira magistratura do país tem priorizado mais a África do Norte, deixando a Europa, “o que até aqui, de alguma forma, vinha gerando algumas desconfianças”.
Porém, frisou que a vinda de Marcelo de Sousa representa, do seu ponto de vista, uma abertura que deve ser aproveitada não só pelo Presidente da República da Guiné-Bissau como também pelo governo liderado por Nuno Gomes Nabian, para explorar o espaço europeu enquanto uma plataforma importante para a inserção económica da Guiné-Bissau, sobretudo no domínio de cooperação para o desenvolvimento.
GOVERNO DEVE ENCARAR A VISITA COMO FATOR DE APROXIMAÇÃO COM PORTUGAL E EUROPA
Segundo Saba Mbundé, para explorar esse potencial europeu no domínio económico e outras áreas de cooperação para o desenvolvimento, o governo da Guiné-Bissau terá que apresentar a sua agenda ao Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, explorar a sua vinda como um fator de aproximação entre o governo da Guiné-Bissau, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e todos os atores do executivo e Portugal e também a Europa.
Saba Mbundé disse acreditar que a visita vai chamar atenção de outros atores europeus e de outros presidentes e governos, sobretudo no que tem a ver com a legitimação dos atuais “donos do poder na Guiné-Bissau”.
“A visita de Marcelo de Sousa acontece de uma forma automática e natural. Caberá à nossa diplomacia e aos nossos governantes, baseando na visita do Presidente da República de Portugal, convidar outros presidentes e chefes de governos dos países europeus que, à semelhança de Marcelo Rebelo de Sousa, possam não hesitar em visitar a Guiné-Bissau. Isso vai refazer a imagem do país e recolocar a Guiné-Bissau de novo na plataforma internacional, particularmente no plano europeu”, assinalou.
Defendeu que essa estratégia e/ou o mecanismo de aproximação ao ocidente pode evitar que o presidente Sissoco Embaló continue a ter a África Ocidental e o mundo Árabe como uma das plataformas importantes pra reinserção do país no contexto internacional.
Em relação aos setores do ensino, da segurança e das pescas, o especialista guineense em ciências políticas disse acreditar que, certamente, a visita de Marcelo de Sousa vai terminar com assinaturas de memorandos de entendimento, o que pode tornar frutífero todos os contatos entre os dois países no domínio da cooperação.
Afirmou na sua entrevista ao jornal O Democrata, que a Guiné-Bissau é um país pobre, vulnerável e que tem limitações em todos os setores. Enfatizou neste sentido que não obstante as limitações impostas pela pandemia do novo Coronavírus (Covid-19) que tem dificultado a dinâmica de recursos de cooperação, financeiro e técnico, Portugal ainda é um ator importante.
A questão da violação dos direitos humanos na Guiné-Bissau tem sido criticada ultimamente por ativistas da sociedade civil e a própria sociedade guineense, sobretudo no que tem a ver com sequestros, espancamentos aos cidadãos em plena luz do dia e detenções arbitrárias dos ativistas políticos e sociais.
Questionado até que ponto a visita do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa poderá legitimar a situação da violação dos direitos humanos no país, Timóteo Saba Mbundé preferiu olhar o assunto de outra maneira porque, conforme disse, os relatórios que são divulgados por diferentes entidades sobre os problemas da Guiné-Bissau e que ocorrem também em outros países do continente africano podem ser resolvidos a partir de esforços conjuntos. O analista dos assuntos políticos disse acreditar que Portugal pode ser um ator importante para desencorajar esse fenómeno, porque “não é o isolacionismo que colocaria a Guiné-Bissau em situação melhor em relação à problemática de violação dos direitos humanos”.
“Se Portugal apresenta um quadro de direitos humanos melhor do que o nosso, podemos aprender com a experiência de Portugal e do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa”, precisou e disse defender o multilateralismo como mecanismo de resolução de problemas dessa natureza, não o isolacionismo.
“É aceitável que haja protestos e manifestações para chamar à atenção do Presidente de Portugal sobre a situação dos direitos humanos na Guiné-Bissau, mas não por via de boicote da visita ou de isolamento que se vai resolver ou melhorar a situação”, frisou.
A nível económico e do empreendedorismo, Timóteo Mbunde destacou que Portugal será um país estratégico para a Guiné-Bissau, dada a sua experiência nesse setor, porque “a Guiné-Bissau tem um setor privado incipiente que apresenta fragilidades a todos os níveis”.
Defendeu, por isso, que sejam feitas “reformas profundas”, a nível económico, para que o país possa ter um setor privado mais ativo, capaz de empregar boa parte dos guineenses. Contudo, alertou que tudo isso pode acontecer apenas com a estabilidade política do país, convidando atores económicos de Portugal, sobretudo os do setor privado para investir no país, o que poderá permitir que a Guiné-Bissau tenha também o capital português aqui, à semelhança do que acontece em outros contextos como por exemplo, o de Moçambique e de Angola.
“A Guiné-Bissau tem uma presença limitada dos portugueses e é chegada a altura de reativar tudo isso, o que requer esforço de todos para estabilização do país”, alertou.
Por: Assana Sambú/Filomeno Sambú
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