terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Discurso à Nação do Presidente José Mário Vaz por ocasião da passagem do ano, 2019-2020.

Aliu Cande

Mensagem à Nação - Por ocasião do Novo Ano

Caros Guineenses,
Estamos no limiar de mais um ano, aproveito esta ocasião para formular votos de saúde e prosperidade a todos os Guineenses, residentes no país e na diáspora. Igualmente aos cidadãos estrangeiros que escolheram a Guiné-Bissau para viver e trabalhar.

De forma incansável, a todos eu renovo o meu reconhecimento, e aproveito esta ocasião para deixar mais uma vez uma palavra de apreço e de gratidão as nossas Forças de Defesa e Segurança, que trabalharam arduamente ao longo destes cinco anos para manter a paz civil e a tranquilidade interna de que hoje desfrutamos no país, e com o apoio das mulheres e homens que integram a força da ECOMIB, numa missão de paz e que passam mais uma quadra festiva connosco.

Desejo a todos, um Feliz Ano de 2020 e faço votos que seja um Ano de Mudança para a Guiné-Bissau.

Irmãos Guineenses,
Esta será a minha última mensagem à Nação por ocasião do Novo Ano, enquanto Presidente da República. Dentro de poucos dias vamos conhecer oficialmente o resultado das eleições presidenciais e saber quem será o novo Presidente da República da Guiné-Bissau democraticamente escolhido pelos guineenses e que conduzirá o destino do país nos próximos cinco anos.

Fazendo uma breve analise e uma retrospetiva deste percurso de cinco anos e meio, porque em breve deixarei as minhas funções de mais Alto Magistrado da Nação de consciência tranquila e com o profundo sentimento do dever cumprido. Agi sempre no exclusivo interesse da Pátria e dos meus concidadãos, sem atender a interesses que lesam a nossa soberania e as Leis do nosso Estado. Por isso, não aceitei servir outra causa, senão a causa pela qual fui eleito, isto é, servir o país e ao meu povo na base da verdade. E por isso, eu agradeço a todos os guineenses que me acompanharam nesta caminhada, para a realização dos desígnios nacionais de Liberdade, Paz Civil e Tranquilidade Interna.

É verdade que nem sempre estivemos todos de acordo, e escutamos vozes de guineenses a discordar, a insultar o Presidente da República, mas, o mais importante para mim foi que todos puderam esgrimir as suas razões e exercer o seu direito de expressar livremente as suas opiniões, sem que isso provocasse perseguição, espancamento ou outras formas de repressão como prisões arbitrárias, mortes por razões políticas ou abandono do país como exilados políticos.

Porque a essência do poder é servir o povo e sobretudo os mais fracos ou os mais desfavorecidos.

Pela primeira vez na história da Guiné-Bissau em 46 anos de Independência não tivemos um Presidente acima dos cidadãos. E desde as primeiras eleições multipartidárias em 1994, ou seja, há 24 anos nunca antes tínhamos chegado ao termo de uma legislatura, ou de um mandato presidencial sem interrupções de ciclo político e sem golpes de estado. O meu muito obrigado às nossas Forcas de Defesa e Segurança, e em especial ao General Biaguê Na N’tan – Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas e igualmente aos Chefes dos Ramos, que ao longo destes cinco anos conseguiram manter acalmia nos quarteis e afastar os militares das crelas políticas.

Caros Compatriotas e amigos da Guiné-Bissau,
O ano que agora termina trouxe imensos desafios aos guineenses, desafios democráticos até agora superados com êxito e de forma exemplar pelo povo guineense e devendo mesmo constituir um exemplo a seguir no futuro.

Outro desafio importante, isto é, o económico, a Guiné-Bissau precisa de crescer e rapidamente, mas antes era preciso desbravar o caminho rumo ao crescimento económico e ao desenvolvimento. Para tal, era necessário antes de mais, serenar e tranquilizar o país. E foi isso o que fizemos durante os cinco anos do meu mandato, foram muitos os esforços que fizemos juntos para a consolidação da Paz. A acalmia, o sossego, a liberdade, a paz civil e a tranquilidade interna, conquistados nos últimos cinco anos são, um legado comum do Chefe de Estado, das Forças de Defesa e Segurança e da população guineense.

Eu acredito que doravante, esse será o timbre do comportamento e da postura das nossas heroicas e gloriosas Forças Armadas que tem por missão Constitucional assegurar a tranquilidade dos guineenses.

Para que caminhemos rumo ao tão almejado crescimento económico e ao desenvolvimento é preciso a colaboração de todos para a afirmação de uma Nova Mentalidade e uma Nova Cultura de Estado afim de erradicar os vícios que ao longo dos anos impediram a Guiné-Bissau de avançar e é contra estes interesses que temos estado a lutar desde a nossa chegada a esta casa do povo.

Ao exigir que o dinheiro do Estado fique nos cofres do Estado eu tive de lutar contra os vícios e interesses instalados e enraizados na nossa sociedade. Este combate pela apropriação coletiva do bem-comum não pode ficar a meio caminho e não pode cair por terra. Por isso, eu peço aos nossos jovens que assumam este combate contra a corrupção e que sejam os herdeiros desta bandeira de luta pela justiça que eu deixo nas vossas mãos. A Guiné-Bissau tem de ser de todos e para todos, e os recursos públicos não podem pertencer a uma minoria que se aproveita deles em prejuízo da grande maioria.

Como é do conhecimento de todos, não foram anos e nem dias fáceis até chegarmos onde estamos hoje, mas era necessário iniciar e fazer esta caminhada para o futuro da nossa juventude.

Durante o meu mandato, pela primeira vez na historia da nossa jovem democracia, estes cinco anos foram marcados pela mudança de paradigma na nossa sociedade, conquistámos uma nova era de liberdade ou seja a liberdade de expressão, de manifestação e de imprensa, respeito pelo próximo, a tolerância, sem abusos de poder, sem espancamentos, sem crianças órfãs e mulheres viúvas por razões políticas, sem sobressaltos, sem golpes de estado, sem o barulho das armas, sem levantamentos militares. Este é o meu legado, um novo paradigma, que eu deixo à nossa classe política, as gerações vindouras e ao povo guineense em geral.

E deixo um apelo aos futuros dirigentes e aos jovens deste país, defendam sempre o que nós temos de mais valioso, a nossa soberania, a memória dos nossos heróis e mártires, o respeito pela nossa Pátria, a nossa bandeira, o nosso hino, a nossa dignidade e a nossa Independência, porque sem soberania e dignidade um povo não tem nada.

Irmãs e Irmãos Guineenses,
Devemos continuar a apostar fortemente na agricultura, visto que, é o sector onde se encontra o grosso da nossa população activa, sobretudo jovens. Através da iniciativa “mon-na-lama”, ajudamos na criação de autoemprego, através da organização de cooperativas, empoderando as mulheres e os jovens. Formámos os jovens na área da agricultura, fornecemos máquinas e alfaias agrícolas, apoiámos na construção de diques, valorizámos os nossos produtos tais como o arroz e a batata doce e outros produtos. Com isto apontámos o caminho para o combate real e eficaz à pobreza, através dos nossos próprios meios, da nossa força de trabalho, do nosso querer. Este é o modelo de desenvolvimento sustentável em que acreditámos e que vos deixo como legado, centrado nas nossas próprias capacidades, para nos libertar da sangria das nossas divisas que são consagradas ao pagamento das nossas importações.

Pela primeira vez na Guiné-Bissau em 2017, o nosso principal produto de exportação, que é a castanha de caju, foi comercializado no valor superior a 1.000 XOF/KG. Nesse ano, todos sentimos a diferença, ou seja, o impacto na economia familiar, visto que, conseguiram vender os seus produtos a um bom preço, obtendo lucros que lhes permitiram pagar as suas despesas, melhorar as suas condições de habitação, pagar a escola dos filhos, ter painéis solares, puderam comprar bicicletas, motorizadas e viaturas entre outros benefícios provenientes do rendimento da castanha de cajú.
Este é o caminho certo, se queremos de facto ajudar a nossa população a sair da pobreza e alcançar a almejada prosperidade.

Se calhar, hoje, muitos perguntam porquê é que desde 2017 não foi possível voltarmos ao preço dos 1.000 XOF/KG?

A resposta é muito simples, não foi possível por causa dos interesses instalados e enraizados na nossa sociedade, a pequena elite quer ganhar tudo para eles e esquecem-se daqueles que trabalham verdadeiramente no campo.

São esses os adversários do progresso e da igualdade pela qual eu lutei ao longo dos meus cinco anos de mandato.

São esses irmãos que apenas olham para os seus interesses pessoais e de grupo.

São esses os que estão contra o “Mon na Lama” e o “Dinheiro do Estado no cofre do Estado”, são esses os que promovem, a demagogia, o obscurantismo e o fecho das nossas escolas, a fim de nos obstruírem o caminho para enfrentarmos e vencermos os desafios do presente e do futuro;

Ao longo destes cinco anos, eu tive a perfeita consciência dos problemas que herdei e qual seria a minha verdadeira missão.

Os Guineenses têm sofrido muito ao longo destes anos, merecem mais e melhor.

Tenho dito que, apenas a realização de eleições sem reformas não representarão uma solução mágica para os problemas políticos na Guiné-Bissau. É fundamental pensarmos na reforma constitucional que permita a eliminação de focos de instabilidade institucional e a clarificação do sistema de governo. É um desafio complexo, mas indispensável para evitar futuras crises políticas.

Caros Irmãos Guineenses,
O Ano de 2019 foi marcado fundamentalmente por:

• Exercício democrático, tivemos eleições legislativas e presidenciais;

• Os Guineenses deram sinal de maturidade, as nossas campanhas eleitorais bem como ida às urnas decorreram na normalidade, ou seja, num clima de serenidade e tranquilidade;

• O país continua a viver em clima de paz e estabilidade – e todos nós sabemos, no passado, como é viver em sobressaltos e insegurança;

• Não há registo de violência ou de violação de direitos humanos.

Guineenses, Façamos de 2020 o Ano da Mudança!

Irmãs e Irmãos,
Convido a todos e sem excepção para que continuemos serenos enquanto aguardamos os resultados definitivos das eleições presidenciais.

O poder pertence ao povo, fonte de toda a legitimidade e soberania. E só o nosso povo através da urna tem o poder de decidir quem conduzirá os destinos do nosso país nos próximos cinco anos.

E faço votos que 2020 seja o ano em que os nossos irmãos da diáspora ganharão coragem para regressarem a casa e darem o seu contributo, pondo o seu conhecimento ao serviço do país sobretudo o que aprenderam ao longo das suas experiências de emigração, pois a Guiné-Bissau é de todos e precisa da contribuição de todos.

Mulheres e Homens Guineenses,
Vamos iniciar um ANO NOVO, e com ele temos que renovar as nossas esperanças e ter a coragem de iniciar para construirmos juntos o caminho porque a mudança virá e temos que estar preparados.

Só tenho a agradecer aos Guineenses porque mais uma vez vamos escrever uma nova página na história da nossa democracia, no dia da cerimonia do empossamento do novo Presidente da República, ao transferir a faixa presidencial ao meu sucessor -- facto inédito na Guiné-Bissau ao fim de 46 anos – estaremos a fundar os alicerces de um novo marco da nossa historia.

Apesar das adversidades é fundamental a união entre os Guineenses, pois só a união fará a diferença e terá que ser esta a nossa ferramenta, a nossa força e a nossa esperança para reconstruirmos o nosso país.
Antes de terminar, gostaria de, mais uma vez, renovar os votos de um Próspero Ano Novo e saudar a todos os guineenses.

Quero deixar aqui o nosso reconhecimento e gratidão a todos os nossos parceiros internacionais e regionais, países e organizações, que estiveram sempre ao lado da Guiné-Bissau, e que tem apoiado o nosso país na busca de caminhos para a consolidação da paz e da estabilidade. Agradeço de forma muito especial os Estados e Organizações que, este ano, muito nos apoiaram durante a preparação das eleições legislativas e presidenciais.

Eu nunca deixarei de acreditar na Guiné-Bissau, sou soldado desta pátria, estou e estarei sempre ao serviço do nosso país e do povo Guineense. Lá onde eu estiver, em Bissau ou na minha tabanca, no meu escritório ou na minha bolanha, cada cidadão, cada dirigente, cada um que acredita na Guiné-Bissau poderá contar sempre comigo e com a minha solidariedade fraternal.

A todos os guineenses um Feliz Ano Novo!
Viva a República da Guiné-Bissau!

Que Deus abençoe a Guiné-Bissau e ao seu povo!

Fonte: José Mário Vaz - Presidente da Republica da Guiné-Bissau

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