Por: Ussumane Grifom Camará
Este artigo visa apenas o exercício em torno das lições que, politicamente, podemos tirar dos resultados da eleição de 10 de Março. A primeira grande lição é que o povo guineense mais uma vez colocou os nossos partidos e políticos na posição, imperativa, de se dialogarem em busca de condições que possam permitir uma efetiva paz e estabilidade política e governativa, para isso penalizou uns (os tradicionais grandes partidos) e deu oportunidade aos outros para se unirem à esse desafio, o de estabilizar o país e arranca-lo para o progresso.
1 - PAIGC, politicamente, o grande "perdedor"?
Ainda que venceu as eleições legislativas de 10 de Março com 47 mandatos, o Partido Africano de Independência da Guiné e Cabo Verde foi o que, politicamente, mais "perdeu". Se não vejamos: A atual direção do partido, na oitava legislatura, herdou-o com 67 assentos no parlamento tendo na sua primeira prova eleitoral perdido 10 deputados (de 67 à 57) à favor da oposição na nona legislatura e, na sua segunda prova, perdeu mais 10 mandatos colocando-o à 47 deputados na décima legislatura. Se queremos entender esse fenômeno olhamos para os acontecimentos pós-Cacheu e a dissidência G-15. Com os resultados hoje anunciados, sem o apoio político (acordo de incidência parlamentar) com o APU- PDGB o PAIGC já estaria na oposição o que consubstânciaria o suicídio político de Eng. Domingos Simões Pereira que tinha anunciado que sem uma maioria absoluta renunciaria do seu cargo do Presidente do partido. E agora?
2 - Partido da Renovação Social, outro grande "perdedor"?
O PRS foi a grande surpresa do pleito: perdeu a sua tradicional liderança da oposição. Desde abertura democrática em 1994, o PRS sempre liderou a oposição com, as vezes, uma ligeira oscilação porcentuais em termos de resultados e espaço no parlamento; espaço este que cedeu ao MADEM-G15. A atual direção dos Renovadores assumiu o partido com 21 mandatos; na sua primeira embate subiu para 41 (sempre na liderança da oposição) e vai para a décima legislatura com 21 assentos, ou seja o Alberto Nambeia vai deixar a bancada parlamentar do PRS exatamente como a tomou. Se queremos entender como foi que chegou a esse ponto vamos olhar para o cenário pós golpe de Estado de 12 de Abril, governo de transição, o surgimento da APU-PDGB e o fenómeno MADEM-G15. O Alberto Nambeia apesar do sucesso eleitoral na nona legislatura é também, sem dúvidas, o outro grande perdedor do pleito.
3 - MADEM-G15, um novo fenômeno político?
O surgimento do Movimento para a Alternância Democrática e os seus antecedentes foram, sem sobra de dúvidas, o cenário mais controverso da nossa jovem democracia. Se queremos compreender as motivações do seu surgimento vamos analisar o Congresso de Cacheu e a gestão dos seus resultados no partido Libertador, o primeiro governo da nona legislatura, o chumbo do Programa de Governo de Carlos Correia, a "perda" de mandato dos 15 deputados dissidentes e suas expulsões na fileira do PAIGC. O MADEM-G15, como partido, entrou no embate político há oito meses tendo como o seu maior adversário o seu partido de origem (o PAIGC) mas acabou por infligir a maior derrota ao seu aliado (o PRS), tirando-o da tradicional liderança da oposição e, politicamente falando, passou na primeira prova frente ao PAIGC. Não podemos negar que o MADEM-G15 entrou para história como partido político e, certamente, vai protagonizar a oposição guineense durante a décima legislatura. Para um partido novo (de apenas 8 meses) não deixa de ser uma grande vitória embora se viu frustrar o seu maior desafio, o de colocar o PAIGC na oposição. Mas quase conseguiu se não fosse o fracasso do PRS e a injeção política do APU-PDGB ao PAIGC.
4 - APU-PDGB, menos que a expectativa?
Para mim, embora conhecedor do nosso mapa geo-eleitoral, a APU-PDGB me surpreende por dois motivos: 1° esperava que a imagem do seu presidente Nuno Gomes Nabiam e os resultados que alcançou no último embate (presidencial) refletiria na sua conta na legislativa de 10 de Março; 2° ao atingir 5 mandatos. Sinceramente, eu não sabia o que dar à APU-PDGB nessas eleições. Por um lado olhava os resultados do Nuno Nabiam (2014) e por outro a suposta base eleitoral que ia disputar com o PRS aonde este tinha histórico de não partilhar. Não posso negar que estava equivocado em relação a APU-PDGB. Tinha noção que ia eleger mas 5 mandatos, sinceramente, não imaginava. Em todo o caso a APU teve boa prestação.
5- PND, UM e PCD, novidades e decepção?
O PND e UM não trouxeram, da nona legislatura, nenhuma surpresa porque não passaram do antigo resultado (1 deputado por cada), mas o mesmo não se pode falar do PCD que na nona legislatura tinha 2 mandatos e acabou ficando de fora na décima legislatura. Se almejamos entender o levou o PCD a esta drástica situação revisitamos os dramas da nona legislatura e os posicionamentos das suas principais figuras: Vicente Fernandes e Victor Mandinga. Crise está que acabou ditando o afastamento do "Nado" Mandinga do partido. Ou seja, o "Nado" saiu e saiu com os seus deputados.
Para terminar, estamos perante uma situação frágil e que cobra de todos o bom senso, o sentido de abnegação e de compromisso para com a Guiné-Bissau.
Apenas minha opinião!
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