[REPORTAGEM] Os pescadores artesanais da histórica cidade de Bolama clamam por ajuda das autoridades nacionais, no sentido de instalarem câmaras frigoríficas naquela cidade, o que facilitaria na conservação do pescado, que muitas vezes acaba por se estragar devido à falta do gelo prejudicando, assim, as suas atividades.
O apelo foi manifestado ao repórter do semanário O Democrata pelos pescadores daquela zona insular que falaram também das dificuldades que enfrentam nas suas atividades diárias de pesca. O grito de socorro acontece numa altura em que as duas fábricas do gelo que existiam na ilha deixaram de funcionar há dois anos.
A região de Bolama/Bijagós encontra-se situada no sul do país. Foi capital da então Guiné Portuguesa por um curto período de tempo, no período colonial. Fica a mais de 22 milhas da capital Bissau. A semelhança de muitas cidades do interior do país, está numa situação da extrema pobreza e de isolamento quase total. Bolama tem a sua particularidade por ser uma ilha. Tem grandes dificuldades em termos de meios de transporte eficazes que facilitariam a ligação com a capital Bissau e o resto do país.
Segundo alguns habitantes locais interpelados pela repórter do semanário, tanto o serviço de Telecomunicações como a linha de internet funcionam com muita deficiência.
PESCADORES ARTESANAIS PEDEM AJUDA DO GOVERNO PARA A INSTALAÇÃO DE CÂMARAS FRIGORÍFICAS
Durante a nossa reportagem na região, vozes informaram que a falta de gelo, neste momento, tem a ver com a inoperabilidade das duas câmaras frigoríficas que ajudavam muito os pescadores na conservação do seu pescado. A repórter constatou no terreno que as duas câmaras frigoríficas deixaram de funcionar por falta de luz elétrica, bem com a questão técnica que acabou por paralisar as duas fabricas.
O Presidente da Associação dos pescadores e vendedeiras de Bolama, Ezequiel Lopes Manchado (Manbo), apontou a falta de gelo como a principal dificuldade que os pescadores e as peixeiras enfrentam, por isso a maior parte do pescado é vendida em Bissau, para evitar prejuízos maiores. O responsável advertiu que cada vez se torna mais difícil o acesso ao pescado em Bolama, devido à falta de meios. Muitos pescadores artesanais fazem-se ao mar em pirogas a remo, ou seja, sem motores.
Ezequiel Lopes Manchado explica ainda que associação criada há mais de quatro anos, que congrega pecadores e vendedeiras de Bolama e denominada “Associação Lúcio da Silva”, nome dado em homenagem ao pescador Lúcio da Silva, conta neste momento com mais de 70 membros de quatro portos de Bolama nomeadamente Gã-Tonho, Wato, São João e Bolama de Baixo.
“Antes de irmos ao mar, compramos gelo em Bissau. De contrário, corremos o risco de ver o nosso pescado estragar-se. As canoas a remo não conseguem ir longe. Nos portos, quando o peixe não é vendido imediatamente, fumámo-lo ou fazêmo-lo escaladas”, informou.
Relativamente ao preço de venda, Ezequiel informou que o governo local estipulou um valor de 500 a 750 francos cfa por quilograma, mas devido a subida de preço de alguns produtos de primeira necessidade e à falta do poder de compra dos pescadores para adquirir os materiais utilizados para exercer a atividade de pesca, muitos pescadores acabam por não respeitar a tabela estabelecida.
Revelou neste particular que os preços do pescado variam entre 750 a 1000 francos cfa, dependendo da espécie e classe. Lembrou ainda que se for nas peixeiras o preço altera-se, porque revendem para tirar lucros.
Adiantou, no entanto, que alguns pescadores de canoas a motor conseguem pescar até à Unhucom, a última ilha do arquipélago.
“Pagamos as licenças de navegação na capitania de Bolama num valor acima de 100 mil francos cfa anualmente, dependendo da capacidade do motor. Pagamos ainda 500 francos cfa para cada saída. Para conseguir uma rede de pesca, temos que deslocarmo-nos até Bissau ou Ziguinchor, em Senegal. Nos tempos anteriores comprávamos tudo aqui, através do projeto de pesca. Neste momento pode-se comprar uma canoa de pesca aos estrangeiros no valor de um milhão de francos cfa. As duas carpintarias de Bolama não têm condições para construir canoas de qualidade”, acrescenta Ezequiel.
O homem do mar, na mesma entrevista, disse que existem barcos que pescam até a zona Económica Exclusiva do país, onde por lei, é proibida a pesca aos pescadores artesanais. E aproveitou a entrevista para denunciar que alguns pescadores, sobretudo estrangeiros, que continuam a pescar com redes proibidas pelas autoridades nacionais.
“Eu vejo várias vezes barcos de pesca grandes nas zonas de Canhabaque. Pescam frequentemente nas águas do país”, informou.
CENTRO DE FORMAÇÃO PESQUEIRA DE BOLAMA PARALISADO HÀ QUATRO ANOS
Director do Centro de Formação Pesqueira de Bolama, Domingos Viegas, revelou em entrevista ao semanário O Democrata, que o centro que outrora formava jovens guineenses de diferentes quadrantes em vários domínios ligados à pesca, deixou de funcionar há quatros anos e de momento conta apenas com alguns funcionários que limitam a fazer atividade pesqueira a sobrevivência diária.
O centro atua em matéria das pescas, carpintaria naval e mecânica. A escola recebia alunos de seis em seis meses, de acordo com a planificação e o orçamento estabelecido pelo ministério das pescas. A estadia e a alimentação era assegurada pelo ministério das pescas, mas depois do golpe de Estado de 12 de abril 2012, a capacidade de intervenção do centro ficou limitada e a escola não voltou a receber alunos, devido a falta de condições para garantir a sua alimentação.
Segundo o responsável do centro, no início, após a chegada dos alunos, estes recebem aulas teóricas. Numa segunda fase são lhes dadas aulas práticas que incluem a produção de redes de pesca, a prática da pesca, a construção de canoas e de botes para pesca e serviços de encomendas para a reparação e montagem de motores de carros e motos e a reparação de bicicletas. A maior parte dos alunos é de Bolama.
“Temos recursos humanos. O problema é a questão financeira para reabilitar e pôr em funcionamento os diferentes serviços que prestávamos antes, nomeadamente o curso de eletricidade, a produção do gelo e a comercialização do pescado”, disse o diretor, tendo acrescentado que está esperançado que, como resultado das negociações entre a UE e o Governo através do ministério das pescas, a direção que lidera poderá estar em condições de fazer funcionar de novo o centro paralisado. Na sua opinião, esta situação está entristece a cidade de Bolama.
Um antigo aluno do CENFOPE na área da mecânica, Adão António Có, revelou que antes o centro era chamado PRODEPA. Mas depois de alguns anos passou a denominar-se CENFOPE. A oficina mecânica no início tinha apenas seis jovens, todos de Bolama. A formação deste grupo durou três anos. Porém cresceu e houve grupos que tiveram uma formação de seis meses.
Outro antigo aluno na área da carpintaria e pescas, Isnaba Nambu, lembrou que no setor da carpintaria eram vinte formandos. Agora apenas são três. Noutro campo, o das pescas, o pescado era comercializado em Bafatá e Gabú e o dinheiro revertia para o fundo do centro. O subsidio mensal está acima dos 15000 mil francos cfa.
Na carpintaria constroem-se canoas de grande qualidade para algumas ONG’s. Todo o material era fornecido pelo centro, apesar de ter uma equipa que se encarregava de buscar madeira nos arredores de Bolama.
“Para a pesca, o centro fornecia-nos todo o material assim como todo o equipamento. Vendíamos peixe e escalada, tanto em Bolama como em Bafatá e Gabú. O dinheiro revertia para o centro. No final de cada mês recebíamos um subsídio cujo valor já não me recordo”, contou Isnaba”
O projeto do ministério das pescas no sector de Bolama conta com 25 funcionários incluindo o pessoal menor. As necessidades básicas do centro são suportadas atualmente pelo apart-hotel.
Segundo o diretor Domingos Viegas, o centro foi fundado em 1985 com o apoio da organização espanhola Itica Valdaia e financiado pelo Banco Africano para o Desenvolvimento. Porém, devido à situação política nacional, está inativo há quatro anos.
CAPITANIA DE BOLAMA RESPONSABILIZA EMPRESA SOTRAMAR PELO ESTADO FÍSICO DO ‘CAIS DE BOLAMA’
O Delegado da capitania de Região de Bolama/Bijagós, Paulo Fona, responsabilizou a empresa Sotramar pelo estado físico do caís de Bolama, que se encontra em degradação progressiva, devido à má atracagem. Segundo Paulo Fona, até agora um problema provocado pelo navio Bária da dita empresa não foi solucionado, o que dificulta o embarque e desembarque de passageiros e cargas.
“Se este cais desmoronar totalmente, Bolama ficará num isolamento total. Os barcos não vão mais poder vir e isso já está a acontecer de forma progressiva, como foi o caso do barco Lumaroy com os universitários do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), que ficou preso no caís por muito tempo devido às pedras que fecharam o canal de atracagem”, alertou.
Fona assegurou que conseguem emitir saídas para todos os tipos de embarcações e facilitar os serviços de inspeção, quer da pesca como de transporte de cargas e pessoas. Conseguem fazer trabalhos de inspeção e controlar o preço, que varia de acordo com o número de tripulantes (marinheiros).
“A Maior dificuldade que atravessamos em Bolama é com a própria população no que diz respeito à segurança marítima. Preferem mais canoas ao invés dos barcos. Quando tentamos aconselhar as pessoas a viajarem de barco, reclamam. Houve revoltas contra os agentes da capitania em relação às pirogas, principalmente na época chuvosa e de ventos fortes, mas alguns resistem sempre” revelou Paulo Fona. Explicou a nossa reportagem que fazem as previsões do tempo pela experiência própria, porque não existe ainda nenhuma colaboração com a meteorologia local.
Contudo, informou que a sua instituição pretende trabalhar com agentes da meteorologia de Bolama, para evitar acidentes provocados pelo mau tempo. Nesse sentido, Paulo Fona, pede a colaboração e a compreensão dos populares e dos marinheiros quando lhes for proibida a navegação em pirogas. Segundo disse, às vezes criticam inconscientemente as decisões da capitania, mas acabam por ser próprias vítimas e a capitania sofre as consequências do acontecimento.
A nossa reportagem visitou as instalações de capitania regional que se encontram em condições péssimas. Constatou igualmente que a infraestrutura está totalmente degradada e que muitas vezes os funcionários procuram lugares para refugiar para se protegerem da chuva.
O edifício não tem rádios de comunicação, para informar os marinheiros de eventuais perigos no mar com ou pirogas e responder às emergências que acontecem nas nossas aguas. Neste momento, a cidade de Bolama que fica a menos de trinta milhas de Bissau não tem nem governador e nem administrador, apenas está a ser gerido pelo secretário regional.
Por: Epifânia Mendonça
Foto: EM
OdemocrataGB
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