Os populares de Caboxangue trocam arroz produzido localmente (arruz di pilon / arroz do lavrador) por outros produtos alimentares, inclusive para a compra de alguns medicamentos nos centros de saúde, dado que não dispõem de dinheiro. Segundo os populares de Caboxangue, a situação deve-se ao atraso no início da campanha de comercialização da castanha de cajú naquela localidade.
A informação foi avançada pelo chefe de uma de tabanca, Cinco Na Loré, em entrevista telefónica ao semanário O Democrata.
Cinco Na Loré relatou as dificuldades que a população está a enfrentar, desde o anúncio da abertura oficial da campanha a 31 de março do ano em curso, cujo preço base foi fixado em 375 francos CFA por quilograma de castanha de cajú comprado ao produtor.
A grande secção de Caboxangue faz parte do setor de Bedanda, região de Tombali, sul da Guiné-Bissau. A aldeia de Caboxangue é constituída por mais de dez aldeias e dista a 16 quilómetros da cidade de Bedanda.
“Até ao momento não vimos nenhum comerciante interessado em comprar a nossa castanha. Na secção, não vimos sinal de nenhuma balança para pesar a castanha. Temos castanhas guardadas nas nossas casas. Temos necessidades, mas não temos dinheiro. Mesmo para a nossa sobrevivência diária, estamos a ter dificuldades”, disse, acrescentando que devido à falta de dinheiro, a população é obrigada a trocar o arroz produzido localmente por outros produtos alimentares vendidos na aldeia.
Cinco Na Loré explicou que as mulheres levam arroz para trocar por óleo alimentar, caldo de maggi, cebolas, etc.
“Trocamos oito quilogramas de arroz por um litro de óleo alimentar. Um litro de óleo alimentar custa aqui 2000 mil francos CFA. Nós vendemos um quilograma de arroz em Caboxangue a 250 francos CFA. Trocamos um quilograma de arroz por três cebolas e um quilograma de arroz por sete caldos de maggi”, informou, avançando que a situação de isolamento lhes obriga a viver desta forma, porque “estamos sem dinheiro e não registamos a presença de comerciantes no terreno para comprar a nossa castanha, por isso estamos a trocar arroz por outros produtos alimentares, como também para a compra de medicamentos”.
O chefe da tabanca assegurou que o troço que liga a secção à sede do setor e outras aldeias, até Guiledje, está em boas condições para a circulação de carros, por isso os comerciantes não podem invocar a questão da estrada.
Sobre a situação de fome denunciada em algumas tabancas, Cinco Na Loré garantiu que a sua tabanca não tem problemas de fome e que a população tem arroz em abundância, tendo sublinhado que a única dificuldade que têm está relacionada com a falta do dinheiro e o atraso na compra da castanha de cajú que, segundo a sua explicação, obriga as populações a trocar o arroz por outros produtos.
POPULARES DE BIGENE DESESPERADOS VENDEM CLANDESTINAMENTE CASTANHA A 250 F.CFA
A pequena cidade de Bigene depara-se com a situação de falta de compradores da castanha de cajú na base do preço da referência de 375 por quilograma fixado pelo executivo. A falta de compradores leva os produtores, desesperados com a situação da fome, a vender as suas castanhas ao preço de 250 ou 300 francos cfa, de forma clandestina, para poderem comprar o arroz ou satisfazer as suas necessidades básicas.
O setor de Bigene faz parte da região de Cacheu, no norte da Guiné-Bissau. Um dos setores localizados nas zonas da fronteira com a república vizinha do Senegal.
A denúncia sobre a venda clandestina da castanha a preços inferiores ao preço de referência foi feita pelo secretário executivo da Cooperativa Agro-Bigene, Baciro Mané, na entrevista exclusiva telefónica ao nosso semanário.
A cooperativa Agro-Bigene é uma iniciativa que congrega os produtores do setor.
Mané revelou que os agricultores do setor de Bigene estão desanimados e completamente desesperados com a situação da campanha de comercialização da castanha de cajú, a única fonte de rendimento para a sobrevivência de famílias camponesas naquela zona.
Assegurou ao O Democrata que os agricultores esperavam vender os seus produtos ao preço de referência de 375 franco CFA anunciado pelo governo, mas não esta a ser o caso, porque o preço que está a ser praticado neste momento no setor de Bigene é 250 a 300 franco CFA por quilograma.
“O pior ainda é que os produtores devem procurar um comprador de forma clandestina para vender a sua castanha, porque os comerciantes têm medo de comprar a castanha à luz do dia, por estarem a comprar o produto a preços inferiores “, notou.
“Estamos num estado de desespero total, devido à fome que se regista no nosso setor por causa da falta de compradores. Neste momento, não importamos vender a castanha pelo preço de referência, mas sim a qualquer preço para que possamos ter dinheiro para comprar arroz para sustentar as nossas famílias e criar as condições para as crianças frequentarem as aulas”, lamentou, acrescentando que se os agricultores tivessem estabilidade económica poderiam armazenar as castanhas até encontrarem um comprador sério e credível, que não vai impor condições ou comprar as suas castanhas abaixo do preço de referência.
“Estamos a viver numa situação deplorável nesta zona, causada pelos comerciantes que querem tirar proveito das nossas dificuldades. Prova disso é que o arroz cem por cento partido que se vendia a 16 mil francos CFA subiu agora para 18.500 francos CFA. O óleo alimentar subiu de 1.250 para 1.750 francos CFA. Estamos a registar uma subida de preços dos produtos de forma acelerada e brusca por causa da campanha de cajú. Os comerciantes vão ao Senegal comprar produtos alimentares, a um preço baixo e vendem-nos muito caro na Guiné-Bissau”, criticou, pedindo ao governo para assumir a sua responsabilidade de gestor do país para fiscalizar as ações dos comerciantes no terreno.
Revelou que os comerciantes mauritanianos que operam naquela zona têm um grupo na rede social (WhatsApp) que integra os seus conterrâneos que de Bissau, através do qual fazem uniformização dos preços de produtos alimentares, bem como da castanha de cajú.
Por: Assana Sambú/Aguinaldo Ampa
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