Por Jorge Herbert
O carrasco continuará a persegui-la para a nova captura, com promessas de que se entregar, terá melhor trato. E ela andará desorientada durante algum tempo, por vezes quase a ser capturada de novo. Mas, a esta prisioneira, ainda com capacidade de fuga, só restará dois caminhos: Continuar a trilhar o difícil e árduo caminho da fuga até encontrar uma nova identidade que lhe permita uma vida digna, ou desistir da fuga e entregar-se de novo às mesmas condições em que viveu durante 46 anos...
É minha convicção que o país precisa de continuar a fugir e ganhar distância do seu carrasco, mesmo de forma desorientada e atabalhoada...
Aceitemos que o país é intelectualmente pobre, fruto de uma desastrosa política de educação nacional, o que acaba por agravar a desorientação nessa fuga e a torna mais difícil... Temos bons, mais escassos quadros superiores e técnicos, estando muitos fora do país, sem possibilidades de retorno definitivo à pátria. Os que chegam ao poder tentam resolver rapidamente a sua economia pessoal, porque a instabilidade política é permanente e os cargos, na maioria de nomeação política, não são seguros... Os que estão fora do poder degladiam-se diariamente para lá chegarem ou voltarem, mesmo antes do período estipulado pelo veredicto popular, porque senão a condição de vida decresce e muito, nos quatro ou cinco anos que dura uma legislatura ou um ciclo presidencial... A obra que se tinha iniciado enquanto governante, estagna até a nova ascensão. A namoradinha que se tinha conquistado passa a pousar noutros leitos mais leitosos, até a nova ascensão. Se não tem carro pessoal, passa a gastar a sola nas poeirentas ruas de Bissau, aliviadas por umas boleias, cujos condutores até sarcasticamente vão lhes tratando por Sr. Ministro ou Sr. Dr... Na Guiné-Bissau tendo sido Ministro uma vez, socialmente é-se sempre Ministro!
Por outro lado, temos um povo trabalhador, resignado e cansado das efémeras lutas políticas, que se levanta todos os dias com o sol, a procura do básico para esse e, no máximo, o próximo dia, que fica ansiosamente a espera das próximas festas eleitorais, para ver aviões e camiões fretados através de financiamentos de proveniências duvidosas e dessa forma garantir algumas migalhas, camisolas e chapéus que, mesmo desbotados, vão cobrindo algumas cabeças e corpos esfomeados, aguentando-se até as próximas eleições... Pelo meio há aqueles que vão pedindo humildemente desculpas aos carrascos de 46 anos, por terem colaborado na libertação da prisioneira...
E assim vai a prisioneira Guiné-Bissau tentando distanciar-se do edifício da cadeia, que ironicamente se situa ao lado do Palácio da República.
E assim vai a prisioneira Guiné-Bissau, procurando a sua verdadeira liberdade, cada vez mais cansada dos muitos desorientados que se voluntariam para a ajudar na fuga...
E assim vou desacreditando, cada dia que passa, na verdadeira liberdade da mamã Guiné. Creio que isso será obra para gerações vindouras, quando já me ter despedido da vida terrena...
Sem comentários:
Enviar um comentário