Por Jorge Herbert
Este homem na foto, a quem aperto a mão com muito orgulho, é apenas um dos homens que, para libertarem o seu país do domínio estrangeiro, hipotecaram a juventude, dispuseram-se a morrer, passaram fome, dormiram ao relento por vezes debaixo da chuva e fustigados por mosquitos, por vezes estiveram quase a morrer, ora por ataques dos inimigos, ora pela malária ou por qualquer outra doença... Palmilharam quilómetros nas matas da Guiné-Bissau, carregados de arma e munições, mas sempre incansáveis a perseguir a liberdade!
Mas ainda hoje, a liberdade teima a não chegar para o tio Marcelino! Um homem que devia estar a desfrutar tranquilamente da sua digna reforma e os seus direitos de combatente de liberdade da pátria, há poucos meses conta-me com uma humildade tamanha, a história de uma boa bicicleta que tinha, com que fazia vários quilómetros para ir trabalhar, mas que lha roubaram... No entanto, para o tio Marcelino, “Deus é grande” e na campanha para as eleições legislativas ganhou uma nova bicicleta com um colante da propaganda do PAIGC, oferecida pelo seu patrão a quem faz de guarda noturno e por vezes de condutor e que é nada mais, nada menos, o Ministro das Finanças deste governo!
Esta foto foi tirada no início de um turno de guarda noturno e o tio Marcelino não sabia nem sabe que um dia eu escreveria estas linhas! Até ficou admirado eu querer tirar uma foto com ele!
Será que as noites que o tio Marcelino perdeu na luta não são suficientes para que hoje tenha uma vida mais condigna?
Obrigado tio Marcelino por me ter dado a independência. Pode querer que foi com muito respeito e orgulho que apertei a sua mão...
Nem a Guiné-Bissau, nem o tio Marcelino ainda se libertaram!
Jorge Herbert
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