segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Domingos Simões Pereira pede Governo "de confiança" na Guiné-Bissau

Em entrevista exclusiva à DW, presidente reeleito do PAIGC volta a afirmar que é contra a nomeação do novo primeiro-ministro, Artur Silva, e lamenta que José Mário Vaz "persista em comprometer sempre as leis".

Domingos Simões Pereira, Presidente reeleito do PAIGC

"Eu penso que foi um congresso histórico. Um congresso realizado numa situação muito complicada, com muitas ameaças e tentativas do poder instalado em pôr em causa a sua organização, mas que terminou com extraordinários resultados”.

É desta forma que o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, avalia o nono congresso do partido, numa entrevista à redação em francês da DW. Este domingo (04.02), em Bissau, Simões Pereira foi reeleito com 1.113 votos a favor e três contra, num universo de 1.135 delegados.

O líder do PAIGC, de 55 anos, vai liderar o partido por mais quatro anos, com o objetivo de vencer as eleições. Para Simões Pereira, o resultado do congresso mostra que há uma maior "disciplina" dentro do partido que irá apresentar-se junto do eleitorado guineense "preparado" para assumir as responsabilidades e cumprir o programa que tiver acordado com o povo. Isto, apesar das dificuldades impostas ao PAIGC.

"Todo o mundo já percebeu que houve uma intenção deliberada em comprometer a governação do PAIGC, de sequestrar o poder para deixá-lo ao serviço de grupos de amigos e de interesses. Certamente, não contavam com a determinação dos militantes do PAIGC em resgatar esse direito à liberdade e à democracia que é o que nós estamos a celebrar neste momento", afirma o líder do PAIGC.

PAIGC não reconhece o novo primeiro-ministro

Sobre a nomeação do novo primeiro-ministro, Artur Silva, pelo Presidente da República José Mário Vaz, o líder do PAIGC assegura que essa escolha não é "nem a aplicação da Constituição" e "muito menos a observância do Acordo de Conacri".

Domingos Simões Pereira lamenta que o Presidente da República "persista em comprometer sempre" as leis e as posições legais do país. Ressalvando que Artur Silva é quadro do PAIGC e um militante que conhecem e respeitam, Simões Pereira frisa que, simplesmente, o novo primeiro-ministro surge num quadro que, para o partido, é "inaceitável". 

Artur Silva, novo primeiro-ministro da Guiné-Bissau e
o Presidente da República, José Mário Vaz

O Presidente do PAIGC acrescenta que o problema está no procedimento daquilo que tem sido a política do Presidente José Mário Vaz.

Em relação à mediação da crise política na Guiné-Bissau pela CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) o político disse que confia na organização e que não se pode colocá-la em causa, embora reconheça os seus pontos fracos.

Dar a palavra aos guineenses

Para Domingos Simões Pereira, impõe-se dar a palavra aos guineenses: "Tudo que nós queremos, é que seja formado um Governo minimamente que mereça a nossa confiança e de todos os setores da sociedade para podermos devolver a palavra ao povo guineense. Que seja o povo a determinar quem são os seus legítimos representantes, a quem confia o direito e a responsabilidade de governar nos próximos tempos". afirmou.

Sobre o futuro e uma eventual candidatura à Presidência da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira garante: "Não está no meu horizonte".

DW

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