A diretora do Serviço de Meteorologia Aeronáutica, Feliciana Mendonça, aconselhou as autoridades nacionais, em particular a Câmara Municipal de Bissau e o ministério das Obras Públicas, no sentido de tomarem medidas urgentes para construir canais de drenagem no centro da cidade, sobretudo nas zonas do bairro Chão de Pepel, de forma a evitar grandes inundações. Alertou que, sempre que chove com intensidade, ocorrem inundações, porque o terreno é húmido e as drenagens não funcionam corretamente, por isso vê-se a subida da água quando chove muito.
A responsável do serviço de previsões do tempo concedeu uma entrevista exclusiva ao nosso semanário para abordar as questões das condições do trabalho dos técnicos de serviços da meteorologia, bem como do funcionamento daquela instituição encarregue de fazer as previsões do tempo e do clima do país, depois da reinauguração das suas instalações recentemente reabilitadas.
O Serviço de Meteorologia dispõe de quatro estações principais de previsões do tempo que se encontram instaladas nas regiões de Bafatá, Bolama, Gabú e Bissau. Conta ainda com estações auxiliares que estão instaladas em Bissorã (Oio), Pirada (Gabú) e Bubaque (Bolama). As estações são instaladas nas cidades onde serão abertos pequenos aeroportos, pelo que os técnicos terão a tarefa no que tem a ver com o controlo do tempo e das condições climatéricas.
Antigamente, o serviço da meteorologia tinha 62 postos pluviométricos que permitiam os chamados `Observadores Benevolentes´ recrutados localmente fazer medições da quantidade das precipitações, mas dada às dificuldades técnicas e financeiras, conta atualmente com 25 postos. Para o controlo dos referidos postos, a direcção nacional da meteorologia tomou a iniciativa de recrutar localmente professores, enfermeiros e elementos da administração local para controlar as precipitações, após uma formação sobre o controlo do aparelho de medição.
As pessoas recrutadas localmente em diferentes zonas do país são conhecidas como “Observadores Benevolentes”, dado que trabalham num regime de voluntariado com um subsidio simbólico estabelecido no valor de dez (10) mil francos cfa por mês. Contudo, levam já mais de 24 meses, ou seja, mais de dois anos sem receber os respectivos subsídios, razão pela qual alguns observadores recusam muitas vezes entregar as fichas preenchidas do controlo de tempo em protesto.
DIRETORA DE SERVIÇO DE PREVISÕES DE TEMPO RECOMENDA URBANIZAÇÃO E LIMPEZA DE VALETAS DA CIDADE
Durante a entrevista, Feliciana Mendes explicou que é preciso um grande engajamento das autoridades nacionais, em particular da Câmara Municipal de Bissau, no que concerne à urbanização da capital e não só, como também na abertura de canais de drenagem que permitam a passagem da água, de forma a evitar inundações em alguns bairros da capital considerados vulneráveis a esse fenómeno.
“É preciso medidas severas de controlo de canais e a limpeza frequente nesta época das chuvas, porque se os canais estão limpos e sem lixo, a água passa com facilidade. Urge criar mecanismos de controlo das drenagens, e particularmente em algumas zonas da capital, de forma a evitar as inundações. É possível constatar a olhos nus as pequenas inundações que se registam no centro da cidade quando chove fortemente. Isso tem a ver com falta da limpeza das valetas que também são pequenas e não permitem a passagem da água facilmente. Outro problema é a urbanização da cidade, dado que algumas construções bloqueiam a passagem da água e, por isso, registam-se inundações naquelas zonas. As autoridades devem começar a pensar seriamente em melhorar as zonas para evitar o pior e que poderá vir a acontecer”, advertiu.
Lembrou ainda que o país não tem condições para colocar viaturas de remoção de lixos nas ruas para a recolha dos mesmos nos diferentes bairros, a semelhança dos países vizinhos, pelo que as populações optam por deitar o lixo nas valetas durante a época das chuvas. Sublinhou, no entanto, que primeiramente é necessário criar as condições e um plano para a remoção de lixos, a fim de evitar esse mau hábito.
Assegurou ainda que o país está a desenvolver-se a cada dia em termos da construção de casas, por isso defende que a Câmara Municipal de Bissau adopte igualmente medidas que obriguem as pessoas a pedir um parecer técnico da meteorologia antes do inicio das obras, porque “é importante ter informações meteorológicas sobre a previsão do tempo ou clima de uma determinada zona, porque ajuda os arquitetos na planificação da casa para evitar estragos causados, por exemplo, pelo vento”, sublinha.
Informou neste particular que a direcção do serviço da meteorologia elaborou um documento que será apresentado no parlamento nacional para efeito da discussão e consequente aprovação. Afiançou ainda que o referido “projecto lei” trata da obrigação das pessoas em solicitar o parecer técnico da meteorologia antes do inicio da construção, de forma a evitar os estragos que se registam todos os anos por causa do vento.
GRANDES EDIFÍCIOS FORAM CONSTRUÍDOS EM BISSAU SEM PARECER TÉCNICO DE METEOROLOGIA
Durante a entrevista, explicou que grandes edifícios privados foram construídos em Bissau sem o parecer técnico do serviço de meteorologia. Acrescentou ainda que os arquitetos ou responsáveis das obras sabem da importância do mesmo, mas fazem orelhas de mercador, por isso trabalharam o projecto lei que, se for aprovado, obrigará as pessoas a solicitar o parecer técnico para a construção da casa e, sem o qual não lhes será cedida a licença para o inicio dos trabalhos.
Interrogado se os edifícios governamentais construídos pela China contaram com o parecer técnico de meteorologia, respondeu que os chineses solicitaram o parecer técnico para a construção de todas as suas obras no país.
“Mesmo as diferentes empresas que construíram as duas grandes pontes do país, nomeadamente, João Landim e de São Vicente, pediram o parecer do serviço de meteorologia antes de iniciarem os trabalhos. Infelizmente, o mesmo não se regista na construção dos edifícios privados. Por exemplo, a empresa que está a construir o edifício que se encontra a frente do parlamento não solicitou o parecer de meteorologia, como também a empresa que construiu o hotel império também não pediu o parecer”, contou.
“É importante conhecer os dados meteorológicos que indicam a direcção do vento na zona onde se vai construir a casa. Hoje, na Europa, e inclusive em alguns países da África, não se admite a construção de casas sem o parecer técnico de meteorologia, que oriente o arquiteto na abertura de janelas, tendo em conta a direção do vento”, notou.
POR FALTA DE INTERNET E EQUIPAMENTOS, SERVIÇOS DE METEOROLOGIA NÃO EMITE PREVISÃO
A Diretora do Serviço de Meteorologia Aeronáutica disse que a falta de internet e dos equipamentos adequados impede o serviço da meteorologia emitir a previsão. Disse ainda que todos os trabalhos da previsão do tempo são feitos a partir do serviço instalado no aeroporto, onde há uma rede do internet eficiente.
“Tínhamos grandes problemas de corrente elétrica. Então decidimos levar os equipamentos para o aeroporto, para podermos aproveitar a energia elétrica e a rede internet para facilitar o nosso trabalho. Foi assim que deixamos os equipamentos ali e sempre mandamos os técnicos. Eles passaram a trabalhar todos os dias no aeroporto. Se recebermos outros equipamentos e se forem instalados aqui, passaremos a emitir as previsões a partir destas instalações reabilitadas”, contou.
Informou ainda que receberam a garantia do titular do pelouro dos Transportes e Telecomunicações que depois da reinauguração das instalações de meteorologia, serão criadas condições de trabalho que permitam fazer emissão de previsões do tempo, dentro de dois ou três meses.
Justificou ainda que a direcção não tem disponibilidade financeira que o permita subsidiar diariamente o almoço dos técnicos enviados ao escritório do aeroporto para fazer a previsão do tempo.
Sobre esta matéria, revelou que a direcção envia todos os dias dois técnicos para trabalhar no escritório do aeroporto. Isso obriga a que sejam disponibilizados mil francos Cfa´s para cada técnico como subsídio de alimentação. Adiantou, contudo, que os seus técnicos trabalham juntamente com os técnicos da ASECNA, mas que estes dispõem de melhores condições de trabalho.
“Atualmente fazemos as previsões a partir do escritório instalado no aeroporto, em colaboração com os técnicos de ASECNA. Infelizmente, já não fazemos as previsões do tempo regulamente como nos anos anteriores, mas sempre fazemos e, sobretudo quando recebemos as solicitações de uma determinada organização”, notou.
Por: Assana Sambú
Foto: AS
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