segunda-feira, 12 de junho de 2017

Madina de Boé: ESCOLA PRIMÁRIA DE VANDULEIDE REPRESENTA PERIGO À VIDA DAS CRIANÇAS

[REPORTAGEM] O edifício da escola primária de secção de Vanduleide, sector de Boé, região de Gabú no leste do país, que alberga 90 alunos de níveis de 1ª à 4ª classe e divididos em dois turnos (manhã e tarde), representa um perigo grave à vida das crianças devido o seu estado avançado da degradação. Uma parte já desmoronou e apenas uma sala de aulas continua a ser usada para ensinar as crianças.

A escola foi construída pela comunidade local com apoio do governo guineense que, na altura, disponibilizou chapas dezincos para cobrir o edifício. A escola tinha duas salas de aulas com a capacidade de albergar 40 alunos cada. Vanduleide é uma das maiores secções do sector de Boé, constituído por cerca de 20 aldeias. A tabanca de Vanduleide tem uma população estimada em cerca de 500 habitantes, segundo o último censo do Instituto Nacional de Estatística.

Vanduleide é uma aldeia que se situa na zona da linha fronteiriça que separa a Guiné-Bissau da Guiné-Conacri, pelo que se regista o forte domínio da cultura daquele país vizinho sobre aquela população que diz sentir-se mais ‘cidadão Conacri-guineense’ do que bissau guineense. A população local desloca-se quilómetros e quilómetros a procura de centros de saúde nas aldeias do país vizinho para as consultas médicas e compras. A comercialização de produtos agrícolas, de primeira necessidadesão feitas através da moeda da Guiné-Conacri (Franco Guiné) no território guineense.

ESCOLA SEM CARTEIRAS E ALUNOS AGRUPADOS NUMA SALA COM PAREDES ESTALADAS

O vento e a chuva provocaram a queda de uma parte da escola que estava numa fase avançada de degradação. Por isso, os professores decidiram agrupar os alunos de níveis diferentes numa única sala para assistirem as aulas.

Os alunos da 1ª classe e da 3ª classe frequentam as aulas no período de manhã na única sala e os da 2ª classe e 4ª classe no período da tarde. O quadro é dividido no meio para passar a matéria e permitir que os alunos copiem os conteúdos dados pelo professor.

A escola conta com dois professores, um efetivo e outro foi contratado recentemente para ajudar na educação das crianças. O professor efetivo lecciona os níveis de 2ª e 4ª classe no período da tarde, enquanto o professor contratado encarrega-se de leccionar os alunos da 1ª e 3ª classe.

Outra dificuldade que os professores dizem que enfrentam tem a ver com a falta de carteiras, fato que obriga a maioria de alunos a levar cadeiras de casa para escola, enquanto outros improvisam usando ‘blocos feito de solo – dubi’ como cadeira e através do qual acabam por sujar as suas roupas e os próprios cadernos. A tabanca de Vanduleide tem um número significativo das crianças, mas apenas 95 crianças foram inscritas para ano letivo 2016/2017, a maioria é do sexo masculino, ou seja, rapazes.

A população da secção de Vanduleide pratica a religião muçulmana e curiosamente existem vários espaços de aprendizagem do alcorão na aldeia, por isso, de acordo com as informações apuradas, a maior parte dos pais opta por inscrever os seus filhos nas escolas corânicas. E alguns pais enviam os seus filhos para a república vizinha da Guiné-Conacri, onde estudam com ajuda dos familiares até concluirem a formação superior ou fazer um curso técnico profissional.

PROFESSORES PREOCUPADOS COM A SITUAÇÃO DA ESCOLA QUE PODE CAIR E CEIFAR VIDAS DAS CRIANÇAS

O Professor Mamadu Iaia Djaló, que trabalha em regime do contratado, explicou na sua declaração ao Jornal O Democrata a situação da escola, ou melhor, do perigo que agora representa para as crianças e diz que o assunto é do conhecimento dos responsáveis setorial e regional da educação.

Acrescentou ainda que a queda de uma parte da escola bem como a falta de carteiras é assunto transmitido ao inspetor regional da educação, mas até a altura da entrevista não tinham recebido nenhuma resposta e muito menos a visita do delegado regional da educação.

“Uma parte do edifício caiu por causa do vento e passamos a juntar os alunos numa única sala. Também temos dificuldades no concernente à falta de carteiras que obriga alguns alunos a trazerem cadeiras e outros improvisam qualquer suporte para sesentar”, contou.

Mamadu Iaia Djaló informou que começou a trabalhar, no início do ano letivo, mas até no mês de maio último [altura da nossa reportagem] não tinha recebido nenhum ordenado ou subsídio pelo serviço prestado. Frisou neste particular que a escola dispõe de um professor efetivo colocado naquela zona há muito tempo, mas que na altura da reportagem (fim-de-semana) tinha viajado para uma outra aldeia.

Afirmou, no entanto, que uma das suas preocupações tem a ver com o abandono ou fraca participação das crianças na escola que, segundo disse, deve-se à campanha de comercialização de caju que leva um número considerável dos alunos a desistirem das aulas.

Questionado se a preocupação não foi apresentada ao chefe da tabanca bem como aos pais e encarregados da educação, respondeu que a situação é do conhecimento dos mesmos que sempre prometem, e nunca resolvem o problema. Ou seja, tudo fica em promessa e jamais mandam os filhos de volta à escola.

“Acabamos de perceber que alguns encarregados de educação obrigam os seus filhos a faltar aulas para ajudar na recolha da castanha de caju nas matas, bem como apoiar em alguns trabalhos. Essa situação nos dificulta muito e é preciso um trabalho sério para sensibilizar os pais para que tenham a noção da importância da escola. A questão do isolamento contribui muito nesta situação, porque este povo vive, em grande medida, da produção agrícola e pouco se importam com a escola”, notou.

Outro assunto que merece igualmente a preocupação de professor Mamadu Iaia Djaló é a questão da influência da língua ou cultura Conacri-guineense naquela secção, tendo frisado que as crianças dominam mais o dialético fula bem como percebem algumas expressões da língua francesa, por causa da proximidade e a ligação com a república vizinha da Guiné-Conacri.

“Temos dificuldade em explicar as crianças em crioulo e muito menos em português. Os alunos usam expressões em francês para chamar os nomes de alguns materiais escolares. Essa situação tem maior pendor nas crianças de 1ª e 2ª classe. Mas a verdade é que a situação é preocupante para nós, dado que demostra a influência ou o domínio do país vizinho no nosso território”, explicou o professor que, entretanto, aproveitou a ocasião para apelar às autoridades do país no sentido de começarem a trabalhar seriamente no plano de promover a língua e cultura lusófona no nosso país.

Assegurou ainda que a escola beneficia de ajuda do programa de cantina escolar que incetiva um pouco as crianças a irem à escola, mas no período da campanha de castanha de caju, as crianças nem se importam com as refeições oferecidas na escola porque, conforme disse, é o período em que circula muito dinheiro e as crianças conseguem dinheiro para adquirir produtos variados.

Por: Assana Sambú
Foto: AS
OdemocrataGB

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