domingo, 2 de junho de 2024

Domingos Simões Pereira, líder do PAIGC contestou a leitura que está a ser feita em Bissau e salientou que o mandato do Presidente da República Umaro Sissoco Embaló, termina em fevereiro de 2025.


 Radio Voz Do Povo

Amílcar Cabral, líder das independências guineense e cabo-verdiana, preocupava-se em ter democratas autênticos, "coisa que não existe mais", referiu o ex-combatente João Pereira Silva, ao recordar a figura histórica no ano do seu centenário.

© Lusa
Por Lusa  02/06/24 
 "Não existe mais". Cabral preocupava-se em ter democratas autênticos
Amílcar Cabral, líder das independências guineense e cabo-verdiana, preocupava-se em ter democratas autênticos, "coisa que não existe mais", referiu o ex-combatente João Pereira Silva, ao recordar a figura histórica no ano do seu centenário.

Aos 79 anos, o também ex-governante cabo-verdiano, natural na ilha da Boa Vista, onde hoje reside, considerou que o ponto mais importante ao discutir os modelos de democracia de Cabral é que ele se preocupava em definir "as qualidades de um democrata".

Referia que "democracia é não mentir ao povo, é ser honesto, é trabalhar incansavelmente" pela população, ou seja, "ele referia-se às características de um democrata autêntico, coisa que atualmente não existe", descreveu.

Mesmo nas democracias de estilo ocidental, hoje, "trabalha-se para não sair dos cargos" e, "em muitos casos, os cargos servem para enriquecer e não para resolver os problemas do povo", disse, ao estabelecer o contraste com o perfil de democrata alinhado com o povo, definido por Cabral.

João Pereira Silva viveu pouco mais de um ano em Conacri, entre 1970 e 1972, onde era professor na escola-piloto do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

Era mais novo que a geração de Cabral, mas partilhou alguns momentos com o dirigente, o suficiente para recordar preocupações que carregava.

Num outro momento juntos, "falando sobre o regime soviético", Amílcar Cabral "teve essa saída: se depois do fim da luta tivesse a certeza de que o imperialismo nos deixasse seguir um caminho sem interferências, ele preferiria a social-democracia sueca".

"Isso não está escrito. Lembro-me perfeitamente, nunca me esqueci dessa frase dele, porque está associada a um filme", contou.

O comentário surgiu depois de ambos assistirem à projeção de uma longa-metragem soviética sobre o confronto com a Alemanha nazi, na Segunda Guerra Mundial, e que retratava o papel do "general de Estaline", Gueorgui Júkov.

"Ele não tinha soluções acabadas", mas procurava-as.

A União Soviética (URSS) e a Suécia tinham em comum o apoio à luta anticolonial em África e a proximidade a Amílcar Cabral, que recebia armas e apoio à formação militar da URSS e ajuda não-militar escandinava.

Numa altura em que o mundo seguia uma lógica de guerra fria entre dois blocos, a figura histórica procurava afirmar a autodeterminação africana de forma independente, tendo o cuidado de promover a causa e os valores do PAIGC junto de ambos os blocos.

Noutro momento, numa reunião com estudantes nos Estados Unidos, Amílcar defendeu que "era perigoso [um país] depender só de um partido. Tinha de se arranjar forma de garantir que o povo tomasse conta, de facto, do poder".

Mas as independências acabariam por viver os primeiros anos sob regimes de partido único, o PAIGC, tanto em Cabo Verde (até 1992) como na Guiné-Bissau (1993).

Em Conacri, João Pereira Silva recorda-se de Amílcar num encontro de orientação vocacional, num final de ano letivo da escola-piloto, ao ajudar a encaminhar os finalistas para ensino especializado - entre os alunos do ex-combatente, um acabou por ser arquiteto, outro cineasta.

"Preocupava-se muito com o que fazer depois [da luta pela independência], com a preparação do futuro, por isso dava atenção especial à educação das crianças no interior, dos quadros na luta armada, mas também em formar engenheiros, médicos e até músicos", recordou

"Acho que sabia da consideração que tinham por ele, por exemplo, os novos presidentes das repúblicas que surgiam" com as independências africanas, "mas não se vangloriava com isso", contou João Pereira Silva.

Vestia fato e gravata "só para ir à Europa, a algumas conferências. Lá, em Conacri, ele vestia camisas, algumas já muito usadas", mas sem ensombrar a aura cativante de Cabral, "um conquistador de pessoas, gentil com quem lidava", recordou.

Amílcar Cabral viajava com frequência para o exterior, mas quando estava em Conacri, era presença assídua na escola-piloto.

"Todos os dias, cedo, visitava os alunos", e, numa dessas manhãs, reparou que o professor João Pereira Silva tinha perdido o relógio de pulso.

"Na visita seguinte apareceu com uma caixinha na mão e tinha um relógio lá dentro. Era uma pessoa generosa e que observava os detalhes".

"Violento? Não", diz o ex-combatente, por entre gargalhadas, reiterando que a opção pela luta armada foi "o último recurso, face à obstinação do poder colonial [português] em não discutir a transformação política" das colónias.

No seu entender, foi devido ao caráter não violento que Cabral "foi assassinado nas circunstâncias em que foi", a 20 de janeiro de 1973, em Conacri.

"Um homem que tinha feito um discurso de fim de ano, descrevendo planos das forças coloniais para acabar com a luta [pela independência], inclusive liquidando-o", circulava, ainda assim, sem escolta.

Nesse dia, João Pereira Silva já estava longe, a completar instrução militar na União Soviética.

Formado em agronomia, como o líder histórico, o ex-combatente cabo-verdiano viria depois a desempenhar as funções de ministro de Desenvolvimento Rural e Pescas de Cabo Verde (1977 até 1991) e durante os últimos seis meses da primeira República foi ministro de Administração Interna, em acumulação.

Amílcar Cabral celebraria 100 anos a 12 de setembro de 2024, decorrendo atividades em diferentes países para assinalar a efeméride.

Em Cabo Verde, várias comemorações estão associadas à Fundação Amílcar Cabral e incluem um colóquio internacional sobre o líder histórico, a realizar em setembro, como ponto alto do programa.

Leia Também: Amílcar Cabral era temido pela PIDE que o perseguiu desde estudante 


Coreia do Norte envia 600 balões com lixo para Coreia do Sul

© Lusa

Por Lusa  02/06/24 

Seul, 02 jun 2024 (Lusa) - A Coreia do Norte enviou para o outro lado da fronteira cerca de 600 balões com lixo, incluindo beatas de cigarros e plásticos, declarou hoje o exército sul-coreano.

"A Coreia do Norte voltou a lançar balões cheios de lixo em direção à Coreia do Sul", declarou o Estado-Maior das Forças Armadas em comunicado.

"Foram identificados cerca de 600 balões, com 20 a 50 balões por hora a deslocarem-se no ar", acrescentou.

As autoridades sul-coreanas ameaçaram na sexta-feira adotar medidas contra a Coreia do Norte, caso o país vizinho continue com as "provocações irracionais", como o envio destes balões com lixo.

"Estamos a levar isto muito a sério, não vamos tolerar esse tipo de ações", garantiu em comunicado o o Ministério da Reunificação sul-coreano.

Na quarta-feira, os meios de comunicação social tinham revelado o lançamento pela Coreia do Norte de balões cheios de lixo, papel higiénico e fezes de animais para o vizinho do Sul.

Desde que a Guerra da Coreia (1950-1953) terminou num armistício e não num tratado de paz, o Norte e o Sul permanecem tecnicamente em guerra e estão separados por uma fronteira fortemente fortificada, incluindo a zona desmilitarizada.

Ativistas sul-coreanos lançam por vezes balões que contêm folhetos de propaganda contra o poder norte-coreano e dinheiro destinado às pessoas que vivem a norte da fronteira.

Estes lançamentos há muito que despertam irritação em Pyongyang, possivelmente por temer que um influxo de informação externa, numa sociedade fortemente controlada, possa representar uma ameaça para aqueles que estão no poder.

Leia Também: "Provocações irracionais". Seul ameaça Pyongyang com medidas dolorosas 


China vai agir "com determinação" para impedir independência de Taiwan

© Ore Huiying/Bloomberg via Getty Images
Por Lusa  02/06/24 
A China vai "agir sempre com determinação e força" para impedir a independência de Taiwan, afirmou hoje em Singapura o ministro da Defesa chinês, Dong Jun.

"O Exército de Libertação Popular da China sempre foi uma força indestrutível e poderosa na defesa da unificação da pátria e vai agir sempre com determinação e força para travar a independência de Taiwan e garantir que esta nunca tenha sucesso", disse Dong Jun no fórum de segurança Diálogo de Shangri-La, que termina hoje em Singapura.

Dong Jun advertiu ainda que os "separatistas taiwaneses" e as "forças estrangeiras" que tentarem separar Taiwan da China vão acabar "por se autodestruir".

"O que fazem é promover a independência de Taiwan numa tentativa de conter a China. São ações maliciosas que estão a empurrar Taiwan para uma situação de perigo", afirmou Dong num discurso.

"Estamos empenhados na reunificação pacífica, mas a situação está a ser constantemente prejudicada por separatistas e forças estrangeiras", acrescentou.

A China considera Taiwan uma província rebelde e não exclui o uso da força para a recuperar se a ilha declarar a independência.

Taiwan é a ilha para onde o exército nacionalista chinês se retirou depois de ter sido derrotado pelas tropas comunistas na guerra civil, em 1949.

Desde então, é governada de forma autónoma.

Os Estados Unidos são o maior aliado de Taiwan e comprometeram-se a ajudar a ilha em caso de invasão pela China.

Dong disse ainda em Singapura que "alguns países" estão a espalhar "falsas narrativas" no mar do Sul da China e a instalar ilegalmente mísseis na região, numa referência às Filipinas e aos Estados Unidos, de acordo com a agência de notícias EFE.

O Presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr., advertiu no sábado a China de que considerará como um ato de guerra a morte intencional de qualquer filipino nas disputas com Pequim no mar do Sul da China.

"Se um cidadão filipino morrer num ato intencional, isso seria muito próximo do que definimos como um ato de guerra e, por conseguinte, responderíamos em conformidade", afirmou Marcos Jr. durante uma entrevista em Singapura.

A questão dos conflitos nesta área marítima é um dos temas em destaque no fórum.

Marcos Jr. advertiu que a resposta reforçada poderia implicar a ativação do Tratado de Defesa Mútua assinado entre as Filipinas e os Estados Unidos, embora tenha sublinhado que pretende manter a paz na região.

O líder filipino acrescentou que a estabilidade regional "necessita que a China e os Estados Unidos giram a sua rivalidade de forma responsável".

Dada a posição no mar do Sul da China e a proximidade de Taiwan, o apoio das Filipinas seria importante para os Estados Unidos em caso de conflito na região.

No ano passado, Manila alargou um acordo de 2014 que permitia o acesso dos militares norte-americanos a quatro bases adicionais, elevando o número total para nove.

Duas das bases situam-se no extremo norte do arquipélago filipino, a menos de 450 quilómetros de Taiwan, segundo a agência de notícias France-Presse.

O acordo que autoriza as forças norte-americanas a passar e a armazenar equipamento nas Filipinas irritou a China, que acusou Washington de utilizar o país como "um peão para criar problemas no Mar do Sul da China".

Manila e Pequim têm uma longa história de incidentes marítimos, que se agravaram nos últimos anos.


Identificados novos genes do cancro da mama em mulheres de origem africana

 SIC Notícias  02/06/2024
Estudo norte-americano identificou genes do cancro da mama em mulheres de origem africana, que podem ajudar a prever o risco de contraírem a doença.

Um novo estudo, publicado no identificou doze genes do cancro da mama em mulheres de origem africana, que podem ajudar a prever o risco de contraírem a doença. Para além disto, os genes identificados evidenciam ainda potenciais diferenças de risco em relação às mulheres de origem europeia.

As investigações que existem sobre o tema centram-se principalmente nas mulheres europeias, mas neste estudo publicado em maio na revista Nature Genetics participaram apenas mulheres com ascendência africana.

Com base em estudos de Prevenção do Cancro da American Cancer Society, foram incluídas nesta investigação mais de 40.000 mulheres dos Estados Unidos, África e Barbados, 18.034 com cancro da mama.

O cancro da mama é atualmente o tipo de cancro mais comum nos EUA, responsável por mais de 240.000 casos diagnosticados todos os anos. As mulheres negras norte-americanas apresentam taxas mais elevadas de cancro da mama antes dos 50 anos, apresentam também uma maior incidência de cancros da mama mais difíceis de tratar e uma taxa de mortalidade por cancro da mama 42% superior à das mulheres europeias.

Fatores de risco genéticos “podem diferir entre mulheres de origem africana e europeia”

Os investigadores da Nature Genetics indicam que fatores de risco genéticos “podem diferir entre mulheres de origem africana e europeia”. Esta conclusão baseia-se nas novas mutações identificadas que não tinham sido associadas à doença ou então não eram consideradas como tão relacionadas com o cancro em estudos feitos com mulheres europeias.

Um exemplo disso é que as novas conclusões indicam que alguns dos genes conhecidos por aumentarem o risco de cancro da mama em mulheres brancas não foram associados à doença neste estudo.

De acordo com a Reuters, os resultados demonstraram estimativas sobre o risco de cancro da mama em mulheres de origem africana com base em mutações nos genes de predisposição, excluindo os genes do cancro da mama já reconhecidos BRCA1 e BRCA2.

Classificação de risco da doença para as mulheres negras

Os investigadores desenvolveram então uma classificação do risco de cancro da mama para as mulheres negras, que se revelou significativamente mais precisa do que as ferramentas atualmente disponíveis.

A pontuação de risco revelou que seis dos doze genes identificados no estudo foram associados a um elevado risco de contrair o cancro da mama triplo-negativo, a forma mais agressiva da doença. As mulheres de origem africana têm um risco três vezes maior de contrair esta variante da doença do que as mulheres com ascendência europeia.

Para além disto, os investigadores concluíram ainda que as mulheres negras, que são portadoras dos seis genes, têm 4,2 vezes mais probabilidades de serem diagnosticadas com cancro da mama triplo-negativo quando comparadas com as que não tinham nenhuma ou apenas uma das variantes.

Num estudo de acompanhamento, a prevalência de mutações patogénicas em três genes, BRCA2, CHEK2 e PALB2, foi mais elevada nas mulheres negras.

"Estudo fornece provas para promover a equidade em matéria de saúde"

    “Este estudo fornece provas para promover a equidade em matéria de saúde, no aconselhamento e nos testes genéticos para ajudar a determinar o risco de desenvolver cancro da mama”, afirmou Lauren Teras, diretora científica e líder da investigação sobre o cancro da mama.

A American Cancer Society aconselha a que se realizem testes genéticos em todas as pacientes, independentemente da raça, porque mutações genéticas anteriormente identificadas como fatores de risco de cancro da mama em mulheres brancas estão também fortemente ligadas ao risco de doença nas mulheres africanas.

No entanto, esta sociedade americana relembra que as mulheres negras norte-americanas têm menos probabilidades do que as mulheres brancas de fazer o teste devido a diferenças existentes nas recomendações dos médicos e diferenças no acesso aos cuidados de saúde.