© Annice Lyn/Getty Images
POR LUSA 21/01/24
Uma invasão militar de Taiwan seria "extremamente difícil e dispendioso" para Pequim, concluiu uma análise do 'think tank' Council on Foreign Relations, destacando as montanhas, águas rasas e falésias em torno da ilha.
"Invadir Taiwan ou montar um bloqueio bem-sucedido seria a operação militar mais complexa da História moderna", lê-se no relatório, assinado por David Sacks, investigador do grupo de reflexão com sede em Nova Iorque.
"A China teria de conduzir uma operação militar extraordinariamente complexa, sincronizando poder aéreo, terrestre e marítimo, bem como guerra eletrónica e cibernética", acrescentou.
A modernização militar da República Popular da China centrou-se nas últimas décadas no desenvolvimento de capacidades que lhe permitam conquistar Taiwan pela força, desde mísseis balísticos a caças avançados e à maior marinha do mundo.
No sábado passado, a vitória nas eleições presidenciais em Taiwan do Partido Democrático Progressista, tradicionalmente pró -- independência e que enfatiza uma identidade própria do território, tornou mais remota a perspetiva de a China comunista assumir o controlo de forma pacífica.
Sacks apontou para dificuldades inerentes às condições naturais de Taiwan, incluindo terrenos montanhosos no interior da ilha e águas rasas e falésias íngremes nas costas oeste e leste.
"Devido ao facto de as águas serem pouco profundas, a China teria de ancorar os navios longe da costa de Taiwan e deslocar lentamente o equipamento para a costa, tornando os navios vulneráveis aos mísseis e à artilharia de Taiwan", descreveu.
"A deslocação para os principais centros populacionais de Taiwan só é possível através de algumas passagens estreitas e túneis, que Taiwan pode destruir ou defender", afirmou.
O Estreito de Taiwan, com mais de 180 quilómetros de largura, é também altamente turbulento. Devido às duas estações de monções e a outros fenómenos meteorológicos extremos, uma invasão marítima só é viável durante alguns meses por ano.
"O transporte de centenas de milhares de soldados através do Estreito de Taiwan demoraria semanas e exigiria milhares de navios. Cada travessia demoraria horas, o que permitiria a Taiwan apontar aos navios, concentrar as tropas em potenciais locais de desembarque e erguer barreiras", lê-se na análise.
David Sacks questionou ainda se a China possui os navios de guerra necessários para invadir Taiwan.
"A frota anfíbia da China é relativamente pequena e embora Pequim recorra provavelmente a navios civis para sustentar e complementar uma força invasora, estes demoram mais tempo a descarregar e seriam mais vulneráveis aos mísseis de Taiwan", notou.
Lembrando que a operação do Dia D, na Segunda Guerra Mundial, foi a maior invasão anfíbia da história militar, envolvendo sete mil navios e quase duzentos mil soldados que atravessaram o Canal da Mancha, com cerca de 160 quilómetros, a análise apontou que uma invasão anfíbia de Taiwan teria provavelmente de ultrapassar o desembarque dos aliados nas praias da Normandia em termos de escala.
Com cerca de 36.000 quilómetros quadrados, Taiwan tem pouco mais de 23 milhões de habitantes, mas a sua identidade e contexto geopolítico assumem hoje importância global, colocando frente a frente as duas maiores potências do planeta: China e Estados Unidos.
Destino de camponeses e pescadores das províncias chinesas de Fujian e Guangdong, ao longo dos séculos, Taiwan esteve sob domínio holandês, espanhol, chinês e japonês. No final da Segunda Guerra Mundial, o território integrou a República da China, sob o governo nacionalista de Chiang Kai-shek.
Após a derrota contra o Partido Comunista, na guerra civil chinesa, em 1949, o Governo nacionalista refugiou-se na ilha, que mantém, até hoje, o nome oficial de República da China, em contraposição com a República Popular da China.
Vista de Pequim, Taiwan é uma barreira à projeção do seu poder na região da Ásia -- Pacífico, devido à localização geoestratégica entre o mar do Sul da China e o mar do Leste da China, no centro da chamada "primeira cadeia de ilhas".
Para os Estados Unidos, a 'queda' de Taiwan abalaria a credibilidade do seu sistema de alianças na Ásia Pacífico, ditando o fim do domínio geoestratégico norte-americano na região.
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