sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

RETROSPETIVA E PERSPETIVA ECONÓMICA DA GUINÉ-BISSAU 2019/2020

A economia guineense desde os últimos anos tem vindo a atravessar momentos difíceis, condicionada por duas variáveis: 
1) constante instabilidade política, 
2) não diversificação da economia dependendo somente da Castanha de Caju, o seu principal produto de exportação.

O ano de 2019 está quase a acabar e a economia guineense não registou um crescimento aceitável, não obstante alguns esforços que estão a ser feitos para que possamos estar numa posição de convergência com alguns países da UEMOA.

GRANDES ACONTECIMENTOS ECONÓMICOS EM 2019
2019 é o ano em que a nossa economia conhece uma retração do crescimento de 5,9% para 3,5%, deixando a situação Orçamental sob stress. Primeiramente, devido à despesa ser mais elevada do que previsto. O défice público nos meados de 2019 ultrapassou significativamente a meta do projeto do orçamento. 

A Castanha de Caju, principal produto de exportação, foi vendida a 500 FCFA. É o ano que a Guiné-Bissau rubricou o Acordo de Livre Comércio Africano, acordo esse que estabelece um enquadramento para a liberalização de serviços e mercadorias e tem como objetivo eliminar as tarifas aduaneiras em 90 por cento. Também é o ano em que o governo emitiu títulos do Tesouro num montante de 10 mil milhões de FCFA. 

A inflação situou-se nos 1,3%, para um país que já teve taxas anuais de inflação significativas é realmente um percurso assinalável em relação ao qual nos devemos sentir orgulhosos, sendo um país com uma economia muito aberta ao exterior, importando a maior parte dos bens de consumo, este é um elemento muito importante para assegurar a estabilidade dos preços na Guiné-Bissau. 

É o ano em que registamos um défice fiscal de 6% do PIB, muito acima do previsto pelos critérios de convergência da UEMOA. É o ano em que a taxa de financiamento a economia permanece fraca abaixo dos 15%, em contraponto com a média da UEMOA que é de 30%.

OS PRINCIPAIS DESAFIOS ECONÓMICOS PARA 2020
O grande desafio que se coloca agora ao nosso país é a diversificação da economia guineense, de modo a diminuir a sua ainda dependência da Castanha de Caju, para evitar que uma situação paradoxal em que um país com muitos recursos não consegue diversificar a sua economia, não cresce do ponto de vista económico e passa a viver uma situação de estagnação ou mesmo de contração económica. Apesar das perspetivas favoráveis, a dependência da Guiné-Bissau das receitas da Castanha de Caju e das importações deixa a economia altamente vulnerável a choques externos.

Ainda existem outros desafios importantes que o executivo deve priorizar já em 2020.

Os principais desafios económicos para 2020 resultam principalmente dos constrangimentos financeiros num contexto de pressões sobre a despesa e um peso da dívida externa que se estima em cerca de 50,1% do PIB.

Confiança no País- Sempre defendi que a confiança é o factor mais importante para o desenvolvimento económico de uma empresa, de um país. E esta deve ser uma questão que deve ser tratada com seriedade suficiente para entender os factores que sustentam a sua ausência.

Degradação das Contas Públicas- umas das variáveis que complica a economia guineense, são tidas como “desafios significativos” num contexto de baixo crescimento económico. O défice das contas públicas permanece elevado e os receios sobre a divida “in distress” pode fazer reverter os ganhos do crescimento da economia.

Agricultura- tem um forte desempenho, trazendo um alivio muito necessário à inflação, principalmente nos bens alimentares.

Investimento Direto Estrangeiro- A lei do investimento Privado vigente na Guiné é boa, manifesto pessoalmente a necessidade da existência de isenção fiscal aos investidores externos. Entretanto, a baixa taxa de investimento levanta sérias preocupações no longo prazo.

Industrialização- O executivo deve defender maior celeridade e pragmatismo na viabilidade dos projetos.

Economia Informal- Esta assume peso considerável no contexto do mercado guineense, sendo expectável a integração desses agentes económicos na economia formal. Certo é que na Guiné-Bissau a relevância da economia informal é significativa, e como tal, faz sentido adotar algumas medidas no sentido de incentivar tais agentes a aderir à economia formal, com regimes adequados à dimensão dos respetivos negócios. O desafio centra-se por isso neste processo de aperfeiçoamento por parte do governo e dos contribuintes.

Economia Azul- O mar é um dos nossos principais recursos naturais. Guiné-Bissau é possuidora de recursos marinhos que podem ter um peso importante na nossa economia. Não devemos subestimar a economia do mar, que pode também contribuir para aumento do nosso Produto Interno Bruto.

Combate à corrupção- a corrupção é um flagelo que abala o aparelho do Estado guineense, razão pela qual deve ser combatida a todos os níveis. Quando se fala constantemente de corrupção os empresários têm medo de insvestir.

Privilegiar acordos com o FMI- A economia guineense enfrenta uma situação económica e financeira adversa, devido à quebra nas receitas o que teve sérias implicações nas contas fiscais do país, na balança de pagamentos e na economia real. Um novo acordo com o FMI pode relançar o crescimento económico através de algumas medidas a serem implementadas para melhorar as politicas fiscais, bem como garantir maior solidez ao sector financeiro.

Em 2020, o país precisa de continuar a crescer. Hoje já não há dúvidas que o crescimento económico é a condição essencial para o desenvolvimento. Sem crescimento económico não há desenvolvimento. Parte da nossa economia depende da conjuntura externa, se essa conjuntura não é favorável, será mais difícil para a economia guineense crescer.

Bom Natal e um bom ano novo a todos!
Dakar, 12 Dezembro de 2019
Mestre Aliu Soares Cassama

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