[REPORTAGEM] A comunidade da aldeia de Cussana, setor de Mansoa, região de Oio no norte da Guiné-Bissau, pediu ao executivo guineense carteiras e água potável para a escola construída pela comunidade local, com o apoio da missão católica de Mansoa. Para além de carteiras e água potável, a comunidade quer ainda o engajamento das autoridades governativas no que concerne ao fornecimento de painéis solares à escola para que possa eletrificada e, por conseguinte, permitir o funcionamento no período da noite, para cursos de alfabetização.
Cussana dispõe de uma escola do ensino básico constituída por três pavilhões com telhados em chapas de zinco, como também de um edifício de “Bangalow” que funciona como Jardim de infância, denominado “Jardim Massimo Ascorti”. A escola alberga mais de 830 alunos. A maioria é proveniente das tabancas arredores. A escola ministra anualmente cursos que vão desde o jardim de infância ao sexto ano de escolaridade.
GREVES NA EDUCAÇÃO NÃO IMPEDEM O FUNCIONAMENTO DA ESCOLA GERIDA PELA COMUNIDADE
A escola que é gerida pela comunidade local em colaboração com a igreja católica em regime de autogestão, aplica um preço que ambas as partes consideram simbólico para os alunos. A propina escolar varia de 4 a 10 mil francos CFA, isto é, do jardim à 4ª classe paga-se uma propina anual de quatro mil francos cfa, enquanto os alunos de 5º e 6º anos de escolaridade pagam uma propina de dez mil francos CFA anualmente.
A nível do funcionamento, a escola trabalha em dois turnos (manhã e a tarde). As aulas do jardim a 4ª classe funcionam no período da manhã, das 08 às 12 horas. Os alunos do 5º e 6º anos frequentam as aulas no período da tarde, das 13 às 17 horas. Segundo a explicação de um dos professores abordado pela repórter de O Democrata, a falta de energia elétrica obriga os professores a deixarem os alunos a sair antes das 18 horas, porque “nessa altura as turmas escurecem totalmente e não conseguem descortinar a escrita dos professores no quadro”.
O professor Flávio Aguibo Tavares revelou que a escola foi construída há anos, graças à iniciativa da comunidade local em colaboração com a igreja católica. Ou seja, as paredes da escola foram feitas pela população e a parte do acabamento da obra foi suportada pela congregação das irmãs imaculadas de Mansoa.
Segundo Flávio Aguibo Tavares, as dificuldades com que a escola se depara neste momento e que requerem uma intervenção urgente do governo têm a ver com a falta de carteiras, água potável e painéis solares para eletrificar a eletricidade.
Essa preocupação levou a comunidade local a juntar a sua voz à da direção da escola para solicitar o apoio do governo central no sentido de afetar a escola com carteiras, evitando a sobrelotação das salas ou que os alunos continuem a sentar-se três numa só carteira, bem como a abertura de pelo menos um furo de água potável e painéis solares para a eletricidade e permitir que os professores tenham mais horas letivas e, consequentemente, abrir um curso de alfabetização para os adultos.
Revelou igualmente que a escola está a ser administrada pelas irmãs em colaboração com a comunidade local por um comité de gestão, por isso conseguem funcionar em pleno durante o ano letivo e sem grandes interrupções, mesmo havendo greves nas escolas públicas.
Avançou que para o presente ano letivo inscreveram-se 830 alunos, a maioria meninas. Lamenta, no entanto, o fato de sempre, nos períodos da campanha de comercialização de castanha de caju, a escola registar quebras (ausências prolongadas, desistências ou faltas recorrentes de alunos na escola), sobretudo das meninas, que são obrigadas pelos seus pais a deixarem a escola para a coleta da castanha ,“muitas vezes isso acontece nas aldeias mais distantes”.
Para acabar com a desistência de alunos, em particular das meninas, nos períodos da campanha de comercialização da castanha de cajú, o professor informou que a escola adotou uma estratégia juntamente com o Programa Alimentar Mundial. O plano de distribuição de géneros alimentícios apenas para as menina, de forma a incentivá-las a prosseguirem com os estudos pelo menos até ao sexto ano de escolaridade – nível até ao qual a escola leciona.
“Esta iniciativa motiva os pais e encarregados de educação a enviarem as suas filhas para a escola e deixá-las concluir os estudos. Para além desta estratégia sábia, promovemos também um trabalho de sensibilização junto das comunidades. Deparamo-nos com falta de carteiras em algumas salas de aulas. Esta é a nossa maior preocupação de momento. É verdade que temos uma bomba de água, mas estamos a precisar ainda de pelo menos de mais um furo de água, porque a bomba que funciona também é usada pela comunidade local e a população das aldeias vizinhas, criando assim muitas dificuldades às cozinheiras da escola”, revelou o professor.
Informou, no entanto, que as refeições oferecidas aos alunos são feitas mediante o apoio em géneros alimentícios que a escola recebe do Programa Alimentar Mundial. Frisou ainda que as mulheres contratadas para preparar as refeições de alunos são pagas mensalmente pelos próprios alunos, através de uma contribuição de 200 francos por alunos no final de cada mês.
POPULARES DE CUSSANA PEDEM ENSINO SECUNDÁRIO E CENTROS DE FORMAÇÃO
A repórter contatou alguns habitantes da aldeia que fizeram uma radiografia das grandes dificuldades enfrentadas bem como as suas necessidades. Uma das pessoas abordadas pela repórter explicou que a comunidade e as populações das aldeias arredores estão muito preocupadas com as dificuldades ligadas não só à água potável, como também à falta da água para sustentar o sistema de irrigação dos campos hortícolas.
Sanha Djatá disse que as aldeias arredores recorrem a sua tabanca (Cussana) para procurar água, criando assim a grande dificuldade à população local, sobretudo aos alunos dado que dispõem apenas de uma bomba de água potável.
Acrescentou ainda que a comunidade clama por latrinas e que por isso pedem ajuda das organizações que intervêm nessa área assim como do próprio governo, porque “a falta de latrinas adequadas pode provocar contaminações na aldeia, devido a defecação ao ar livre, fato que pode causar-lhes sérios problemas de saúde”.
Relativamente à situação da escola que leciona apenas até ao sexto ano, assegurou que estão a lutar junto das autoridades para elevar o nível até ao ensino secundário, mas sustenta que para isso precisa-se mais da intervenção do governo. Defende, no entanto, que dado o crescimento demográfico da população daquela zona “há toda a necessidade de se implementar escolas de formação, cursos superiores ou centro de formação técnico profissional”.
No concernente à situação da seca que afeta as bolanhas, referiu que a seca contribui muito na diminuição de produção do arroz nas bolanhas daquela zona que, segundo a sua explanação, produz atualmente apenas terça parte da produção que costumava ter em cada ano agrícola. E aponta como a principal causa o fecho da ponte de Ensalma pelo fecho no local do canal do Impernal, o que levou ao encerramento do canal que facilitava circulação da grande corrente de água de Ensalma ao rio Mansoa vice-versa e de Mansoa para outros riachos ligados à bacia de rio Mansoa.
Djatá aproveitou a ocasião para exortar as autoridades administrativas no sentido de recuperarem a ponte que liga Cussana e Cussentche construída na época colonial, como também a criação de projetos para a recuperação do rio Mansoa e bolanhas arredores.
Por: Epifania Mendonça
Foto: E.M
OdemocrataGB
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