Zé Manel Fortes lança neste mês de setembro o quinto álbum de originais com doze faixas. "Nha Alma" apela à mobilização geracional, dando eco à voz do povo guineense que acredita numa "nova esperança".
O músico guineense considera que 45 anos depois da independência, a Guiné-Bissau está numa situação muito confusa, e que a prioridade neste momento deveria ser resgatar e salvar o país e só depois pensar nos projetos de desenvolvimento. Zé Manel afirma numa entrevista à DW África que desde a independência do país (24 de setembro de 1973), a cultura e o desporto foram as áreas que mais evoluíram na Guiné-Bissau em detrimento de outras vitais para o desenvolvimento do país.
"Acho que a preocupação agora não é o desenvolvimento, mas sim resgatar o país. Porque desenvolvimento quando temos um Estado extremamente frágil como o nosso não é viável. Vejam o estado em que se encontram as estradas, hospitais, escolas ou infraestruturas que temos desde a independência. Nem conseguimos reparar as infraestruturas que os portugueses deixaram", disse a gesticular e em tom irritado o músico guineense que patenteia a sua revolta face à degradação em que se encontra a Guiné-Bissau.
Década de 80 foi melhor
Aos microfones da DW-África, José Manuel Fortes, conhecido no universo musical por Zé Manel, critica o que considera ser a pouca sensibilidade dos governantes guineenses para com o setor da cultura, embora esteja certo de que a melhor fase da Guiné-Bissau como país foi a década de 80, porque na época havia, de facto, um Estado digno desse nome, que infelizmente hoje se desmoronou.
"Da parte do Estado houve algum incentivo à cultura por parte do Presidente de então, Luís Cabral. Sim, esse homem tinha sensibilidade e nessa época havia um Estado que hoje não funciona. Isto está tão baralhado que não se vê a cultura. Falta incentivo e sensibilidade das autoridades, disse o músico que considera que depois de Luís Cabral o setor da cultura nunca mais foi uma prioridade para os sucessivos dirigentes guineenses.
Segundo Zé Manel, não é só apoiar pontualmente um ou outro artista que significa desenvolver a cultura. "É preciso pôr a cultura na linha de frente à escala nacional e injetar dinheiro tal como se faz em Angola, Cabo-Verde e noutros países. Ninguém pode promover um país sem cultura e no caso concreto da Guiné-Bissau temos um mosaico cultural extremamente rico", destaca o cantor que está prestes a lançar o seu quinto álbum,Nha Alma, que significa “Minha Alma”.
Super Mama Djambo
José Manuel Fortes ou simplesmente Zé Manel, ajudou a fundar quando tinha oito anos de idade, aquela que viria a ser a mítica banda musical da Guiné-Bissau, Super Mama Djombo, onde começou como baterista do grupo.
A banda foi fundada por escuteiros nos anos 70 e rapidamente se tornou num grupo de referência no país e na diáspora por causa das suas músicas revolucionárias cantadas, em crioulo, mandinga e balanta, precisamente para despertar a consciência dos guineenses sobre os ideais da luta de libertação nacional.
As músicas do Mama Djombo insistiam na consolidação dos valores guineenses pós-independência, fomentando a auto-estima e o patriotismo, mas sobretudo resgatando identidades locais marginalizadas durante o período colonial.
"Nha Alma" é o novo álbum
Após mais de 15 anos no grupo, Zé Manel deu início à uma carreira a solo, tendo editado 4 álbuns de originais e o quinto, será lançado neste mês de setembro, com o título "Nha Alma" no qual interpreta o "sentimento do povo guineense sobre a Guiné-Bissau de hoje". Com este novo trabalho, o músico guineense pretende preservar a sua identidade musical unindo as culturas, tal com fazia no passado quando pertencia ao Mama Djombo.
"Eu tinha 8 anos quando começamos o projeto Mama Djombo no escutismo. Com 17 anos escrevia canções de amor e depois, com 20 anos, a rota mudou e comecei a escrever coisas muito mais sérias.
Com 22 anos de idade gravou o primeiro álbum que foi o cartão de visita para o cantor. No “Testemunhos de Ontem”, lançado em 1982, Zé Manel criticava e ao mesmo tempo denunciava as más práticas do regime de partido único (PAIGC) que vigorou no país logo após a independência, uma "ousadia" para muitos mas que deu ao músico uma grande projeção a nível nacional e internacional. "As letras refletem o dia-a-dia da sociedade, os nossos problemas, as nossas derrotas ou sentimentos. Aquele disco foi feito na realidade de ontem, na atmosfera de ontem para aquela geração. Mas a boa música não tem geração e pode durar uma eternidade”.
Prémios
Para muitos guineenses, Zé Manel, hoje com mais de 40 anos de uma carreira, com muitos prémios e várias atuações, atingiu o pódio pela força das suas letras que espelham a verdadeira dinâmica da sociedade. Com o álbum "Maron di Mar" (Ondas do Mar), em 2001, obteve vários prémios internacionais, com destaque para a nomeação como o melhor álbum no "All Kora Music Awards", na África do Sul e para o melhor disco no "Just Plain Folks Music Awards", na Califórnia, Estados Unidos da América.
dw.com/pt
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