No dia 24 de Setembro foi celebrado o centenário do Presidente Nelson Mandela "Madiba", foi uma oportunidade para reflectirmos sobre a vida e obra deste grande humanista. O ex-presidente sul-africano foi um exemplo de coragem, de abnegação e da tolerância. Mandela lutou pela liberdade, justiça, democracia e por uma sociedade onde todas as pessoas possam viver juntas em igualdade e harmonia. Uma grande lição, que deve continuar a servir de fonte de inspiração para nós e para gerações vindouras.
(...)
No seu último relatório, sobre as atividades da Organização, o Secretário-Geral, recorda-nos de que para muitos povos a paz ainda é um objetivo difícil de alcançar. Como dizia o saudoso Kofi Annan “a paz é um sonho pendurado”.
De facto, muitos conflitos persistem no mundo, e muitas pessoas continuam a sofrer os estragos da guerra. Muitas mortes, incluindo crianças, e milhões de pessoas que são forçadas a abandonarem as suas casas, as suas cidades, deixando parte da família e os seus pertences conquistados com trabalho de uma vida, em busca de asilo.
Não podemos ficar indiferentes à tanto sofrimento e desespero de milhares de pessoas, entre as quais crianças, em busca de protecção e asilo, principalmente na Europa.
(...)
No continente africano, subsistem tensões internas, atividades de grupos terroristas, particularmente no Sahel, e que estão a semear o medo no seio da população e impedir que os respetivos governos se concentrem nas questões de desenvolvimento, e criação de melhores condições de vida para os seus cidadãos.
(...)
Acredito que todos nós temos uma obrigação face à Carta das Nações Unidas que subscrevemos, e que devemos respeitar seja em que circunstâncias forem, porque os Princípios contidos nela servem de fundamento e base de uma ordem mundial assente em regras. Nomeadamente, o princípio da resolução pacífica dos diferendos, a não ingerência nos assuntos internos de outros países e o multilateralismo como pedra angular para a construção de paz e segurança internacionais.
Vivemos numa aldeia global onde todos são responsáveis, não apenas pelo que acontece no seu próprio território, mas, dada a interdependência dos países, as políticas nacionais de uns podem afectar gravemente todos os outros, o que exige uma responsabilidade partilhada.
A este propósito, não posso deixar de referir a questão da reforma do Conselho de Segurança, nomeadamente a melhor representação do continente africano, com vista ao reforço da legitimidade deste órgão principal das Nações Unidas.
(...)
Os últimos progressos políticos e sociais testemunham de que o povo guineense, as forças armadas, juntos (mobilizados) disseram basta a instabilidade, e rumo ao caminho da paz e do desenvolvimento.
O processo eleitoral, para a realização das eleições de 18 de Novembro, está em curso, tendo iniciado o recenseamento no dia 19 do corrente, embora com algum atraso por razões técnicas e financeiras.
(...)
Assim, no dia 30 de Agosto passado, o Conselho de Segurança testemunhou avanços positivos na estabilidade política do país. De referir, tal como nos relatórios anteriores, foi felicitada a atitude republicana das Forças Armadas, cujo empenho ao dever cívico tem sido notável nos últimos anos.
Aproveito esta tribuna para apelar, perante a comunidade internacional, aos membros do Conselho de Segurança, com prerrogativas exclusivas nesta matéria, em nome da justiça e da concórdia nacional, que sejam levantadas as sanções que foram aplicadas à alguns oficiais das nossas Forças Armadas.
Tal decisão, há muito desejada e esperada, ajudaria certamente na consolidação das instituições democráticas e da paz duradoura no nosso país.
(...)
A paz é fundamental para que o desenvolvimento tenha sucesso. Mas a paz não é apenas a ausência de conflito armado.
Não pode haver paz quando uma grande, se não a maioria da população, constituída por mulheres e jovens em particular, não são suficientemente valorizados, quando a sua educação é considerada de menos importância, quando a sua contribuição para o crescimento económico do país não é reconhecida e remunerada pelo seu justo valor, quando as mulheres não ocupam, em paridade com os homens, funções de destaque, ignorando que a mulher constitui o pilar da sociedade.
Recentemente, no meu país deu-se passos significativos no sentido de garantir a representação equitativa entre homens e mulheres. O Parlamento da Guiné-Bissau aprovou uma Lei que garante a quota mínima de 36% de representação das mulheres a nível de cargos legíveis, sobretudo na Assembleia Nacional Popular e no Governo.
Eu, enquanto Presidente da República, garante da equidade e da unidade nacional, estou particularmente satisfeito e grato à estes progressos nacionais.
(...)
Gostaria de concluir, reafirmando o compromisso do meu país, a Guiné-Bissau, com os princípios consagrados na Carta das Nações Unidas e com o papel importante, único e insubstituível desta nossa Organização.
É preciso unir forças para melhor gerir a globalização, erradicar a pobreza, a fome, combater as grandes endemias, garantir educação e água potável para todos, na perspectiva da implementação dos objectivos do desenvolvimento sustentável no horizonte 2030.
Sejamos solidários e demonstremos a nossa compaixão por aqueles que fogem da perseguição, guerra e miséria, sobretudo migrantes e refugiados, vítimas de crises políticas e de calamidades naturais que desesperadamente batem às nossas portas.
Num mundo solidário e fraterno, estaremos em melhores condições de preparar um futuro melhor para as gerações vindouras.
Muito obrigado!
José Mário Vaz - Presidente da Republica da Guiné-Bissau
Sem comentários:
Enviar um comentário