quarta-feira, 28 de março de 2018

Teatro guineense: JACINTO MANGO NOVO PRESIDENTE DA “REPÚBLICA DE GUINÉ CULTURAL”

Ator guineense de curta metragem Jacinto Mango foi empossado esta terça-feira, 27 de Março como presidente da “república de guiné cultural”, um projeto impulsionado pelos  atores culturais guineenses, para afirmação da cultura guineense, transmitindo, assim, as diversas formas culturais do país.

O ato realizado na praça dos mártires de Pindjiguiti também conhecido por monumento ‘Mon di Timba’ coincidiu com o dia mundial de teatro, que contou com atuação de diferentes grupos teatrais com peças críticas e de humor a atual situação política, social e cultural do país.

O instituto internacional do teatro completou hoje setenta e um anos e para comemorar esta etapa de teatro, a organização selecionou três personagens para escrever uma mensagem que assinala o dia. Em África, a escolha incidiu sobre a dramaturga camaronesa Wéré Wéré Liking, que já visitou a Guiné-Bissau. Na sua mensagem escreveu que o teatro ”é uma maneira da existência da África”.

No seu discurso, a presidente da Assembleia de ‘República de Guiné cultural’, Dulcineia Gomes, disse que ator Jacinto Mango reflete os esforços dos homens da cultura e que é um orgulho tê-lo na organização, como o seu representante, apesar de espelhar que na república de guiné cultural não existe chefe, visto que todos desempenham papeis importantes.

Por sua vez, Jacinto Mango, presidente da organização, disse que a república de guiné cultural prioriza tudo aquilo que é da cultura e visa levar ao mundo a cultura guineense e ajudar a  resolver os problemas através da cultura.


“Todas as pessoas que falam bem dos próximos, lutam pela alegria, ensino e educação estas pessoas também são dirigentes dessa república”, refere.

Em análise à situação da cultura guineense, Jacinto Mango não poupa as críticas às entidades estatais e lembra que “estamos num país onde o Estado quase apoia em nada que diz respeito à cultura, particularmente no lançamento dos livros, discos musicais. Não há salões de cinema e de teatro, não há salas de espetáculos e nem museus de artes, portanto queremos com isto inverter o paradigma”, conclui.

ATORES TEATRAIS DA GUINÉ-BISSAU PEDEM SUBVENÇÃO DO ESTADO E VALORIZAÇÃO DAS SUAS CRIAÇÕES  

No quadro da comemoração do dia internacional do teatro, a repórter de O Democrata ouviu histórias de diferentes atores teatrais do país e a maior parte não escondeu o seu sentimento de revolta face à atuação do Estado guineense. Neste sentido, reclamam uma subvenção do Estado e a valorização das suas criações.

Rui Manuel da Costa (Papé di nha raça), ator de curta metragem, disse que o teatro é manifestado de diferente maneira, através dos costumes tradicionais, desde toca-choro, danças tradicionais e a música. Porque, no seu entendimento, o teatro está refletido em tudo que há no mundo “e se não há cultura, não há humanidade”.

Segundo ator guineense a república de guiné cultural, “algo fictício” criado por eles para passar as suas mensagens, passará a funcionar como uma plataforma. As suas atividades serão centradas no monumento “Mon de Timba”. Uma vez que Mon de Timba simboliza a resistência imprimida por um grupo de trabalhadores guineenses de Cais de Pindjiguiti contra então regime de colónia portuguesa, a república de guiné cultural passará a funcionar igualmente como um veículo de resistência do grupo, para afirmação cultural no país e espaço onde abordarão exclusivamente cultura e transmitir coisas boas da Guiné-Bissau.

“Todos os atores ao longo deste ano vão trabalhar num projeto “atores associados” para criação de peças de três em três meses, apesar de não existir ainda um centro nacional específico de teatro, mas temos propostas para resgatar criações de peças teatrais dos anos da era colonial na Guiné-Bissau”, disse o Ator, Rui.

Neste sentido, exortou ao Estado a subvencionar ações culturais pelo menos uma vez por ano, porque, segundo disse, sem subvenção, os criadores podem sentir-se diminuídos e pediu aos colegas da cultura a resistirem às dificuldades.

Ator e encenador de grupo Teatro do Estudo Africano (TEA) da direção geral de cultura, Eusébio Encanha, disse que a (TEA) não podia ficar de braços cruzados num dia como este, por isso participou com a peça teatral  a mistura um pouco com o humor, refletindo a atual situação política que o país vive.

O ator do primeiro grupo teatral da Guine Bissau fundada em outubro de 1987, revelou a’O Democrata que apenas três elementos do grupo têm salários e os restantes se encontram ainda no regime de estagiários já  há mais de vinte anos. Contudo, deixa claro que são subsidiados (como pequeno incentivo), através do dinheiro que ganham dos contratos de sensibilização e criação de peças em diferentes domínios sociais.

De lembrar que o grupo TEA foi classificado na terceira posição de vencedor do festival internacional do teatro, no Burkina Faso, nos anos 90.

O coordenador do grupo teatral Netos de Bandim, Hector Diógenes Cassamá, realça o fato de a data ter sido também comemorada no país para mostrar ao povo guineense, particularmente ao governo de que existem pessoas que atuam no domínio do teatro “uma vez que o teatro é o dia-a-dia de cada pessoa”.

“No teatro passa-se a mensagem exprimimos algo que nos alegra ou entristece, também com ela sensibilizamos, portanto merece ser apreciado”, diz Diógenes, apontando a falta do incentivo e a não valorização dos atores como fatores que não ajudam a dinamizar esse setor.

“É muito difícil fazer um grupo teatral ou cultural andar por si só, e no nosso país temos muitos grupos teatrais e atores talentosos, mas que estão a morrer aos poucos sem um mínimo de reconhecimento quer por parte do Estado quer da sociedade”, lamenta Hector Cassamá. 

Por: Epifania Mendonça

Foto: EM
OdemocrataGB

Sem comentários:

Enviar um comentário