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terça-feira, 1 de outubro de 2024

O Ministério da Defesa russo planeia recrutar nos próximos meses cerca de 20.000 homens presos preventivamente face à falta de soldados na guerra com a Ucrânia, avançou hoje o portal de investigação russo Important Stories (iStories).

© Vladimir Smirnov\TASS via Getty Images  Notícias ao Minuto  01/10/24 

 Ucrânia. Rússia vai recrutar 20 mil presos preventivos, diz portal russo

O Ministério da Defesa russo planeia recrutar nos próximos meses cerca de 20.000 homens presos preventivamente face à falta de soldados na guerra com a Ucrânia, avançou hoje o portal de investigação russo Important Stories (iStories).

Estes homens representarão cerca de 40% do número total de arguidos - cerca de 60.000 - que aguardam julgamento nas prisões russas, segundo uma fonte da defesa citada pelo 'media' independente. 

Um grupo de oficiais militares encarregue de recrutar soldados profissionais terá de selecionar os arguidos que estão em condições e dispostos a assinar contratos para combater na Ucrânia.

Dois advogados confirmaram ao iStories que as administrações dos centros de detenção provisória estão disponíveis para colaborem neste processo.

De acordo com a Defesa russa, cada prisão pode fornecer cerca de 100 homens. Segundo os dados disponíveis, existem 210 centros de detenção provisória em todo o país, o que significa que este processo de recrutamento tem um potencial de cerca de 20.000 soldados.

No primeiro ano de guerra na Ucrânia, o grupo mercenário Wagner, conotado com o Kremlin (presidência russa), recrutou cerca de 50.000 prisioneiros, a maioria dos quais morreu, desapareceu, desertou ou foi presa, de acordo com organizações de direitos humanos.

Os que regressaram da frente de batalha foram perdoados, de acordo com o falecido fundador do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, que calculou esse número em cerca de 5.000.

Na altura, os peritos da ONU alertaram para o facto de o recrutamento de condenados, que também teria lugar nas prisões dos territórios ocupados pelas tropas russas na Ucrânia, poder constituir um crime de guerra.

O Presidente russo, Vladimir Putin, está relutante em convocar uma nova mobilização de reservistas, após as críticas registadas aquando do anúncio da mobilização de setembro de 2022, que levou ao êxodo de centenas de milhares de russos para o estrangeiro.

A assinatura de contratos por parte dos voluntários caiu fortemente no primeiro semestre do ano, embora tenha aumentado bastante após a incursão surpresa ucraniana na região fronteiriça russa de Kursk em agosto passado, pelo que Putin se viu obrigado a aumentar o número de soldados do exército russo para 1,5 milhões.

A Ucrânia tem contado com ajuda financeira e em armamento dos aliados ocidentais desde que a Rússia invadiu o país, em 24 de fevereiro de 2022.

Os aliados de Kiev também têm decretado sanções contra setores-chave da economia russa para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra na Ucrânia.


Leia Também: Pelo menos seis pessoas morreram e três ficaram feridas hoje num aparente ataque de artilharia russa a um mercado da cidade de Kherson, no sul da Ucrânia, indicaram as autoridades.

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Mali: A Rússia acusou hoje a Ucrânia de abrir uma "segunda frente" em África, apoiando "grupos terroristas", alguns dias depois de mercenários russos do grupo Wagner e do exército maliano terem sofrido pesadas perdas no norte do Mali.

© Maksim Konstantinov/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
Por Lusa  07/08/24
 
Rússia acusa Ucrânia de "abrir frente" em África com ataque a Wagner
A Rússia acusou hoje a Ucrânia de abrir uma "segunda frente" em África, apoiando "grupos terroristas", alguns dias depois de mercenários russos do grupo Wagner e do exército maliano terem sofrido pesadas perdas no norte do Mali.


"Incapaz de derrotar a Rússia no campo de batalha, o regime criminoso de (Volodymyr) Zelensky decidiu abrir uma 'segunda frente' em África e está a apoiar grupos terroristas em Estados amigos de Moscovo no continente", afirmou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, citada pela agência de notícias russa Ria Novosti.

Os seus comentários surgem mais de uma semana após um ataque no Mali em que dezenas de combatentes do grupo Wagner e soldados malianos foram mortos, segundo a agência France-Presse (AFP), que reporta às informações transmitidas por separatistas e terroristas.

Os analistas concordam que esta derrota é a mais pesada que o grupo Wagner sofreu numa única batalha em África.

Após estes acontecimentos sem precedentes, um oficial dos serviços secretos militares ucranianos, Andriï Youssov, insinuou que Kiev tinha fornecido informações aos rebeldes para que estes pudessem levar a cabo o seu ataque.

Estas afirmações provocaram a ira das autoridades malianas, que acusaram Youssov de ter "confessado o envolvimento da Ucrânia num ataque cobarde, traiçoeiro e bárbaro", criticando Kiev por "apoiar o terrorismo internacional".

Na sequência desta situação, o Mali anunciou no domingo o corte de relações diplomáticas com Kiev, seguido na terça-feira pelo Níger, o outro país a aproximar-se da Rússia após a chegada ao poder de regimes militares hostis aos países ocidentais.

Kiev lamentou a decisão "precipitada" de Bamako, afirmando que "adere incondicionalmente às normas do direito internacional" e "rejeita firmemente as acusações do Governo de transição do Mali".

Em 2022, a junta do Mali rompeu a sua aliança de longa data com a França e os seus parceiros europeus para se virar militar e politicamente para a Rússia.

No contexto do seu ataque à Ucrânia, lançado em fevereiro de 2022, a Rússia intensificou os seus esforços diplomáticos em África para competir com o Ocidente em países que têm sido tradicionalmente seus aliados.

Leia Também: Governador insta russos a doar sangue "face à situação" na fronteira 


quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Secessionistas do Mali dizem que mataram 84 mercenários da Wagner

© Reuters
Por Lusa  01/08/24 
Os independentistas malianos agrupados no Quadro Estratégico Permanente (QEP), que controla grande parte do norte do Mali, elevaram hoje para pelo menos 84 o número de mercenários do grupo russo Wagner mortos numa batalha, na semana passada.

Em comunicado, o QEP adianta que nos confrontos, que tiveram lugar entre 25 e 27 de julho na cidade de Tinzaouatene, perto da fronteira com a Argélia, foram também mortos 47 soldados das forças armadas malianas, que atuam no Mali acompanhados pelos mercenários de Wagner nas suas operações contra o extremismo islâmico e independentistas.
 
Na nota, o QEP afirma que os seus efetivos conseguiram a "neutralização total de todas as colunas inimigas" e admite nove mortos e 12 feridos entre as suas fileiras.

Entre as baixas do "lado inimigo", o QEP acrescenta "mais de 30 mortos e feridos graves levados de helicóptero para Kidal", uma cidade do norte do país, bem como "um número significativo de corpos carbonizados no interior de veículos blindados e camiões de transporte", e sete prisioneiros do exército maliano e da Wagner.

O QEP felicita-se pelo que classifica como uma "vitória sensacional e gloriosa" e "estende a mão para a colaboração em todos os domínios a todos aqueles que o desejem, povos ou Estados que sofrem a brutalidade do terrorismo de Wagner, para erradicar o seu flagelo".

Na sequência do ataque, as forças malianas, assistidas por militares do vizinho Burkina Faso, efetuaram uma operação aérea na zona que matou vários trabalhadores de uma mina.

Em comunicado, o QEP estima em 50 o número de mortos na mina, de origem nigeriana, sudanesa e chadiana.

O grupo Wagner reconheceu na segunda-feira que tinha sofrido baixas, incluindo a morte de um dos seus comandantes, nos combates com os secessionistas e a Al-Qaida em Tinzaouatene.

A Al-Qaida declarou ter morto 50 combatentes do grupo Wagner e 10 soldados malianos.

Na sequência dos acontecimentos no norte do Mali, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, garantiu hoje ao homólogo maliano, Abdoulaye Diop, que a Rússia iria ajudar o Mali a reforçar o seu exército.

Entretanto, a associação Kal Akal, que se denomina Observatório para a Defesa dos Direitos Humanos do Povo de Azawad (norte de Mali), denunciou hoje que em julho o exército maliano e os mercenários mataram 116 civis enquanto 20 mulheres foram violadas pelos "terroristas" e por militares malianos.

Os dados constam do último relatório mensal da organização, que destaca que o mês de julho "foi especialmente mortífero e devastador" e salienta que unidades do exército, acompanhadas de efetivos da Wagner, "fizeram incursões em acampamentos e pontos de água de pastores para cometer execuções sumárias".


domingo, 28 de julho de 2024

Os separatistas do Mali reivindicaram hoje uma "vitória retumbante" contra o Exército maliano e os seus aliados russos, após três dias de "intensos combates" em Tinzaouaten, no nordeste do país, perto da fronteira com a Argélia.

© Getty Images
Por Lusa  28/07/24 
 Separatistas reivindicam "vitória" contra exército do Mali em Tinzaouaten
Os separatistas do Mali reivindicaram hoje uma "vitória retumbante" contra o Exército maliano e os seus aliados russos, após três dias de "intensos combates" em Tinzaouaten, no nordeste do país, perto da fronteira com a Argélia.


"As nossas forças destruíram definitivamente as colunas inimigas no sábado. Importante material circulante e armas foram apreendidos ou danificados. Os poucos sobreviventes das fileiras das FAM [Forças Armadas do Mali] e da milícia Wagner (russa) foram feitos prisioneiros", disse um porta-voz da aliança de grupos armados separatistas predominantemente tuaregues (CSP-DPA).

Os combates, numa escala não vista há meses, eclodiram na quinta-feira passada entre o Exército e os separatistas na localidade de Tinzaouatene, enquanto o Estado-Maior maliano anunciava que tinha recentemente recapturado várias localidades na sua missão de reconquistar o território.

Do lado das forças armadas de Azawad, sete soldados foram mortos e 12 ficaram feridos, lê-se no comunicado de imprensa.

"O CSP-DPA saúda esta vitória conquistada pelos seus homens, apoiando com imagens e vídeos durante todas estas batalhas", refere o comunicado de imprensa citado pela agência noticiosa francesa AFP.

"Nenhuma fusão ou outra propaganda subtilmente hostil ao nosso compromisso pode roubar a nossa brilhante vitória", enfatiza.

Quanto às FAMa e aos seus aliados russos, não está disponível nenhuma avaliação consolidada, mas o porta-voz dos separatistas enviou à AFP vários vídeos mostrando numerosos cadáveres no campo de batalha.

Em alguns vídeos, soldados brancos são visíveis entre os prisioneiros, refere a agência noticiosa.

Além dos separatistas, um governante local e um antigo funcionário da missão da ONU em Kidal, cidade a 1.500 quilómetros de Bamako, a capital do país, garantiram à APF que "o Exército do Mali recuou" e que pelo menos 15 combatentes do Grupo Wagner foram mortos ou presos, especificando que se tratava apenas de uma retirada e uma avaliação provisória.

Um executivo do movimento separatista, Mossa Ag Inzoma, assegurou que houve "dezenas e dezenas de elementos do Wagner e FAMa mortos e feitos prisioneiros".

Num comunicado de imprensa, o Exército maliano afirmou que "na noite de 26 para 27 de julho de 2024, unidades das FAMa, patrulhando o setor de Tinzaouaten, no nordeste do país, durante três dias, iniciaram o seu movimento de retirada".

A área "está sob vigilância e a situação está sendo monitorada de perto", afirma, acrescentando: "Cinco alvos terroristas foram eliminados com sucesso por meios aéreos a FAMa."

O Exército do Mali raramente comunica as suas perdas. A pressão dos grupos armados e dos militares no poder silenciou a maioria das fontes independentes de informação nas áreas de operações.

Grupos separatistas armados perderam o controlo de várias localidades no norte do Mali desde 2023, após uma ofensiva do Exército maliano, que culminou na captura de Kidal, um bastião das exigências de independência e uma importante questão de soberania para Bamako.

A ofensiva no norte do país deu origem a numerosas alegações de abusos cometidos contra a população civil pelas forças malianas e pelos seus aliados russos desde 2022, o que as autoridades de Bamako negaram.

Desde 2012, o Mali também tem vido uma situação tensa, pelas ações de grupos próximos à Al-Qaeda e à organização Estado Islâmico e pela violência de grupos comunitários e de camponeses.

A junta liderada pelo coronel Assimi Goïta aumentou os seus atos de rutura desde 2022. Romperam a antiga aliança com a França, ex-potência colonial, e os seus parceiros europeus para se voltarem militar e politicamente para a Rússia.

Leia Também: Novos confrontos entre exército e separatistas no norte de Mali 


sexta-feira, 5 de julho de 2024

Mali. Cerca de 60 mortos após alegada operação do exército e Grupo Wagner

© Lusa
Por Lusa  05/07/24 
Cerca de 60 cadáveres foram encontrados nos últimos dias nos arredores da cidade maliana de Abeibara, na região de Kidal (norte), na sequência de uma operação alegadamente realizada pelo exército do Mali e mercenários do Grupo Wagner.

Fontes locais, citadas pela Radio France Internationale, afirmaram que os corpos foram recuperados num raio de 40 quilómetros em torno de Abeibara e disseram que alguns foram encontrados em valas comuns, e outros em zonas arborizadas, alguns deles com as mãos atacadas.

Segundo a organização de defesa dos direitos humanos Kal Akal, dirigentes locais e membros da coligação rebelde tuaregue Quadro Estratégico Permanente para a Paz, a Segurança e o Desenvolvimento (CSP-PSD) indicaram que o exército maliano e o Grupo Wagner realizaram várias operações nas duas últimas semanas de junho na zona, sem que a junta militar se tenha pronunciado sobre o assunto.

A maioria das vítimas são civis, embora a Kal Akal tenha acrescentado que entre elas se encontra também um miliciano rebelde e pelo menos seis membros do Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos, um ramo da Al-Qaida que opera no Mali, responsável por dezenas de ataques e atentados no país africano nos últimos anos.

O Mali, tal como outros países do Sahel, tem registado um número crescente de ataques terroristas nos últimos anos, tanto por parte da filial da Al-Qaida na região como por parte do Estado Islâmico.

Além disso, nos últimos meses, reacendeu-se o conflito entre as autoridades centrais e os grupos rebeldes tuaregues no norte, na chamada região de Azawad.

O país é atualmente liderado por uma junta militar na sequência dos golpes de Estado de agosto de 2020 e maio de 2021, ambos liderados por Assimi Goita, o atual Presidente de transição, que tem vindo a aproximar-se da Rússia, ao mesmo tempo que se distancia da França e dos governos ocidentais.

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Mali: Organizações políticas e associativas do norte do Mali denunciaram o assassínio de 120 civis por militares malianos e mercenários do grupo russo Wagner desde maio passado.

© Maksim Konstantinov/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
Por Lusa  28/06/24 
 Mali. Organizações denunciam assassínio de 120 civis
Organizações políticas e associativas do norte do Mali denunciaram o assassínio de 120 civis por militares malianos e mercenários do grupo russo Wagner desde maio passado.


O porta-voz do Quadro Estratégico Permanente (CSP, a autoridade de facto pró-independência no norte do Mali, região conhecida como Azawad), Mohamed Ould Ramadan, assegurou à agência EFE que só entre os dias 15 e 21 deste mês estas forças mataram um total de 30 civis e detiveram outros 40.

A mesma fonte explicou que estes assassínios tiveram lugar nas aldeias de Touzek, Tanaynayt e Tidjoranchitan, na província de Kidal; em Tadjalalt, Tinaghay e Fassanfass, em Gao, e em Djaloubé, situada na província de Timbuktu.

Ould Ramadan deu como exemplo destas violações o assassínio de 10 civis no dia 20 deste mês em Abeibara, situada em Kidal e especificou que algumas dessas pessoas tinham sido detidas pelas forças malianas e pelos mercenários do grupo Wagner, tendo sido posteriormente encontradas mortas.

O coletivo CSP, criado em 2021, reúne os grupos do norte que assinaram o acordo de paz de Argel de 2015, que prevê uma maior autonomia para o norte do Mali após a guerra que eclodiu em 2012 entre as forças do norte do país e o Governo central.

Por seu lado, a associação Kal Akal, ativa na defesa dos direitos humanos no norte do Mali, afirmou num relatório recente que um total de 90 civis foram mortos naquela zona em maio passado em execuções sumárias.

A associação afirmou que esta é a parte visível dos massacres cometidos pelo exército e por Wagner, lamentando não dispor dos instrumentos necessários para efetuar um balanço exaustivo de todas as violações do direito à vida no norte do Mali.

O mais mortífero dos massacres foi perpetrado no dia 19 na aldeia de Amassine, em Kidal, onde as tropas malianas e as milícias russas mataram em execuções sumárias e queimaram 30 civis.

De acordo com o relatório, no dia 25, as mesmas forças mataram oito civis na aldeia de Aghazraghan, na zona de Ménaka, no nordeste do país.

No relatório denuncia-se que as tropas malianas e os mercenários russos não só matam e detêm civis, como também organizam operações alargadas para saquear os seus bens.

Este país da volátil região do Sahel, governado por uma junta militar golpista desde 2020, que se apoiou no grupo Wagner para as suas operações antiterroristas, é palco de ataques contínuos do Estado Islâmico (EI) e da filial local da Al-Qaida, denominada Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos (GAIM).

Nos últimos meses, as reações imprecisas e indiscriminadas do exército maliano, apoiado por mercenários do grupo russo Wagner, conduziram também a massacres entre as fileiras da população civil, denunciados por instituições como a ONU.

De acordo com o Projeto de Dados sobre Localização e Eventos de Conflitos Armados (ACLED), que monitoriza a violência em todo o mundo, entre maio de 2023 e maio de 2024, 4.394 pessoas foram mortas no Mali em eventos violentos por grupos não estatais e 2.277 por forças estatais.


sábado, 25 de maio de 2024

O exército sudanês fez hoje saber que a Rússia se ofereceu para apoiar as Forças Armadas do Sudão e fornecer armas em troca da instalação de uma base militar na costa sudanesa do Mar Vermelho.

© iStock
Por Lusa  25/05/24
Rússia fornecerá armas em troca de base naval no Mar Vermelho, diz Sudão
O exército sudanês fez hoje saber que a Rússia se ofereceu para apoiar as Forças Armadas do Sudão e fornecer armas em troca da instalação de uma base militar na costa sudanesa do Mar Vermelho.


"A Rússia ofereceu-nos cooperação, apoio militar e o fornecimento de armas ao exército" em troca de "um ponto de abastecimento no Mar Vermelho", declarou o vice-comandante do exército, Yasser Atta, numa entrevista à estação de televisão privada saudita Al Hadath.

"Dissemos-lhes que poderíamos alargar esta cooperação militar a uma cooperação económica no domínio da agricultura, indústria, mineração e exploração de ouro, ou em portos", continuou Atta, que é também um membro proeminente do Conselho Soberano, o mais alto órgão governamental controlado pelas Forças Armadas do Sudão (SAF, na sigla em inglês).

Yasser Atta disse ainda que uma delegação militar sudanesa partirá dentro de alguns dias para Moscovo para assinar "um acordo", em relação ao qual não deu pormenores.

Em seguida, uma equipa ministerial deslocar-se-á também à Rússia para preparar a visita do presidente do Conselho Soberano do Sudão e chefe de Estado-Maior das SAF, general Abdel Fattah al-Burhan.

Cartum e Moscovo assinaram em dezembro de 2020 um acordo para a criação de uma base naval na costa sudanesa, no Mar Vermelho, a primeira da Rússia no continente africano.

O projeto não avançou ainda, primeiro devido a problemas internos resultantes do golpe de Estado de 2021, e depois por causa da guerra iniciada em 15 de abril de 2023 entre as SAF e as Forças de Apoio Rápido (RSF, igualmente na sigla inglesa) paramilitares, lideradas por outro general, Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como "Hemedti".

A base, cujo acordo tem uma vigência de 25 anos, permitirá à Rússia estacionar navios de propulsão atómica na costa do país africano; não poderá acolher mais de quatro navios de guerra em simultâneo; e terá uma capacidade máxima de 300 militares e operadores civis, segundo o documento do acordo.

"Pessoalmente, não me importo de dar uma base militar à Rússia, aos Estados Unidos, à Arábia Saudita ou ao Egito. Não há qualquer problema com isso, pelo contrário, os benefícios são trocados entre os povos (...). A costa do Mar Vermelho é ampla para acolher a Rússia, os Estados Unidos, o Egito ou a China, não sei qual é o problema", afirmou Yasser Atta.

Vários institutos de análise e organizações não-governamentais tornaram público o fornecimento de vários tipos de armas pela Rússia - principalmente drones - ao exército sudanês desde o início da guerra há um ano, mas também o apoio das RSF pelo grupo paramilitar russo Wagner, renomeado entretanto Africa Corps.

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Rússia quer África mais soberana e vai abrir novas missões diplomáticas

© Russian Fed. Council Press Service/Anadolu via Getty Images
Por Lusa  23/05/24
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo afirmou hoje que Moscovo quer que o continente africano tenha mais soberania, enquanto o Ocidente o prefere dependente, e que vão ser abertas missões diplomáticas em mais três países africanos.


"Estamos prontos, nas condições atuais, para apoiar os países africanos no reforço da sua soberania, na resolução de problemas socioeconómicos prementes e na defesa do lugar legítimo e digno de África no mundo moderno, incluindo o processo de reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas", afirmou Sergey Lavrov na receção aos diplomatas estrangeiros em Moscovo por ocasião do Dia de África, que se assinala a 25 de maio, sábado.

O ministro russo anunciou também que estão "a preparar a abertura de missões diplomáticas completas na Serra Leoa, no Níger e na República do Sudão do Sul".

"Os métodos do Ocidente mudaram, mas a essência da sua política em relação aos países africanos permaneceu a mesma - subjugar todos à sua vontade, viver à custa dos outros, utilizando formas mais sofisticadas de exploração no âmbito da chamada ordem baseada em regras", salientou Lavrov, criticando o Ocidente, acusando-o de "novas práticas coloniais e neocoloniais".

Lavrov salientou que a Rússia está a trabalhar ativamente para expandir a sua presença diplomática em África e que as relações russo-africanas continuam a desenvolver-se.

"Assistimos a um crescimento do comércio russo-africano que no ano passado aumentou 20% e ascendeu a 23 mil milhões de euros", afirmou.

Em abril, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo anunciou que Moscovo estava a estudar e a trabalhar nas possibilidades de abrir missões diplomáticas na Serra Leoa, no Níger e no Sudão do Sul no futuro.

Nessa altura, o ministério acordou com as autoridades dos países anfitriões a abertura de embaixadas no Burkina Faso e na Guiné Equatorial e de consulados gerais numa série de países asiáticos e africanos.

Nos últimos anos, a Rússia aumentou a sua presença em África, onde os mercenários do Grupo Wagner operam em vários dos seus países.

Além disso, no contexto da crise alimentar causada pela guerra na Ucrânia, o Presidente russo, Vladimir Putin, ordenou o envio gratuito de cereais e fertilizantes para os países africanos mais necessitados e propôs a cooperação russa para desenvolver a agricultura no continente.

Leia Também: Putin assina decreto para compensar bens russos congelados nos EUA  

quinta-feira, 9 de maio de 2024

Rússia celebra o terceiro Dia da Vitória sem vitórias para Putin

Militares russos realizam ensaio geral para o desfile do Dia da Vitória (EPA/LUSA)
João Guerreiro Rodrigues  Cnnportugal.iol.pt  09/05/2024

Rússia prepara-se para celebrar o terceiro Dia da Vitória desde que começou a guerra na Ucrânia e o seu significado está a mudar diante dos nossos olhos

Para a Rússia, o dia 9 de maio é uma data complexa. O Dia da Vitória é uma data que celebra não só os sacrifícios feitos pela União Soviética no combate aos nazis, durante a Segunda Guerra Mundial, mas também serve como uma demonstração de poder militar e da grandeza da Rússia. Só que desde 2022 que os russos têm traçado a conquista de vários territórios ucranianos para coincidirem com esta data, mas Vladimir Putin não tem tido muito para apresentar ao país.


Este ano, a chefia militar russa definiu a conquista da cidade de Chasiv Yar como um dos principais objetivos para a data. Esta cidade ucraniana, vizinha de Bakhmut, está a aguentar há semanas alguns dos mais violentos bombardeamentos que atingem a linha da frente. Em abril, o próprio comandante-chefe da Ucrânia, Oleksandr, Syrskyi, admitia que a situação neste ponto da frente tinha “deteriorado significativamente”, depois de a Rússia ter definido a conquista desta cidade até ao dia 9 de maio.

O motivo era claro. Para a Rússia, esta cidade é vital para os seus objetivos na região do Donbass. Apesar de pequena, Chasiv Yar, que tinha apenas 12 mil habitantes antes da guerra começar, serve de nó logístico para o exército ucraniano na frente de Bakhmut. É a partir desta localidade que é distribuído todo o equipamento para as unidades que se encontram nesta frente.

Se a Rússia a conseguisse conquistar, colocava em causa o apoio logístico de toda a região, o que podia permitir ao exército russo aumentar a pressão nesta área. Se isso acontecer, a Rússia fica com o caminho aberto para Kostiantynivka, Druzhkivka, Kramatorsk e Sloviansk, os últimos grandes bastiões de Donetsk.

Mapa da Ucrânia após conquista de Avdiivka (CNN)
Nas últimas semanas de abril, a situação parecia mesmo ser uma possibilidade realista, com a Rússia a explorar a falta de munições antiaéreas e de artilharia ucranianas. Mas após a aprovação do pacote de ajuda militar norte-americano, os soldados ucranianos têm conseguido conter os ataques dos mais de 25 mil soldados russos que se encontram na região.

Não é a primeira vez que a Rússia estabelece metas de conquista territorial para o dia 9 de maio. Durante dez meses, Moscovo atirou tudo o que tinha para tentar conquistar a cidade de Bakhmut. Foi no início de 2023, quando o Grupo Wagner intensificou as suas operações na cidade, levando a algumas das mais sangrentas batalhas de toda a guerra, e que seriam decisivas para o desfecho de Yevgeny Prigozhin, icónico líder do grupo paramilitar. Segundo fontes ocidentais, a Rússia chegou a sofrer 60 mil baixas, entre as quais 20 mil mortos. Foi preciso esperar até ao dia 20 de maio para a cidade cair nas mãos russas.

E isso teve repercussões nas celebrações em Moscovo. Todos os anos, centenas de carros de combate desfilam nas ruas da capital. Mas, se na parada de 2022, o T-34, um icónico carro de combate muito utilizado na Segunda Guerra Mundial, foi acompanhado por vários dos mais modernos T-90 e T-14, o mesmo não aconteceu na cerimónia do ano passado. Nenhum destes modelos esteve presente, devido à intensificação do conflito. Em vez disso, o T-34 foi acompanhado por uma coluna de veículos de combate polivalentes, mas muito menos valiosos, o Tigr.

De fora ficou também a habitual passagem aérea sobre a Praça Vermelha, apesar de as previsões meteorológicas apontarem para um céu relativamente limpo sobre Moscovo.

Visíveis estiveram apenas os habituais elementos de propaganda militar russa, os lançadores de mísseis balísticos intercontinentais Yars, que fazem parte do arsenal nuclear de Moscovo, e o sistema de defesa aérea S-400, que a Rússia descreve como sendo o mecanismo mais evoluído do mundo.

Ao invés de demonstrar o seu poderio militar, numa altura difícil no campo de batalha, Vladimir Putin focou-se em apresentar-se como salvador e defensor de uma Rússia em apuros, alvo das “elites globalistas” do Ocidente. “Hoje, a civilização está novamente num ponto de rutura”, disse Putin. “Mais uma vez, foi desencadeada uma verdadeira guerra contra a nossa pátria”.

Em 2022, a expectativa era diferente. Embora não houvesse um objetivo geográfico delineado, uma vez que a Rússia ainda contava manter grande parte do território ucraniano, um medo pairava no ar. Várias fontes ocidentais temiam que o presidente russo declarasse formalmente guerra à Ucrânia a 9 de maio, decisão que permitiria a mobilização total das forças de reserva da Rússia, numa altura em que estas ainda não tinham sido convocadas.

Este ano, a expectativa mantém-se, mas com uma “conta” cada vez mais pesada para apresentar ao povo russo. Segundo o ministro das Forças Armadas do Reino Unido, Leo Docherty, a Rússia conta com mais de 450 mil baixas, entre os quais 150 mil mortos. Mas as perdas materiais também são significativas, com as fontes ocidentais a estimarem que mais de dez mil veículos blindados tenham sido destruídos pela Ucrânia.

A cada ano que passa, assistimos ao regime de Vladimir Putin a moldar um dos principais mitos coletivos russos em algo completamente diferente. “Eles transformaram este mito unificador que a Rússia tinha numa justificação para uma guerra real”, afirma Maxim Trudolyubov, um jornalista russo. “Isto virou subtilmente tudo de cabeça para baixo – transformou um culto à vitória num culto à guerra.”

 

 Leia Também: Dia da Vitória. Rússia celebra hoje um dos seus feriados mais importantes  

 

 Leia Também: "A Rússia fará tudo para evitar um confronto global. Mas, ao mesmo tempo, não permitiremos que ninguém nos ameace. As nossas forças estratégicas [nucleares] estão sempre em alerta", declarou o Presidente russo.  


sexta-feira, 12 de abril de 2024

Uma "Legião Estrangeira" para os Emirados Árabes Unidos?

O exército dos Emirados Árabes Unidos tem cerca de 65 mil efetivos, mas cerca de 40% do pessoal é estrangeiroFoto: Dominika Zarzycka/NurPhoto/picture alliance
Por Cathrin Schaer  DW  12/04/2024 

Os Emirados Árabes Unidos são um centro de mercenários em África e no Médio Oriente e querem criar a sua própria versão da Legião Estrangeira Francesa. Que implicações haverá para exércitos privados em áreas de conflito?


O anúncio de emprego intrigou muito mais pessoas do que se esperava, possivelmente porque parecia o início de um filme de ação: "Procura-se operadores para a Legião Estrangeira", dizia.

Os candidatos devem ter menos de 50 anos, ser muito disciplinados, estar em boa forma física, ter pelo menos cinco anos de experiência militar e ser capazes de lidar com "condições de elevado stress". O salário base seria de cerca de 2 mil dólares por mês, mas poderia aumentar se vier a ser destacado fora dos Emirados Árabes Unidos (EAU), para o Iémen ou para a Somália.

O anúncio foi descoberto pela primeira vez pelo site francês Intelligence Online, segundo o qual foi posto a circular por antigos soldados das forças especiais francesas. Investigações posteriores identificaram o anúncio como sendo de uma empresa de consultoria de segurança, a Manar Military Company (MMC), com sede em Abu Dhabi.

A empresa é dirigida por um antigo oficial das forças especiais francesas e está financeiramente ligada a uma família rica e politicamente influente em Abu Dhabi. O anúncio indicava que os Emirados Árabes Unidos pretendiam criar a sua própria legião de elite estrangeira, com 3 mil a 4 mil recrutas, até meados do próximo ano.

Os meios de comunicação social que contactaram a consultora de segurança MMC não conseguiram obter uma resposta direta. Os representantes da empresa afirmaram que o anúncio não era real, que o projeto tinha sido cancelado e que tudo não passava de um exercício de desinformação. A MMC não respondeu aos pedidos de informação solicitados pela DW.

🚨 🇫🇷 🇦🇪 Intelligence Online can reveal that a former French special forces officer is creating a new elite unit for the Emirates of at least 3,000 foreign recruits based on the model of the French Foreign Legion.

No entanto, especialistas disseram à DW que há hipóteses de este projeto - uma legião estrangeira dos Emirados Árabes Unidos - ser real.

A Intelligence Online tem ligações ao setor militar francês e esta fuga de informação é, muito provavelmente, a sua forma de dizer que a França não está satisfeita com o desenvolvimento, disse Andreas Krieg, professor da Escola de Estudos de Segurança do King's College, em Londres.

Os franceses estarão preocupados com o aliciamento do pessoal de segurança para empregos bem remunerados nos Emirados Árabes Unidos (EAU). "Parece algo que os EAU fariam, dada a sua história", concorda Sean McFate, professor da Universidade de Georgetown e autor do livro "As novas regras da guerra".

"Os Emirados têm uma tradição de externalizar o poder militar e têm-no feito de forma intermitente desde 2011", refere. Além disso, "atualmente, quando se ouve falar de mercenários, penso muito mais nos Emirados Árabes do que na Rússia", acrescenta Krieg. "Os Emirados tornaram-se uma espécie de centro de atividades mercenárias no Sul global."

Porque é que os Emirados recorrem a mercenários?

 
Os sete emirados que compõem os Emirados Árabes Unidos têm uma população de cerca de 9 milhões de pessoas, mas apenas um milhão é emiradense. Portanto, embora as forças armadas dos EAU  tenham cerca de 65 mil funcionários, entre um terço e 40% são estrangeiros.

Ao mesmo tempo, a liderança dos EAU tem sido agressiva em relação ao que considera seus interesses estratégicos em locais como o Iémen e a costa da Somália. Assim, os mercenários são contratados devido à "aversão a baixas", como afirma o analista Andreas Krieg.

"Os mercenários são atraentes para sociedades muito ricas que querem participar de guerras, mas não querem sangrar", explica McFate.

Outro aspecto da integração de estrangeiros nas forças armadas dos EAU é a "proteção contra golpes". Afinal de contas, por que motivo mercenários bem pagos derrubariam um governo autoritário num país no qual não têm interesses?

E há também a ideia de "negação plausível" que os mercenários oferecem aos seus empregadores se as operações militares forem clandestinas.

A proliferação das empresas militares e de segurança privadas começou com os EUA, que utilizaram empresas como a Blackwater (na foto) no Iraque e no AfeganistãoFoto: Chris Curry/dpa/picture alliance


Desde 2003, o uso das chamadas "empresas privadas de segurança militar", ou PMSCs, explodiu, escreveu o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo num relatório publicado em 2023. "Hoje, as PMSCs operam em quase todos os países do mundo, para uma grande variedade de clientes", afirma o instituto.

Para os Emirados Árabes Unidos, tudo começou em 2009, quando Erik Prince, ex-membro da Marinha dos EUA e fundador da PMSC Blackwater, criou uma brigada de 800 membros dentro dos Emirados.

Prince acabou por se desentender com os seus empregadores, mas a cooperação lucrativa entre altos funcionários dos EUA e os Emirados Árabes Unidos continua. Em 2019, a agência de notícias Reuters descobriu que os EAU pagaram para criar unidades de guerra cibernética. Em 2022, o jornal norte-americano Washington Post noticiou que os Emirados continuam a pagar ex-funcionários militares séniores dos EUA para obter assistência e instrução.

E há outros exemplos: uma investigação da BBC revelou que os Emirados Árabes Unidos contrataram mercenários, incluindo norte-americanos e israelitas, para realizar assassinatos com motivação política no Iêmen, ou treinaram moradores locais para fazer isso. Os EAU também são conhecidos por serem um centro de logística e financiamento para o famoso grupo mercenário russo Wagner.

O empresário norte-americano Erik Prince também ajudou a criar uma força de polícia marítima anti-pirataria na Somália para os Emirados Árabes UnidosFoto: Jackson Njehia/AP Photo/picture alliance


Uma legião legítima

Caso se concretize, uma legião estrangeira dos Emirados, como foi descrita na oferta de emprego, seria significativamente diferente das anteriores.


"Quando se contratam mercenários, isso traz muitas dores de cabeça", explica McFate, que também trabalhou no setor militar privado. "A maior parte tem a ver com segurança, responsabilidade e traição - o que não é de admirar. Os mercenários são como fogo: Podem incendiar a nossa casa ou acionar uma máquina a vapor", argumenta. "Por isso, uma solução para este problema é ter uma legião estrangeira", conclui.

Os soldados de uma legião estrangeira tendem a ter contratos mais longos, normalmente são parte oficial de um exército nacional e também estão sujeitos a regras e regulamentos locais.

Além disso, uma legião estrangeira é "uma espécie de ruptura com o passado [para os EAU] porque parece ser mais institucionalizada", disse Krieg à DW. "Isso dá-lhes a capacidade de recrutar pessoas de um modo semi-legítimo", disse.

Contingente militar da Infantaria Estrangeira da Legião Estrangeira Francesa durante desfile em Nova Deli, na ÍndiaFoto: Raj K Raj/Hindustan Times/Sipa USA/picture alliance

"Pode até ser uma espécie de mudança de jogo", argumenta. "Porque sempre que alguém denuncia os Emirados pelas suas atividades mercenárias, onde estão a cometer potenciais crimes de guerra ou talvez a facilitá-los, agora que estão a usar um modelo estabelecido como a Legião Estrangeira Francesa, podem desviar as atenções e dizer 'os franceses estão a fazê-lo, porque é que nós não podemos?'", explica.

O analista McFate acredita que, à medida que o mundo se torna mais multipolar e a política externa se torna ainda mais transacional, haverá ainda mais "mercantilização do conflito". Os Emirados Árabes Unidos, com liderança autoritária, muita riqueza e poucas restrições legislativas, estão em posição de explorar esse facto, disse ele.

Andreas Krieg concorda e acrescenta que "a mercantilização das guerras vem ocorrendo nos últimos 20 anos". Agora, "vemos mais sinergias entre entidades públicas e privadas trabalhando juntas na guerra, de modo que já não se pode dizer que se trata apenas de uma questão de Estado ou de uma questão privada. É uma mistura de ambos", explica. "E os Emirados são mestres nisso, tendo explorado essa área cinzenta durante anos", lembra ainda.

sábado, 3 de fevereiro de 2024

NEGÓCIOS ESTRANGEIROS: Ministros da UE avaliam apoio à Ucrânia e relações com África

© Lusa

POR LUSA   03/02/24

Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) estão hoje em Bruxelas para discutir a continuidade do apoio à Ucrânia, analisar uma maneira de diminuir as tensões no Médio Oriente e reenquadrar as relações com África.

A reunião informal, intitulada Gymnich por causa da primeira reunião, há 50 anos no Castelo Gymnich Erftstadt, na Alemanha, tem início a partir das 09h30 locais (08h30 em Lisboa) e o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, vai participar no encontro.

Praticamente dois anos depois do início da invasão russa da Ucrânia, os governantes com a pasta da diplomacia dos 27 da UE irão avaliar o apoio prestado a Kiev e analisar como é que podem resolver as lacunas que persistem, nomeadamente a incapacidade de entregar munições de artilharia atempadamente.

Em março de 2023, a UE comprometeu-se, também durante uma reunião Gymnich, em desenhar um plano para entregar até março de 2024 um milhão de munições de 155 milímetros à Ucrânia, que são as mais utilizadas pela infantaria ucraniana e pelo armamento que dispõe para tentar repelir as forças russas no território ocupado.

No entanto, até novembro de 2023, a UE apenas tinha conseguido pouco mais de 30% do objetivo e no início deste ano o próprio ministro João Gomes Cravinho admitiu que o bloco europeu ia falhar a promessa que fez.

O enfoque mudou, entretanto, e agora os 27 comprometeram-se com a mesma cifra mas até ao final do ano.

Em simultâneo, o incentivo para produzir e comprar mais munições é para fazer a reposição do armazenamento dos países da UE, depauperado desde o início da guerra na Ucrânia para corresponder às necessidades do exército ucraniano.

A compra conjunta de munições é um caminho viável, mas várias fontes diplomáticas e de Defesa têm insistido que tão ou mais importante é reforçar a capacidade industrial de cada um dos países.

As tensões no Médio Oriente, reacendidas com a incursão militar israelita no território palestiniano da Faixa de Gaza, também serão alvo de discussão entre os governantes, nomeadamente uma maneira de assegurar um cessar-fogo, ainda que haja países a preferir uma terminologia diferente, como "pausas humanitárias", e também o financiamento que alguns países da UE, como a Alemanha, cortaram à agência das Nações Unidas que apoia os refugiados palestinianos (UNRWA, na sigla em inglês).

O alegado envolvimento de alguns funcionários dessa agência nos ataques perpetrados pelo grupo islamita palestiniano Hamas no sul de Israel a 07 de outubro está na origem da suspensão do financiamento de alguns países europeus, apesar de a UE (como instituição) ter referido que, para já, vai continuar a apoiar.

A decisão de alguns países foi indiretamente criticada pelo alto-representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell.

A reunião Gymnich, que se realiza no âmbito da presidência semestral belga do Conselho da UE, vai também abordar o reenquadramento das relações UE-África.

A presidência da Bélgica quer avançar com as conclusões da última cimeira entre as duas regiões, em fevereiro de 2022.

Numa altura em que grupos externos, como os mercenários da Wagner, estão a ganhar peso no continente africano, a UE quer olhar para um polo que pode trazer benefícios na cooperação político-económica, mas também ser um problema se outros atores da cena internacional, nomeadamente Moscovo e Pequim, encarados como concorrentes de Bruxelas, se anteciparem na região.



quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Governo de transição do Níger suspende Casa da Imprensa

© Shutterstock

POR LUSA   01/02/24 

O governo de transição do Níger, formado por uma junta militar, suspendeu a associação Casa da Imprensa, que durante o golpe de Estado de julho apoiou o Presidente deposto, informou hoje a agência de notícias ANP.

O Ministério do Interior do Níger aceitou, na quarta-feira, suspender a associação "até nova ordem", segundo a ANP.

Para gerir a associação foi criado uma comissão composta pelo secretário-geral do ministério como presidente e o secretário-geral do ministério da comunicação como relator.

A ANP referiu que a Casa da Imprensa detém todas as estruturas do setor da imprensa nacional.

A presidência cessante da associação tinha convocado por duas vezes uma assembleia para eleger os novos membros, mas o Ministério do Interior suspendeu ambas as reuniões.

A Casa da Imprensa convocou, a 26 de julho de 2023, dia do golpe de Estado que levou os militares ao poder, uma manifestação a favor da reintegração do Presidente deposto, Mohamed Bazoum, em frente ao Palácio Presidencial, onde se encontrava detido pelos militares.

A manifestação foi interrompida pelas autoridades. E Bazoum está desde então detido na residência presidencial em Niamey, a capital.

Os golpes de Estado no Mali (24 de maio de 2021), Níger (26 de julho de 2023) e Burkina Faso (06 de agosto de 2023) derrubaram governos eleitos democraticamente e conduziram ao poder juntas militares que acusaram as forças ocidentais, em particular a antiga potência colonial (França), de ingerência.

Em setembro, os três países, que tinham formado a Aliança dos Estados do Sahel (AES), acordaram reforçar a cooperação e negociaram acordos de auxílio militar, em caso de intervenção externa.

Os três países alegam também estar sob ataque de grupos extremistas islâmicos e criticaram os governos anteriores de terem falhado nessa matéria.

As tropas francesas foram expulsas e há o registo de elementos do grupo de mercenários russo Wagner no terreno.

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) tem criticado os governos dos três países e vários governantes admitiram a possibilidade de ações militares no terreno para repor a ordem democrática.

Devido às críticas e às sanções impostas, os três países anunciaram a saída da organização sub-regional.



Leia Também: Opinião pública do Burkina Faso, Mali e Níger favorável à CEDEAO

Alto Comissário da ONU chocado com execuções de civis no Mali

© Pedro Rances Mattey/picture alliance via Getty Images

POR LUSA   01/02/24 

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos comunicou hoje estar "chocado com as alegações credíveis de que as forças armadas do Mali executaram pelo menos 25 pessoas na região central de Nara, a 26 de janeiro".  

Além destas alegadas execuções sumárias, Volker Türk manifestou-se também alarmado com a informação de que cerca de 30 civis foram mortos "em ataques de indivíduos armados ainda não identificados em duas outras aldeias - Ogota e Oimbe - na região de Bandiagara durante o fim de semana".

"É essencial que todas as alegações de privação arbitrária da vida, incluindo execuções sumárias, sejam investigadas de forma completa e imparcial e que os responsáveis sejam levados à Justiça em julgamentos que cumpram as normas internacionais", afirmou.

As autoridades do Mali devem igualmente garantir que as tropas, bem como os seus agentes ou aliados, respeitem o direito internacional em matéria de direitos humanos e o direito internacional humanitário, nomeadamente tomando todas as medidas possíveis para assegurar a proteção dos civis, segundo o alto representante. 

"A violência contra civis e pessoas fora de combate é estritamente proibida", reiterou.

Türk?referiu um episódio em que o seu "gabinete corroborou dois outros assassínios" cometidos por membros das forças armadas do Mali e por militares estrangeiros aliados, em que pelo menos 31 civis morreram.

"A 24 de setembro de 2023, 14 pastores foram alegadamente executados em Ndoupa, na região de Ségou, e a 05 de outubro, 17 outros civis foram alegadamente executados na aldeia de Ersane, na região de Gao. Não temos conhecimento de quaisquer investigações por parte das autoridades sobre estes alegados assassínios", concluiu.

Os golpes de Estado no Mali (24 de maio de 2021), Níger (26 de julho de 2023), Burkina Faso (06 de agosto de 2023) derrubaram governos eleitos democraticamente e conduziram ao poder juntas militares que acusaram as forças ocidentais, em particular a antiga potência colonial (França), de ingerência.

Em setembro, os três países, que tinham formado a Aliança dos Estados do Sahel (AES), acordaram reforçar a cooperação e negociaram acordos de auxílio militar, em caso de intervenção externa.

Os três países alegam também estar sob ataque de grupos extremistas islâmicos e criticaram os governos anteriores de terem falhado nessa matéria.

As tropas francesas foram expulsas e há o registo de elementos do grupo de mercenários russo Wagner no terreno.

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) tem criticado os governos dos três países e vários governantes admitiram a possibilidade de ações militares no terreno para repor a ordem democrática.

Devido às críticas e às sanções impostas, os três países anunciaram a saída da organização sub-regional.

Até há dois anos, Portugal teve militares no Mali, no quadro da cooperação internacional.