segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Falta de progresso na Educação em África é preocupante

A falta de progresso na área da Educação em África é uma das conclusões mais preocupantes do Índice Ibrahim de Governação Africana (IIAG) de 2017, afirmou o empresário sudanês Mo Ibrahim, que criou a fundação responsável pela publicação do relatório anual.


"Preocupamo-nos um pouco com a falta de desenvolvimento claro em Educação, da qualidade de educação e da formação de jovens, porque isso é crucial para África", disse hoje, em entrevista à agência Lusa.

Parte da categoria Desenvolvimento Humano, que tem registado progressos desde 2007, mas que nos últimos cinco anos abrandou, a subcategoria Educação mostra a mesma tendência de quase estagnação.

O relatório do IIAG considera esta situação preocupante porque 41% da população do continente tem uma idade inferior a 15 anos, o que pode ser um problema a curto prazo.

"Temos um grande número de jovens a chegar ao mercado de trabalho todos os anos. Precisamos de criar 15 milhões de postos de trabalho por toda a África e isso não é fácil. Se não equiparmos os jovens com as competências que precisam, então teremos um problema", vincou o filantropo.

Mo Ibrahim exortamos os ministros da Educação e os governos em geral a colaborarem com a sociedade civil e com a comunidade empresarial para tentar perceber que tipo de economia e empregos vão surgir e que competências vão ser necessárias.

"Isso é essencial para nós porque, se não o fizermos, um grande ativo para África, que são os jovens, vai acabar por se tornar num grande problema para nós e para os nossos vizinhos também porque o que é que eles vão fazer se não tiverem emprego, não tiverem esperança, ficarem desesperados", alertou.

"Vão acabar mortos no Saara ou no Mediterrâneo ou a empunhar armas por um destes grupos terroristas que, ao menos, oferecem um salário, uma arma e um sentimento de redenção numa sociedade que falhou em dar esperança", advertiu.

A falta de liderança é uma das causas, mesmo que se acredite que existe boa vontade em geral entre os governantes africanos.

"Mas não é suficiente construir mais escolas, o que se ensina nas escolas é importante. Temos os livros certos, as ferramentas certas? Isso é importante, focar na qualidade da educação. É uma questão de perceber em como fazer o sistema mais eficiente. Boa vontade não chega", vincou, em declarações à Lusa.

O Índice Ibrahim de Governação Africana (IIAG) de 2017, publicado hoje pela Fundação Mo Ibrahim, revela que a tendência da governação no continente continua, em média, positiva, mas o progresso foi mais lento nos últimos anos.

Em 2016, a pontuação média global foi a mais elevada de sempre (50,8 em 100), porém o ritmo de crescimento anual abrandou.

Nesta edição, o IIAG analisa as tendências a nível dos países e dos indicadores ao longo dos últimos cinco anos (2012-2016), tendo em conta o contexto da década passada (2007-2016).

Ao longo dos últimos dez anos, 40 dos 54 países africanos avaliados demonstraram melhorias na governação, dos quais 18 conseguiram acelerar o seu progresso nos cinco anos mais recentes.

Este grupo, que inclui Costa do Marfim, Marrocos, Namíbia, Nigéria e Senegal, representa um terço dos países do continente e 58% da população africana.

Mas 22 dos 40 países que registaram progresso ao longo da década desaceleraram o crescimento, como o Ruanda e Etiópia, ou entraram mesmo em declínio, como Angola, Ilhas Maurícias e Camarões.

Mais preocupante, oito dos 12 países em que se registou um declínio na governação Global ao longo dos últimos 10 anos ainda não conseguiram inverter a tendência e deterioraram o seu desempenho a um ritmo ainda mais rápido na segunda metade da década, como Moçambique, Botsuana, Gana, Líbia.

Globalmente, os países demonstraram evoluções mais significativas na categoria de Desenvolvimento Humano, sobretudo nos indicadores Assistência Social, Educação e Saúde, mesmo se houve um abrandamento nos últimos cinco anos.

A categoria com o crescimento mais lento é o Desenvolvimento Económico Sustentável e a categoria de Participação e Direitos Humanos é a única em que se registou um progresso mais acelerado nos últimos cinco anos.

Quando à categoria Segurança e Estado de Direito, o IIAG indica que a deterioração observada ao longo da década passada abrandou nos últimos cinco anos.

A Fundação Mo Ibrahim foi criada em 2006 com o objetivo de promover a qualidade da liderança e da governação em África.

O Índice Ibrahim de Governação Africana (IIAG) pretende oferecer uma avaliação anual da governação nos países africanos graças a uma compilação de dados, que este ano reuniu 100 indicadores de 36 instituições de dados independentes, africanas e globais.

A Fundação é também responsável pela realização do Prémio Ibrahim para a Excelência na Liderança Africana, pelo Fórum Ibrahim e pelas Bolsas de Investigação e de Estudo Ibrahim.

BM // ANP
Lusa/fim

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