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sexta-feira, 13 de abril de 2018

Campanha de cajú 2018: PREÇO DE MIL FRANCOS CFA POR QUILO DIVIDE OPERADORES ECONÓMICOS

[REPORTAGEM] A fixação do preço em 1000 (mil) francos CFA por cada quilograma de castanha de cajú junto ao produtor, anunciado no passado dia 24 de março na cidade de Gabú durante a abertura oficial da campanha 2018 pelo Presidente da República José Mário Vaz, está a dividir os intervenientes nesse setor vital para a economia nacional.

A situação espelha que a presente campanha de comercialização da castanha de cajú, o maior produto de exportação da Guiné-Bissau, aliás, o ouro guineense para alguns, petróleo para outros, começou com elevadas expetativas, mas o cenário vivido até ao momento é de incerteza, porque os operadores do setor recusam comprar o produto ao preço anunciado oficialmente pelo Chefe de Estado.

Os produtores, ou seja, os agricultores demonstraram claramente que não venderão o seu produto a um preço inferior ao anunciado pelo Chefe do Estado. Por outro lado, os compradores decidiram não comprar o ouro guineense por mil francos CFA.

Para os exportadores da Guiné-Bissau, mesmo que fossem cortadas todas as taxas e impostos aplicados no setor de cajú seria impossível comprar um quilo de castanha por mil francos CFA.

Neste mar de incertezas e esperanças, o presidente da Associação de Agricultores da Guiné-Bissau (ANAG), Jaime Boles Gomes, diz estar confiante que o Chefe de Estado encontrará uma solução até 20 de abril.

Mas o presidente da Associação de Exportadores e Importadores da Guiné-Bissau, Amadu Iero Djamanca, alertou para o risco de os camponeses virem a ficar com a sua castanha, garantindo que mil francos CFA por quilo é impraticável.

Entretanto, no final do mês de março, um grupo de empresários indianos que operam no país demonstraram-se disponíveis para comprar ao preço estabelecido junto ao produtor, fixado em 1000 francos [1,5 euros] o quilograma.

Na altura, o porta-voz do grupo Camlesh Ramchande, que falava a imprensa à saída de uma audiência com o Presidente da República José Mário Vaz, garantiu que os comerciantes indianos que operam no setor de cajú na Guiné-Bissau concordaram com o preço fixado pelo Chefe de Estado e comprometeram-se em comprar a castanha disponível no país.

EXPORTADORES CONSIDERAM IMPRATICÁVEL O PREÇO DE MIL FRANCOS CFA

O presidente da Associação Nacional de Importadores e Exportadores da Guiné-Bissau, Amadu Iero Djamanca, afirmou que é ‘impossível’ comprar um quilograma de castanha de cajú por mil francos CFA, como anunciado a 24 de março pelo Chefe de Estado José Mário Vaz.

Amadu Iero Djamanca falava numa entrevista ao jornal O Democrata para reagir sobre a incerteza que paira na presente campanha de comercialização da castanha de cajú. Assegurou que mesmo com a isenção de todas as taxas e impostos é ‘impossível’ comprar um quilo de cajú por 1000 francos CFA.

Para ele, esta campanha está a ser estragada, mas na sua opinião, poderia ser melhor que a de 2017, quando o ouro guineense foi comprado por mil francos por quilo.

O responsável dos exportadores e importadores que operam no país lamenta a forma como a presente campanha está a ser politizada, tal como acontece com outros setores. De seguida sublinhou que, por uma razão de ordem circunstancial – ‘ficamos no nosso cantinho’.

Djamanca disse que os exportadores compram os produtos para ir revendê-los, acrescentando que ninguém compra algo que de antemão sabe que depois da reenda não terá proveitos ou que sabe que não tem mercado. Na sua opinião, como produto estratégico da Guiné-Bissau, a castanha de cajú deve merecer uma atenção especial. O cajú faz parte do tecido económico e social do país, por isso não se deve ter em conta apenas a sua vertente política. Acrescentou neste particular que os políticos guineenses, que apelida de (abutres de cajú) só lembram da castanha nas vésperas da campanha, assinalando que o cajú precisa de uma atenção anual e não sazonal.

“O Decreto N.º03/2005 que regulamenta a comercialização e exportação da castanha de cajú, num dos seus articulados diz que uma parte das taxas e dos impostos provenientes de cajú deve ser revertido pelo Governo ao longo da fileira do cajú, com atenção particular à produção. A verdade é que o cajú foi deixado à sua sorte e politizado pelos políticos”, nota Djamanca.

O responsável dos exportadores considera que as pessoas fingem que não estão a perceber que há uma necessidade urgente e biológica da revisão de como organizar os pomares de cajueiros ao longo do país. No seu entender, isso deveria acontecer para que a Guiné-Bissau passe a ter ‘quintas de cajú’, pela organização de pomares e seu acompanhamento. Neste sentido, pediu ao ministério da agricultura que mande os seus técnicos ao terreno para informar e formar as comunidades sobre as boas práticas a que o ouro guineense tem direito.

Amadu Iero Djamanca alertou neste sentido que, se a Guiné-Bissau não tomar novas medidas para a melhoria do cajú guineense, o país corre o risco de chegar a um ponto em que todos se culparão ou brigarão porque a pobreza poderá tomar conta de toda gente, apontando o exemplo de grandes produtores de cajú como a Costa de marfim que melhora a cada dia que passa sua forma de produção, assim como os compradores que estão a produzir atualmente em grande quantidade, como é o caso da Índia e o Vietnam.

“Temos que acautelar o futuro do cajú da Guiné-Bissau, porque a concorrência está apertada demais. Os guineenses devem sentir-se na obrigação de tratar o cajú. Isso é uma questão do mercado. A lei da procura e da oferta é que controla o mercado e mais ninguém. O mercado tem uma autonomia que muitos não percebem – a lei da procura e da oferta”, explicou Amadu Iero Djamanca.

DJAMANCA ALERTA QUE O PAÍS PODERÁ FICAR SEM MERCADO PARA VENDER SEU CAJÚ

O responsável da associação dos exportadores e importadores da Guiné-Bissau alertou ainda que se a nossa política de produção de castanha de cajú não for melhorada, dentro de 5 ou 10 anos corremos o risco no país de ficar sem mercado onde vender o nosso produto.

Para reforçar a sua tese sobre o alerta de ver a Guiné-Bissau ficar sem mercado, Djamanca aponta o exemplo de novas medidas indianas para quem exporta para a Índia. Agora é taxado, o que não acontecia antes. Acrescentou que o Estado indiano está a incentivar a produção interna deste produto, assim como o seu processamento. Acredita que a mesma medida será tomada pelo Vietnam mais tarde ou mais cedo.

Contudo, Djamanca ressalva que o nosso cajú continua ainda no mercado devido a sua qualidade ímpar, ou seja, o único cajú que resiste apesar da não utilização de produtos químicos. É uma castanha de cajú a cem por cento (100%) bio, sublinhando que os guineenses podem dar mais-valia a este valor.

Por outro lado, Djamanca alertou também que se o país não tomar cautelas, correrá o risco de deixar os agricultores com a sua castanha em casa, se não a vender a um preço muito baixo como aconteceu no passado. Reiterou que até a altura da realização desta entrevista, o mercado internacional não permitia que se praticasse o preço de 1000 francos CFA por quilograma.

“Até hoje a esta hora, o preço de oferta do mercado, neste caso do agricultor para exportação oscila entre 1750 dólares a 1850 dólares por tonelada. O preço imposto de 1000 francos é impraticável, porque, neste momento nas matas da Guiné Bissau, uma tonelada custa 2 mil dólares. Agora quem é que vai dar aos intermediários 2 mil dólares para ir comprar cajú se no mercado internacional custa menos de dois mil”, questiona Djamanca.

Solicitado a pronunciar-se sobre a influência da baixa do preço de Alvará que passou de 5 milhões no ano passado para um milhão e meio de francos cfa neste ano, Djamanca questionou por seu lado a razão pela qual o Governo decidiu descer a taxa do Alvará sem comunicar os atores do setor as motivações da decisão, se uma esmola, um donativo ou uma decisão imposta pelo mercado. Neste particular, o presidente da Associação dos Exportadores e Importadores da Guiné-Bissau exige respeito por parte dos políticos e dirigentes do país no tratamento dos assuntos tangentes ao setor de cajú.

EXPORTADORES QUESTIONAM O PARADEIRO DAS RECEITAS DAS COBRANÇAS DE CAJÚ

Amadu Iero Djamanca acusa ainda os políticos de estarem metidos em gastar o dinheiro arrecadado na campanha de comercialização de cajú de 2017, questionando do paradeiro do dinheiro que 80 exportadores pagaram para a obtenção do Alvará, num valor de 5 milhões de francos CFA por operador, totalizando quatro centos milhões de francos CFA.

“Onde está este dinheiro até ao dia 24 de fevereiro”, pergunta Djamanca, para de seguida questionar do papel da Agencia Nacional de Cajú (ANCA), que segundo diz recebeu três (03) francos CFA por cada quilograma de cajú exportado, recebendo mais de 600 milhões de francos CFA. Questionou sobre o que a ANCA fez junto dos operadores de cajú e dos produtores para abordar o assunto cajú, da velhice dos cajueiros, falar do destino a dar a polpa de cajú e das pragas, assim como da qualidade do cajú.

Djamanca questiona também a situação do Conselho Nacional dos Carregadores que diz ter recebido também no ano passado um (01) franco CFA por quilograma, arrecadando mais de 200 milhões de francos CFA, mas que na sua visão não investiu nenhum franco na campanha de comercialização de cajú. Acusou também a ANCA de não entender nada de castanha de cajú e de não saber quantos armazéns existem em todo território nacional e quantos pomares de cajú existem, perguntando de seguida para quem trabalha a Agência Nacional de Cajú, a ANCA.

Amadu Iero Djamanca revelou ainda que no ano passado, os intermediários pagaram um milhão e meio (1,500.000) francos CFA para obterem o Alvará e os compradores junto aos produtores, os operadores dos postos de compra nas tabancas pagaram 500 mil francos CFA para ter Alvará. Questionou do paradeiro de todo o dinheiro recolhido na campanha de 2017, reiterando que eram em um número elevado os intermediários e os comerciantes do posto envolvidos na comercialização de cajú no ano passado.

Para Djamanca, os rendimentos de cajú deveriam reverter para o agricultor. Aconselhou o Governo que oficialize a abertura e fecho da campanha de comercialização da castanha de cajú. A partir do fecho, na sua opinião, pode ser fixado o preço base para o ano seguinte, mesmo que sejam 250 ou 350 francos. Acredita que o mercado evoluirá sucessivamente, tendo em conta a lei do mercado, garantindo que ‘a esta altura o preço poderia atingir um valor de 750 francos CFA’.

No entender de Amadu Iero Djamanca, a oficialização da campanha de comercialização de cajú deve passar pela criação de um gabinete que reunirá no final de campanha todos os intervenientes do setor para que cada um possa expor a forma como a campanha decorreu, apontar os aspetos bons e maus, assim como sugerir as melhorias para o ano seguinte.

Revoltado com a situação, Djamanca disse que o ano de 2017 foi marcado com muita fraude e roubo, mas segundo disse, ninguém está interessado em procurar saber sobre os maus atos praticados na campanha de comercialização.

Considerou ainda o preço de mil francos CFA por quilo de ser de uma rede de crime organizado, convidando a Polícia Judiciária e o Ministério Público a investigarem as pessoas que dizem estar dispostas a comprar o cajú por 1000 francos CFA.

AGRICULTORES CONVICTOS NO PREÇO DE MIL FRANCOS CFA POR QUILO DE CAJÚ

Os agricultores da Guiné-Bissau acreditam que um quilograma da castanha de cajú será comprado por mil francos (1000) CFA, como foi anunciado no passado dia 24 de março pelo Presidente da República José Mário Vaz em Gabú, na abertura oficial de campanha deste ano.

A posição dos camponeses guineenses foi transmitida ao jornal O Democrata pelo presidente da Associação Nacional dos Agricultores da Guiné-Bissau (ANAG), Jaime Boles Gomes, que na ocasião sustentou que as palavras do Chefe de Estado não devem ser desafiadas. Recordou que no ano passado havia pessoas que não acreditavam no preço básico de 500 francos CFA, mas que acabou por acontecer. O quilo de castanha de cajú ascendeu a mil francos CFA.

Na incerteza de compra da castanha de cajú por parte dos intermediários, ou seja, os compradores junto ao produtor, a ANAG apresenta três saídas possíveis para solucionar a situação da campanha deste ano. Em primeiro lugar, Boles Gomes sugere ao Estado da Guiné-Bissau que assuma a compra de toda castanha de cajú junto aos camponeses para de seguida exportá-la.

Para o plano B, a Associação dos Agricultores da Guiné-Bissau sugere ao Estado a procura de uma empresa capaz de comprar toda castanha de cajú guineense, mesmo que o interessado fique em Bissau. A ANAG disponibiliza-se em ajudar no transporte da castanha até a capital para vendê-la depois ao eventual empresário. E como última solução, Boles aponta sem especificar ou entrar em detalhes, a adoção de políticas semelhantes às do Senegal e Gâmbia, permitindo aos empresários nacionais a compra da castanha junto ao produtor ao preço de 1000 francos CFA.

“No ano passado, quando o preço mínimo foi estipulado em 500 francos CFA, havia algumas pessoas na Primatura que me interpelaram pedindo que não aceitasse os 500 francos como preço de referência, mas recusei e continuei convicto da nossa posição. No final, a castanha foi comprada até mais de mil francos CFA”, notou Jaime Boles Gomes.

Boles Gomes admite que a campanha de comercialização gera inúmeros interesses, desde comerciais até políticos, acrescentando que no ano passado vendeu a sua castanha até 1100 (Mil e Cem) francos CFA, lembrando-se todavia, do ano em que vendeu um quilograma por 50 francos CFA, assinalando que aquela era já foi, para de seguida dizer que a castanha era cobre mas que agora é ouro.

Na sua visão, qualquer pessoa tiraria proveito político da campanha de comercialização da castanha de cajú, como no seu entender esta a fazer o Chefe de Estado.

O líder dos camponeses da Guiné-Bissau disse que sempre quando começa a campanha de comercialização da castanha de cajú, aparecem especulações sobre a queda do preço no mercado indiano ou mercado internacional.

Para Boles Gomes o mal maior seria se o produto não fosse comprado aos agricultores. Mas se os empresários nacionais ficassem de fora na campanha deste ano por não estarem em condições de comprar um quilograma a 1000 francos, o presidente de ANAG considera isso de mal menor. Contudo, demonstrou-se surpreso ao ver os empresários que compraram cajú até 1100 francos, mas que neste ano dizem não estar em condições de comprar o mesmo produto a um preço inferior ao do ano transato, mil francos CFA.

Até 20 deste mês se não assistirmos ao início da compra de castanha de cajú no país, vamos realizar uma Assembleia Nacional dos Agricultores, ou seja, um parlamento onde vamos aprovar propostas que apresentaremos aos dirigentes como solução para esta edição. De seguida admitiu que há pessoas que estão a comprar cajú ao preço de 500 francos CFA até 350 francos CFA, mas sem no entanto avançar com os pontos do país onde estas práticas acontecem. Denunciou também alguns intermediários que aumentaram o preço de um quilograma de arroz para mil francos CFA.

Jaime Boles Gomes diz acreditar que José Mário Vaz encontrará uma solução para que a castanha de cajú seja comprada na presente campanha 2018.

A redação do jornal O Democrata tentou sem sucesso ter a reação do ministério do comércio, através da sua direção geral, mas alegaram a falta de autorização da parte do seu ministro para proferir qualquer declaração à imprensa. 

Por: Sene Camará
Foto: Marcelo Na Ritche

OdemocrataGB

segunda-feira, 22 de março de 2021

Campanha de caju-2021: AGRICULTORES CRITICAM A GESTÃO DO FUNPI E ESTÃO PREOCUPADOS COM O PREÇO BASE DA CASTANHA

21/03/2021 / Jornal Odemocrata 

[ENTREVISTA_semana n°11/2021] O presidente da Associação de Agricultores da Guiné-Bissau (ANAG), Jaime Boles Gomes, criticou duramente a gestão de somas de bilhões de francos cfa angariados pelos sucessivos governos, no âmbito do Fundo de Promoção de Investimento Industrial (FUNPI), do qual os agricultores não beneficiaram de nada. Também se mostrou preocupado com a situação da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) que sufocou a economia nacional, em particular da castanha de cajú, no ano passado, por causa das medidas de restrições impostas. Acrescentou que estão igualmente preocupados sobre o preço base da compra da castanha de cajú por quilograma da parte do executivo.

O agricultor fez estas afirmações durante uma entrevista (março de 2021) ao Jornal O Democrata para falar da situação dos agricultores que, em algumas zonas, já estão a lamentar as dificuldades em termos de produtos alimentares, bem como das perspectivas sobre a presente campanha da comercialização da castanha de cajú, e, sobretudo, no que concerne ao preço base para o quilograma da castanha.

No ano passado, o preço de referência da castanha foi de 350 Francos CFA, depois se registou o aumento do preço aos poucos, no terreno, até chegar aos 550 Francos CFA, já no final da campanha. O processo da exportação da castanha continua a decorrer nos portos de Bissau até este momento e, de acordo com as informações apuradas do ministério do Comércio, conseguiu-se exportar até agora mais de 155 mil toneladas da castanha de caju e a perspetiva do governo era chegar 180 mil toneladas. 

FUNPI FOI CRIADO PARA PROMOVER A PRODUÇÃO AGRÍCOLA, MAS OS GOVERNANTES “COMERAM” O DINHEIRO

Jaime Boles Gomes disse na entrevista que a Guiné-Bissau não tem pomares de cajú, mas sim “matas de cajú” desorganizadas devido à falta de uma agricultura modernizada que oriente os produtores a respeitarem o espaçamento recomendado cientificamente para permitir que raios do sol toquem a copa dos  cajueiros, de forma a garantir o seu desenvolvimento e a sua consequente reprodução em quantidade e qualidade. Frisou que é preciso dotar as organizações agrícolas de meios necessários a fim de poderem entrar com a componente de mecanização do sistema e evitar assim, aquilo que considera “desorganização” na plantação de caju.

Referiu que não é possível criar o Fundo de Promoção de Investimento de Industrial (FUNPI), através do qual angariou-se somas de biliões de Francos CFA, mas nenhum franco foi investido no setor de cajú, e, sobretudo, para promover as boas práticas da produção de cajú.

Frisou que os guineenses têm problemas sérios no que concerne à gestão da coisa pública, tendo sustentado que o atraso do desenvolvimento da Guiné-Bissau deveu-se aos próprios guineenses e principalmente àqueles que assumem as rédeas da governação e que “trabalham com má-fé”. 

“O FUNPI foi criado no passado, mas “comeram” esse dinheiro todo e nada entrou para a promoção do setor de cajú. Em 2019, foi angariado um bilhão e 950 milhões Francos CFA e nem 25 francos foram investidos na fileira de cajú. Em 2019, preparamos um plano de ação nesse quadro, porque nos disseram para criar uma conta co-titulada por ANAG, ANCA e Tesouro que deviam ser assinantes da mesma, mas infelizmente não chegamos de criar essa conta e nem sequer chegou-se a trabalhar um termo de referência para o efeito e esse dinheiro acabou por perder assim ou simplesmente não sabemos mais nada deste fundo. Em 2020, repetiu-se a mesma coisa, porque o documento não foi revogado e este ano, o atual governo está à procura de solução para implementação desta conta e pedimos que quando anuncia o preço base de cajú que exiba os documentos dessa conta co-titulada, criada para investimento e promoção do cajú”, explicou.        

Questionado sobre as suas expetativas quanto ao preço base por quilograma de cajú a ser anunciado para a presente campanha, respondeu que, nos anos anteriores, a sua organização sempre participava nas discussões com os diferentes técnicos que intervêm na fileira de cajú, contudo lembrou que a decisão final cabia sempre ao executivo na base das propostas recebidas. E aproveitou para alertar as autoridades nacionais e os produtores que é preciso um trabalho sério para investir na restruturação dos pomares de cajú, que, de acordo com a sua explanação, estão a ficar velhos e que é urgente uma intervenção neste sentido. 

ANAG PERSETIVA UMA INTERVENÇÃO REBUSTA PARA A ESTRUTURAÇÃO DE POMARES DE CAJÚ NO PAÍS

Em termos de preparativos da sua organização para a presente campanha de comercialização de castanha de cajú, Jaime Boles Gomes disse que a ANAG não beneficia de nada muito menos de subsídios. Lamentou que o próprio ministério da Agricultura a quem poderiam recorrer para conseguir alguma coisa, também não tem nada. 

Informou que, de acordo com as expectativas para a campanha de comercialização da castanha de cajú do ano em curso, haverá rendimentos devidos à grande produção da castanha, devido ao desenvolvimento dos pomares de cajú e, por isso, há uma esperança que este ano seja um bom ano agrícola.

Adiantou que o que podia criar um estrangulamento é a recente poeira godzilla proveniente do Sharra no mês de fevereiro, mas não durou muito tempo e acabou por dissipar-se sem criar alguma situação anormal nos pomares de cajú.

Questionado se mesmo com a pandemia de Covid-19 é possível ter um preço de cajú aceitável, o presidente da ANAG assegurou que se os agricultores conseguirem estocar bem a castanha, para assim evitar vendê-la, nos pomares ainda molhada, para não comprometer a sua qualidade no mundo fora, é possível sim, ter bom preço de caju.  

Adiantou que a nível da sub-região, os governos e o setor privado, principalmente os atores de fileira de cajú lutam sempre para melhorar o setor.

Apesar de enfrentarem a mesma praga que corta os cajueiros, estão a trabalhar para combatê-la. Aqui no país também a ANAG tem esse projeto com o seu parceiro e em breve vão lançar uma iniciativa no sentido de poder combater essa maldita praga, minimizando assim sofrimento dos agricultores nacionais. 

O responsável dos agricultores da Guiné-Bissau sublinhou que a pandemia da Covid-19 estragou a campanha de comercialização da castanha de cajú, devido ao confinamento que não permitia às pessoas irem ao terreno, onde grupos de jovens prestam serviços de limpeza aos pomares não conseguiram trabalhar, mas este ano não houve essa situação de confinamento, contudo a doença continua no país.

Nesse sentido, Jaime Boles Gomes exortou os seus associados para acautelarem nesse momento de que a fome anda aí, porque algumas pessoas circulam com produtos fora de prazo e arroz não apropriado para o consumo humano.

Adiantou que cada agricultor deve saber gerir os seus produtos para melhor fazer o seu negócio justo, evitando a troca de um quilograma de arroz para dois quilogramas de castanha de caju.    

“Quero pedir aos agricultores para se concentrarem no trabalho porque em relação aos outros países, a Guiné-Bissau está na cauda, mas devemos procurar evoluir. Devemos lavar as nossas castanhas de cajú bem limpas e secá- las para depois podermos armazená-las, porque só assim é que podemos vender o nosso produto com qualidade, o que pode resultar num bom preço, ou organizarmo-nos em cooperativas para melhor organizar os nossos planos e beneficiar de apoios que mais tarde poderão surgir. Neste momento, estamos a procurar fundos no sentido de podermos criar cooperativas em três províncias nomeadamente, Norte, Leste e Sul, modernizando assim esse setor em alto nível, permitindo aos produtores somar ganhos”, espelhou.

No que diz respeito à situação dos agricultores nacionais, Jaime Boles Gomes explicou que pessoas que cultivam na Guiné-Bissau não são agricultores, são camponeses porque agricultores têm outro nível e trabalham profissionalmente, enquanto conhecedores da matéria, tanto o solo, as plantas e o espaçamento e tratamento para que as plantas possam ser produtivas e rentáveis, produzindo em grande escala para fins comerciais e industriais, esse sim são agricultores, portanto camponeses nacionais estão a trabalhar para chegar esse nível.

Jaime Gomes disse que para chegar esse nível, é preciso ter uma parceira forte que ajudará na formação dos agricultores para aumentar conhecimento a fim de mudar o sistema agrícola guineense, sendo fator fundamental para alavanca do país. Boles foi mais longe no qual advertiu que a agricultura é considerada como locomotivo de todos sectores para o desenvolvimento almejado.

“Se queremos ir para o desenvolvimento, devemos apostar sério na agricultura, através de um bolo orçamental elevado no ministério de agricultura, não aquilo que estamos a assistir, nos últimos tempos, nessa área fundamental e chave para arranque da Guiné-Bissau. Também é um sector que pode absorver jovens, criando assim mercado de emprego e agrupar os jovens, através da cooperativa Inter profissionais. Portanto é fundamental apostar nesse sector”, acrescentou.

O Presidente da Associação de Agricultores da Guiné-Bissau salientou que para a concretização desse plano é preciso que haja a paz e estabilidade no país, permitindo assim aos investidores abrir empresas, o que poderá contribuir para o emprego jovem.

Questionado a pronunciar-se sobre a quantidade de toneladas exportadas no ano passado, Boles disse que a sua organização não tem condições para fazer seguimento como a Agência Nacional de Cajú, intermediários e alfandegas, de maneira que é difícil falar da quantidade exportada no país.

Por: Aguinaldo Ampa

Foto: A.A

sábado, 27 de janeiro de 2024

"Guiné-Bissau é o país mais seguro na região da África Ocidental, razão pela qual as empresas chinesas estão agora a pensar visitar a Guiné e fazer a prospecção do mercado e saber em que áreas podem investir". disse o Embaixador da República Popular de China _Guo Ce...

 Embaixador Guo Ce: “SENSIBILIZAMOS EMPRESAS CHINESAS QUE A GUINÉ-BISSAU É PAÍS SEGURO PARA INVESTIR”

 O DEMOCRATA  26/01/2024 

O Embaixador da República Popular da China na Guiné-Bissau, Guo Ce, disse que a embaixada que dirige fez um trabalho de sensibilizar e informar as empresas chinesas e mais outras interessadas no mercado guineense que atualmente a Guiné-Bissau é o país mais seguro na região da África Ocidental, razão pela qual essas empresas estão agora a pensar visitar a Guiné e fazer a prospecção do mercado e saber em que áreas podem investir para além da comercialização da castanha de cajú e a criação das fábricas de transformação deste produto, energia entre outros setores. 

“Sabemos que no dia 01 de dezembro de 2023 registou-se um conflito neste país. Esta situação levou algumas empresas chinesas que planeavam visitar a Guiné-Bissau e fazer o reconhecimento do mercado a cancelar a deslocação para a Guiné, por causa daquela situação. A embaixada fez um trabalho de sensibilizar e informar àquelas empresas e mais outras interessadas no mercado guineense que atualmente a Guiné-Bissau é o país mais seguro na região da África Ocidental. Essas empresas estão agora a pensar visitar a Guiné e fazer a prospecção do mercado e saber em que áreas podem investir para além da comercialização da castanha e a criação das fábricas de transformação deste produto, energia entre outros setores” assegurou o diplomata, durante a entrevista conjunta concedida ao Jornal O Democrata e à Rádio Nacional para falar sobre o estado da cooperação bilateral entre os dois países, como também do interesse de empresários chineses na castanha de cajú da Guiné Bissau. 

“A Guiné-Bissau é um dos maiores produtores mundiais da castanha de cajú e a qualidade da castanha de cajú também está entre as melhores, o que atende às necessidades do mercado chinês. Na verdade, entre as castanhas de cajú importadas pela China, é provável que seja a castanha da Guiné-Bissau que foi transformada pelo Vietname e outros países. Estamos a trabalhar agora para limpar todos os obstáculos e permitir que a castanha de cajú da Guiné-Bissau seja vendida na China, sem passar por Vietname”, disse, acrescentando que o seu governo enviará à Guiné uma missão técnica que virá analisar localmente a castanha de cajú e o ambiente dos negócios, tendo assegurado que acredita que nos meados dos meses de junho e julho é possível que seja assinado o protocolo de acordo que permitirá a exportação da castanha de cajú da Guiné-Bissau para a China.

O Democrata (OD): Já se passaram quase três anos do seu exercício na Guiné-Bissau, como Embaixador da República Popular da China. Um exercício marcado por muitas intervenções em diferentes setores, mas particularmente a nível social. Que avaliação faz do estado da cooperação entre a China e a Guiné-Bissau?

Guo Ce (GC): Servi por três anos na Guiné-Bissau como embaixador, estou muito impressionado e pude testemunhar com os meus próprios olhos o desenvolvimento em vários setores e o aprofundamento da amizade Sino-Guineense.

Ao longo dos três anos, apesar da conjuntura internacional, as relações Sino-Guineense têm-se melhorado significativamente, graças aos esforços de ambas as partes, à confiança política mútua. Tem aumentado progressivamente e as cooperação prática em diversas áreas é frutívora.

De um lado, a Guiné-Bissau vai respondendo positivamente às principais iniciativas propostas pela China, nomeadamente as iniciativas de um futuro compartilhado, de desenvolvimento, de segurança e da civilização global e tem apoiado firmemente a posição da China nas organizações multilaterais, por isso agradecemos à Guiné-Bissau pelos apoios que nos tem dado nas organizações internacionais.

Nos últimos três anos, a China também prestou alguns apoios para o desenvolvimento da Guiné-Bissau. Concluímos com sucesso o projeto de reflexão da conferência internacional do Ministério dos Negócios Estrangeiros, a construção do porto de Alto Bandim, em Bissau, e a reabilitação da sede da Assembleia Nacional Popular (ANP).

O projeto de construção da autoestrada Bissau/Safim também está a progredir significativamente. Em 2023 registamos destaques importantes na nossa cooperação e a Guiné-Bissau foi à China e pela primeira vez conseguiu montar a sua estrutura na sexta exposição nacional da importação da China.

O presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, condecorou a equipa médica chinesa no âmbito do sexagésimo aniversário da primeira equipa médica chinesa ao exterior e cerca de 140 oficiais guineenses visitaram ou fizeram formações na China no ano passado.  Tudo isso revela que, apesar das nossas diferenças geográficas, a China e a Guiné-Bissau são bons amigos e bons cidadãos que cuidam um do outro e se ajudam mutuamente.  

OD: O país tem um novo governo, embora mantenha-se o titular dos negócios estrangeiros, o interlocutor direto do Embaixador. Após o começo do novo ano, quais são as perspectivas da cooperação Sino-Guineense?

GC: Sobre o interesse dos empresários chineses à castanha de cajú guineense devo dizer-lhe que o processo está a progredir de forma consciente e esperemos que até à primeira metade de 2024 as alfândegas da China enviem uma missão de técnicos chineses a visitar o país e proceder às investigações no local.

A parte chinesa espera que tudo corra bem e que possamos assinar oficialmente um protocolo nos primeiros seis meses de 2024.

A construção da autoestrada Bissau/Safim deve ser concluída até agosto deste ano e até julho a segunda missão de técnicos agrícolas chineses chegará ao país, para continuar a desenvolver ações nas áreas técnico-agrícolas.

Também está prevista para este ano a vinda da nova missão médica chinesa. Além disso, estamos discutir um acordo com a parte guineense sobre a implementação de projetos como a peixicultura e produtos pecuários para a Guiné-Bissau.

A Guiné-Bissau como um país amigo vou promover uma visita para o Presidente da República e o primeiro-ministro para visitarem a China e a sua participação nas conferências internacionais.     

 OD: No final do mês passado, a China realizou a Conferência Central sobre o Trabalho Relacionado com os Negócios Estrangeiros. Que impacto terá na cooperação China-Guiné-Bissau? Reparamos que o conceito de Comunidade de Futuro Compartilhado para a Humanidade é um conteúdo importante da Conferência. Há perspectivas de envolver a imprensa nacional para a disseminação do grande projeto chinês, “Futuro Compartilhado” e que mecanismos a Embaixada pretende utilizar para envolver a mídia guineense?

GC: Agradeço-lhe pela questão. No ano passado todos os embaixadores e chefes de missão diplomática chinesa em todo o mundo voltaram para Pequim, capital da China, para assistir a esta conferência. A diplomacia chinesa é guiada pelo pensamento de Xi Jinping sobre a diplomacia e a conferência.

É imperativo e é um costume formar uma comunidade com futuro compartilhado para a comunidade. O objetivo é construir um mundo aberto, inclusivo, lindo e belo com paz duradoura e segurança universal.    

A China propôs essa iniciativa, futuro compartilhado para a comunidade, para o desenvolvimento, segurança e a civilização global. A Guiné-Bissau e a China já assinaram um memorando de entendimento sobre a iniciativa, uma faixa e uma rota, para pôr em prática o conceito comunitário de futuro compartilhado para a unidade.

A China está disposta a reforçar a cooperação com a Guiné-Bissau no âmbito do conceito comunitário de futuro compartilhado, a iniciativa uma faixa e uma rota e as três iniciativas globais.

A conferência esclareceu que a China apela para um mundo multipolar, equitativo e ordinário, uma globalização económica universalmente benéfica e inclusiva, porque o mundo multipolar, equitativo e ordinário não é composto apenas pelos grandes países, mas também um mundo em que países em via de desenvolvimento ou emergentes são partes iguais.

O iluminismo e a geopolítica reforçam as autoridades a prática do verdadeiro multilateralismo e uma globalização económica universalmente benéfica e inclusiva é aquela que atende às necessidades comuns de todos os países em vias de desenvolvimento, promove a liberalização, a facilitação do comércio e o investimento.

 A globalização económica vai disponibilizar mais acesso aos produtos guineenses no mercado internacional e vai trazer, com certeza, mais dinâmica para o desenvolvimento económico da Guiné-Bissau. 

Por exemplo, a China está a promover em conjunto com a Guiné-Bissau a exportação da castanha deste país à China, uma demonstração concreta da globalização económica e a liberalização do comércio.  

OD: Desde a retoma da cooperação bilateral entre os dois países em 2000, a relação está e continua estritamente a nível público. É possível explorar o setor privado, sobretudo convidando o setor privado chinês a investir na Guiné-Bissau? Qual é o fator determinante que está a condicionar o investimento do setor privado chinês na Guiné-Bissau, para além do investimento que se regista no setor pesqueiro…

GC: De acordo com a estatística chinesa, atualmente o stock de investimentos da China na Guiné-Bissau se estima-se em mais de 20 milhões de dólares norte-americanos incluindo os investimentos das empresas privadas. Ainda de acordo com o nosso conhecimento, as empresas chinesas, quer estatais, quer as privadas, prestam muita atenção e importância ao mercado da Guiné-Bissau. 

Estas empresas estão a buscar a oportunidade de investimento na Guiné-Bissau nas várias áreas, sobretudo nos setores da energia fotovoltaica, castanha de cajú e no setor pesqueiro. Eu acredito que nas áreas das infraestruturas, agricultura e outros setores, os nossos países têm ainda muitos espaços para cooperar. A embaixada tomou a iniciativa de encorajar as empresas privadas para investirem na Guiné-Bissau. 

As empresas privadas chinesas que querem investir na Guiné-Bissau estão reticentes em fazer grandes investimentos, por causa da instabilidade política, golpes de Estado e conflitos. Eu quero frisar que os golpes de Estados ou conflitos registados neste país vão afastar as empresas ou grupos de empresas que querem investir pesado na Guiné-Bissau. Queremos realçar aqui o bom ambiente político registado nos últimos anos e que oferece as pré-condições para o desenvolvimento económico neste país. 

Sabemos também que no dia 01 de dezembro de 2023 registou-se um conflito neste país. Esta situação levou algumas empresas chinesas que planeavam visitar a Guiné-Bissau e fazer o reconhecimento do mercado a cancelar a deslocação para a Guiné, por causa daquela situação. A embaixada fez um trabalho de sensibilizar e informar aquelas empresas e mais outras interessadas no mercado guineense que atualmente a Guiné-Bissau é o país mais seguro na região da África Ocidental. Essas empresas estão agora a pensar visitar a Guiné e fazer a prospecção do mercado e saber em que áreas podem investir para além da comercialização da castanha e a criação de fábricas de transformação deste produto, energia entre outros. 

Outro fator que condiciona o investimento de empresários na Guiné é o ambiente jurídico, lamentado pelos empresários que querem investir nesta terra. O governo deve engajar-se em trabalhar na política que facilita o investimento estrangeiro e a criação de serviços sociais completos e capazes de atrair investimento estrangeiro. O terceiro fator são as condições das infraestruturas…

Sabemos com a alegria que daqui a dois ou três meses a Guiné-Bissau vai resolver o problema de abastecimento da eletricidade a nível nacional. Esta é uma boa notícia para os investidores chineses que se sentirão encorajados para investir pesado neste país e precipitarão os investimentos na construção de fábricas de transformação da castanha de cajú. Para além disso, vimos também o esforço do governo em melhorar as condições das estradas, portos e outras infraestruturas e acreditamos que isso será importante para atrair o investimento estrangeiro. 

De facto as condições da Guiné estão a melhorar e a situação económica também. Nós vamos comunicar todas essas informações aos investidores chineses. 

OD: Os guineenses continuam a aguardar com muita expectativa uma intervenção robusta da classe empresarial chinesa na campanha de cajú desde ano. Sr. Embaixador, é possível a participação do setor privado chinês na campanha da castanha de cajú este ano?  

GC: Cada vez que vou de férias a China, levo comigo a castanhas de cajú para a minha família e meus amigos como presente. Digo a minha família e aos meus amigos que a castanha de cajú da Guiné-Bissau é de melhor qualidade no mundo. De facto há muitas variedades da castanha de cajú provenientes de diferentes países no mercado chinês e acredito que até é a castanha da Guiné que vem do Vietnam. 

Segundo as estatísticas, em 2021, as importações de castanha de cajú da China foram aproximadamente 400 000 toneladas, com um valor total superior a 6,2 bilhões de dólares norte-americanos, e mantém-se a tendência de crescimento em 2022 e 2023. A Guiné-Bissau é um dos maiores produtores mundiais da castanha de cajú e a qualidade da castanha de cajú também fica entre as melhores, o que atende às necessidades do mercado chinês. Na verdade, estre as castanhas de cajú importadas pela China, é provável que seja o cajú da Guiné-Bissau que foi transformado pelo Vietnam e outros países. 

Estamos a trabalhar agora para limpar todos os obstáculos e permitir que as castanhas da Guiné-Bissau sejam vendidas na China sem passar por Vietnam. A China enviará para a Guiné uma missão de técnicos que virão para analisar localmente a castanha e o ambiente do negócio. Esperamos que nos meados dos meses de junho e julho possamos assinar o protocolo da exportação da castanha de cajú da Guiné-Bissau para a China. 

Até agora várias empresas chinesas demonstram interesse em comprar a castanha e algumas querem vir fazer investigações sobre a viabilidade de construir fábricas de transformações da castanha. O fator determinante para a assinatura do protocolo de acordo para a exportação da castanha de cajú para a China é a qualidade do cajú guineense e o ambiente de investimento que a Guiné-Bissau oferece. O que nós podemos fazer é trabalhar afincadamente para a assinatura do protocolo de acordo. 

OD: Perspetiva-se a assinatura do protocolo de acordo para a exportação da castanha de cajú entre os meses de junho e julho, mas na Guiné-Bissau, a campanha de comercialização da castanha decorre entre março, abril e maio e já no junho se começa a exportação. Isto quer dizer que pode-se contar com as empresas chinesas só no próximo ano?

GC: Tudo vai depender dos resultados da equipa técnica a ser enviada para a investigação no terreno e que chegará no mês de abril deste ano. Se estes técnicos derem um resultado favorável e se chegarmos ao consenso quanto à assinatura do acordo, acredito que será possível exportar a castanha de cajú da Guiné-Bissau para a China ainda este ano. 

OD: A imprensa guineense e particularmente (imprensa amigo da China) reconhece o apoio recebido da Embaixada, mas continua a sonhar com apoios financeiros da China para a execução dos seus projetos. Senhor, é possível contar com o apoio financeiro da Embaixada para a execução de projetos?

GC: Agradecemos o apoio que a media guineense dá à cooperação e relações amistosas entre a China e a Guiné-Bissau. Agradecemos ainda os apoios que a media dá aos assuntos como a um cinturão e uma rota, bem como na divulgação de informações verdadeiras e favoráveis à China sobre este assunto.

A parte chinesa está disposta a convidar cada vez mais jornalistas estrangeiros, incluindo guineenses, a visitar e fazer formação na China, fazendo-os conhecer uma China verdadeira e mais vivida. No ano passado, a China convidou vários jornalistas da Guiné-Bissau a visitar a China e recebemos respostas favoráveis. Este ano, a China vai continuar a convidar jornalistas da Guiné-Bissau para visitarem a China. 

A media guineense é sempre bom amigo da Embaixada da China, e tem mantido boas relações de cooperação conosco. Estamos dispostos a oferecer mais apoio para a imprensa guineense no futuro. 

Por: Assana Sambú/Filomeno Sambú                     

segunda-feira, 20 de março de 2017

Comercialização da castanha de Cajú: LEIS ADOTADAS PELO GOVERNO AGITAM INÍCIO DA CAMPANHA 2017

[REPORTAGEM] O período antes de arranque da campanha de comercialização e exportação da castanha de cajú 2017 está a ser marcado por ‘acordos e desacordos’ entre os vários intervenientes no setor de cajú, por causa das novas leis decretadas pelo governo com vista a regulamentar o setor.

O Conselho de Ministros da Guiné-Bissau aprovou, recentemente, quatro decretos-lei para o principal produto de exportação do país, com destaque para o decreto-lei sobre a regulamentação da profissão de intermediário, lei sobre a comercialização de cajú, lei sobre a comercialização interna da castanha de cajú e por último, a lei sobre a comercialização externa da castanha.

Das quatro leis ora anunciadas pelo governo, a que traz mais discordância é a lei de regulamentação da profissão de intermediário, cujo artigo 5 prevê que será atribuída a licença para o exercício da função de intermediário de posto ao cidadão guineense.

O artigo em causa provocou reações de alguns setores que alinharam com a decisão e outros que acusaram o governo de querer interditar os estrangeiros de comprarem a castanha junto dos agricultores, como tem sido tradição.

Para alguns, a decisão pode comprometer à campanha de comercialização de cajú, uma vez que os intermediários nacionais não possuem poder financeiro suficiente para comprar a castanha junto dos agricultores.

O executivo guineense sustentou a sua decisão com a necessidade de dar a oportunidade aos jovens e quadros nacionais para poderem empregar-se.

MINISTRO DO COMÉRCIO DIZ QUE A LEI NÃO DISCRIMINA ESTRANGEIROS

O Ministro do Comércio e Empreendedorismo, Victor Mandinga, esclareceu que a decisão ‘não visa atingir os estrangeiros que operam no setor’.

“A lei não veda os estrangeiros de fazerem a campanha. A única coisa que a lei diz é que um estrangeiro não pode ir ao terreno. Deve haver um acordo com um intermediário de posto, que segundo o documento é a única entidade que pode comprar a castanha ao camponês”, explica o ministro da tutela.

O governante acrescentou ainda que o operador estrangeiro tem que confiar nos intermediários nacionais, uma vez que, segundo ele ‘nem todos são malandros’.

“Anualmente as pessoas entram o país e fazem a campanha no terreno e levam, através das nossas fronteiras terrestres, mais de 50 milhões de dólares. Se tivesse ficado no país pelo menos metade do valor em causa, daria para resolver muitos problemas”, disse o governante.

O político e igualmente empresário do setor de cajú, convidou os jovens para dirigirem-se aos serviços competentes do seu ministério a fim de tirarem alvará de Intermediário de posto, documento que agora passa a custar 20 (vinte) mil francos CFA, contra os 70.000 francos (setenta mil) que se pagava.

O ministro disse por outro lado que a medida ajudará no controlo da entrada e circulação de valores financeiros.

“Durante a campanha circula dinheiro sujo. Com as novas regras, todos os estrangeiros que querem comprar cajú terão de canalizar todos os seus fundos para canais oficiais”, avançou.

O Democrata soube que o governo poderá trazer para o mercado nacional uma empresa vietnamita que poderá vir a comprar toda a produção nacional. A mesma empresa está a apoiar a instalação de um laboratório de certificação de produtos agrícolas, no Serviço de Proteção Vegetal.

Recentemente uma missão da referida empresa visitou o país e fez o levantamento das necessidades de todas as unidas de transformação da castanha de cajú, incluindo as que foram construídas pelo governo líbio, que desde a sua construção até aqui nunca funcionaram.

O Democrata apurou que a Firma vietnamita, cuja capacidade de processamento é estimada em 700.000 (setecentas mil) toneladas, poderá comprar não só a castanha bruta, mas também as que já foram transformadas.

INTERMEDIÁRIOS COM BOAS EXPETATIVAS PARA A PRESENTE CAMPANHA

A Associação dos Intermediários mostrou-se confiante de que a adoção da lei que regula a sua fileira possa facilitar os seus associados na obtenção de créditos por parte dos bancos.

Para o presidente da Associação Nacional dos Intermediários, Nelson Badinca, a medida tomada pelo governo visando estruturar a atividade profissional dos intermediários terá um impacto positivo na vida dos seus associados, acrescentando que a partir de agora podem conquistar a confiança dos bancos de Bissau.

“Os bancos faziam muitas exigências, sobretudo na formalização das empresas da área de intermediação. Tínhamos dificuldades em conseguir empréstimos. O único caminho para ter fundos era com os exportadores. Se não nos dessem dinheiro, não conseguiamos comprar a castanha no terreno”, recordou.

O responsável dos intermediários mostrou-se confiante que doravante terão dois caminhos para conseguir dinheiro: aos bancos ou aos exportadores.

O líder dos intermediários revelou que há pessoas que estão a desinformar junto dos comerciantes mauritanianos que se dedicam ao setor, de que a lei foi, precisamente, criada para lhes prejudicar.

“Havia uma desorganização do setor de intermediação e o país perdia valores financeiros consideráveis e isso justifica as reformas feitas. Agora cada um deve, independentemente de ser nacional ou estrangeiro, trabalhar de acordo com as regras estabelecidas”, explica Nelsom Badinca.

Na entrevista ao semanário ‘O Democrata’, o empresário lembrou que na sua associação, para além de nacionais, também estão inscritos comerciantes mauritânianos, senegaleses, nigerianos e de outras nacionalidades, por isso entende que não há razão para discriminar ninguém. Contudo admitiu a necessidade de organizar o setor tal como acontece noutros países produtores da castanha.

Badinca prometeu acionar um processo-crime contra qualquer cidadão nacional que queira pôr em causa o processo de reforma em curso no setor, com maior destaque para área de intermediação.

Este líder associativo considerou que cidadãos que não querem ver a castanha de cajú a ser comprada ao preço referenciado e anunciado pelo governo nesta linha é que estão a contrariar a reforma que está a ser feita pelo governo.

MAURITÂNIANOS DECECIONADOS COM AS LEIS DE CAJÚ DO PAÍS

O presidente da Associação da Comunidade Mauritâniana, Sidy El Mocthar, considerou de dececionante a medida do governo, mas prometeu respeitá-la.

De acordo com Sidy El Mocthar, os comerciantes do seu país têm um papel importante na campanha de comercialização de cajú, por isso disse estar esperançado que o governo venha a rever a sua decisão.

“O mundo rural sabe do papel relevante que os mauritanianos desempenham no desenvolvimento do ambiente de concorrência no campo e no combate à pobreza no meio rural”, apontou El Mocthar.

O representante dos mauritânianos no país deixou bem claro que os seus compatriotas têm a obrigação de acatar a decisão do Estado guineense.

Sidy El Mocthar lembrou que os comerciantes do seu país não vão apenas para as vilas no período da campanha, mas também vão as tabancas fora desse período, fazendo empréstimos em dinheiro e arroz, cujas dívidas são liquidadas só no período de cajú.

O líder associativo recusou avaliar se a campanha ficará prejudicada ou não com as reformas, contudo assinalou que seria desejável que fosse permitido a todos concorrer em pé de igualdade. Sidy El Mocthar apelou, entretanto, a uma relação sã entre os empresários nacionais e estrangeiros para o bem da sociedade guineense.

CÂMARA DO COMÉRCIO GUINEENSE DESCONFIA DAS LEIS DO EXECUTIVO

A Câmara do Comércio da Guiné-Bissau alertou que os intermediários e os exportadores nacionais não podem, sozinhos, assegurar a comercialização da castanha.

O vice-presidente da Câmara do Comércio da Guiné-Bissau, António Nunes, lançou um alerta e apontou uma forte possibilidade de a campanha de cajú 2017 poder não correr bem, visto os intermediários e os exportadores nacionais estarem descapitalizados.

“A campanha de comercialização de cajú gera, aproximadamente 150.000.000 (cento e cinquenta milhões) de dólares e acho que os intermediários nacionais poderão  não estar em condições de conseguir o referido fundo”, alerta Nunes.

O antigo líder da Associação Nacional dos Agricultores revelou que a sua organização não tinha recebido do governo, até a realização desta reportagem, os decretos-lei. Por isso, não podia posicionar-se, apesar de considerar que poderá haver consequências na campanha 2017, caso realmente venha a comprovar-se a exclusão de comerciantes estrangeiros.

“Os agricultores podem vir a reagir, se o preço anunciado não efetivar-se na prática”, alertou o empresário.

O líder histórico dos agricultores chamou a atenção que a produção nacional poderá vir a baixar porque os pomares já estão a envelhecer, para além das pragas que estão a atacar os cajueiros na zona norte e sul do país.

“O governo não deve apenas preocupar-se em fixar os preços e criar leis, mas também dar atenção à necessidade da criação de políticas e estratégias com vista a apoiar tecnicamente os agricultores”, realçou.

ANAG VÊ COM BONS OLHOS A REFORMA NO SETOR DE CAJÚ

A Associação Nacional dos Agricultores da Guiné-Bissau (ANAG) assegurou que as reformas no setor não afetará o preço básico estipulado pelo governo.

O representante dos camponeses da Guiné-Bissau, Jaime Boles Gomes, afiançou que a sua organização tem muita confiança no atual ministro do Comércio e Empreendedorismo, que na sua visão, sendo um conhecedor do setor, terá estratégias bem pensadas e montadas para que a castanha seja comprada a um preço não inferior ao fixado.

Jaime Boles, sem qualquer rodeio, disse que ANAG subscreve as leis anunciadas pelo governo com vista a regulamentar a comercialização de cajú.

“Nós não compreendemos algumas pessoas que estão a reagir contra as reformas e como sabem, os agricultores e a própria economia perdiam muito com a desorganização”, afirma Jaime Boles.

O presidente da ANAG descarta, entretanto, a possibilidade de a lei vir a prejudicar os comerciantes estrangeiros, contudo defende que as vantagens financeiras do cajú devem estar ao serviço do desenvolvimento do país e não como tem vindo a alimentar o progresso de outros estados.

Na entrevista ao jornal O Democrata, Boles anunciou que a ANAG perspetiva criar, ainda no decorrer da campanha 2017, uma cooperativa dos camponeses.

“Queremos que os agricultores deixem de vender a sua castanha de uma forma isolada. Para tal avançamos com esta iniciativa, que irá permitir que os camponeses de uma determinada área juntem a sua castanha e que a venda de uma assentada. Assim ganham mais dinheiro”, garante o número um dos camponeses.

O ativista camponês acrescentou, por outro lado, que a ANAG ambiciona, através de cooperativas vir, exportar a castanha para o mercado internacional.

“Com os nossos próprios recursos vamos trabalhar para que nós mesmos entremos também no processo de cajú”, contou o líder camponês.

O governo prevê exportar, segundo Agência Nacional de Cajú (ANCA-GB) durante a campanha de comercialização da castanha de cajú 2017, aproximadamente 200.000 (duzentas mil) toneladas contra 180.000 (cento e oitenta mil) toneladas de 2016. 

Por: Tiano Badjana
Foto: Marcelo Ncanha Na Ritche
Bissau, março de 2017
OdemocrataGB

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

EMPRESÁRIOS CRITICAM A UTILIZAÇÃO DE SETE BILIÕES DE FCFA DEPOSITADOS NA AGÊNCIA DO CAJÚ

 JORNAL ODEMOCRATA  05/10/2022  

O presidente da Associação Nacional dos Importadores e Exportadores da Guiné-Bissau (ANIE-GB), Mamadu Iero Jamanca, quer esclarecimentos sobre a aplicação de sete biliões de francos CFA depositados pelos empresários nacionais e estrangeiros na conta da Agência Nacional de Cajú (ANCA).

Segundo Mamadu Iero Jamanca, o valor em causa tinha sido mobilizado para melhorar a performance dos pomares de cajú, mas “os pomares estão a morrer por falta de cuidados técnicos, velhice e contaminação por pragas”.

O empresário fez essas revelações aos jornalistas esta quarta-feira, 5 de outubro, à margem de uma conferência de imprensa realizada pela confederação dos empresários em Bissau, afirmando que “os importadores e exportadores são os  únicos contribuintes diretos da taxa sobre valorização da castanha de cajú do país no valor de 5 francos CFA por quilograma”.

“Passado todo este tempo, percebemos que esse fundo não estava a ser investido devidamente, o objetivo para o qual foi criado pelos atores da fileira de cajú, por isso intentamos uma ação judicial contra Agência Nacional de Cajú (ANCA) junto do tribunal regional de Bissau para que esclarecesse os equívocos que poderiam ter existido quanto à utilização desse fundo”, notou.  

De acordo com o presidente ANIE-GB, o tribunal regional de Bissau decidiu na semana passada a interdição do pagamento da taxa sobre valorização de 5 franco CFA nas contas de ANCA e constituir a Associação Nacional dos Importadores e Exportadores da Guiné-Bissau como fiel depositário daquela taxa, aguardando o desenrolar do processo em curso no tribunal.

Jamanca assegurou que a Confederação Nacional dos Atores da Fileira de Cajú da Guiné-Bissau, que engloba todas as organizações que atuam nesse setor, estão determinados a defender os seus interesses e deixou um aviso que todos os fundos que o governo tinha alocado ao setor serão investigados e investidos para o bem-estar do cajú, das mulheres, dos homens e dos jovens que labutam diariamente nessa área.

“Estamos insatisfeitos com a forma como o dinheiro que nós pagamos está a ser gerido pela entidade gestora, razão pela qual decidimos recorrer ao tribunal, que nos deu razão e agora vamos avançar com uma previdência cautelar o quanto antes para definitivamente estancar a má gestão e o desvio de dinheiro que deveria ter sido canalizado para o caju”, enfatizou.

Chamamos a atenção à ANCA, à Administração dos Portos de Bissau, ao Conselho Nacional de Carregadores e outras entidades que todo o dinheiro que, por lei, foi direcionado para fim de melhoria da castanha de cajú, através da sua plantação, os operadores da fileira de cajú não vão cruzar os braços e lutarão até que seja usado para o fim a que se destina.

Mamadu Iero Jamanca disse estranhar que uma Agência de Cajú como ANCA, com a importância reguladora que tem, se tenha dado ao luxo de não prestar contas ao Conselho Geral daquela instituição.

“A Agência Nacional de Cajú da Guiné-Bissau não tem nenhum relatório financeiro fidedigno e confiável das suas atividades ao longo dos anos que tenha passado por uma auditoria de uma instituição financeira certificada para o efeito”, lamentou.

Por: Aguinaldo Ampa

sábado, 1 de abril de 2017

Guiné-Bissau: campanha de caju arranca na polémica

Teve hoje início, na Guiné-Bissau, a abertura oficial da comercialização da castanha de cajú, o principal produto de exportação do país.
Teve hoje início, na Guiné-Bissau, a abertura oficial da comercialização da castanha de cajú, o principal produto de exportação do país. A nova medida está a ser polémica já que exclui os operadores externos, proibidos agora de comprar directamente o cajú aos produtores.

A partir de hoje, cada quilograma da castanha de cajú, principal produto de exportação da Guiné-Bissau, irá ser comprada ao produtor por 500 Francos CFA (o equivalente, em euros, a 76 cêntimos). Além disso, por cada tonelada exportada, o Estado irá arrecadar uma taxa de 1150 dólares.

O ministro do Comércio e Promoção Empresarial, Vítor Mandinga, acredita que, só em taxas de exportação do cajú, o Governo irá arrecadar este ano cerca de 12 milhões de dólares. Como realçou o ministro, isto deve-se ao facto de a Guiné-Bissau ser actualmente o "quinto produtor mundial e o segundo produtor africano".

São assim boas perspectivas para uma campanha em que o governo conta vender a totalidade da castanha de cajú a ser produzido no país. Isto corresponde a cerca de 250 mil toneladas, daí o lema desta campanha ser "Tolerância zero à saída clandestina do cajú". Acredita-se que cerca de 50 mil toneladas do cajú guineense saem do país, através do contrabando, para países vizinhos.

No entanto, a campanha arranca no meio de uma grande polémica que se deve ao facto de o Governo querer proibir que os operadores económicos estrangeiros comprem directamente o cajú aos produtores. A partir de agora, os compradores terão que provar que são guineenses, através do Bilhete de Identidade (ou Cartão de Eleitor), mas também terão que possuir um armazém assim como o número de identificação fiscal. 

Esta medida é vista como protecionista pelos críticos do governo e de regulação do sector do cajú, conforme disse hoje o ministro do Comércio, Vítor Mandinga. 

O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou também que esta medida é "perigosa" e aconselhou Bissau a não a interinar. Isto deve-se nomeadamente ao facto que, limitando a concorrência na compra, os produtores podem sair prejudicados. 

No entanto, o presidente da Câmara do Comércio, Saliu Lamba, considera que, pelo contrário, esta medida tirará o país da "pobreza extrema". 

No último ano, a Guiné-Bissau exportou 200 mil toneladas de caju.

Por RFI

quinta-feira, 2 de março de 2017

Intermediários negam “proibição” de estrangeiros à compra no terreno

Bissau, 02. Mar. 17 (ANG) – A Associação Nacional dos Intermediários de Negócios reagiu quarta-feira contra as “informações” postas a circular e segundo as quais “nenhum estrangeiro pode fazer a compra de cajú, na qualidade de comerciante intermediário”.

A reacção foi tornada publica  depois das declarações do Chefe da Missão do Fundo Monetário Internacional, Felix Fisher, que aconselha as autoridades da Guiné-Bissau a evitarem de produzir leis que impeçam  estrangeiros de exercerem as funções de intermediação na campanha de comercialização de cajú do presente ano.

“Não existe nenhum artigo na legislação (…) que proíbe o estrangeiro de operar durante a campanha deste ano”, afirmou o Presidente da Associação Nacional dos Intermediários de Negócios (ANIN) para acrescentar que desafia a “quem quer que seja para exibir um documento que impede os mauritanianos ou indianos a comprarem o cajú”.

 “Simplesmente”, explica Nelson Badinca, está em curso, neste momento, a reforma com vista a reorganização da cadeia de caju, pois a Guiné-Bissau “não pode ter a melhor qualidade deste produto no mundo e ter o pior preço a nível mundial”.

Segundo este homem de negócios, a reforma em curso no sector de cajú visa permitir o país funcionar a exemplo dos países bem-sucedidos neste domínio, como a Costa do Marfim.

“Este ano, foi instituido que qualquer Intermediário de Escoamento, seja nacional ou estrangeiro, que formalize a sua empresa no país, por forma a permitir que o Estado tenha o controlo da situação e que se ponha termo aos negócios informais no sector”, disse.

Nelson Badinca afirmou que não se pode “retalhar ninguém, porque a ANIN conta com membros de nacionalidades senegaleses e mauritanianas”.

De acordo com o Decreto do Governo que regulamenta a profissão de Intermediário de Cajú, existe duas categorias, ou seja, “Intermediário de Posto”, quem compra a castanha de cajú directamente do produtor e o de “Escoamento”, pessoa singular ou colectiva que adquire o produto mediante um contrato com o “Intermediário de Posto”.

O Presidente da Agência Nacional de Cajú (ANCA), Henrique Mendes, em entrevista exclusiva a Agência de Notícias da Guiné (ANG), em Fevereiro preve, para este ano, a exporação de mais de 200 mil toneladas de cajú contra os 192 mil oneladas de  2016.

Segundo o Presidente da Agência Nacional de Cajú(ANCA-GB), a República da Guiné-Bissau é o quinto maior produtor de cajú no mundo, depois da Índia, Costa do Marfim, Vietname e Brasil e possui a melhor castanha e amêndoa.

ANG/QC/JAM/SG

domingo, 26 de março de 2023

Crise na exportação de cajú: GOVERNO COLOCA EM “QUARENTENA” MILHARES DE TONELADAS DE CASTANHA BLOQUEADAS NOS ARMAZÉNS

JORNAL ODEMOCRATA  26/03/2023  

O Diretor Geral do Comércio e Concorrência, Lassana Fati, disse que o executivo pretende colocar em quarentena mais de quarenta mil toneladas de castanha de cajú guardadas nos armazéns para depois procurar um comprador no exterior.

“O governo pretende colocar toda essa quantidade de castanha em quarentena, guardá-la nos armazéns e depois procurar um comprador no exterior. Outra possibilidade é encontrar uma fábrica de processamento da castanha no país que possa assumi-la. Essas opções estão todas em cima da mesa e a grande verdade é que nenhuma decisão foi tomada”, disse ementrevista telefonica ao Jornal O Democrata, para falar dos trabalhos que estão a ser feitos para a abertura da campanha e garantir que não hajam bloqueios da castanha no país. Uma eventualidade lamentada pelos empresários e que pode dificultar a próxima campanha de cajú, se não forem encontrados compradores das castanhas que ainda se encontram bloqueadas nos armazéns.

Mais de quarenta mil toneladas da castanha de cajú estão armazenadas em Bissau e nas regiões. Das 40 mil, segundo o levantamento feito pelo ministério do Comércio, mais de trinta mil estão em Bissau e dez mil nas regiões.  

DG COMÉRCIO: “GOVERNO SEGUE CAMPANHAS NOS PAÍSES VIZINHOS PARA DEFINIR O PREÇO DE REFERÊNCIA DA CASTANHA”

O Democrata soube que até o fecho desta edição, a Guiné-Bissau conseguiu exportar 198 mil toneladas da castanha de cajú a partir dos portos de Bissau, segundo os dados disponíveis do ministério do Comércio.

Fati explicou que, no levantamento nacional feito pela equipa do ministério do Comércio, registou-se um total de mais de 30 mil toneladas de castanha nos armazéns em Bissau e mais de dez mil nas regiões, acrescentando que, de acordo com as diligências feitas, das mais de 30 mil toneladas registadas em Bissau, 15 mil devem ser exportadas em breve, através de um barco que, segundo a sua explanação, está a caminho de Bissau.

“Se conseguirmos exportar mais 15 mil toneladas armazenadas em Bissau, ficarão cerca de 15 mil toneladas. As castanhas que se encontram armazenadas nas regiões devem ser escoadas  para a capital e nós vamos trabalhar para conseguir um comprador “, assegurou, esclarecendo que uma das razões da retenção dessa grande quantidade de castanha no país se deve primeiramente à queda do preço da castanha no mercado internacional, o que obrigou os comerciantes a recusar vender as suas castanhas para não perderem as suas margens de lucros, mas também a produção de outros países como a Tanzânia e Moçambique, acabaram por atrair os compradores.

“O terceiro fator tem a ver com os primeiros contratos assinados entre os nossos empresários e os indianos que até ao momento não conseguiram pagar as castanhas já exportadas. A castanha já foi levada, mas os empresários não receberam o dinheiro”, contou.   

Relativamente à campanha de cajú de 2023, cujo lançamentose pretende fazer lá para o final do mês em curso, disse que o governo espera que haja muita concorrência este ano na campanha com a entrada de um grupo de empresários chineses e de outros países interessados na castanha da Guiné-Bissau. Acrescentou que o grupo de empresários chineses esteve duas vezes no país e manifestou o interesse em comprar a castanha nacional, como também os empresários de outros países manifestaram o mesmo interesse, razão pela qual espera muita concorrência este ano e que o país venda muita quantidade da sua castanha. 

“O mercado chinês até ao momento não era aberto à castanha da Guiné-Bissau, mas se for aberto conforme o interesse que nos mostraram, penso que 2023 vai ser muito concorrido em termos de procura da castanha de cajú da Guiné-Bissau”, afirmou.

Questionado se o ministério do Comércio já tem um preço de base que pretenda apresentar ao Conselho de Ministros, respondeu que já há uma indicação do preço de referência dos países vizinhos que já iniciaram a campanha de cajú, por exemplo, “a Costa de Marfim começou a campanha de caju com o preço base de 315 francos cfa e o Burkina Faso com 300 francos cfa”.

“Esses são indicadores que nos permitem trabalhar na fixação do preço de referência da nossa castanha. Mas é bom dizer que há um trabalho que o comércio está a fazer, aliás, como se sabe existe uma comissão que envolve técnicos de outras instituições que estão a trabalhar na fixação do preço de referência da castanha nacional”, frisou, aproveitando a ocasião para aconselhar os produtores e os guineenses em geral que é preciso envidar  esforços para trabalhar a qualidade da castanha de cajú guineense, porque nos últimos tempos tem havido queixas dos compradores sobre a perda da qualidade da castanha, bem como constatam pedras nos sacos de castanha o que, na sua observação,  mancha a imagem do país e a sua produção.

INTERMEDIÁRIOS: “CASTANHAS NOS ARMAZÉNS JÁ ESTÃO A GERMINAR. A CONDIÇÃO PARA SUA EXPORTAÇÃO É BAIXA”

O presidente da Associação Nacional dos Intermediários de Negócios da Guiné-Bissau, Lassana Sambú, admitiu que há pouca possibilidade de a castanha de cajú que ainda se encontra nos armazéns ser exportada, porque “apresenta pouca qualidade, está a germinar e a condição para a sua exportação é baixa”.

Explicou que essa baixa qualidade se deve às más condições de armazenamento do produto, alertando que há grandes riscos de o novo ano agrícola ser comprometido porque não há nenhuma garantia de que as castanhas em condições péssimas ou em processo de germinação devido à humidade estejam a ser separadas das que têm condições para serem comercializadas.

“A qualidade da castanha corre o risco de baixar para menos,até de 48 por cento. Se acontecer, cairá o preço e baixará a economia nacional, porque é o produto que suporta, em parte,  a nossa economia”, enfatizou.

“Mais de 8 mil toneladas de castanha continuam com os produtores. Se adicionarmos essa quantidade à que está  estocada em Bissau, estaremos  a falar de quase  30 mil toneladas”, afirmou, para de seguida indicar que   tudo isso coloca a campanha de 2023 numa situação muito complicada. 

“Tínhamos alertado o governo que diligenciasse para viabilizar a próxima campanha, porque o seu sucesso dependeria do ano agrícola anterior. Era preciso que fosse escoada toda a castanha para Bissau para evitar a perda de qualidade e, consequentemente, a baixa do preço”, assinalou.

Apesar desses indicadores, Lassana Sambú disse esperar que a campanha de 2023 seja diferente da do ano passado, porque na abertura da campanha do ano passado foram introduzidos alguns impostos, principalmente o de Contribuição Predial Rústica  de produtor, mas essas taxas nunca reverteram em benefício dos produtores, dos operadores económicos nem na melhoria da produção, apenas o governo tem beneficiado desses impostos.

“Para onde foi canalizado o dinheiro desses impostos”, questionou, lembrando que na Contribuição Predial Rústica de exportação, 22 por cento reverteria para fundo de promoção para uma conta consignada, mas até ao momento não se sabe onde foi parar esse dinheiro. O governo tinha outra forma de alargar a sua base tributária para ganhar dinheiro, não superlotar o que já estava superlotado”, disse.

Sambú criticou a forma como o governo faz a sua previsão de receitas para o ano económico, acrescentando que as previsões de receitas a atingir deveriam basear-se no relatório do ano transato.

“Ainda não se conseguiu exportar toda a castanha e o governo nem sequer tem solução para tal e já fez a sua previsão adicional de receitas. Vamos ter problemas,  caso não sejam ultrapassados os problemas que estão a ser levantados”, alertou.

O intermediário espera que a estrutura do custo para a próxima campanha, 2023, seja muito clara, sem prejuízos nem penalizados.

Lassana frisou que, apesar do processo de conversações com o governo para solucionar o problema da castanha que ainda se encontra nos armazéns e a intenção de o governo em comprá-la, ainda há riscos de o preço baixar no mercado internacional.

“Vamos analisar a estrutura do custo, se vai ou não viabilizar a campanha de 2023, porque o governo precisa assumir a sua responsabilidade e concentrar toda a castanha em Bissau. Os compradores conhecem a nossa capacidade produtiva e o tempo em que a nossa castanha perde qualidade. Se a castanha começar a germinar nos armazéns, vai levantar muitas suspeitas sobre a qualidade do produto na próxima campanha e o seu preço no mercado internacional poderá cair”, referiu.  

EXPORTADORES: “GOVERNO NÃO DEVE ABRIR ACAMPANHA DE 2023 COM CASTANHAS AINDA BLOQUEADAS NOS ARMAZÉNS”

O presidente da Associação dos exportadores e importadores, Mamadu Iero Jamanca, alertou, que não é aconselhável abrir uma nova campanha com um  número significativo de castanhas do ano passado nos armazéns, principalmente quando não são criados sistemas de controlo para evitar riscos comerciais.

Interpelado pelos jornalistas à saída do encontro entre os intervenientes do setor privado e a delegação ministerial do Comércio da Gâmbia, disse que a campanha de cajú do anopassado ainda não fechou e nos armazéns continua uma quantidade estimada em 45 mil toneladas de castanha de cajú por exportar.

Jamanca garantiu que estão a ser tomadas medidas para solucionar o atraso na exportação da castanha de 2022 e abrir a nova, mas frisou que a não exportação da castanha poderá ser má para a economia guineense, poderá estar a favorecer riscos  e provocar  perdas económicas para o país e para os operadores económicos.

Apontou como uma das soluções, ter armazéns em condições que vão permitir a conservação adequada da castanha e garantir que não perca a qualidade.

“Parte das cerca de 45 toneladas pode ser dividida para a produção de viveiros novos em colaboração com o Instituto Nacional de Pesquisa Agrária, INPA, permitindo a reestruturação de pomares”, esclareceu.

Relativamente ao encontro com as autoridades gambianas, Jamanca disse que sua organização está empenhada em explorar a parceria com a Gâmbia que tenciona explorar a castanha cajú guineense, devido à sua potencialidade e qualidade.

“Esta prospecção do governo Gambiano ao mercado guineense, particularmente no setor de cajú, vem sequência das orientações que os dois governantes receberam dos respetivos presidentes, sobretudo a sua transformação local. E nós, enquanto entidade que zela pelo setor, vamos explorar esta parceria, porque é possível ser processada e transformada a nossa castanha, mesmo que seja em pequena quantidade”, referiu.

Por: Assana Sambú/Epifânia Mendonça