1. EnquadramentoDesde o Congresso de Cacheu, o PAIGC entrou num ciclo de contradições internas e de perda progressiva da sua identidade política. Em vez de promover a reconciliação e o reencontro entre os seus militantes e simpatizantes, o novo líder optou por uma estratégia de hostilização sistemática contra todos os que ousaram divergir da sua linha pessoal de comando. Essa opção resultou na desagregação do partido e na erosão do seu prestígio histórico.
Nas primeiras eleições sob a sua liderança, o PAIGC perdeu dez mandatos parlamentares. A reação a essa derrota não foi uma autocrítica nem uma reestruturação interna, mas sim a criação da coligação “PAI TERRA-RANKA”, integrando formações sem expressão eleitoral significativa — como a União para a Mudança (UM), com 1 deputado, e o PCD, também com 1 deputado, além do MDG/PSD e outros grupos sem representação efetiva.
A grande interrogação que se impõe é simples: o que ganha o PAIGC com esta coligação?
Além de ter perdido representação parlamentar, o partido renunciou à chefia do Governo, preferindo um chamado “governo de inclusão”, e refugiou-se num discurso de vitimização permanente. O líder em questão, que já foi aliado de quase todas as forças políticas do país, acusa todos de falta de lealdade e de seriedade — esquecendo-se de que foi a sua conduta que abriu as portas à fragmentação do partido.
2. Uma trajetória de divisão e decadência
Foi sob esta liderança que nasceu o MADEM-G15, formado por dissidentes do PAIGC fartos da perseguição interna e da ausência de diálogo. Mais recentemente, surgiu também o PTG, composto por novos descontentes.
A pergunta impõe-se: que vitórias políticas ou institucionais obteve o PAIGC sob esta liderança? Nenhuma. Pelo contrário, o partido perdeu identidade, aliados, representação e credibilidade.
A coligação “PAI TERRA-RANKA” é, na verdade, um projeto político bem disfarçado de dissolução do PAIGC. Basta observar a atual composição do seu “Presidium”, onde figuram elementos estranhos ao partido, incluindo um vice-presidente que, em 1994, enquanto porta-voz do PCD, atacou duramente o PAIGC. A direção da comunicação está nas mãos de um ex-militante da UM. Como pode o partido que libertou a Nação entregar os seus destinos a quem sempre o combateu?
Tudo indica que “PAI TERRA-RANKA” é um mecanismo de morte lenta do PAIGC.
3. Gestão ruinosa e manipulação financeira
Em 2014, o PAIGC regressou ao poder com menos dez mandatos do que no ciclo anterior. Ainda assim, o governo decidiu, contra as recomendações do FMI, proceder à chamada “operação de resgate” dos devedores do BAO e do BDU, num montante de 34 mil milhões de francos CFA, sob o pretexto de “redinamizar o empresariado nacional”.
Na prática, tratou-se de uma manobra para satisfazer o apetite de empresários ligados ao crédito malparado, muitos deles próximos da elite partidária.
Em 2019, o governo de Aristides Gomes, sob o patrocínio político de DSP, contraiu novas dívidas junto de colaboradores dos setores sociais, incluindo a Educação, em plena campanha eleitoral — num claro desvio de finalidade, que terminou na derrota do próprio DSP nas presidenciais que o opunham a Umaro Sissoco Embaló.
Mais recentemente, em 2023, em apenas três meses de governação, sob a orientação direta do mesmo líder, realizou-se um segundo resgate no valor de 6 mil milhões de francos CFA, sem auditoria nem transparência, como confirmou o próprio ministro das Finanças, Suleimane Seide.
O episódio evidenciou uma aliança entre interesses financeiros obscuros e o chefe partidário, que se comportou mais como advogado dos beneficiários do “Resgate II” do que como Presidente da Assembleia Nacional Popular. O resultado foi devastador: mais um escândalo económico-financeiro e a queda do Governo.
4. A coligação como instrumento de destruição
Perante esta sucessão de fracassos e erros estratégicos, impõe-se uma reflexão profunda: por que razão insiste o DSP na manutenção da coligação PAI TERRA-RANKA?
Tudo leva a crer que o verdadeiro objetivo dessa estrutura não é fortalecer o PAIGC, mas neutralizá-lo, diluindo a sua identidade numa plataforma artificial e sem alma.
As suas estratégias têm-se revelado desastrosas — derrotas eleitorais sucessivas, divisões internas irreparáveis, perda de confiança entre militantes e aliados. O PAIGC, sob esta direção, perdeu a capacidade de liderar o país e de dialogar com as instituições da República.
Chega, portanto, o momento de perguntar:
> “Para que serve uma liderança que não consegue conservar o poder, unir os seus militantes nem assegurar o prestígio do partido fundado por Amílcar Cabral?”
A história julgará severamente quem, por ambição pessoal e egocentrismo político, transformou o símbolo da libertação nacional num instrumento de declínio e desagregação.
Alamuta Djata
Susana 16 de outubro de 2025