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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

"Estamos a morrer de doenças que se relacionam com a alimentação"

Detentor daquilo a que a ciência chama de alimentação de excelência, Portugal parece estar de costas voltadas para a dieta mediterrânica. Qual o impacto disso? Mais peso e menos saúde. Falamos com Alexandra Bento, Bastonária da Ordem dos Nutricionistas, sobre o verdadeiro impacto da alimentação na saúde.


Jovens com peso a mais, idosos com nutrientes a menos. Portugal assume-se como um país bipolar a nível nutricional e não faltam culpados para isso.

Da falta de formação, à má informação, passando pela escassez de acesso até ao comodismo a uma cultura sedentária que se alastra de dia para dia, são muitos os fatores que interferem com a saúde dos portugueses. E em todos eles há um denominador comum: a alimentação.

Em conversa com o Notícias ao Minuto, Alexandra Bento, Bastonária da Ordem dos Nutricionistas, não hesita na hora de dizer que "nunca se comeu tão mal como se come hoje" e que a prova é bem mais dramática do que podemos pensar: "Estamos a morrer de doenças que se relacionam com a alimentação".

O problema não é de agora, destaca, e por isso mesmo diz que o imposto sobre o açúcar "veio tarde, porque o excesso de peso e a obesidade não é um assunto de ontem e já há algumas décadas que nós sabemos que temos este problema". Quanto a taxar o sal, o outro inimigo da saúde, "se me pergunta se eu implementaria, não teria dúvidas em dizer que sim, porque somos um país que come o dobro do sal que tem de comer", frisa.

Para a porta-voz dos nutricionistas portugueses, está mais do que na hora de olhar para alimentação com outros olhos, dando-lhe a devida importância para a saúde.

⇓ Assim como a saúde tem de estar em todas as políticas, a alimentação, que mais impacto tem na saúde, também tem de estar em todas as políticas

Somos um país com uma dieta alimentar bastante cobiçada, não só pelo sabor, mas também pelos benefícios que traz para a saúde, mas mesmo assim estamos entre os mais obesos. O que pode estar a correr mal?

Temos um passado de uma dieta alimentar que é considerada muito saudável, como sabemos. A dieta mediterrânica está mais do que estudada, em termos de evidências científicas dos benefícios para a saúde, agora, a questão é se as pessoas comem dessa forma. E essa forma simples de comer tem por base os produtos de origem vegetal, ou seja, os hortícolas, as frutas, os cereais e bem sabemos que, nos dias de hoje, acontece muito um consumo excessivo de outros alimentos que não têm uma boa relação com a saúde, sobrecarregados de açúcar, sobrecarregados de gordura e também com imenso sal.

Ora, desta forma, só podemos vir a ter peso a mais, doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão arterial... e é disso que estamos a morrer atualmente. Podemos dizer que estamos a morrer de doenças que se relacionam com a alimentação porque nos afastamos cada vez mais daquilo que é um padrão alimentar saudável.

Por que razão estão os portugueses a abandonar a dieta mediterrânica?

Por motivos vários, não consigo encontrar um só. Mas acaba por ser o envolvimento nesta sociedade global, a que cada vez mais nos aculturamos. Vivemos de uma forma apressada e não pensamos naquilo que devia ser a organização do nosso dia alimentar.

A questão é que nunca tanto se soube da relação entre a alimentação e a saúde e nunca as pessoas tiveram tantos conhecimentos em termos de alimentação e em termos de nutrição, conhecimentos que, no fundo, são mais teóricos, porque na prática nunca se comeu tão mal como se come hoje. O que é preciso é que todos nós tenhamos consciência disto e todos nós façamos um esforço para alterar o paradigma.

⇓ É preciso que haja uma festa alimentar, mas festa alimentar não é sinónimo de exagero

Sim, até porque há cadeias de fast-food que vendem hambúrgueres a um euro, o que faz com que seja quase impossível resistir...

As questões são mesmo essas e por isso é que é necessário um envolvimento individual. Eu própria tenho de saber como me alimentar e ter literacia suficiente, mas também tenho de ter vontade de organizar a minha vida alimentar, porque de nada me vale eu saber o que é que me faz bem e o que é que me faz mal se não o ponho em prática. E no fim disto tudo é também preciso haver a lógica do prazer, porque comer bem e saudável também quer dizer comer com prazer. O comer saudável é comer de uma forma equilibrada, é comer com prazer, que me saiba imensamente bem, comer com companhia, que pode ser dos familiares ou dos amigos, é preciso que haja uma festa alimentar, mas festa alimentar não é sinónimo de exagero.

E a nível geral, o que é preciso fazer?

Além desta necessidade individual, é preciso que haja também uma vontade coletiva e essa vontade coletiva inicia-se pelo Governo, mas depois inicia-se também por todas as partes que devem estar envolvidas, desde a indústria alimentar, que tem de providenciar produtos mais saudáveis. Atualmente fala-se disto, mas há 10 anos, ou 15 ou 20 anos, a indústria alimentar visava o lucro sem pensar na saúde do consumidor, hoje em dia sabe que obviamente tem de visar o lucro, mas pensando na saúde do consumidor. A restauração a mesma coisa.

Há uns anos era impensável pensarmos que local de trabalho tinha de ter a obrigação de pensar na saúde dos seus trabalhadores e a saúde dos seus trabalhadores também passa pela alimentação. Quando um local de trabalho tem um refeitório em que a oferta alimentar não é saudável, então não se está a cumprir com aquilo que devem ser a normas de viver em sociedade.

E por aí adiante, as escolas, as próprias cidades, que têm de estar organizadas em termos de saúde. Já pensou que as cidades já estão na era - e convém que seja para sempre - da mobilidade, da deslocação dentro da cidade por transportes sem motor, o andar a pé, andar de bicicleta, e que isto tem de ser pensado no desenho da cidade. Quanto às questões ambientais, não há cidade alguma que pense 'bem, eu não tenho nada a ver com as questões ambientais, não quero saber da recolha do lixo, das zonas urbanizadas'... isto é impensável.

Portanto, os municípios reclamam, só que há uma ou outra dimensão para a cidade, que é o comer saudável e com tradição cultural e devo-lhe dizer, já que estamos em período eleitoral para as autárquicas, que é importante que os autarcas pensem nisso. Cidades como Nova Iorque e Londres têm sido das que mais pensam na responsabilidade da autarquia ou município para a saúde alimentar da sua população e são os próprios habitantes que reclamam que o programa eleitoral tenha medidas promotoras de saúde através da alimentação.

A cidade pode fazer imensas coisas em termos da oferta da alimentação saudável, desde o local em que devem estar os supermercados, desde os locais que podem ou não podem vender à volta das escolas, desde oferta alimentar para quem é mais carenciado com vales para a aquisição de alimentos saudáveis, desde a carta dos restaurantes, que deve cumprir o requisito da tradição local mas com a tónica da saúde e a tónica da saúde é tão simples como a medição do sal.

⇓ Os nossos idosos carregam um rosário de doenças crónicas o que torna muitas vezes difícil que tenham acesso, e aqui a palavra é mesmo acesso, a uma alimentação equilibrada

O recente estudo do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável 2017 diz que 15% dos idosos estão em risco de desnutrição. Porque é que temos uma balança tão discrepante, com peso a mais de um lado e peso a menos do outro?

Existe, sim, uma discrepância e é preocupante, porque nós sabemos que muitos dos nossos idosos ou têm problemas económicos, ou têm problemas de isolamento ou têm problemas de saúde que torna mais difícil o controlo do seu estado nutricional. Os nossos idosos carregam um rosário de doenças crónicas, pois têm a diabetes, doenças cardiovasculares, problemas osteoarticulares, problemas de dentição e tudo isto torna muitas vezes difícil que tenham acesso, e aqui a palavra é mesmo acesso, a uma alimentação equilibrada. Esse acesso depende disto tudo, acesso económico, acesso a uma literacia suficiente para saber como hei-de organizar o meu dia alimentar, acesso físico aos alimentos. É

Muitos dos nossos idosos, e isto é particularmente relevante, estão institucionalizados e esta desnutrição é mais acentuada quando eles estão institucionalizados, ou seja, quando estão em lares ou em centros de dia, o que nos permite pensar: Então se eles estão numa instituição que tem a obrigatoriedade de lhe providenciar tudo aquilo que necessitam, porque é que os idosos institucionalizados têm um estado nutricional pior? Pode ser por duas dimensões, uma porque os idosos institucionalizados estão em pior estado de saúde e, segundo, porque estas instituições não têm a capacidade de lidar com as questões nutricionais de idosos. E esta segunda digo-lhe claramente que é verdadeira.

E essa segunda deve-se a quê? Falta de informação, falta de formação?

Deve-se a falta de formação e formação e desde logo por não terem os quadros técnicos adequados. Não vejo uma instituição destas sem ter o auxílio de um nutricionista, mas digo-lhe que estas instituições não ficam muito satisfeitas se falarmos nesta questão e digo-lhe porque sei do que estou a falar. Imaginam que ter um nutricionista numa instituição particular de solidariedade cas e as questsocial - a maior parte dos lares que temos no nosso país - é um custo e não será um custo, será uma poupança, porque o nutricionista saberá com correção acautelar todas as questões alimentares e ao fazê-lo também saberá fazer uma boa gestão económica daquilo que é o providenciar a alimentação aos idosos.

Julgo que está para breve uma resolução da Assembleia da República neste sentido, pelo menos há vontade. A Ordem dos Nutricionistas tem vindo a dar dimensão a esta questão, porque os dados estão aí e não se podem esconder. Há, de facto, estudos que nos demonstram que os idosos gozam de mau estado nutricional e se eles têm mau estado nutricional, muito mais quando estão institucionalizados, então é preciso trabalhar estas questões.

Há pouco falava da literacia para conseguirmos organizar a vida alimentar. Onde podemos encontrar esse conhecimento?

A escola é a chave, o que não quer dizer que outros locais não devam ser trabalhados. Mas o passado já nos demonstrou essa questão com a educação ambiental, em que, de facto, foram as crianças que levaram o conhecimento e as questões de alerta ambientais para os seus pais e avós. É uma maneira mais eficiente de trabalharmos o nosso presente e futuro, mas, claro está, a nossa literacia não é só termos mais conhecimento. A literacia alimentar é trabalharmos o nosso conhecimento, mas também as nossas atitudes e comportamentos, porque se vou só imprimir o aumento de conhecimento, posso ter uma população que sabe imenso mas que nada faz. Tenho também de trabalhar as questões motivacionais.

E no caso dos jovens, porque é que os nossos miúdos são dos mais obesos da Europa?

Porque estas questões não foram convenientemente trabalhadas no passado e continuam a ser trabalhadas de uma forma incipiente no presente. É preciso imprimir mais vontade e mais força para trabalhar estas questões, porque a situação é urgente. Repare, a obesidade é uma doença crónica que ainda por cima não é uma doença só por si isolada, é um risco para outras doenças que são pesadíssimas em termos económicos, sociais e pessoais.

O aumento da prevalência da diabetes no nosso país deve-se, em muito, ao aumento do peso da nossa população. Isto quase parece um dominó, em que a primeira peça cai e arrasta a outras todas. Portanto, há que trabalhar o determinante de saúde que mexe com isto tudo, que é a alimentação. Se há que trabalhar, há que em todas as políticas trabalhar de uma forma forte a alimentação. Assim como a saúde tem de estar em todas as políticas, a alimentação, que mais impacto tem na saúde, também tem de estar em todas as políticas, mas não pode ser só o Ministério da Saúde a tratar as questões da alimentação, por isso é que esta estratégia inter-ministerial pela alimentação saudável tem tanta importância. É o mesmo que o nosso Governo dizer que a questão alimentar não pode ficar só na alçada do Governo, tem de estar também na alçada dos outros parceiros que se relacionam, como a indústria alimentar e da restauração. Mas mesmo dentro do Governo, têm outros ministérios de estar envolvidos, e pensamos logo no Ministério da Educação, da Agricultura, mas também no da Solidariedade Social e porque não no da Economia?

⇓ Não quer dizer que os bolos não têm lugar na nossa vida, claro que têm, assim como rissol, o bolinho de bacalhau, só não pode ser diário

Em que medida a falta de consciência sobre o impacto da comida na saúde interfere com estas taxas elevadas de obesidade e excesso de peso em Portugal?

Há aqui uma questão importante que é: as escolhas saudáveis deverão ser mais fáceis. E atrás do fácil tem de estar tudo, tem de estar mais disponível, não pode ser mais caro, tem de ser mais saboroso... pelo menos estes três vetores são muito importantes.

Trocando isto por miúdos seria assim: paro a meio da manhã, vou a um café fazer a merenda e o que é que eu tenho de oferta alimentar que me salte aos olhos? Bolos, rissóis, croquetes, refrigerantes, vá lá que até vou tendo uma meia-de-leite. 

A questão do ser fácil tem de estar à cabeça, tenho de entrar num sítio e a montra ser muito apelativa para estas coisas mais saudáveis e saborosas. Aqui é evidente que estes espaços têm de perceber esta dimensão e quando me dizem 'temos de providenciar prazer e ter lucro', mas nada contra, é óbvio, trata-se de um negócio, é evidente que tem de ter lucro, que tem de proporcionar prazer à pessoa e rapidez, mas isto não é antagónico, não é antagónico eu chegar a um café e pedir um iogurte com fruta, tem de passar a ser uma coisa simples.

Tem de haver um esforço coletivo, mas isso não quer dizer que os bolos não têm lugar na nossa vida, claro que têm, assim como rissol, o bolinho de bacalhau, só não pode ser diário, porque estão carregados ou de gordura e sal ou de açúcar e isso não é saúde.

E por falar em açúcar, o imposto veio tarde?

Posso dizer que veio tarde porque o excesso de peso e a obesidade não é um assunto de ontem e já há algumas décadas que nós sabemos que temos este problema. Na década de 70, alguns pensadores da área da saúde alertavam para estas situações e lembro aqui o falecido Emílio Peres e o Gonçalves Ferreira, que falavam nestas questões e adivinhavam as primeiras estratégias. Este Programa Nacional de Promoção para a Alimentação Saudável tem coisas idênticas e similares àquelas que estiveram a ser pensadas na década de 70, é interessantíssimo ler os documentos dessa altura e pensar 'como é que é possível não se ter dado seguimento a estas coisas?'.

Poderíamos ter prevenido muita coisa...

Não tenha dúvidas. Aliás, a Ordem dos Nutricionistas tem vindo a reclamar junto do Governo e da Assembleia da República a criação de um conselho nacional na área da alimentação e da nutrição. Aqui há uns dias saiu uma resolução da Assembleia da República em que os senhores deputados recomendam isso mesmo ao Governo, que queriam um tal conselho nacional, mas este conselho já existiu na década de 80. Portanto, quando a Ordem dos Nutricionistas reclamava junto do Governo que é necessário que haja um organismo que, de uma forma forte e transversal coordene tudo o que são diretrizes de alimentação e nutrição e faça a respetiva vigilância do estado de saúde através da alimentação, não foi uma ideia milagrosa que teve, porque isto já existiu, porém foi descontinuado.

Em abono da verdade, este Governo tem querido fazer. Temos, felizmente, um Secretário de Estado da Saúde, o professor Fernando Araújo, que é muito conhecedor e muito sensível para esta causa, porque ele sabe que, se nada fizermos, o Serviço Nacional de Saúde vai ser incomportável no futuro. Mas é preciso fazer mais, muito mais.

E aproveito para dizer que é com muito descontentamento que eu vejo uma promessa do Ministério da Saúde para abrir 55 vagas para nutricionistas nos cuidados de saúde primários, nos centros de saúde, e que ainda só está em promessa. Puxo a brasa à minha sardinha porque me interessa que os nutricionistas trabalhem nos locais para os quais foram formados, mas puxo a brasa à minha sardinha coletiva, porque ter nutricionistas nos centros de saúde é importantíssimo para o estado de saúde da população.

⇓ Somos um país que come o dobro do sal que tem de comer

Além deste imposto centrado no açúcar, um imposto para o sal ou para os alimentos processados não poderia fazer falta?

É uma medida que tem de ser equacionada, mas se tem de ser implementada já é outra questão. Se me pergunta se eu implementaria, eu não teria dúvidas em dizer que sim, e não tenho dúvidas nenhumas de dizer que sim porque somos um país que come o dobro do sal que tem de comer. 

A tese de doutoramento de uma colega, a Carla Gonçalves, foi precisamente sobre o sal e consumo de sal em adolescentes portugueses e culminou na produção de um equipamento doseador rápido de sal. É fantástico. Temos possibilidade de ser o primeiro país do mundo a produzir um aparelho simples que mede a quantidade de sal e que indica quais os alimentos que mais contribuem para o consumo de sal. Por exemplo, os enchidos têm muito sal, mas será que importa taxá-los? Porque é um produto local, que é consumido mais esporadicamente.

Ou seja, sim, é importante equacionar esta medida, acho que é importante levá-la a efeito, mas acho que para desenhar uma medida destas é preciso um trabalho intenso para ser uma boa medida, senão é uma medida económica e não uma medida de saúde. E não é isso que se pretende. 

POR DANIELA COSTA TEIXEIRA
Notícias ao Minuto

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

FERTILIDADE: Fazer este tipo de dieta pode ajudar a resolver problemas de fertilidade

© Shutterstock

Notícias ao Minuto  09/01/23 

Investigadores, na Austrália, dizem ainda que a dieta pode aumentar o sucesso das tecnologias de reprodução assistida e a qualidade do esperma.

De acordo com um novo estudo, realizado na Austrália, fazer uma dieta mediterrânica pode melhorar a fertilidade, assim como o sucesso das tecnologias de reprodução assistida e a qualidade do esperma.

Citando o estudo, publicado na revista científica Nutrients, o jornal DailyMail explica que este tipo de alimentação pode melhorar a fertilidade ao reduzir a inflamação. 

Para fazer esta investigação, os cientistas fizeram uma revisão de diferentes estudos, onde se analisou a forma como a alimentação afeta a fertilidade. 

Evangeline Mantzioris, investigadora e autora da revisão, explica que estudos anteriores já tinham demonstrado que a inflamação pode afetar a qualidade do esperma, os ciclos menstruais e a implantação.

Com a análise foi possível encontrar provas "consistentes de que, ao aderir a uma dieta anti-inflamatória - que inclui muitas gorduras polinsaturadas ou saudáveis, flavonoides (encontrados em vegetais de folhas verdes) e uma quantidade limitada de carne vermelha e processada" - se consegue melhorar a fertilidade, acrescenta. 

A dieta mediterrânica é um exemplo disto já que inclui grãos integrais, azeite, frutas, vegetais, legumes, frutos secos, ervas aromáticas e especiarias.

Simon Alesi, outro investigador, afirma que estas conclusões são muito positivas e podem ajudar, no futuro, a criar estratégias mais simples e económicas de melhorar a fertilidade. 


sábado, 4 de maio de 2024

Este tipo de alimentação ajuda a controlar a diabetes tipo 2

© Shutterstock
Notícias ao Minuto  04/05/24

A Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal apresenta o projeto 'Comer Melhor, Viver Melhor' no Parlamento Europeu.

Uma alimentação que privilegie um maior consumo de produtos vegetais, quando planeada equilibradamente, pode contribuir para melhorar os resultados em saúde nas pessoas com diabetes tipo 2. Este tipo de alimentação contribui para melhorar a sensibilidade à insulina, é anti-inflamatória e antioxidante, melhora os níveis de glicose em jejum, de colesterol total, ajuda a diminuir o índice de massa corporal, o perímetro abdominal e diminui o risco de morte por doença cardiovascular. Estas são conclusões recolhidas pelo projeto 'Comer Melhor, Viver Melhor' que esteve recentemente em destaque no Parlamento Europeu.

Esta iniciativa junta a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), a Federação Francesa de Diabetes e a Federação Internacional da Diabetes - Europa e tem como objetivo promover o papel de uma alimentação saudável e sustentável na gestão da diabetes tipo 2, desenvolvendo ações concretas para a literacia alimentar em pessoas com diabetes e profissionais de saúde.

"Uma mudança para uma alimentação mais baseada em plantas, pode beneficiar as pessoas com diabetes tipo 2, no controlo do açúcar no sangue, no bem-estar e na eventual redução da medicação. Contudo, os dados do inquérito a pessoas com diabetes tipo 2, realizado para o projeto 'Comer Melhor, Viver Melhor', revelam que uma grande parte dos inquiridos não reconhecem a definição e o possível papel destes padrões alimentares. Apesar do desconhecimento, os resultados mostraram também uma atitude positiva, sendo necessário disponibilizar formas de aumentar a literacia alimentar e os conhecimentos práticos sobre a confeção de produtos alimentares de origem vegetal", refere Rogério Ribeiro, investigador biomédico da APDP, em comunicado.

Segundo a Associação Europeia para o Estudo da Diabetes (EASD), recomenda-se uma variedade de dietas alimentares que privilegiem o consumo de cereais integrais, legumes e frutas, leguminosas, frutos secos, minimizando o consumo de carne (especialmente carne vermelha e transformada), bebidas açucaradas e cereais refinados, como é o caso da dieta Mediterrânica, a dieta Nórdica e a dieta flexitariana (uma dieta que não elimina totalmente o consumo de carne, como a dieta vegetariana).

Rogério Ribeiro sublinha a necessidade de aumentar a consciencialização sobre este tipo de dietas. "Sabemos que mais de metade dos profissionais de saúde expressam poucos conhecimentos sobre a alimentação à base de plantas ou desconhecem o seu potencial papel para a gestão da diabetes. Efetivamente, apenas 30% das pessoas com diabetes tipo 2 inquiridas no âmbito do nosso projeto referiram ter recebido informação e apoio sobre este regime alimentar."



Leia Também: Basta adotar dois hábitos para ganhar cinco anos de vida, diz estudo  

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Consumo de enchidos relacionado com cancro gástrico que em Portugal é muitas vezes diagnosticado tardiamente... No Dia Mundial do Cancro Digestivo, o oncologista Nuno Bonito revela porque Portugal regista a maior incidência de cancro gástrico da Europa Ocidental. Fatores como alimentação, consumo de álcool e tabaco e infeção por Helicobacter pylori explicam parte desta realidade nacional.

Por sicnoticias.pt  30/09/2025

​​Chouriço, presunto, alheira, farinheira: os enchidos ocupam lugar de destaque na mesa portuguesa, mas também estão entre os alimentos mais associados ao aumento do risco de cancro do estômago. Ricos em sal, gordura e muitas vezes fumados, fazem parte de uma tradição gastronómica que ajuda a explicar por que razão Portugal tem a maior incidência de cancro gástrico da Europa Ocidental.

​​Em 2022, mais de 3.660 portugueses foram diagnosticados com cancro do estômago e 2.578 morreram. O diagnóstico tardio, a dieta desequilibrada e a elevada prevalência da bactéria Helicobacter pylori ajudam a explicar os números.

“A elevada incidência está associada a fatores como o consumo excessivo de sal e alimentos fumados, a prevalência da infeção por Helicobacter pylori, a baixa literacia em saúde e o diagnóstico tardio”, explica Nuno Bonito, diretor do Serviço de Oncologia do IPO de Coimbra., em entrevista à SIC Notícias.

A dieta portuguesa continua marcada pelo consumo elevado de carnes processadas, fritos e sal. Esta combinação contribui não apenas para o risco de cancro gástrico, mas também para o colorretal.

O cancro digestivo inclui tumores do esófago, estômago (gástrico), intestino (colorretal), fígado e pâncreas. O do estômago e o quinto mais frequente em Portugal e uma das doenças mais mortais do aparelho digestivo. A nível global, o cancro do estômago é a quarta principal causa de morte relacionada com tumores malignos.

Fatores de risco alimentares e estilo de vida

Ao mesmo tempo, o consumo de frutas, legumes e leguminosas está abaixo das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). O desequilíbrio alimentar, aliado ao consumo excessivo de álcool e tabaco, aumenta o risco de desenvolver cancro gástrico - que, em 40 a 50% dos casos, só é diagnosticado já em fase avançada.

Apesar de a dieta mediterrânica ter componentes protetores, a dieta portuguesa inclui demasiado sal, fritos e carnes processadas, fatores que contribuem para os cancros gástrico e colorretal, afirma o especialista, que enumera os alimentos mais perigosos para este tipo de cancro:

  • Carnes processadas
  • Alimentos fumados e salgados
  • Bebidas alcoólicas em excesso
  • Alimentos ultraprocessados ricos em gordura e açúcar

Por outro lado, há também alimentos que protegem o estômago e o sistema digestivo:

  • Frutas e legumes frescos
  • Cereais integrais
  • Alimentos ricos em fibras e antioxidantes
  • Chá verde

Alimentos com propriedades anti-inflamatórias

“O aconselhamento nutricional deve ser feito por profissionais especializados, integrados em equipas multidisciplinares”, reforça o oncologista.

O vinho, muito presente na dieta portuguesa, levanta dúvidas frequentes. Beber um copo por dia será seguro?

"Segundo a Sociedade Europeia de Oncologia (ESMO) e a OMS, não existe um nível seguro de consumo de álcool no que diz respeito ao risco oncológico. Mesmo em pequenas quantidades, o álcool está associado ao aumento do risco de vários cancros digestivos", sublinha Nuno Bonito.

A bactéria Helicobacter pylori

A infeção pela bactéria Helicobacter Pylori é responsável por cerca de 90% dos cancros do estômago e atinge 60 a 70% da população portuguesa, sobretudo no Norte. Apesar de ser assintomática na maioria dos casos, continua a ser o principal fator de risco identificado.

Consumo de enchidos relacionado com cancro gástrico que em Portugal é muitas vezes diagnosticado tardiamente

"A deteção precoce é fundamental e deve ser integrada em programas de vigilância clínica", salienta o médico, referindo que a infeção pode ser diagnosticada através de "teste respiratório da urease, serologia ou biópsia gástrica durante endoscopia". 

O tratamento combina antibióticos com inibidores da bomba de protões "com elevada taxa de erradicação quando corretamente administrado", refere o especialista.

O tabagismo é outro fator de risco relevante, potenciando os efeitos da Helicobacter pylori e aumentando a inflamação crónica da mucosa. A cessação tabágica deve ser incentivada em programas multidisciplinares.

Sintomas e diagnóstico tardio

Os sintomas iniciais são inespecíficos, o que leva a atrasos no diagnóstico. Em 2022, registaram-se 2.578 mortes por cancro gástrico em Portugal.

O especialista enumera os sintomas a ter em atenção, mas sublinha que a avaliação clínica deve ser feita por equipas especializadas. 

  • Dor abdominal persistente
  • Perda de peso inexplicável
  • Náuseas e vómitos
  • Sangue nas fezes
  • Fadiga extrema
  • Sensação de enfartamento precoce
  • Icterícia

Atualmente, não existe um rastreio populacional sistemático como acontece com a mama ou o colo do útero. Estudos sugerem que, em zonas de maior incidência, a endoscopia associada à colonoscopia de 5 em 5 anos pode ser uma estratégia custo-efetiva.

Tratamento e avanços recentes

O tratamento do cancro gástrico tem avançado significativamente, com terapias cada vez mais personalizadas baseadas em biomarcadores, características histológicas e estado clínico da doença, incluindo a presença de doença oligometastática. 

Nos casos de doença localizada, as abordagens de tratamento incluem:

  • Quimioterapia perioperatória, para reduzir volume tumoral
  • Cirurgia com linfadenectomia D2
  • Radioterapia em casos selecionados,  como complemento à cirurgia ou em situações de controlo sintomático. 

"A doença oligometastática representa um estadio clínico intermédio entre a doença localizada e a metastática disseminada. Quando existem metástases limitadas, podem ser consideradas estratégias multimodais como quimioterapia de conversão, cirurgia em doentes selecionados, radioterapia estereotáxica e imunoterapia", explica o médico.

Em Portugal, os cancros digestivos representam uma parcela significativa da carga oncológica, com impacto direto na mortalidade e na qualidade de vida dos doentes. A abordagem multidisciplinar é essencial para garantir uma resposta integrada e eficaz, envolvendo profissionais de diversas áreas.

"É essencial comunicar com clareza os fatores de risco, a prevenção e as opções de tratamento. A educação para a saúde deve ser uma prioridade nacional", conclui Nuno Bonito.

 

Leia Também: Cancro digestivo só afeta mais velhos? Como prevenir? Médico esclarece

Esta terça-feira, 30 de setembro, assinala-se o Dia Mundial do Cancro Digestivo. O Lifestyle ao Minuto falou com José Cotter, diretor do serviço de Gagastrenterologia do Hospital da Senhora da Oliveira, em Guimarães, para perceber melhor alguns dos mitos relacionados com estas doenças.


sexta-feira, 12 de novembro de 2021

HIPERTENSÃO - Pressão alta? Evite estes seis alimentos (para além do sal)

© Shutterstock

Notícias ao Minuto   11/11/21 

Dizemos-lhe o que podem fazer ao seu corpo.

Contam-se pelos dedos das mãos as pessoas que não adoram um bitoque com molho para molhar o pão e uma pratada de batatas fritas. Mas o pior é que é ao ingeri-los em excesso não é só o peso que sofre as consequências, mas, sim, a sua saúde, nomeadamente a cardiovascular, e de forma silenciosa. Hipertensão, AVC, demência e osteoporose: estas são as consequências que a ingestão excessiva de sal pode provocar. 

Quer reduzir a pressão arterial? Para ajudá-lo nessa missão que, por vezes, pode parecer impossível, o portal espanhol Meganoticias compilou os seis alimentos que são tão (ou mais) nocivos que o próprio sal. Veja abaixo:

Açúcar

O açúcar constitui uma 'bomba' para hipertensos. Além de contribuir para o excesso de peso, o açúcar aumenta a pressão arterial. 

Bebidas alcoólicas

Modere o consumo de álcool, uma vez que a ingestão de bebidas alcoólicas faz disparar a pressão arterial. Além disso, contribui para o aumento de peso.

Alimentos ultraprocessados

É fã de fritos, bolos, bolachas, enlatados, 'fast-food' e refeições embaladas e prontas a comer? Más notícias: são alimentos com níveis elevados de sódio, conservantes e gorduras trans e saturadas. Além disso, são fatores de risco para o desenvolvimento da diabetes e de doenças cardiovasculares. Prefira a dieta mediterrânica e inclua vegetais, fruta, frutos secos, peixe, carne e cereais na sua dieta, cozinhe com azeite, opte por alimentos grelhados, assados e cozidos a baixa temperatura, e reduza o consumo de batata, massa e arroz.

Produtos lácteos 

O leite e os seus derivados, como a manteiga e o queijo, contêm altos níveis de gordura, fator que aumenta o "mau colesterol" (LDL). Recorde-se que quando os níveis no sangue são elevados, há um maior risco de estreitamento das artérias, causando doença cardíaca ou cerebral. Se ocorrer a formação de um coágulo numa artéria já estreitada, pode ocorrer um enfarte do miocárdio ou AVC.

Pickles

Para conservar alimentos por longos períodos de tempo, o sal é o ingrediente mais usado. No caso dos pickles, são utilizadas cerca de 447 miligramas de sódio, segundo dados do banco de alimentos dos Estados Unidos.  

Tomate enlatado

As sopas e a polpa de tomate são ricas em sódio. E até aí, tudo bem. O problema surge quando exageramos no seu consumo.

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Será possível evitar a morte natural no ser humano? “Em teoria, claro”. Como a ciência está a tentar que vivamos mais e melhores anos

Avós e netos (Getty Images)

Por Cnnportugal.iol.pt  08/06/23 

Ainda não parece real podermos passar para lá dos 120 anos, mas já se sabe que o ser humano consegue lá chegar. Falta perceber como

Uma árvore milenar, uma alforreca imortal ou uma tribo nos confins da Amazónia. Estas são três das vias em estudo para tentar fazer com que o ser humano consiga viver mais tempo, mas também mais tempo com qualidade. Nos últimos séculos a esperança média de vida quase triplicou, mas a ciência procura sempre novas formas de tentar estender a vida.

Esse é o dia a dia de Rui Diogo, um português que está nos Estados Unidos a estudar formas de vivermos mais e melhor, numa área a que gosta de chamar, por brincadeira, "biologia da morte". Em conversa com a CNN Portugal, o biólogo de formação conta que o seu objetivo é perceber “porque é que realmente se envelhece”, e qual o papel da biologia nesse processo.

“O próprio envelhecimento é quase uma extensão da reprodução”, refere, utilizando uma metáfora que incluiu no livro que está a escrever com outros autores. “Imaginemos que um avião vai de Lisboa a Washington D. C.. A viagem gasta mil litros de combustível, mas nunca se pode atestar com mil litros, porque pode haver algum problema. Então colocamos 1.100 ou 1.200 litros. O envelhecimento, no fundo, visto de uma maneira biológica, é como uma extensão da reprodução. Temos de ter o mínimo para que o animal se possa reproduzir, mas damos mais algum tempo, caso algo corra mal.”

“O interessante no ser humano, ou noutros animais como o elefante, é conseguirem expandir essa extensão, que é cada vez maior. Em vez de levar os 1.100 litros iniciais o avião já leva 1.300 litros ou mais”, acrescenta, sublinhando que se vão encontrando novas formas de esses “litros” serem úteis, como acontece com o papel dos avós.

O segredo escondido nas florestas e no mar

A Biologia Animal é uma das grandes esperanças dos investigadores. Há árvores que vivem mais de três mil anos, peixes que vivem mais de 200 anos e até uma alforreca imortal. Rui Diogo lembra que “comparar os humanos com os animais é uma coisa que não se fazia muito”, sobretudo num espectro tão alargado. “Estuda-se muito os ratos, como envelhecem, mas não é um animal que tenha um envelhecimento por aí além”, nota, explicando que há peixes, como o esturjão, que podem viver mais de 200 anos. “Há alguns peixes que praticamente só morrem por acidente, não morrem por envelhecimento”, acrescenta.

O mesmo se pode dizer das grandes sequoias, algumas delas existentes ainda antes de Cristo. E isso, diz Rui Diogo, significa que biologicamente é possível evitar a morte: “Claramente, consegue-se quebrar o envelhecimento. A pergunta de ‘se alguma vez o ser humano conseguirá quebrar?’… parece que a biologia conseguiu.”

A Turritopsis Dorhnii tem apenas 4,5 milímetros, mas é conhecida como a medusa imortal, uma vez que é capaz de se regenerar infinitamente, como que criando clones. Neste caso, a medusa não só não morre, como não envelhece, tal como as bactérias, que se conseguem dividir para subsistir. Então, será possível evitar a morte natural no ser humano? “Em teoria, claro”, afirma Rui Diogo, vincando que não é possível saber quando e quais os avanços que vão permitir que lá cheguemos (se chegarmos). Mas uma coisa o biólogo garante: “Por 2050, a medicina já nos vai conseguir dar mais uns anos de vida”.

“Assim, ao invés de se estudarem ratos, devemos estudar as medusas, perceber porque é que não envelhecem. É muito mais lógico ver os genes que a medusa tem e nós ou os ratos não temos”, reitera o biólogo.

Apresentação de uma alforreca imortal (Ian Gavan/Getty Images)

O oxigénio que nos mata

O objetivo dos investigadores é retardar ao máximo o envelhecimento, já havendo conhecimento do que o provoca: o oxigénio. Sim, o ar que respiramos é também o responsável pelo processo de envelhecimento. A explicação está na oxidação, o processo que desgasta as células do corpo. “No fundo, nós morremos porque envelhecemos, pela oxidação das células”, explica Rui Diogo, encontrando aí uma ironia: “O oxigénio que respiramos é, no fundo, aquilo que nos mata.”

“É o oxidar das células do corpo humano e dos animais em geral que vai matando, a pouco e pouco. É como o ferro. Quando temos uma bicicleta muito velha ela começa a oxidar com o passar do tempo. O paradoxo é que a bicicleta não precisa de oxigénio [para viver]”, vinca.

É por isso que a “moda” dos antioxidantes faz tanto sentido, ainda que não seja tão fácil assim retardar o processo de envelhecimento. “Comer uma romã ou beber um sumo de frutos vermelhos faz bem, mas não é assim tão fácil. Se fosse só mudar um gene a natureza provavelmente já o teria feito”, nota o investigador, falando num processo mais complexo que não dá para corrigir apenas pela aprendizagem do corpo.

Ainda assim, essa alteração genética pode ser o início do caminho. Rui Diogo destaca que já se consegue aumentar a vida dos ratos através dessa modificação. Nas moscas, por exemplo, consegue-se aumentar o tempo de vida em 500 vezes. “Para os seres humanos não está a conseguir ser fácil replicar minimamente isso”, lamenta.

A Amazónia a ensinar a viver

Não são apenas animais que se estudam para perceber como prolongar, em tempo e qualidade, o nosso tempo de vida. Que animal mais parecido connosco do que nós próprios? Desde há uns anos que os investigadores identificaram uma característica numa tribo que vive isolada no meio da floresta da Amazónia boliviana.

Em 2017 a revista The Lancet publicou um estudo em que concluía que os cérebros dos Tsimane envelhecem mais devagar do que os dos restantes humanos, nomeadamente os europeus e os norte-americanos. Essa é uma das áreas de maior investigação de Rui Diogo, a Medicina de Desenvolvimento Antropológico, que pretende comparar seres humanos do Ocidente com outros povos.

Uma imagem rara, mas cada vez mais comum: sequoias mortas após um incêndio devastador na Califórnia (Gary Kazanjian/AP)

“Esses seres humanos não vivem da mesma forma que nós. Vivem em florestas, como outros animais”, nota o investigador, que pede que se alarguem horizontes, uma vez que o conhecimento existente do envelhecimento se baseia nos países e nas populações mais desenvolvidas. E este alargamento traz duas conclusões: não só existem tribos que vivem mais e melhor que nós, como os ocidentais têm doenças e problemas que não existem noutros locais.

“O que pensávamos que era o envelhecimento natural do ser humano, já sabemos que não é. É só um tipo de envelhecimento que passa em sociedades industrializadas”, sublinha Rui Diogo, garantindo que problemas como doenças autoimunes não estão tão presentes em sociedades menos desenvolvidas. Mais do que um envelhecimento natural, o que existe é “o corpo a atacar-nos”.

Acaba por ser um equilíbrio difícil, admite o investigador, até porque o sistema imunitário tem de se habituar. Há muito mais Tsimane a morrerem em idade jovem, até aos 15 anos. Mas, quando lá chegam, a sua esperança média de vida com qualidade está bem acima da maioria dos países desenvolvidos.

“A existência de tantas doenças autoimunes é um desequilíbrio que parte da industrialização, de comer muito açúcar, muita carne. Os Tsimane são um povo não industrial, que tem hortas, mas que vive sobretudo na floresta”, explica Rui Diogo. A esperança média de vida deste povo até pode ser baixa, mas quem vive mais, vive muito e bem. E são as características dessas pessoas que importa estudar.

“Nos povos não industrializados as crianças morrem muito. Não há antibióticos, vacinas, então há muita mortalidade infantil. Mas também há outra coisa: quem não morre até aos 15 anos vive até aos 82 ou mais com uma vida quase sempre muito saudável. Isso bate quase todos os países industrializados”, diz o biólogo, que aponta nos Tsimane “muita longevidade e, sobretudo, muita qualidade de vida”.

Tribo Tsimane na Amazónia boliviana (Michael Gurven/AP)

Em Portugal, por exemplo, a esperança média de vida até é bem maior. Jovens morrerem até aos 15 anos é raríssimo, mas a qualidade de vida de quem caminha para os 80 é muito pior. “Um Tsimane vive mais e melhor do que um português”, reitera Rui Diogo. E isso por causa do estilo de vida: a obesidade, o tabaco, o álcool e muitos outros hábitos presentes no Ocidente não chegam à tribo boliviana na mesma dimensão.

E é um regresso ao princípio: não é tanto quanto se vive, mas como. Em Portugal até há mais gente a viver para lá dos 80 anos. Em conjunto com o Japão ou a Grécia, por exemplo, Portugal é dos países com mais centenários por mil habitantes. Rui Diogo destaca, no caso português, a importância da dieta mediterrânica. Já no caso japonês existe uma diferença entre Tóquio e outras grandes cidades e as zonas mais rurais. Ali, como em grande parte de Portugal, os alimentos chegam mais frescos, há muita socialização, etc.

E viver mais é viver quanto? Rui Diogo termina dizendo que, para já, não parece real podermos passar dos 120 anos, mesmo que essa seja uma idade quase inalcançável. “É bom primeiro percebermos como podemos chegar lá”, conclui.

Apenas uma pessoa atingiu essa idade, chegando mesmo aos 122 anos e 164 dias. Era a francesa Jeanne Calment, que nasceu em 1875 e morreu em 1997. Recentemente também houve estudos, como um citado pela Comissão Europeia, que admitiram que o ser humano pode mesmo chegar aos 150 anos. Para trás parece já estar um outro estudo, de 2017, em que a revista Nature dizia não ser expectável que um ser humano venha a viver para lá de 115 anos.

Jeanne Calment é a pessoa que mais tempo viveu na história. Morreu com 122 anos e 164 dias (Florian Launette/AP)

O professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa João Gorjão Clara diz à CNN Portugal que "o envelhecimento fisiológico é inevitável". Por agora existem apenas formas de o disfarçar: pinta-se o cabelo, fazem-se operações plásticas ou outros procedimentos.

"Eu posso disfarçar o meu envelhecimento biológico através da cosmética, mas impedir o envelhecimento, atrasá-lo, até agora, de uma maneira científica, não é possível", vinca, assinalando que continuam a decorrer testes com fármacos, como a metmorfina, para se perceber os efeitos que poderão ter no atrasar do envelhecimento.

Para o especialista o ponto fulcral será quando formos capazes de saber manipular os genes com que nascemos e que nos determinam a esperança média de vida. "Através do comportamento externo podemos fazer com que a nossa expressão genética de longevidade se manifeste em pleno. Por exemplo, se nascemos para viver até aos 80 anos, mas fumamos, bebemos em excesso e não fazemos exercício, não vamos permitir aos nossos genes, que marcavam uma esperança média de vida de 80 anos, que lá cheguem. O que eu penso é que um dia vai ser possível interferir nos genes que ordenam e comandam o envelhecimento, alterando o comportamento e dominando o determinismo que nos obriga inesperadamente a envelhecer e a morrer", exemplifica João Gorjão Clara, dizendo que "é aí que está a chave da longevidade".

"Por isso é que eu digo: será na interferência genética, quando conseguirmos interferir e dominar os genes que são responsáveis pelo nosso envelhecimento, que vamos conseguir viver muitos mais anos e, eventualmente, com muito mais qualidade e muito menos doenças", reforça.

O que podemos fazer para envelhecer bem

Independentemente do que possam vir a dizer os estudos e as investigações, a ciência já provou que há vários comportamentos que retardam o envelhecimento das células. E isso significa ter comportamentos adequados para o bem-estar físico e psicológico.

O presidente da Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia afirma à CNN Portugal que as pessoas têm, atualmente, um maior conhecimento e mais preocupação com o que têm de fazer para retardar o envelhecimento e o agravar da sua saúde. Manuel Carrageta explica que “as pessoas vão ao médico não só para fazer a prevenção das doenças, mas também à procura de um envelhecimento saudável”.

Essa é, de resto, uma das atividades mais importantes da Geriatria, que pretende ajudar as pessoas no dia a dia, mas com olhos postos no futuro. “Os estudos feitos em animais e em células estão ainda em fase de investigação, ainda não têm aplicação clínica. Algumas delas serão o futuro, mas hoje temos, essencialmente, aspetos fundamentais de uma vida saudável”, refere o especialista.

João Gorjão Clara não tem dúvidas: "Há muito mais preocupação em relação ao envelhecimento do que há 50 anos. Nessa altura havia menos velhos e, portanto, também havia menos preocupação com o envelhecimento", conta, falando dos tempos em que era um "jovem interno num serviço de Medicina".

Já nessa altura o médico se interessava por Geriatria, área pela qual se tem batido durante toda a carreira, tendo mesmo fundado a Unidade Universitária de Geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, no Hospital de Santa Maria, onde ainda ensina que "a grande preocupação dos geriatras não é prolongar a vida, mas que a qualidade de vida seja o melhor possível".

"O que nós queremos é que os velhos vivam, não o mais tempo possível, porque isso muitas vezes implicaria que tivessem de viver em muito más condições, mas que vivam em grande qualidade, sem sofrimento", reitera.

Isso passa por uma alimentação saudável, onde a dieta mediterrânica ajuda. Fazer exercício físico com regularidade também combate o sedentarismo e a obesidade. Manuel Carrageta destaca a marcha como a opção mais “acessível e ecológica”. Basta “meia hora a pé em passo rápido cinco dias por semana” para fazer a diferença. Em paralelo, há outro “aspeto importante”: o sono. “É fundamental, nós cada vez dormimos menos por causa das pressões que temos, a vida é mais intensa, mas o sono é fundamental. Costuma dizer-se que cada pessoa deve dormir sete a nove horas por dia, mas o importante é que a pessoa durma o suficiente para de manhã acordar refrescada e não andar com sono durante o dia”, acrescenta, ressalvando que não é tanto as horas que se dormem, mas a qualidade das horas dormidas. Por último, o geriatra destaca a importância de não fumar e não beber álcool em demasia, porque isso envelhece. “A pessoa que fuma regularmente tem mais sete ou oito anos que a sua idade biológica”, aponta Manuel Carrageta. Já em relação ao álcool, uma coisa é o consumo moderado, genericamente duas unidades de uma qualquer bebida por dia.

Mas a prevenção também se pode fazer noutros níveis. Controlar o colesterol, o peso e fazer um plano de vacinas adequado pode ser crucial. Manuel Carrageta sublinha este último aspeto, explicando que o sistema imunitário das pessoas mais velhas fica mais vulnerável a infeções. “O sistema imunitário fica cansado, envelhecido e pouco eficaz”, diz. E por isso é importante seguir um plano de vacinas, como contra a gripe ou a pneumonia.

Esperança de vida à nascença na Europa (Comissão Europeia)

A importância da mente (e um problema português)

Mas se falamos do envelhecimento do corpo, o envelhecimento da mente é tão ou mais importante. Está provado que há uma série de fatores psicológicos que podem prevenir ou adiar o desenvolvimento de doenças do foro neurológico, como a Alzheimer. Manuel Carrageta explica que as pessoas com graus de educação mais elevados tendem a viver mais. Quem tem o Ensino Superior chega mesmo a viver “mais quatro, cinco, seis ou sete anos” do que aqueles que têm apenas o ensino básico. Em paralelo está a socialização. Combater o isolamento e conviver com pessoas estimula a mente, prevenindo doenças neurológicas, mas também cancros, por exemplo.

“O nosso ADN diz-nos que temos de viver em grupo. Ao logo de centenas de milhares de anos foi assim. Quando um ser humano, um homo sapiens, ficava isolado, ou era morto por animais selvagens ou pela tribo do lado”, exemplifica o especialista.

João Gorjão Clara concorda: "A primeira coisa para se viver bem é nunca desprezar a parte intelectual. Só se pode ter qualidade de vida se se mantiver durante muito tempo, até ao fim, uma capacidade cognitiva o mais intacta possível." É que, como no resto do corpo, o cérebro também pode funcionar como um músculo. Precisa de ser exercitado e estimulado. "Não se pode pedir a uma pessoa que tenha memória quando não a exercita, quando não a usa. É uma máxima que ensinamos: se quer ter memória use-a, senão, perde-a", sublinha.

"A memória exercita-se como os músculos. Da mesma maneira que se não fizermos exercícios e estivermos sentados ou deitados perdemos massa muscular, se não utilizarmos a nossa cabeça, se não usarmos a memória, a atenção, a concentração, o raciocínio, vamos perdendo capacidades intelectuais", acrescenta.

Em Portugal a esperança média de vida aproxima-se dos valores mais altos da União Europeia, mas há uma realidade que Manuel Carrageta lamenta: “Temos muito pior qualidade de vida a partir de uma certa idade." Em suma, os portugueses vivem quase tanto como os franceses ou os alemães, mas vivem pior. E isso porque “temos um estilo de vida errado”, aponta o presidente da Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia, exemplificando com a ausência de exercício físico na sociedade portuguesa, quando comparada com outras.

“Não adianta muito estarmos a viver mais se esses anos não forem vividos com qualidade”, conclui.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

CONSULTA ABERTA: Um copo de vinho por dia faz bem ao coração?

Por  sicnoticias.pt  11/09/23

O cientista Louis Pasteur dizia que o vinho é a mais saudável e higiénica das bebidas. Anos depois, muitos médicos começaram a recomendar um copo de vinho tinto às refeições, pelo possível benefício na saúde do coração. Será que é mesmo assim?

A Europa é das regiões que mais álcool consome e estima-se que, em Portugal, acima dos 15 anos, se consuma o equivalente a duas garrafas e meia de vinho por semana. Mas o consumo excessivo de álcool tem riscos e temos evidência científica suficiente para dizer que quanto maior for o seu consumo, maior o risco das doenças que pode provocar, incluindo cancro, doenças de fígado, doenças de pâncreas, e outras.

A dúvida é: será que um consumo moderado de álcool pode fazer bem à saúde? Afinal, um copo de vinho tinto por dia faz ou não faz bem ao coração?

É importante começar por definir o que é o consumo moderado. Porque beber duas sidras ao almoço não é o mesmo que beber duas aguardentes em jejum. E se acredita que se bebermos vinho diariamente ao som de Eros Ramazotti vamos ter todos os benefícios da dieta mediterrânica assista ao vídeo da Consulta Aberta para perceber que não é bem assim.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Viver sem idade: “O envelhecimento não é só a idade, é um estilo de vida e os cuidados que temos com o sono e a alimentação”

Por Sicnoticias.pt  15/07/2024
J
á ouviu o novo podcast do Expresso “Viver Sem Idade”? Neste primeiro episódio conversamos sobre as novidades nos procedimentos plásticos e hábitos de nutrição que nos ajudam a manter uma pele mais jovem durante o nosso envelhecimento natural. 

Botox ou cirurgia plástica? Jejum intermitente ou dieta mediterrânica? Oiça aqui a conversa com três especialistas

A harmonização da face é uma técnica que permite corrigir o que os outros vêem primeiro - o rosto, para muitos pacientes melhora a auto-estima e pode envolver vários tratamentos utilizados em simultâneo numa mesma consulta.

Até que ponto o botox, o ácido hialurónico ou a cirurgia plástica são os melhores procedimentos? Quais as novidades e quando se deve optar por um ou por outro?

Conheça as respostas no novo podcast do Expresso Viver Sem Idade! Neste primeiro episódio, ouvimos os esclarecimentos da Dra Cláudia de Sousa, médica dentista especialista em harmonização facial, do Dr. Óscar Prim da Costa, cirurgião maxilo-facial, e da nutricionista Conceição Calhau.

"Viver sem Idade" é o novo podcast do Expresso, pela jornalista Paula Castanho. Acompanhe os episódios e ouça as dicas de vários especialistas que o vão ensinar a cuidar de si promovendo dicas de saúde para o envelhecimento, numa viagem que se espera longa e positiva, sem estigma ou preconceitos.

domingo, 18 de dezembro de 2016

Portugueses consomem 4,4 vezes mais carne, ovos e peixe do que precisam - Zero

Os portugueses consomem 4,4 vezes mais carne, ovos e pescado que o necessário, o que prejudica a saúde, o ambiente e o orçamento familiar, alertaram hoje os ambientalistas da Zero, defendendo a opção por leguminosas.


"Verificamos que os portugueses consomem 4,4 vezes acima daquilo que seria necessário deste componente, da carne, ovos e pescado", disse à agência Lusa Susana Fonseca, da Associação Sistema Terrestre Sustentável, Zero.

Num ano, "devíamos consumir à volta de 33 quilogramas do conjunto de carne, ovos e pescado e estamos a consumir muito acima disso, cerca de 178 quilogramas, portanto 145 quilogramas a mais", avançou a especialista, e realçou que, na saúde, "o excesso de proteína causa vários problemas, e não é de todo benéfico em termos ambientais".

No final deste Ano Internacional das Leguminosas, e numa época festiva "que tende a propiciar exageros de alimentação", a Zero analisou as recomendações da Direção Geral de Saúde para o consumo de carne, ovos e pescado e comparou com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre as quantidades destes produtos na alimentação dos portugueses.

"Para produzir uma quilocaloria de carne de vaca, por exemplo, precisamos de 174 quilocalorias", principalmente de alimentos para os animais, "o que é mais do que o necessário quando são consumidos alimentos vegetais e leguminosas", justificou Susana Fonseca.

Também no consumo de carne, o impacto em termos de consumo de água é 100 vezes superior àquele que é necessário para produzir leguminosas, além de implicar mais emissões de metano, um gás com efeito de estufa que agrava as alterações climáticas.

As leguminosas, como feijão, grão, lentilhas, favas ou ervilhas, fazem parte da dieta mediterrânica e da cultura gastronómica portuguesa, são, segundo a Zero, "uma excelente fonte de proteína e podem ser usadas como alternativa a este consumo de proteína animal".

Para o orçamento familiar, "fica mais caro [o uso de proteína animal], sabemos que a componente de proteína é das que acaba por ter mais peso" na despesa com a alimentação, especificou a especialista da Zero.

Assim, "estamos a desperdiçar dinheiro, estamos a consumir proteína que nos está a fazer mal, está a fazer mal ao ambiente e está a retirar-nos recursos financeiros", resumiu.

A Zero listou algumas mudanças que podem fazer a diferença e facilitar a mudança para o consumo de leguminosas, começando por uma alteração das políticas públicas, embora exista um plano para uma alimentação saudável, "que é importante", e a Direção Geral de Saúde tenha vindo a fazer um "trabalho interessante" nesta área.

Na lista de propostas da Zero está o trabalho com as escolas, nomeadamente nas cantinas, para que as porções servidas respeitem o princípio das leguminosas e haja maior disponibilidade de refeições de base vegetariana.

A sensibilização e informação aos consumidores, por exemplo, acerca da forma de produção da carne, como já acontece com os ovos, a criação de incentivos para o cultivo de leguminosas, até porque Portugal, porque não é autónomo nestes produtos e "uma parte significativa é importada", a par com a redução dos apoios à produção intensiva de carne, canalizando estes recursos para formas de agricultura mais amigas do ambiente, são outras mudanças apontadas.

"Se consumirmos só a proteína animal de que precisamos, gastamos menos dinheiro e vamos ter uma parte do rendimento disponível para comprar com maior qualidade", salientou Susana Fonseca.

EA // MAG
Lusa/Fim

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Bebida Cientistas europeus revelam novos benefícios do consumo de cerveja

Cientistas europeus destacaram hoje os efeitos benéficos do consumo moderado de cerveja e rejeitaram o mito da "barriga de cerveja".


"O consumo moderado de cerveja em adição a uma dieta saudável, como a mediterrânica, ajuda a prevenir problemas cardiovasculares maiores, como o enfarte do miocárdio ou os acidentes vasculares cerebrais", afirmou Ramón Estruch, do Hospital Clínic de Barcelona, durante o VII Congresso Europeu sobre Cerveja e Saúde, realizado hoje em Bruxelas.

Vários centros de investigação, entre os quais o Centro de Investigação Cardiovascular (CSIC-ICCC) da Catalunha, a Universidade de Barcelona e o Hospital Clínic de Barcelona, realçaram os possíveis benefícios da cerveja, com ou sem álcool, na saúde cardiovascular, obesidade, nutrição e prevenção do envelhecimento celular.

Linda Badimón, diretora do CSIC-ICCC, destacou que a ingestão moderada de cerveja pode "favorecer a função cardíaca global".

As quantidades consideradas moderadas seriam dois copos (40cl) para homens e um copo (20cl) para mulheres, diariamente.

A investigadora Rosa Lamuela, da Universidade de Barcelona, adiantou que os polifenóis, substâncias encontradas maioritariamente em alimentos de origem vegetal, podem reduzir os riscos de problemas cardiovasculares e cancro, devido às suas propriedades antioxidantes.

"Na cerveja encontrámos até 50 tipos de polifenóis que, ingeridos pelo organismo, possuem efeitos benéficos sobre a pressão arterial, os lípidos ou a resistência à insulina", disse Rosa Lamuela no congresso, que reuniu cerca de 160 especialistas internacionais em medicina, nutrição e dietética, provenientes de 24 países.

A médica de saúde pública do Reino Unido Kathryn O'Sullivan desmentiu a crença da "barriga de cerveja", por "não possuir nenhum fundamento científico" e acrescentou que o consumo excessivo de qualquer tipo de álcool pode levar ao aumento de peso, mas não o consumo moderado.

A reidratação que a cerveja proporciona a desportistas foi outro dos aspetos destacados durante o congresso, com participantes no congresso a defenderem que a cerveja, ao contrário de outras bebidas alcoólicas, possui pouco álcool, muita água (95%) e potássio, o que a torna apta para a reidratação após exercício físico.

Dado que o excesso de exercício físico aumenta o risco de doenças no trato respiratório superior, a cerveja pode ser utilizada para reduzir a sua inflamação e infeção, já que possui elementos polifenólicos, declarou Johannes Scherr, da Universidade de Munique.

O congresso contou ainda com a presença de médicos de centros de investigação da Irlanda, Roménia, Itália, e Holanda.
http://www.noticiasaominuto.com/mundo/283605/cientistas-europeus-revelam-novos-beneficios-do-consumo-de-cerveja

quarta-feira, 19 de abril de 2023

ENTREVISTA: Diabetes é mais perigosa do que julga. Sabe o que é nefropatia diabética?

© Shutterstock

Notícias ao Minuto    19/04/23 

Em entrevista ao Lifestyle ao minuto, João Raposo, diretor clínico da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, fala sobre o impacto que a doença renal diabética tem na população portuguesa.

A doença renal crónica e a diabetes poderão causar em Portugal uma perda superior a 410 mil anos de vida saudável por incapacidade e um custo total, ao longo da vida, de aproximadamente 17 mil milhões de euros. Estas são as principais conclusões do estudo 'Evolução natural da doença renal crónica em pessoas com diabetes: custos e consequências na realidade portuguesa', recentemente apresentado pela IQVIA com o apoio da Bayer.

Face a estes dados, João Raposo, diretor clínico da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP), considerou, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, que é necessário criar políticas públicas de saúde que sejam capazes de responder às necessidades da população portuguesa. "Num país que quer cada vez mais colocar os cidadãos no centro da gestão da sua saúde, é importante que todas as pessoas com diabetes conheçam e exijam os exames que são necessários para avaliar as complicações da diabetes e tenham a capacidade de discutir os resultados com a sua equipa de saúde", afirma.

Geralmente, a doença renal diabética é um diagnóstico que surge em pessoas com diabetes de longa duração, ou seja, que já vivem com diabetes há mais de 10 anos

O que foi possível apurar através deste estudo?

Até agora, o impacto económico da doença renal diabética em Portugal era desconhecido e, como tal, a realização do estudo veio colmatar esta lacuna. Este estudo permitiu concluir que, ao longo da sua vida, as pessoas com doença renal diabética perderão mais de 410 mil anos de vida saudável por incapacidade e consumirão mais de 17 mil milhões de euros em recursos de saúde. Em comparação com as pessoas no estadio inicial, quem tem doença renal diabética no estadio de alto risco apresenta uma redução de 34% da esperança média de vida, uma duplicação dos anos vividos com incapacidade e um aumento dos custos totais em cerca de 81%.

Conseguiu-se também descobrir que, entre 2015 e 2019, a probabilidade anual de morte de doentes em diálise alcançou uma média de 12,7%. As evidências demonstram que é necessário definir novas estratégias no acompanhamento das pessoas com diabetes e continuar a gerar mais evidência clínica para que, futuramente, seja possível a implementação de políticas públicas de saúde capazes de responder às necessidades da população.

Qual o real impacto da doença renal diabética na população portuguesa?

O impacto é realmente significativo, quer em termos de qualidade de vida, como económicos. Os doentes acabam por perder muitos dias de trabalho para poderem fazer o tratamento e acederem aos cuidados de saúde e tudo isto acompanhado por uma perda significativa da qualidade de vida. Além disso, os tratamentos necessários para o controlo da diabetes e da progressão da doença renal acarretam custos significativos.

Falamos de quanto?

O estudo demonstra que os custos da nefropatia diabética rondam os 17 mil milhões de euros.

O que é a nefropatia diabética? Isto é, o que é que acontece exatamente no corpo de doentes com rim diabético e como é que a diabetes causa lesão renal? 

Geralmente, a doença renal diabética é um diagnóstico que surge em pessoas com diabetes de longa duração, ou seja, que já vivem com diabetes há mais de 10 anos. Mais de um terço das pessoas que começam a fazer diálise regularmente têm em comum a nefropatia diabética, que é uma complicação grave da diabetes e a principal causa de doença renal crónica. Ao longo do tempo, a glicemia (o açúcar no sangue) elevada acaba por afetar diversos órgãos no organismo das pessoas diabéticas. Existem várias complicações da diabetes, sendo que mais comuns são os danos causados nos rins, que requerem uma atenção redobrada. Com o tempo, o que acontece é que os rins vão perdendo a capacidade de filtrar adequadamente o sangue, deixando de cumprir a sua função. À medida que a doença vai evoluindo devido à falta de controlo da glicemia, da pressão arterial e dos níveis de colesterol, a nefropatia diabética progride para um quadro de insuficiência renal crónica. Quando já estamos perante um diagnóstico de insuficiência renal, o rim deixa de cumprir a sua função de purificação, o que implica recorrer a uma substituição, quer seja através de hemodiálise, diálise peritoneal ou de transplante renal.

A grande maioria (cerca de 80%) dos doentes com doença renal crónica tem diabetes tipo 2, que é o mais comum

Quais os sinais e sintomas precoces? 

Nos estadios iniciais da doença renal, não existem sintomas conhecidos e, por isso, é fundamental que as pessoas com diabetes realizem exames regulares ao sangue e à urina para deteção de possíveis danos nos rins. Para controlar e minimizar a evolução da doença é essencial um diagnóstico e tratamento atempados.

São conhecidos sintomas tardios?

Numa fase mais avançada, quando os rins deixam de ser funcionais, o doente pode começar a sentir-se mais inchado, sobretudo nas pernas e nos pés. Outros sintomas que podem surgir são pressão arterial elevada, fraqueza constante, náuseas e vómitos frequentes, perda de apetite, alteração das capacidades mentais, sonolência excessiva e urinar muitas vezes durante a noite.

Qual a percentagem de pessoas em hemodiálise que são diabéticas? 

As pessoas com diabetes representam 35% dos novos casos de hemodiálise e 16% da diálise peritoneal.

E atinge mais doentes com diabetes tipo 1 ou 2?

Apesar de os dois tipos de diabetes poderem resultar em nefropatia diabética, a grande maioria (cerca de 80%) dos doentes com doença renal crónica tem diabetes tipo 2, que é o mais comum.

Além da diabetes, quais os restantes fatores de risco?

São a hipertensão arterial não controlada, a obesidade, o sedentarismo, o tabagismo, o consumo de medicamentos tóxicos para os rins (como é o caso dos anti-inflamatórios não esteroides) e a predisposição familiar para doença renais e doenças genéticas hereditárias.

Como é feito o diagnóstico?

Em fases iniciais da doença pode ser feito com recurso a exames ao sangue e à urina, que detetam alterações na função de filtração do sangue e a presença de albumina na urina. Se os rins estiverem a funcionar normalmente, a urina não contém esta proteína. Contudo, pode aparecer mais tarde, à medida que o rim vai perdendo a sua capacidade de retenção. Nestes casos, quanto maior é a albumina detetada, mais avançada está a nefropatia diabética. É fundamental que as pessoas com diabetes realizem testes laboratoriais ao sangue e urina pelo menos anualmente para detetar atempadamente a existência de alterações e, consequentemente, ter um diagnóstico precoce.

Os anti-inflamatórios são contraindicados em doentes com insuficiência renal. O uso destes medicamentos deverá ser sempre discutido com o médico

Em pessoas com diabetes, a nefropatia renal pode ser classificada em cinco etapas ou estadios, de acordo com a sua progressão e gravidade. Quais são e em que consistem?

Através da medição da creatinina no sangue (uma análise laboratorial) e utilizando uma fórmula matemática é possível fazer uma estimativa da capacidade de filtração dos rins (filtrado glomerular estimado). Este é um valor que pode ir de mais de 90 mililitros (ml) por minuto (valor normal) a menos de 15 ml/minuto (valor de função muito deficitária). As cinco categorias mencionadas correspondem a categorias destes valores - desde o estádio 1 (alterações mínimas) até ao estádio 5 (o mais sério). Estes valores devem ainda ser conjugados com a informação que temos do resultado da análise da urina relativamente à presença, ou não, de albumina e em que quantidade.

Qual é a melhor forma de prevenir e reduzir o agravamento da doença?

O mais importante é assegurar o controlo metabólico da diabetes e o controlo da pressão arterial. Os doentes devem ainda evitar medicamentos tóxicos para o rim, como é o caso dos anti-inflamatórios não esteróides. 

E ao nível da alimentação, o que pode ser feito?

A alimentação tem um papel importante no controlo da diabetes e da doença renal a ela associada. É por isso que a presença de um profissional da área da nutrição na equipa multidisciplinar é frequente. Os conselhos relativos à alimentação poderão passar desde uma intervenção nutricional que promova a perda de peso, muitas vezes necessária na diabetes tipo 2, a uma dieta equilibrada (de tipo mediterrânica) ou a padrões alimentares que sejam mais restritivos relativamente ao teor de sódio, potássio e fósforo. Mas o estado nutricional da pessoa, os valores laboratoriais e o tratamento necessário para a doença renal condicionarão a escolha da alimentação adequada.

Esta doença não tem cura. No entanto, existem opções terapêuticas que minimizam os sintomas e evitam a progressão da doença. É asssim?

Sim. E assim é possível atrasar o agravamento ou estagnar a doença. 

Os anti-inflamatórios são contraindicados em doentes com insuficiência renal. O uso destes medicamentos deverá ser sempre discutido com o médico

Quais os tratamentos atualmente disponíveis? 

O tratamento da nefropatia diabética passa pela adoção de um estilo de vida saudável, que inclui uma alimentação equilibrada, prática de atividade física, cessação tabágica e perda de peso, uma vez que, frequentemente, as pessoas com diabetes têm excesso de peso. Tendo em conta que, frequentemente, os doentes têm pressão arterial elevada, além da redução do sal na alimentação, devem ser tratadas com medicamentos anti-hipertensores do grupo dos inibidores da enzima conversora da angiotensina ou dos inibidores dos recetores da angiotensina. Existem, atualmente, novos grupos de medicamentos que se tornaram essenciais no tratamento da nefropatia diabética, nomeadamente os inibidores SGLT2 ou os antagonistas dos recetores dos mineralocorticoides.

Os anti-inflamatórios de venda livre podem ser tóxicos para os rins?

Os anti-inflamatórios não esteroides levam à redução da filtração renal, ou seja, prejudicam a capacidade dos rins em filtrar o sangue. Enquanto pessoas com rins saudáveis conseguem tolerar essa redução, quem tem insuficiência renal, em especial em fases avançadas, podem ter complicações associadas. Quando se toma anti-inflamatórios sem indicação médica, existe um grande risco de falência renal aguda nas pessoas com doença renal crónica e, muitas vezes, necessitam de hemodiálise de urgência. Por isso, os anti-inflamatórios são contraindicados em doentes com insuficiência renal. O uso destes medicamentos deverá ser sempre discutido com o médico.

Uma pessoa com diabetes pode ser submetida a transplante renal?

O facto de ter diabetes não é uma contra-indicação para transplante renal. Aliás, em Portugal, cerca de 14% dos transplantes renais são em pessoas com diabetes.

E transplante de pâncreas?

As pessoas com diabetes tipo 1 podem ser eventualmente candidatas a transplante de pâncreas e, no caso de terem doença renal significativa, podem ser candidatas a transplante duplo de rim e pâncreas. Temos em Portugal no nosso Serviço Nacional de Saúde dois centros especialmente dedicados a estes transplantes: o Hospital de Santo António e o Hospital de Curry Cabral. Em 2021, foram efetuados 20 transplantes duplos de rim e pâncreas em Portugal.

Que mensagem gostaria de deixar a estes doentes?

É fundamental que as pessoas com diabetes compreendam que é possível viver com a doença, tendo uma vida feliz e plena e, ainda assim, evitar as complicações sérias associadas ao mau controlo da glicemia e da pressão arterial. Num país que quer cada vez mais colocar os cidadãos no centro da gestão da sua saúde, é importante que todas as pessoas com diabetes conheçam e exijam os exames que são necessários para avaliar as complicações da diabetes e tenham a capacidade de discutir os resultados com a sua equipa de saúde.