Com LUSA 12/04/23
A diretora-geral do Trabalho, Emprego e Formação Profissional da Guiné-Bissau, Assucenia Donate de Barros, admitiu hoje que o processo de formação de quadros do país é desorganizado sem privilegiar as necessidades de mão-de-obra do mercado.
A responsável falava na abertura da conferência nacional sobre o trabalho na Guiné-Bissau com enfoque nos jovens e nas mulheres, patrocinado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
A conferência, que decorre sob o lema "Empoderar e Capacitar" junta, num hotel de Bissau, cerca de 50 participantes, entre jovens e mulheres, até quinta-feira.
Na sua intervenção, a diretora-geral do Trabalho, Emprego e Formação Profissional destacou que na Guiné-Bissau a tendência é formar quadros, mas "sem se preocupar com profissões que fazem falta no dia-a-dia".
"A meu ver devemos apostar no setor primário da sociedade tendo em conta o país que nós temos, um país em desenvolvimento nas pescas, no turismo, nas infraestruturas, em vários outros setores da economia", observou.
Assucenia Donate de Barros deu como exemplo o facto de a Guiné-Bissau estar a formar "mestres e doutores em Direito", mas deixa de lado, disse, a formação profissional "de pessoas que sabem fazer".
"Formamos mestres em Direito por exemplo, mas não temos um eletricista, não temos um bom carpinteiro", notou a diretora-geral, que defendeu a necessidade de haver sinergias das instituições na elaboração da política do emprego para o país.
Assucenia de Barros propõe uma política virada para o futuro com aposta nas áreas que "realmente fazem falta", o que, disse, passa por uma melhor organização do mercado de trabalho.
"Na Guiné-Bissau verificamos que o mercado do trabalho está um pouco desorganizado, ou seja, existe a necessidade urgente de termos orientações técnicas, pedagógicas relativamente à demanda do mercado, pois estamos a formar e não estamos a conseguir absorver o que estamos a formar", frisou a responsável do Ministério da Administração Pública, Emprego, Trabalho e Segurança Social.
O representante do PNUD na Guiné-Bissau, Tjark Engenhoff, disse esperar que a conferência sirva para ajudar a levantar a autoestima e ainda a capacitar os participantes, sobretudo as mulheres.
Tjark Engenhoff defendeu ser urgente que na Guiné-Bissau sejam redesenhados os espaços que permitam a participação das mulheres e dos jovens na tomada de decisões.
O responsável da ONU apontou as eleições legislativas, marcadas para 04 de junho, como um momento privilegiado para uma "aplicação prática" da lei da paridade, aprovada pelo parlamento guineense em 2018 e que prevê a integração de 36% de mulheres nas listas de partidos como candidatas a deputadas.
A particularidade da lei é de que as mulheres devem ser colocadas em lugares onde poderão ser elegíveis.
As organizações da sociedade civil e as plataformas que congregam as mulheres têm acusado os partidos de desrespeito àquela lei.