As comemorações do dia da independência da Guiné-Bissau reuniram cerca de 15.000 pessoas
Grande evento no passado 24 de setembro reuniu mais de 15 mil pessoas, numa altura em que vigora o estado de calamidade e de emergência devido à Covid-19. "Foi uma tremenda irresponsabilidade", diz empresário.
As comemorações da data de independência nacional da Guiné-Bissau, no passado dia 24 de setembro, estão a ser fortemente criticadas. Numa altura em que vigora o estado de calamidade e de emergência de saúde pública até 8 de dezembro, o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, organizou o evento no maior estádio de futebol do país e juntou mais de 15 mil pessoas.
O evento ocorreu numa altura em permanecem interditas reuniões e manifestações com mais de 25 pessoas e encerrados locais de diversão, como discotecas, parques e piscinas, locais destinados à prática de atividades culturais e artísticas, campos e pavilhões, ginásios e escolas de artes marciais.
Esta segunda-feira (28.09), a alta comissária para a Covid-19 na Guiné-Bissau, Magda Robalo, disse que o Governo guineense tem de respeitar o seu próprio decreto e zelar pela implementação das medidas de prevenção da doença. Para Magda Robalo, o Estado guineense deve encorajar as pessoas a respeitarem o distanciamento físico, o uso obrigatório das máscaras e a lavagem das mãos com água e sabão.
Em entrevista à DW África, Carlos Uissa Correia, presidente da Associação dos Empreendedores Guineenses e proprietário da discoteca VIP, em Bissau, mostrou indignação com o posicionamento do Governo.
DW África: Como reage às comemorações da independência nacional, que causaram grandes aglomerações na Guiné-Bissau?
Carlos Uissa Correia (CUC): Fiquei muito indignado. Senti praticamente que todo o esforço feito pela nossa sociedade ao longo dos últimos seis meses não foi tido em conta. Como disse muito bem a alta comissária para a Covid-19, o Governo tem de respeitar o seu próprio decreto. E é verdade. Não se pode pedir aos cidadãos o sacrifício ao longo desses seis meses para depois não ser claramente um exemplo, um espelho daquilo que decretaram. Aquilo foi uma tremenda irresponsabilidade.
DW África: Considera que, com esta atitude do Estado da Guiné-Bissau, declarou-se unilateralmente o fim da pandemia no país?
A discoteca do empresário guineense Carlos Uissa está fechada há seis meses
CUC: Aquilo foi praticamente um tiro na própria perna. Ou seja, depois dessa tremenda irresponsabilidade e de transmitir tudo em direto na televisão pública da Guiné-Bissau, como é que o Estado, ou a própria Presidência, terá depois a moral de dizer aos cidadãos: 'Vamos decretar mais um estado de calamidade e exigir que não se pode aglomerar mais do que 25 pessoas num só sítio'?Podemos ver que a própria Presidência organizou um evento com mais de 15 mil pessoas sem nenhum distanciamento social. É impossível. É uma tremenda incoerência o Governo vir agora dizer que vai impedir aglomerar pessoas. Não só no 24 de setembro, mas também no domingo (27.09) - o Dia Internacional do Turismo - o próprio Governo, através do Ministério do Turismo, organizou um jantar com mais de 100 pessoas, com a presença de músicas, comes e bebes, como se tivéssemos numa situação normal. Isso é inadmissível.
DW África: O vosso negócio, em particular, está fechado. E agora?
CUC: O negócio está já fechado há seis meses. Por mês, eu continuo a pagar a renda de mil euros, fora o prejuízo da faturação por noite, que ronda mais de 20 mil euros. O próprio Estado nos abandonou. Ou seja, decretou as medidas [de isolamento], mas não há medidas adicionais para os empresários.
DW África: Vocês não tiveram nenhum apoio do Governo guineense?
CUC: Nenhum apoio e não há nenhuma medida pública, nem sequer uma linha de crédito, como noutros países de África, onde um fundo foi disponibilizado exatamente para dar uma resposta aos cidadãos. Estamos a falar de economia. A economia foi paralisada de um momento para o outro. Seis meses sem caixa, sem darem um mínimo de oxigénio aos empresários.
Quando digo isso, falo em nome de todos os empresários guineenses que estão neste momento a sofrer, porque não têm acesso ao crédito para poderem sustentar os seus negócios. Estes negócios estão, neste momento, a morrer. Como é que será daqui dois, três meses? Eu emprego 18 pessoas, são 18 famílias. E como fica a questão do alvará do estabelecimento?