Alto dirigente da Juventude Africana Amílcar Cabral (JAAC), estrutura juvenil do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), denunciou ao Capital News, alegadas irregularidades, supostos atos de corrupção e de preparação fraudulenta do próximo congresso daquela organização de massa dos “libertadores”.
As denúncias da fonte, sob anonimato, recaem na alegada má gestão finceira, na suposta incapacidade do secretário-geral da JAAC, Dionísio Pereira, em mobilizar mais jovens para a estrutura e no “uso irracional” da viatura da organização, numa altura em que se aproxima o congresso que está a ser preparado de forma “fraudulenta”.
“A Juventude Africana Amílcar Cabral recebeu 150 milhões de Francos CFA, da direção do PAIGC, para as campanhas da primeira e segunda volta das eleições presidenciais de 2019, mas não há resultados concretos e não se sabe realmente como esse fundo foi gerido, porque as estruturas regionais da JAAC nada tinham para as suas atividades, durante as campanhas”, disse o denunciante.
Aquele alto dirigente da JAAC fala ainda em fundos da organização, destinados para as atividades da estrutura, mas que foram parar nas universidades, para pagar propinas de alguns dirigentes da Juventude Africana Amílcar Cabral, o que constitui corrupção e violação dos princípios.
“Contrariamente aos estatutos da JAAC, o secretário-geral não foi capaz, desde 2017, ano em que foi eleito, prestar as contas aos membros, pondo também de lado o princípio de crítica e autocrítica, disse a fonte. O que está nos estatutos é que a direção deve prestar contas aos membros da JAAC, todos os anos, até ao fim do mandato. Mas isso não aconteceu”, afirma.
Na mesma sequência de denúncias, o interlocutor do Capital News diz que a viatura dada pela direção do PAIGC, à JAAC, não é utilizada para os assuntos da estrutura juvenil, mas sim para assuntos pessoais do secretário-geral, Dionísio Pereira, obrigando assim alguns dirigentes e membros, que, para entregar correspondências a algumas instituições, são obrigados a apanhar táxis, enquanto o carro está sob controlo de Pereira.
Outro caso denunciado tem a ver com alegadas violações dos estatutos e nomeações de dirigentes para os departamentos da JAAC, “sem ouvir” os respectivos responsáveis.
“Imagine que você é responsável de uma valência (departamento) da JAAC, mas não é ouvido sobre nada. De uma hora para outra, o secretário-geral aparece e faz nomeações na sua valência, se ser você que é responsável da mesma ser consultado e sem o seu consentimento”, denunciou.
Relativamente ao congresso da Juventude Africana Amílcar Cabral, previsto para novembro próximo, o denunciante diz que tudo está a ser feito “à moda Dionísio”, para beneficiar o secretário-geral cessante, que também pretende candidatar-se para o segundo mandato.
A título de exemplo, esse dirigente da JAAC afirma que: “A escola Política Ideológica, que não é uma estrutura, em termos dos estatutos do PAIGC e nem dos da JAAC, vai ter 10 delegados para o próximo congresso, para beneficiar Dionísio Pereira, enquanto algumas regiões, como a de Quínara e Tombali, vão ter 15 delegados cada, apesar das suas dimensões geografias e estruturas que têm”, afirma.
Previamente, o secretário-geral da JAAC, Dionísio Pereira, disse ao CNEWS que remete para o porta-voz da organização, a reação sobre as notícias publicadas pelo jornal, relacionadas com aquela estrutura do PAIGC.
E o Capital News contactou o porta-voz da Juventude Africana Amílcar Cabral, Ussumane Camará, que prontamente reagiu a esse bloco de acusações e negou tudo:
“Em nenhuma circunstância o secretário-geral da JAAC, Dionísio Pereira, usou fundos da organização para pagar propinas de alguns dirigentes da JAAC. O que aconteceu, sim, foi que enquanto dirigente da Juventude usou em algumas situações seus recursos pessoais, ou recursos angariados com o apoio do Presidente do Partido, para ajudar alguns militantes da JAAC a custear os estudos, num espírito de solidariedade”, começou por dizer o dirigente que teve todo o tempo para prosseguir com o desmentido:
“Não se deve criar equívocos entre o que são recursos financeiros do secretário-geral, camarada Dionísio Pereira, e os recursos financeiros da JAAC. Este fato pode ser comprovado através dos relatórios do Departamento de administração e finanças, sobre origem dos fundos que foram geridos pelo Departamento”, disse.
Sobre os fundos das campanhas eleitorais para as eleições presidenciais, tuso claro, garante o porta-voz da JAAC, Ussumane Camará, que explicou:
“O secretário-eral da JAAC nunca se envolveu diretamente na gestão dos fundos das campanhas da primeira e segunda volta das eleições presidenciais de 2019. Toda a gestão administrativa e financeira da campanha foi feita pela Diretoria Nacional da Campanha da JAAC. Em nenhum momento, durante estes quatro anos, o secretário-geral, camarada Dionísio Pereira, liderou uma Comissão Organizadora de qualquer atividade por nós organizada. Pelo contrário, sempre exerceu os seus bons ofícios no sentido de apoiar as diferentes Comissões Organizadoras a angariar fundos para viabilizar as atividades da JAAC. Alias, o SG só podia justificar os fundos através dos relatórios de contas dos diferentes Departamentos ao nível do Secretariado por ele coordenado e das Comissões Organizadoras criadas pelo Secretariado do Conselho Central, para organizar diferentes eventos”, disse Camará.
O desmentido foi ainda mais esticado:
“Nos últimos quatro anos, a Direção Superior do PAIGC desbloqueou fundos para a JAAC, como também para outras estruturas do Partido. No entanto, a Direção da JAAC fez uma boa gestão dos mesmos, o que mereceu a aprovação da Direção Superior do Partido e do Prsidente do PAIGC”, explica.
A alegada má gestão do património, denunciada pela fonte do Capital News, foi esclarecida pelo também responsável dos assuntos políticos e estratégicos, Ussumane Camará:
“Em relação à gestão do património da JAAC, importa salientar que também houve uma gestão criteriosa, segundo consta nos relatórios de diferentes Departamentos e Comissões Organizadoras”, afirma.
Na linha das acusações desmentidas pelo porta-voz da JAAC consta o facto de alegadamente a atual direção e o secretário-geral não conseguem mobilizar mais jovens para aquela estrutura do PAIGC:
“Depois de 33 anos sem organizar o seu congresso, a JAAC perdeu quase toda a sua estrutura de base e o número de jovens com idades compreendidas entre 15 e 35 anos na estrutura da organização era insignificante para uma organização da natureza da JAAC. Este fato motivou, em 2017, o inicio de um processo de criação das estruturas e de mobilização de jovens para ingressarem nas bases da JAAC e do PAIGC, cujo resultados se traduziram na criação de 2.633 novas bases a nível nacional e na diáspora”, diz Ussumane Camará, que garante que o processo para a criação dessas bases foi liderado por Dionísio Pereira.
Quanto ao congresso “fraudulento” em preparação, como denunciou a fonte do CNEWS, mais um desmentido de Ussumane Camará:
“O Conselho Central da JAAC, órgão máximo da organização entre os Congressos, criou e empossou a Comissão Organizadora com o objetivo de criar condições adequadas para a realização de um Congresso à altura da organização, permitindo uma concorrência livre, justa e transparente. Só quem esteja de má-fé, ou tenha intenções deliberadamente obscuras, poderá, nesta fase, referir-se a um pretenso Congresso fraudulento a favor do SG”, afirma Camará.