© Reuters
POR LUSA 28/11/22
Um general iraniano reconheceu hoje a morte de mais de 300 pessoas durante os protestos que decorrem em todo o país em defesa dos direitos humanos, sendo as primeiras declarações oficiais sobre o número de baixas em dois meses.
Esta estimativa é consideravelmente menor do que o número relatado pela organização não-governamental (ONG) Iran Human Rights, um grupo com sede nos EUA que acompanha de perto os protestos desde que estes eclodiram após a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, sob custódia da chamada polícia da moral em Teerão, por ter legalmente violado o código rígido de imposto de vestuário às mulheres na República Islâmica.
O grupo ativista refere que 451 manifestantes e 60 elementos das forças de segurança foram mortos desde o início dos choques e que mais de 18.000 pessoas foram detidas.
Os protestos em todo o país foram desencadeados pela morte desta jovem, mas rapidamente se transformaram em apelos à queda da teocracia islâmica que governa o Irão desde a revolução de 1979.
O general Amir Ali Hajizadeh, comandante da divisão aeroespacial da Guarda Revolucionária, corpo paramilitar do Irão, adiantou a um 'site' próximo desta força de segurança interna que mais de 300 pessoas foram mortas, incluindo "mártires", uma aparente referência às forças de segurança.
A mesma fonte também sugeriu que muitos dos mortos eram iranianos comuns não envolvidos nos protestos.
Hajizadeh não forneceu um número exato ou revelou quais os dados que sustentam a sua estimativa.
Este comandante reiterou a alegação oficial de que os protestos foram fomentados por inimigos do Irão, incluindo países ocidentais e a Arábia Saudita, sem fornecer provas.
No entanto, os manifestantes dizem estar fartos de décadas de repressão social e política e negam ter qualquer agenda estrangeira.
Os protestos se espalharam por todo o país e atraíram o apoio de artistas, atletas e outras figuras públicas.
A sobrinha do líder supremo do Irão, o 'ayatollah' Ali Khamenei, pediu recentemente às pessoas que pressionem os seus governos a cortar os laços com Teerão por causa da violenta repressão às manifestações.
Num vídeo divulgado 'online' pelo seu irmão que mora na França, Farideh Moradkhani instou "pessoas conscientes do mundo" a apoiar os manifestantes iranianos.
O vídeo foi partilhado esta semana, após a alegada detenção de Moradkhani em 23 de novembro, de acordo com o grupo ativista.
Os protestos, agora no seu terceiro mês, enfrentaram uma repressão brutal das forças de segurança iranianas que utilizaram munições reais, balas de borracha e gás lacrimogéneo para reprimir as manifestações.
O Governo do Irão anunciou hoje que não vai cooperar com a missão independente das Nações Unidas que se prepara para investigar as violações contra as liberdades fundamentais no país após a morte do jovem Mahsa Amini.
"O Irão não vai cooperar de nenhuma forma com a missão sobre certos problemas com os direitos humanos", disse em conferência de imprensa o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Naser Kanani.
"Teerão condena o uso impulsivo das questões sobre direitos humanos contra nações independentes", sublinhou o porta-voz diplomático iraniano.
A resolução estabelece a criação de uma missão independente de investigação que vai ter como objetivo "recolher e analisar provas" de violação dos direitos humanos na sequência da repressão.