segunda-feira, 8 de abril de 2024

Rússia e China acusam EUA de dar "carta branca" a Israel para "matança"

© ANGELA WEISS / AFP) (Photo by ANGELA WEISS/AFP via Getty Images

POR LUSA  08/04/24 

A Rússia e a China argumentaram hoje que tentaram travar a "matança" em Gaza vetando uma resolução proposta por Washington no Conselho de Segurança da ONU que dava "carta-branca a Israel para continuar a ação desumana" no enclave.

Numa sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU) em que tiveram de justificar o veto que aplicaram em 22 de março a uma resolução norte-americana que "determinava" o "imperativo de um cessar-fogo imediato e sustentado" em Gaza, a Rússia e China, ambos membros permanentes do órgão, acusaram Washington de tentar "chantagear" o Conselho de Segurança.

"O documento que os nossos colegas americanos tentaram forçar o Conselho de Segurança da ONU a adotar em 22 de março através de intriga e chantagem não só não continha uma exigência direta a um cessar-fogo, mas na verdade emitia uma espécie de licença para matar ainda mais palestinianos", advogou o vice-representante permanente da Rússia na ONU, Dmitriy Polyansky.

"É significativo que o documento americano também tenha explicitado a possibilidade de Israel realizar operações futuras em Gaza, desde que minimize os danos aos civis. No contexto dos planos abertos de Israel para atacar Rafah e do terrível número de vítimas civis desde o início do conflito, incluindo mulheres e crianças, a proposta americana foi chocante no seu cinismo", acrescentou.

Também o embaixador chinês Dai Bing declarou que, caso fosse aprovada, a resolução norte-americana significaria a continuação da "matança em Gaza" e das "violações do direito internacional e do direito humanitário internacional".

De acordo com o representante de Pequim, a China não hesitará em exercer o seu poder de veto contra projetos de resolução que resultem em graves consequências para os palestinianos.

Ambos os diplomatas recordaram que, depois do veto à resolução norte-americana, o Conselho de Segurança conseguiu aprovar uma outra resolução a exigir um cessar-fogo em Gaza - mas que ainda não foi implementada.

Os embaixadores frisaram que essa resolução, tais como todas as resoluções do Conselho de Segurança, "são vinculativas e devem ser totalmente implementadas".

Estas declarações surgem depois de Washington ter causado polémica ao dizer que a resolução aprovada não era vinculativa.

No domingo, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reiterou que não haverá trégua sem que os 133 reféns ainda detidos pelo Hamas regressem a casa, acrescentando que Israel não vai ceder a "exigências extremas" dos islamitas.

A 07 de outubro do ano passado, combatentes do Hamas -- desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel -- realizaram em território israelita um ataque de proporções sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.163 mortos, na maioria civis, e 250 reféns, cerca de 130 dos quais permanecem em cativeiro e 34 terão entretanto morrido, segundo o mais recente balanço das autoridades israelitas.

Em retaliação, Israel declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre ao norte do território, que depois se estendeu ao sul.

A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 185.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza mais de 33.200 mortos, quase 76.000 feridos e cerca de 7.000 desaparecidos presumivelmente soterrados nos escombros, na maioria civis, de acordo com o último balanço das autoridades locais.

O conflito fez também quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que já está a fazer vítimas - "o número mais elevado alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.



Leia Também: Israel considerou hoje que a possibilidade de a Palestina se tornar um Estado-membro da ONU e não um mero observador, como acontece atualmente, é "uma violação flagrante da Carta das Nações Unidas" e que "perpetua o conflito".



GUINÉ-BISSAU: Presidente guineense em visita de Estado ao Gana para debater cooperação

POR LUSA   
08/04/24 

O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, está a realizar hoje uma visita de Estado ao Gana para discutir com o seu homólogo ganês, Nana Akufo-Addo, a possibilidade de cooperação nas áreas das pescas, agricultura, educação, defesa e segurança.
Presidente guineense em visita de Estado ao Gana para debater cooperação

De acordo com fonte da presidência guineense, Sissoco Embaló e Akufo-Addo discutem, nesta visita de um dia, de que forma a Guiné-Bissau e o Gana poderão cooperar nessas áreas, adiantando que uma "grande comissão mista" entre os dois países deverá reunir-se "muito brevemente".

Ao chegar a Acra, Embaló e Addo reuniram-se à porta fechada, tendo o chefe de Estado guineense afirmado, à saída do encontro, que os dois países partilham os mesmos valores e objetivos da paz, estabilidade política, crescimento económico, desenvolvimento social e prosperidade.

"O Gana ocupa um lugar especial no coração do povo da Guiné-Bissau, pois o seu país é o farol da emancipação africana e abriu caminho para a libertação e independência dos povos da África", disse o Presidente guineense.

Falando na presença de Nana Akufo-Addo, Umaro Sissoco Embaló disse que, enquanto países do Sahel, Guiné-Bissau e Gana enfrentam desafios como "terrorismo, tráfico de droga e promoção da democracia e boa governação".

"Estou aqui para reiterar a nossa convicção de que, juntos, trabalhando de mãos dadas, num espírito de fraternidade, complementaridade e solidariedade, podemos alcançar muitos objetivos importantes", salientou o líder guineense.

Sobre a Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) e a União Africana, Umaro Sissoco Embaló afirmou que ambos concordaram na necessidade de se avançar para reformas nas duas organizações.

"A Guiné-Bissau apoia as propostas do Gana para estabelecer instituições financeiras sólidas em África, como um Banco Central Africano, um Banco de Investimento Africano, um Fundo Monetário Africano e uma Agência de Seguros Pan-Africana", defendeu.

Estas reformas, disse, poderão trazer para o continente africano, entre outros resultados, a segurança alimentar, aumento das trocas comerciais, uma área de livre comércio, aumento do valor dos recursos naturais, gerando emprego para a juventude.

Umaro Sissoco Embaló e Nana Akufo-Addo assumiram o compromisso de que a Guiné-Bissau e o Gana "podem e devem" desempenhar um papel importante na promoção de entendimento, boa vizinhança, resolução pacífica de conflitos e cooperação na África Ocidental e no resto do continente.


Leia Também: Ex-diretora dos Impostos da Guiné-Bissau detida por suspeita de corrupção 


Foi lançado oficialmente o VIII° Congresso Internacional de Educação Ambiente da Comunidade dos Países da Lingua Portuguesa CPLP que terá lugar entre os dias 21 à 26 de Julho de 2025 em Galiza.

 Radio TV Bantaba

Esses robôs avançados estão me deixando com medo do futuro!

 
@Nifty & Thrifty

No âmbito da Visita de Estado a Gana, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, foi recebido pelo homólogo Nana Dankwa Akufo-Addo, na Jubilee House, em Accra, numa cerimónia oficial de boas-vindas. Foram prestadas Honras Militares, com a execução dos Hinos Nacionais dos dois países e desfile da Guarda de Honra.

O chefe de Estado manteve ainda um encontro restrito com o Presidente Nana Akufo-Addo, seguido do encontro bilateral entre as duas delegações técnicas no quadro do reforço das relações de cooperação mentre Bissau e Accra, particularmente, nas áreas das pescas, agricultura, educação, defesa e segurança 🇬🇼🇬🇭 


Presidência da República da Guiné-Bissau

África precisa "fazer as coisas de forma diferente" na área agroalimentar

© Lusa

POR LUSA   08/04/24  

O diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, alerta para a necessidade de o continente africano "fazer as coisas de forma diferente" e explorar o "potencial da ciência, da tecnologia digital e inovação" para "transformar os seus sistemas agroalimentares".

Num artigo de opinião divulgado hoje pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), em Roma, o diplomata chinês chamou a atenção para o "momento crucial para a ação coletiva" em que se realiza a 33.ª Sessão da Conferência Ministerial Regional da FAO para África (ARC33), de 18 a 20 de abril em Marrocos.

"Trata-se de um momento crucial para a ação coletiva", escreveu Qu Dongyu, exortando nações africanas, representadas pelos seus ministros da Agricultura, "a aproveitarem a dinâmica da transformação dos sistemas agroalimentares para obterem benefícios a nível da segurança alimentar e da nutrição, da economia e da igualdade, do ambiente e da resiliência".

"Se quisermos corrigir o rumo em África, é necessário fazer as coisas de forma diferente. As soluções da ciência, da tecnologia digital e da inovação oferecem um potencial estimulante. O sucesso requer um esforço coletivo dos governos, das organizações da sociedade civil, do setor privado, dos parceiros da ONU e das comunidades locais", resumiu.

A conferência irá debater as recomendações recolhidas pela FAO em consultas com a sociedade civil, incluindo organizações de agricultores, e com o setor privado, ao longo de fevereiro e março últimos, que "ajudarão a moldar os debates" no evento, segundo o diplomata.

"África é um continente de enormes oportunidades", domina a lista das 20 economias de crescimento mais rápido do mundo e "a Zona de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA, na sigla em inglês) promete impulsionar o comércio intra-africano e estimular ainda mais o crescimento económico", sublinha Qu Dongyu.

A Conferência Ministerial Regional da FAO para África constitui uma das principais plataformas continentais para partilha de perspetivas e experiências no domínio dos sistemas agroalimentares, assim como uma rede para o estabelecimento de parcerias estratégicas e maiores investimentos no setor no continente africano.

"Através da Iniciativa Mão-na-Mão da FAO, estamos a promover parcerias estratégicas entre países e investidores para desbloquear os estrangulamentos na produção e no comércio agrícolas", aponta Qu Dongyu.

"No último biénio, a FAO mobilizou mais de 900 milhões de dólares para os sistemas agroalimentares em África, mais de 60% acima do nosso objetivo. Neste biénio, o nosso objetivo é ainda maior", exaltou.


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PAIGC CONDENA “SISTEMÁTICAS” INTERVENÇÕES DE CHEFIAS MILITARES NA POLÍTICA

Por  radiosolmansi.net  08/04/2024 

O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) condena "com veemência", “sistemáticas” intervenções das chefias Militares na Política, o que viola flagrantemente o seu papel republicano estabelecido na Constituição da República. 

A condenação do PAIGC consta num comunicado à imprensa, assinado, hoje, pela vice-presidente, Dan Ialá, onde alerta que, nos últimos 10 anos, tem-se assistido intromissões sistemáticas de alguma liderança das Forças Armadas na política, com discursos tendenciosos em defesa de um órgão de soberania, caucionado todas as decisões tomadas mesmo com colisão frontal com a Constituição e as leis da República.

No comunicado, o PAIGC exige o distanciamento das Forças Armadas da Presidência da República exortando-lhes a cumprir, escrupulosamente, o seu papel de guardiãs na defesa das instituições da soberania, sem prejuízo e observância do princípio de separação de poderes.

Igualmente, o partido vencedor das últimas legislativas no país, condena “vementemente” aquilo que apelida de triste retórica de alguma liderança das Forças Armadas nas recentes visitas aos aquartelamentos militares, durante as quais colocando-se no papel de políticos e advogados da Presidência da República.

O PAIGC responsabiliza ainda as chefias do Estado-maior General das Forças Armadas pelas eventuais consequências que possam advir desta postura que o partido considera de antidemocrática e anti republicana, colocando em causa a integridade física dos dirigentes do PAIGC, alguns deles visados nas intervenções públicas ocorridas nas aludidas visitas aos quartéis.

Diante desta situação, o PAIGC exige que as forças armadas se distanciam do jogo político, reservando o mesmo tratamento aos titulares dos órgãos de soberania, sujeitando-se ao Princípio de Separação dos poderes.

Ainda na mesma nota, consultada pela nossa redação, pode-se ler que o partido liderado por Domingos Simões Pereira  diz estar disponível em manter um bom e são relacionamento institucional com as Forças Armadas, exigindo que esta instituição assuma o seu comprometimento com os valores e princípios que nortearam a sua criação e adequação ao contexto do multipartidarismo.

O partido sustenta a sua nota diante da recente visita do Vice Chefe de Estado-maior General das Forças Armadas a algumas unidades militares que foi “bastante elucidativa e reveladora desta atitude deliberada das Forças Armadas em defender, unicamente, a alegada legitimidade do presidente da República, invocando o veredito das urnas, ignorando propositada e explicitamente os eleitos do povo junto a Assembleia Nacional Popular e o governo, orgãos cuja constituição decorrem do mesmo veredito popular, exprimindo-se publicamente sobre mais uma proposta tentativa de Golpe de Estado em preparação”.

O PAIGC sustenta na sua nota que nos últimos anos a instrumentalização das forças armadas têm acentuado com alimentadas denúncias de tentativas de Golpe de Estado, não sendo capaz de apresentar evidências, “como aconteceu no caso de 01 de fevereiro de 2022 e 01 de dezembro de 2023, até hoje com contornos por esclarecer e provas por apresentar”.

Por: Elisangila Raisa Silva dos Santos Camará

Missão da UE no Mar Vermelho escoltou 68 navios e repeliu 11 ataques

© Israel Defense Forces/Anadolu via Getty Images

 POR LUSA   08/04/24 

A missão da União Europeia (UE) para acompanhar embarcações no Mar Vermelho escoltou, em dois meses, 68 navios e repeliu 11 tentativas de ataque de milicianos huthi, anunciou hoje o Alto Representante para os Negócios Estrangeiros.

Em conferência de imprensa, em Bruxelas, Josep Borrell revelou que, desde o início, a missão "Aspides" ("escudo" em grego) "conseguiu escoltar 68 embarcações e repeliu 11 tentativas de ataque" de elementos das milícias iemenitas houthi.

A Alto Representante para a Política de Segurança do bloco comunitário acrescentou que 19 dos 27 países da UE contribuíram com militares e pessoal especializado para construir a missão.

O aumento das tensões no Médio Oriente, desencadeado pela guerra de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza levou os huthis a atacarem embarcações de transporte de carga no Mar Vermelho, como maneira de exercer pressão para o fim da intervenção militar israelita.

Israel retaliou contra o Hamas depois dos ataques do grupo islamita Hamas no dia 07 de outubro de 2023, em que cerca de 1.200 pessoas foram mortas e mais de duas centenas sequestriadas.

Na conferência de imprensa de hoje, Josep Borrell insistiu que a UE não está em conflito com os huthi, apenas está a escoltar embarcações, para que haja, tanto quanto possível, menos disrupções ao comércio mundial.



Leia Também: EUA abateram cinco 'drones' Houthi após ataque a petroleiro chinês  



Porque é que a “biologia da ressurreição” está a ganhar tração em todo o mundo

Vírus antigo do pergelissolo isolado por cientistas 

Por  Cnnportugal.iol.pt Katie Hunt  08/04/2024

A biologia da ressurreição – que tenta trazer de volta à vida cadeias de moléculas e organismos mais complexos – está a ganhar tração em laboratórios de todo o mundo.

O trabalho está muito longe dos dinossauros geneticamente modificados que conseguem escapar no blockbuster “Jurassic Park”, ainda que para alguns cientistas o objetivo final seja reverter a extinção e ressuscitar animais e plantas que já foram perdidos.

Outros investigadores estão a olhar para o passado em busca de novas fontes de medicamentos ou para soar alarmes quanto à possibilidade de patógenos há muito inativos. Este campo de estudo também pretende recriar elementos da história humana na tentativa de melhor entender como é que os nossos antepassados poderão ter vivido e morrido.

Aqui estão quatro projetos de investigação fascinantes deste campo emergente que foi lançado ou que conquistou progressos significativos em 2023.

Reavivar vírus “zombies”

As temperaturas a aquecer no Ártico estão a descongelar o pergilissolo da região – uma camada gélida do solo sob a superfície – e potencialmente a pôr a mexer vírus que, após terem estado adormecidos durante dezenas de milhares de anos, podem pôr em risco a saúde animal e humana.

Jean-Michel Claverie, um professor emérito de medicina e genómica na Escola de Medicina da Universidade Aix-Marseille, em França, está a tentar compreender melhor os riscos representados pelo que descreve como “vírus zombies” ao ressuscitar vírus de amostras terrestres da Sibéria.

Núcleos da terra perfurados no pergelissolo da Sibéria foram analisados para detetar vírus congelados (Jean-Michel Claverie/IGS/CNRS-AM)

Claveria encontrou uma forma de reavivar um vírus em 2014 que ele e a sua equipa isolaram do pergelissolo, tornando-o infeccioso pela primeira vez em 30 mil anos ao inseri-lo em células de cultura. Na sua mais recente investigação, publicada em fevereiro, Claverie e a sua equipa isolaram várias estirpes do vírus antigo a partir de múltiplas amostras da terra que representavam cinco novas famílias de vírus. Por questões de segurança, optou por estudar um vírus que apenas tem a capacidade de afetar amebas de célula única, mas não animais nem humanos.

O mais antigo tinha quase 48.500 anos, com base na datação do solo por radiocarbono, e veio de uma antiga amostra terrestre retirada de um lago do subsolo 16 metros abaixo da superfície. As amostras mais jovens, encontradas nos conteúdos estomacais e na parede do estômago dos restos mortais de um mamute-lanoso, tinham 27 mil anos.

O facto de aqueles vírus que afetam amebas continuarem infecciosos tanto tempo depois é um sinal de uma séria potencial ameaça à saúde pública, diz Claverie.

“Vemos estes vírus que infetam amebas como substitutos de todos os outros possíveis vírus que podem estar no pergilissolo”, disse Claverie à CNN no início do ano.

“O nosso raciocínio é o de que, se vírus que infetam amebas ainda estão vivos, então não há qualquer motivo para outros vírus não estarem também vivos, e com capacidade de infetar os seus próprios hospedeiros.”

Caça por novos antibióticos remonta à idade do gelo

Para o pioneiro de bioengenharia César de la Fuente, professor assistente presidencial na Universidade da Pensilvânia (UPenn), o passado é uma fonte de oportunidades que abriu uma nova frente na luta contra superbactérias resistentes a medicamentos.

Os avanços na recuperação de ADN antigo de fósseis significam que livrarias detalhadas de informação genética sobre parentes dos humanos já extintos e animais há muito perdidos estão agora disponíveis publicamente.

O grupo de biologia mecânica que lidera na UPenn usa soluções computacionais baseadas em inteligência para extrair esta informação genética e identificar pequenas proteínas, ou péptidos, moléculas que ele acredita que contêm poderes de combate a bactérias. Ele descobriu compostos promissores de criaturas da idade do gelo e dos Neandertais, como o mamute-lanoso e a preguiça gigante.

Moléculas antigas, incluindo de parentes extintos dos humanos como os Neandertais, podem oferecer uma esperança no combate a superbactérias (Mike Kemp/In Pictures/Getty Images)

“Permitiu-nos descobrir novas sequências, novos tipos de moléculas que não tínhamos descoberto anteriormente em organismos vivos, expandindo a forma como pensamos sobre a diversidade molecular”, disse De la Fuente. “As bactérias de hoje nunca se confrontaram com aquelas moléculas, pelo que isto pode representar uma oportunidade melhor de atacar os patógenos que são problemáticos atualmente.”

A maioria dos antibióticos vem de bactérias e fungos e foi descoberta através de uma seleção de microrganismos que vivem no solo. Mas em décadas recentes, os patógenos tornaram-se resistentes a muitos medicamentos face ao seu uso excessivo de forma generalizada.

Apesar de a abordagem de De La Fuente ser pouco ortodoxa, a urgência em identificar possíveis candidatos nunca foi tão grande à medida que a população global enfrenta quase 5 milhões de mortes a cada ano associadas à resistência microbial, como indica a Organização Mundial da Saúde.

Rastreando a ressurreição do dodo, do mamute-lanoso e do tigre da Tasmânia

As extinções estão a acontecer a um ritmo cada vez mais rápido. Para alguns cientistas, o caminho para estancar esta perda pode estar em tentar ressuscitar criaturas perdidas do passado.

A startup de biotecnologia e engenharia genética Colossal Biosciences anunciou em janeiro que quer trazer de volta o dodo – um pássaro de aspeto estranho que não voa e que viveu nas Ilhas Maurícias, no Oceano Índia, até ao final do século XVII – e reintroduzi-lo no seu, em tempos, habitat nativo.

O dodo é uma de várias criaturas extintas que a Colossal Biosciences está a tentar ressuscitar (Ranjith Jayasena)

A empresa está a trabalhar noutros projetos igualmente ambiciosos que vão incorporar avanços na sequenciação de ADN antigo, na tecnologia de edição genética e na biologia sintética para trazer de volta o mamute-lanoso e o tilacino, ou tigre da Tasmânia.

Os geneticistas da Colossal Biosciences descobriram células que atuam como precursoras de ovários ou testículos no pombo-de-nicobar, o parente vivo mais próximo do dodo, que conseguem desenvolver-se com sucesso num embrião de galinha. Os cientistas estão agora a investigar se estas células – chamadas células primordiais, ou PGCs – podem ser transformadas em esperma e óvulos.

A empresa planeia comparar os genomas do dodo e do solitário-de-rodrigues, um pássaro extinto muito próximo do dodo, para identificar de que forma diferem um do outro. Depois vão editar as PGCs do pombo-de-nicobar para que expresse as características físicas de um dodo.

As células editadas serão posteriormente inseridas em embriões de uma galinha e de um galo estéreis. Com a introdução das PGCs editadas, a galinha e o galo serão capazes de se reproduzir e, em teoria, a sua descendência irá assemelhar-se ao dodo graças ao ADN hibridizado de pombo nos seus sistemas reprodutores.

“Fisicamente, o dodo restaurado será indiscernível do que sabemos que era a aparência dos dodos”, disse Matt James, que chefia a investigação animal na Colossal Biosciences, à CNN num email enviado em novembro.

Mesmo que os investigadores tenham sucesso neste empreendimento de alto risco, não vão estar a produzir uma cópia de carbono do dodo que viveu há quatro séculos mas, em vez disso, uma forma híbrida alterada.

A Colossal Biosciences fez uma parceria com a Fundação de Vida Selvagem das Maurícias para conduzir um estudo de viabilidade que permita avaliar a melhor localização para as aves caso a experiência tenha sucesso. Contudo, encontrar-lhes um lar poderá provar-se desafiante.

A República das Ilhas Maurícias é relativamente pequena e mudou significativamente desde que o dodo foi extinto.

“Apesar de ser um dos mais famosos pássaros do mundo, continuamos a não saber praticamente nada sobre o dodo, portanto é impossível saber como interagia com o seu ambiente”, diz Julian Hume, paleontólogo de aves e investigador associado do Museu de História Natural de Londres, que estudou o pássaro.

“Dada a complexidade de recriar uma espécie a partir de ADN, mesmo que seja possível só pode resultar numa criatura semelhante ao dodo. Serão depois necessários anos de reprodução seletiva para melhorar o pequeno pombo e transformá-lo num grande pássaro que não voa. Note-se que a natureza levou milhões de anos para que isto acontecesse com o dodo”, acrescenta.

A que cheiravam as múmias egípcias


Um dos dois frascos canópicos que integram a coleção do Museu August Kestner em Hanover, na Alemanha, em tempos contiveram resquícios da antiga nobre egípcia Senetnay (Christian Tepper/Museu August Kestner)

Quem visita o Museu Moersgaard da Dinamarca pode cheirar o aroma de um bálsamo de mumificação egípcio usado pela última vez há 3.500 anos.

O cheiro evocativo foi recriado a partir de ingredientes identificados num estudo de resíduos de dois frascos canópicos encontrados no Vale dos Reis, no Egito, em 1900. Os dois frascos contiveram em tempos os resquícios de uma antiga mulher egípcia da nobreza conhecida como Senetnay.

As receitas exatas usadas no processo de mumificação são alvo de debate há muito, porque os textos antigos do Egito não identificam os ingredientes precisos.

A investigação, liderada por Barbara Huber, uma investigadora e doutoranda em química arqueológica no Instituto Max Planck de Geoantropologia na Alemanha, identificou os ingredientes do bálsamo através de uma série de técnicas analíticas altamente avançadas.

Ela descobriu que os bálsamos continham cera de abelha, óleos de plantas, gorduras de animais, resinas e betume, um produto petrolífero ocorrido naturalmente. Compostos como a cumarina e o ácido benzóico também foram detetados. A cumarina, que tem um aroma a baunilha, é encontrado em plantas de ervilha e na canela, ao passo que o ácido benzóico ocorre em resinas e gomas de árvores e arbustos.

Os bálsamos dos dois frascos diferem ligeiramente, o que significa que diferentes ingredientes poderão ter sido usados consoante o órgão que estava a ser preservado.

No frasco usado para armazenar os pulmões de Senetnay, os investigadores detectaram resinas fragrantes de lariços e algo que tanto pode ser dammar de árvores encontradas na Índia e no Sudeste Asiático ou resina de árvores Pistacia que pertencem à família dos cajus.

“A presença de uma gama tão vasta de ingredientes, incluindo substâncias exóticas como o dammar ou a resina da árvore Pistacia, indica que materiais extremamente raros e caros foram usados para a embalsamar”, disse Hubber à CNN quando a investigação foi publicada em agosto. “Isto aponta para o estatuto excecional de Senetnay na sociedade.”

O aroma foi depois recriado com a ajuda da perfumista francesa Carole Calvez e da museóloga sensorial Sofia Collette Ehrich.

“Da primeira vez que me deparei com o aroma, foi uma experiência profunda e quase surreal”, disse Huber.

“Após ter passado tanto tempo imersa em investigações e análises, finalmente ter uma conexão aromática tangível ao mundo antigo foi comovente. Foi como segurar um eco leve eco do passado.”

Ashley Strickland e Tom Page da CNN contribuíram para este artigo

Coreia do Sul lança segundo satélite espião militar

© iStock

POR LUSA   08/04/24 

A Coreia do Sul lançou, dos Estados Unidos, o segundo satélite espião militar para o espaço, anunciou o governo sul-coreano.

O lançamento de domingo ocorre dias depois de a Coreia do Norte ter reafirmado a intenção de lançar vários satélites de reconhecimento este ano.

Seul e Pyongyang lançaram, no ano passado, os primeiros satélites espiões, para aumentar a capacidade de vigilância mútua e de ataque com mísseis. A Coreia do Norte concretizou o lançamento em novembro e a Coreia do Sul no mês seguinte.

O segundo satélite espião de Seul foi lançado do Centro Espacial Kennedy, no estado norte-americano da Flórida.

O Ministério da Defesa da Coreia do Sul afirmou que o satélite se separou com sucesso do foguetão, de acordo com um comunicado.

O departamento governamental sul-coreano vai agora verificar se o satélite funciona corretamente através das comunicações com uma estação terrestre no estrangeiro.

Ao abrigo de um contrato com a fabricante norte-americana SpaceX, a Coreia do Sul devia lançar cinco satélites espiões até 2025. O primeiro lançamento, a 01 de dezembro, foi executado a partir da Base da Força Espacial de Vandenberg, na Califórnia.

Em 2022, a Coreia do Sul tornou-se a décima nação do mundo a lançar um satélite recorrendo a tecnologia própria e através de um foguetão desenvolvido internamente para colocar em órbita um aparelho denominado "satélite de observação de desempenho".

Especialistas citados pela agência de notícias norte-americana Associated Press (AP) disseram ser "económico utilizar um foguetão SpaceX para lançar um satélite espião e que a Coreia do Sul precisa de mais lançamentos para garantir a fiabilidade de um foguetão".

A Coreia do Norte também quer adquirir uma rede própria de vigilância espacial para responder ao que identifica como ameaças militares colocadas pelos Estados Unidos e pela Coreia do Sul.

Depois de dois lançamentos falhados no início de 2023, a Coreia do Norte colocou o satélite espião Malligyong-1 em órbita, a 21 de novembro.

Desde então, o país afirmou que o satélite transmitiu imagens de locais importantes nos EUA, incluindo a Casa Branca e o Pentágono, e na Coreia do Sul. No entanto, não divulgou nenhuma dessas fotografias de satélite.

Peritos estrangeiros disseram duvidar que o satélite norte-coreano possa transmitir imagens de relevância militar, referiu a AP.

No final de março, o vice-diretor geral da Administração de Tecnologia Aeroespacial da Coreia do Norte, Pak Kyong-su, afirmou que Pyongyang deverá lançar este ano vários outros satélites de reconhecimento.

Durante uma conferência política no final de dezembro, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, prometeu lançar mais três satélites espiões militares em 2024.

A ONU proibiu a Coreia do Norte de efetuar lançamentos de satélites, considerando serem testes disfarçados de tecnologia de mísseis de longo alcance.

O lançamento de novembro agravou as tensões na península coreana, com Pyongyang e Seul a tomarem medidas que violam o acordo de 2018 para reduzir as tensões militares.

Nos últimos anos, a Coreia do Norte tem estado envolvida numa série de testes de mísseis para modernizar e expandir o arsenal de armas do país, levando os Estados Unidos e a Coreia do Sul a reforçar os exercícios militares conjuntos.


Cabo Verde promove hoje conferência internacional sobre democracia

© Lusa

POR LUSA   08/04/24 

A principal ilha turística de Cabo Verde, Sal, acolhe hoje e terça-feira uma conferência internacional sobre "Liberdade, Democracia e Boa Governança" com um conjunto de convidados.

O primeiro painel inclui uma mensagem em vídeo pelo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, uma intervenção 'online' do ex-primeiro-ministro português, António Costa, e a presença do primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada.

Os três intervêm no primeiro painel sobre o tema "Comunicações: Fazendo a Democracia Funcionar".

Antes, os discursos de abertura serão feitos pelos representantes da União Europeia (UE), do secretário-geral das Nações Unidas e da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e pelo primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva.

O programa inclui mais de 20 oradores, sendo que "Democracia e Estado de Direito" e "Democracia e Liberdades Religiosa" serão os outros temas do primeiro dia.

O segundo dia será dedicado ao debate sobre promoção da integridade de informação e promoção da boa governança e a transparência na gestão da divida pública.

No final, será apresentada a Declaração do Sal, "sobre como proteger os direitos humanos, promover as liberdades, fortalecer as democracias e a boa governança em África e no mundo".

O Governo perspetiva receber entre 200 a 250 pessoas para o evento,

Rui Figueiredo Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros cabo-verdiano, classificou, na sexta-feira, a democracia como o "grande ativo" do arquipélago, ao justificar a organização do evento.

"A nossa democracia tem sido, ao longo dos tempos, um fator de grande estabilidade e tem criado as condições" para o desenvolvimento do arquipélago: "não tendo riquezas minerais naturais, uma das principais riquezas é a sua estabilidade, uma zona de paz onde a democracia funciona", referiu.



Leia Também: "Cabo Verde é um Estado oceânico. O país tem de voltar-se para o mar e tem de fazer uma gestão sustentável de todos os recursos disponíveis", disse José Maria Neves, em Madrid. 



domingo, 7 de abril de 2024

Número de pessoas sem-abrigo aumentou 25% em Lisboa. Há mais de 530 pessoas a viver na rua só na capital

O número de pessoas sem-abrigo em Lisboa aumentou 25%. Muitos chegam de países como o Brasil, Índia ou o Nepal, Marrocos e Gâmbia. Vêm à procura de uma vida melhor e acabam a dormir na rua, muitas vezes lado a lado com portugueses que não conseguem mais pagar a renda de uma casa. 

Por Filipa Calado  cnnportugal.iol.pt

Portugal: Crescimentos das desigualdades preocupa trabalhadores cristãos

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POR LUSA   07/04/24 

Os movimentos da ação católica operária de Portugal e Espanha manifestaram hoje preocupação com "o crescimento das desigualdades, o empobrecimento, a falta de emprego digno e a situação dos direitos laborais e sociais".

Para a Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos de Portugal e a Irmandade Operária de Ação Católica de Espanha, esta preocupação estende-se também "ao futuro do trabalho imposto pelas novas tecnologias e pela precariedade, já que tudo isto impede muitas pessoas de desfrutar de uma vida digna".

As duas estruturas estiveram reunidas em Plasencia, Cáceres, nos últimos três dias e hoje, no comunicado final da reunião, deram conta de que no encontro foi abordada ainda "a situação de guerra e a normalização da inumanidade, bem como a ascensão da extrema-direita em diferentes países, o que significa um aumento de políticas contrárias à fraternidade e propensas a promover o ódio e a divisão entre diferentes povos".

As duas estruturas ibéricas de trabalhadores cristãos sublinharam "a importância das organizações locais, políticas e sindicais, que criam consciência e articulam a participação e o compromisso (...), reafirmando a democracia e o papel fundamental das instituições na mesma".

Na conferência bilateral de três dias, foi ainda sublinhado que "a Igreja está a viver um momento histórico com o processo sinodal que (...) impele a uma maior corresponsabilidade e a trabalhar pela igualdade das mulheres no seio da Igreja, (...) a abrir-se a um maior diálogo com o mundo, a crescer em proximidade, em simplicidade e no compromisso com a realidade".

"Temos esperança de que essa mudança nos conduza a uma Igreja mais autêntica e comprometida com os últimos", concluíram os participantes na reunião.

A LOC/MTC Portugal, cuja direção é coordenada por Américo Monteiro, tem estruturas locais na maioria das dioceses, que vão acompanhando o mundo do trabalho a partir de uma perspetiva cristã.

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Arquipélago dos Bijagos: UNO – UMA ILHA “FANTASMA” COM A POPULAÇÃO ABANDONADA SEM ESCOLA NEM TRANSPORTE

Fonte: O DEMOCRATA  07/04/2024 

[REPORTAGEM] A ilha de Uno é uma das ilhas que faz parte da região de Bolama Bijagós e que, à semelhança das outras ilhas do arquipélago, torna-se a cada dia uma “ilha fantasma” com a sua população abandonada pelo governo e deixada a sua sorte para sobreviver. A ilha enfrenta enormes dificuldades de circulação, de acesso aos produtos da primeira necessidade e com fraco nível de cobertura de serviços das telecomunicações. 

As infraestruturas administrativas estatais encontram-se completamente em ruínas. A ilha dispõe de um posto da Polícia da Ordem Pública sem condições, o porto em pedaços e sem iluminação. Conta igualmente com uma estrutura sanitária do tipo C, que cobre toda área sanitária da ilha, mas não tem sequer um único médico. 

CRIANÇAS CAMINHAM DIARIAMENTE CERCA DE 30 QUILÓMETROS PARA TER ACESSO A ESCOLA

A agricultura, a pesca artesanal, a exploração florestal e de moluscos são uma das atividades praticadas pela população local, mas a exploração de moluscos é exercida praticamente por mulheres, que agora são contratadas por outras aldeias para explorar estes produtos e vendê-los diretamente a eles (senegaleses, gambianos) principalmente, gandhi.

Uma equipa de reportagem do jornal O Democrata visitou as diferentes comunidades, com destaque para Bruce, situada a 18 quilómetros da zona central da ilha, onde se encontra o liceu e o centro de saúde. O jornal descobriu que os alunos são obrigados a percorrerem diariamente o dobro dessa distância para terem o acesso à escola. As mulheres, para terem acesso à área sanitária local têm que fazer o mesmo, caso contrário não podem ter o acesso aos cuidados médicos. Em caso de emergência, recorrem às pirogas dos pescadores para evacuação para Bubaque, o que torna os pacientes expostos às contaminações.

Apurou o semanário que existe apenas uma piroga (pertença de uma das comunidades religiosas cristãs), que tem ajudado a população de Uno. A piroga faz ligação Uno-Bissau uma vez por semana, e vice-versa. Sai de Uno na sexta e volta na segunda-feira e cada passageiro paga quatro mil (4000) francos CFA. A ligação Uno-Bubaque varia de 2000 a 2500 francos.

Em entrevista ao jornal O Democrata, o comité da aldeia de Bruce, Carlitos Gomes Quelefa, revelou que a tabanca está a deparar-se com muitas dificuldades, nomeadamente na componente de saúde e a distância de 18 quilómetros que percorrem diariamente para terem o acesso   ao liceu e ao único centro de saúde localizados na aldeia de AN-Onho é outro dos sacrifícios que têm de enfrentar. Acrescentou que a tabanca não tem nenhuma estrutura sanitária e que os medicamentos são comprados apenas no posto central.

“É preocupante a situação em que nos encontramos. Se tiver uma grávida em trabalho de parto, ou a precisar de uma assistência urgente de uma parteira, somos obrigados a recorrer a motas. Imagina se tiver uma grávida ou um doente em estado grave, só Deus. Não temos na comunidade sequer uma única piroga para as emergências. Às vezes, recorremos às pequenas embarcações dos pescadores, as canoas da pesca artesanal para transportar doentes. As nossas crianças fazem quilómetros e quilómetros para terem acesso à escola. Não temos aqui nenhuma escola e o Estado deveria ter-se preocupado com essa situação. É um direito que nos assiste”, criticou.

Afirmou que a aldeia não tem eletricidade, não tem energia solar para iluminação, nem a presença de forças de segurança ou elementos da Ordem Pública, nem água potável, como também as bolanhas enfrentam a filtração da água salgada, tornando mais difícil a sobrevivência através da produção agrícola.

“Queremos pedir ao Estado que nos ajude com um centro de saúde e que construa furos de água potável. São centro das nossas maiores dificuldades. A sobrevivência aqui é arriscada. A água que bebemos não é boa para a saúde humana e tem criado problemas e dores de barriga, tanto às crianças quanto aos adultos. É urgente resolver essa situação o mais rápido possível”, defendeu.

O comité mostrou-se preocupado com a fuga de jovens para Bubaque e Bissau à procura de conhecimento científico e de melhores condições de vida, porque “estes reúnem condições e têm infraestruturas escolares para continuarem os seus estudos”.

Disse que essa situação cria muitos problemas aos pais, porque fazem um esforço redobrado para poder assegurá-los longe de casa.

Questionado sobre as atividades de fiscalização da pesca atendendo que as ilhas que compõem o setor de Uno fazem parte da Reserva da Biosfera de Bolama Bijagós, o Parque Nacional de Orango (PNO), Carlitos Quelefa afirmou que praticam atividade de pesca sem problemas, porque “conhecem as regras do parque, embora sejam violadas. Por isso quando há fiscalização naquela zona, os pescadores escondem-se das autoridades ou dessas entidades”.

MULHERES DE UNO REFUGIAM-SE À EXPLORAÇÃO DOS MOLUSCOS PARA GARANTIR O SUSTENTO DOS FILHOS

Interpelado pela repórter de O Democrata, a antiga matrona da comunidade de Ossocom, Segunda Paulo Odunte, revelou que as mulheres dessa zona refugiam-se à exploração dos moluscos (lingron, Ostras, Gandi e Combé), bem como à tecelagem de palhas como forma de continuar a garantir o sustento da família e pagar a escola dos filhos, além da atividade agrícola.

O semanário apurou que um quilograma de Combé custa 1.250 franco CFA na época da seca, e na época das chuvas o preço varia de 1500 a 1600 francos CFA por quilograma, o que faz muitas mulheres optarem mais para essa atividade do que a agricultura, que está ameaçada devido a fatores de alteração climática, o acesso atempado às sementes e o transporte para evacuar os produtos da agricultura para a cidade ou outros centros comerciais do país.

Segunda Paulo Odunte explicou que no passado, fazia o papel de parteira tradicional, assistindo as mulheres grávidas, dava conselhos às gravidas durante a gestação e no parto. Revelou que na aldeia havia um posto construído pela própria comunidade onde trabalhava (ela) e mais duas mulheres e um agente de Saúde Comunitária, mas todo o serviço era gratuito. Apenas recebiam de uma organização incentivos de arroz, também formação para assistir a comunidade.

“Estávamos praticamente todo o tempo no pequeno posto, porque era no centro da aldeia. Trabalhávamos com velas, gostávamos do que fazíamos porque éramos reconhecidas pela própria comunidade, mesmo sem dinheiro. Já não fazemos este trabalho, porque não temos formação específica para tal e toda a atividade que fazíamos agora é feita apenas no centro. A distância para o posto é muita coisa e muitas grávidas fazem-na em condições difíceis, algumas acabam dando à luz pelo caminho”, disse.

Alertou para a existência de fome, afirmando que a comunidade está a enfrentar uma crise de fome, por falta de bolanhas em condições que permitam a cada família ter o que comer por alguns meses. Outro fator apontado tem a ver com a falta de transporte que ligue Bissau à ilha de Uno.

“Na ilha de Uno, mesmo tendo dinheiro é difícil conseguir comprar algo para comer, devido à falta de transporte e o comércio nesta localidade é quase nulo. As bolanhas são a nossa única confiança, mas nos últimos tempos estão todas abraços com água salgada e   a agricultura não está a ser uma opção, devido a vários fatores, nomeadamente a falta de chuva, de sementes e os animais estragam frequentemente as culturas da população”, indicou.

Segunda Paulo Odunte lamentou a falta de água, o que obriga as mulheres a descerem às bolanhas para conseguirem água, que também passam por vários processos, horas e horas para ser utilizada.

“A nossa água é muito poluída. Parece argila moída na água e não dá, tanto para a cozinha como para beber. Temos que passá-la por vários processos como filtragem para o consumo. Não temos escola, as crianças são obrigadas a percorrer todos os dias uma distância insuportável para terem acesso à escola para estudar. Vivemos no obscurantismo, na escuridão total porque não há energia”, lamentou, assinalando que as mulheres da comunidade têm, nos últimos tempos, recorrido à tecelagem de palhas e apanha de moluscos (ostras, ligron, combé e gandi), que são defumados e depois vendidos em Bissau e noutras ilhas.

“Nos últimos tempos a procura desses moluscos pelos cidadãos dos países vizinhos, nomeadamente Senegal, Gâmbia e Guiné-Conacri tem aumentado e as mulheres preferem vendê-los a cidadãos destes países diretamente no terreno para reduzir os riscos de perda. Também está em causa o tempo de conservação do produto e o custo de transporte para Bissau”, esclareceu.

“A minha neta está numa ilha. Leva consigo panelas e fica por lá muitos dias à procura de Combé e Gandhi para vender aos estrangeiros. Essa nova forma de trabalhar dá-lhes muito dinheiro do que vender seus produtos em Bissau”, contou sem, no entanto, dizer o valor.

Por sua vez, o comité da aldeia de Ossocom, Victor José da Gama, afirmou que a comunidade sob sua jurisdição está a enfrentar dificuldades em quase todos os domínios, nomeadamente saúde, escola e água potável. Recorrem à água de bolanhas para consumir, porque “reúne condições para o consumo humano”.

O responsável da tabanca de Uno informou que a população daquela aldeia vive através de atividade da pesca e de apanha da ostra e do Combé e todo o rendimento que conseguem é canalizado para comprar alimentos e pagar a escola das crianças.

Apesar do Combé ser rentável para as mulheres, a prática tradicional da etnia bijagó exige a sua conservação, porque “o Combé é usado para o casamento, o fanado e noutras atividades tradicionais locais, razão pela qual é aplicado esse método de conservação para a geração vindoura, bem como evitar a sua extinção.

Uno é uma das ilhas onde mais se explora o combé, porque “as ilhas do setor de Uno são as que mais têm este tipo de molusco”.

“Na nossa tabanca, a escola funciona de pré à primeira classe e quando as crianças transitam da primeira para o segundo ano de escolaridade, fazem dois quilómetros todos os dias para ter acesso à escola na tabanca de Anghané ou num posto mais próximo, um quilómetro e meio. O centro de saúde, também a mesma coisa, um quilómetro e meio dia e noite. As grávidas e doentes em estado grave são coletados e transportados em canapés”, lamentou.

No que diz respeito à questão de segurança e conflitos entre as aldeias, informou que são mediados internamente, porque “a maior parte de conflitos deriva-se dos animais que estragam os cultivos”.

“Nos últimos tempos, na qualidade do responsável da tabanca, aconselhamos os donos de gado e outros animais a construírem lugares adequados para colocar os seus animais”, disse, lembrando que a tabanca tinha um posto de atendimento às grávidas, financiado pela ONG Manitese, onde trabalhavam agentes da saúde base.

“Eu e o meu colega trabalhamos no posto como enfermeiros. Tínhamos três mulheres na equipa que desempenhava o papel de parteiras e faziam um trabalho excelente, porque tinham materiais para tal e em contrapartida recebiam arroz, óleo alimentar, carne enlatada e outros produtos que ajudavam muito na manutenção e no funcionamento do posto. O posto deixou de funcionar e as gravidas fazem quilómetros e quilómetros para dar à luz”, narrou, frisando que as doenças mais frequentes naquela tabanca são o paludismo, as diarreias e a gripe.

ÁREA SANITÁRIA DE UNO SEM MÉDICO FORMADO, NEM MEIOS DE EVACUAÇÃO DE DOENTES

O centro de saúde de Uno funciona em condições precárias, embora em relação a outros centros esteja bem conservado e a funcionar com energia solar. O centro de tipo C conta com três técnicos, dois enfermeiros e uma parteira, mas não tem médico. Esta equipa de técnicos cobre 31 aldeias e é apoiada por 13 Agentes de Saúde Comunitária (ASC). Dispõe de um serviço de maternidade, a consulta externa, farmácia e uma mota carro que faz o papel da ambulância para evacuação de doentes e grávidas, mas neste momento está inoperacional devido a uma avaria.

O responsável da Área Sanitária de Uno, Zito Nunes, disse que o centro enfrenta enormes dificuldades, começando pela fraca capacidade da produção de energia solar e as baterias estão esgotadas, não conseguem aguentar.

“O centro não tem   água potável. Os técnicos e os doentes recorrem a fontanários como alternativa”, afirmou.

O semanário soube que as análises são realizadas no hospital de Bubaque. São retiradas as amostras e depois enviadas para Bubaque, mas a geladeira de conservação tem funcionado e facilitado a conservação dos medicamentos e das amostras.

As doenças mais frequentes no setor são o paludismo e infecções respiratórias agudas. O centro de saúde tinha um moto-carro que fazia transporte dos pacientes das tabancas para o centro, mas estragou-se e neste momento tem motorizadas simples para fazer trabalhos estratégicos  nos postos avançados e a vacinação das crianças, consultas de grávidas e crianças das aldeias mais longínquas, que não têm acesso rápido ao centro de saúde, nomeadamente Cabuno, Bruce, Ancamona, entre outras.

“Recebemos medicamentos de três em três meses do hospital de Bubaque. Realizamos vacinas a cada mês nas tabancas que fazem parte da ilha e neste momento temos um stock de medicamentos”, contou.

No que diz respeito à prevalência de HIV-Sida, informou que a prevalência diminuiu, porque houve a participação e/ou adesão massiva das pessoas ao tratamento, a população tem aderido ao tratamento e planeamento familiar. A prevalência do SIDA é mais na faixa etária dos 25 anos.

Relativamente à despistagem de cancro, Zito disse que fazem a avaliação de cancro de mama que também não é frequente naquela zona insular do país, assegurando que a direção regional de saúde tem feito diligências para fazer chegar a todas as aldeias o direito à saúde, razão pela qual todos meses os técnicos fazem cinco saídas em colaboração com os 13 agentes da Saúde Comunitária. Admitiu que não têm condições para evacuar doentes.

“Havia um projeto que financiava a evacuação das grávidas em estado grave de Uno para Bubaque, mas já terminou o projeto há quase um ano e neste momento se precisarmos de evacuação temos que procurar um transporte ou pedir boleia como aconteceu com a vedeta que trouxe os medicamentos do projeto PIMI III, que nos ajudou a evacuar uma grávida para o Hospital de Bubaque, porque precisava”, contou.

De acordo com os dados do centro de Uno, em 2023 foram registados três óbitos a nível da saúde materno infantil, e neste ano ainda não se registrou nenhum caso e nenhum óbito, uma situação que se deve, em grande medida, à determinação não só dos agentes de saúde comunitária, como também da própria população que se tem mobilizado à procura de tratamento.

O centro de saúde dispõe de uma pessoa de limpeza que é pago com as receitas internas e os 13 agentes de ASC são suportados por um projeto. No que diz respeito às consultas, às crianças de 7 aos 14 anos pagam consultas no valor de 100 franco CFA, dos 15 aos 49 anos pagam 250 franco CFA, a partir dos 50 anos as consultas são gratuitas como também os menores de 0 a 6 anos e as grávidas não pagam.

O técnico lamentou a falta de incentivo do Estado perante a situação dos seus funcionários que trabalham numa zona isolada, sem subsídio de risco sobretudo para pessoas que trabalham nas ilhas, e que auferem um péssimo salário.

Por: Epifania Mendonça