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Por LUSA 08/09/22
O Alto-Representante da União Europeia (UE) para a Política Externa considerou hoje que a Europa é o "parceiro fiável" de África face à Rússia e que a guerra na Ucrânia prejudica o continente e o resto do mundo.
Num artigo de opinião publicado no jornal queniano Daily Nation, Josep Borrell salientou que África é um "continente vibrante" que está a forjar o seu futuro através da transformação digital, de uma agricultura mais eficiente e sustentável, da construção de infraestruturas, do reforço da segurança e do investimento na sua juventude.
"Por esta razão, propomos que a Europa seja o parceiro de escolha da África", disse o alto-representante, que hoje inicia uma viagem a Moçambique que o levará também ao Quénia e à Somália, salientando que "o investimento europeu em África é mais de cinco vezes maior do que o da China".
No entanto, acrescentou, o futuro do mundo está ensombrado pelas "consequências devastadoras da guerra da Rússia contra a Ucrânia sobre a segurança alimentar, os preços da energia, a dívida e a insegurança".
A guerra afeta toda a gente, mas "África é uma das suas principais vítimas colaterais", referiu o chefe da diplomacia europeia, que admitiu que "alguns países africanos olham para esta guerra de uma perspetiva diferente" da UE.
Borrell disse ainda que a UE e o continente africano podem chegar a acordo sobre "quatro pontos fundamentais".
O primeiro é que "a Europa, a África e o mundo inteiro não podem aceitar um mundo de 'poder faz bem', onde grandes potências podem reivindicar 'esferas de influência' e atacar os vizinhos para anexar o seu território".
O alto-representante propõe defender e revitalizar a ordem multilateral, daí o seu apoio à exigência do continente de que a União Africana tenha um assento no G20, grupo de 20 países desenvolvidos e emergentes.
Em segundo lugar, defendeu "o alívio da crise alimentar" em muitos países africanos, causada em parte pela disputa na Ucrânia, um importante fornecedor de cereais para o continente.
"Outros tentam distrair a atenção da sua responsabilidade culpando as sanções da UE [à Rússia]. Mas estes não proíbem os países africanos de importar e transportar produtos agrícolas russos ou de pagar por eles. A guerra é o problema", argumentou.
O terceiro ponto é intensificar o trabalho conjunto para preservar a segurança do continente africano, e neste campo, a UE é o "parceiro mais fiável" de África, apoiando 11 missões de manutenção da paz, disse.
"A Rússia contribui com 78 pessoas de segurança para as operações de manutenção da paz da ONU em África, em comparação com os 6.000 da UE. Mas a Rússia também contribui para a deterioração da situação de segurança em África com várias centenas de mercenários de empresas militares privadas, como vemos no Mali e na República Centro-Africana", acrescentou Borrell.
Finalmente, o chefe da diplomacia europeia considera que "África e a Europa devem continuar a preparar-se para o futuro, e não regressar ao passado".
"Embora o colonialismo seja uma mancha indelével na consciência da Europa, enfrentar a nossa responsabilidade pelo passado fez de nós melhores parceiros para o futuro. A Europa está a olhar para África com novos olhos: com otimismo e confiança", referiu.
O chefe da diplomacia da UE começa hoje uma visita de dois dias a Moçambique, em que vai reunir-se com o Presidente, Filipe Nyusi, e entregar equipamento não bélico para apoiar o combate em Cabo Delgado.
Na sexta-feira, Borrell vai visitar a Missão de Formação Militar da União Europeia (EUTM Moçambique), no campo de treino da Katembe, margem sul de Maputo, "onde vai testemunhar a cerimónia de entrega de equipamento financiado pelo Mecanismo de Paz Europeia".
A missão apoia o treino de unidades de reação rápida das Forças Armadas de Defesa de Moçambique e conta com 119 membros de 12 países.
Portugal assume o comando da missão e é o país com o maior contingente, atualmente de 68 militares dos três ramos das forças armadas e GNR.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Há cerca de 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.