Por Jorge Herbert
Os povos originários do Saara entraram na Guiné através do «corredor» do Gabu. «Papéis, manjacos, brames, balantas e beafadas, entraram em contacto uns com os outros ao atravessar o citado corredor, explicando-nos assim o facto de os beafadas se dizerem parentes próximos dos balantas e papéis, e vice-versa».
Por outro lado, a arte bijagó revela extraordinárias semelhanças com a arte rupestre do Saara, a indiciar uma origem saariana para os bijagós.
OS FULAS
Com a progressão do deserto do Saara, a partir de certa altura, os próprios pastores bovídeos são obrigados a partir. Estes povos, considerados os antepassados dos fulas, acabaram por se instalar no Boro, Tekrur e Macina e, mais tarde, no Futa-Djallon. É a partir daqui que eles se deslocarão, mais tarde, para o território que atualmente constitui a Guiné-Bissau.
OS MANDINGAS
Na sucessão de todos estes impérios (Ghana, Mali e Songhai), os grupos populacionais miscigenaram-se, adquirindo características culturais comuns.
A Guiné recebeu influências destes três impérios, tendo feito parte integrante dos dois últimos.
Os mandingas, como já vimos, entraram no país principalmente durante a vigência do Império do Mali.
OS PAPEIS
Mecau, filho de um rei de Quínara, andando à caça, chegou à ilha de Bissau. Gostou muito do lugar e resolveu aí instalar-se.
Trouxe, depois as suas seis mulheres e também a sua irmã mais velha, já casada. A irmã garantia-lhe a sucessão, de acordo com o costume, segundo o qual é o sobrinho, filho da irmã mais velha, e não o filho do rei, quem sucede ao trono.
Mecau seria, pois, o primeiro rei de Bissau.
Da sua irmã e das seis mulheres ter-se-iam originado as sete gerações (clãs) da etnia papel.
Pungenhum, a irmã de Mecau gerou o clã Intchassu, no plural Bissassu, donde se teria originado o nome Bissau. De facto, este clã ainda hoje habita na cidade de Bissau. Os indivíduos desta geração diziam-se bravos como a onça e, por isso, escolheram o apelido Nanque. Hoje também usam o apelido Ié. Ocupavam posições de mando: eram reis, fidalgos ou djagras
Mala, uma das seis mulheres, gerou o clã Intsó (plural: Bitsó) que povoou Bandim. As pessoas desta geração escolheram como totem o sapo – Có – porque se dedicavam à agricultura, andavam metidos na água como os sapos.
Intsoma, outra mulher, gerou o clã Indjokomo, no plural Bidjokomo, que povoou o Alto Crim. Tinham como totem a hiena – Cá – pois eram destemidos guerreiros, atacavam como as hienas.
Djokom, a terceira mulher, gerou o clã Intsafinte, no plural Bitsafinte, que povoou Safim. Usavam como totem a lebre – Té – pois diziam-se matreiros como a lebre.
Kliker, a quarta mulher, originou o clã Iga, no plural Biga, que povoou Kliker (atualmente Calequir). Esta geração escolheu como totem a cabra do mato – Sá – pois afirmavam serem rápidos como este animal.
Intende, a quinta esposa, gerou o clã Intsutu, no plural Bitsutu, que povoou Mindara. Usavam como totem o timba ou urso formigueiro – Djô.
Finalmente, Intchopolo, a sexta mulher, gerou o clã Intsalé (plural: Bitsale) que foi para Bissalanca. Esta geração escolheu como totem o macaco – Indi – pois eram hábeis a subir às palmeiras, para extraírem o vinho de palma.
Dos locais onde viviam estes clãs, irradiaram depois para todos os pontos da ilha, sem discriminação.
Uma lenda corrobora a ligação que teria existido entre papéis e beafadas: dizia-se que, quando era abatido um animal no Irã de Quínara, aparecia sangue desse animal na Baloba de Bissau. Neste caso a tradição oral mistura-se com a superstição, retirando credibilidade à informação. Mas, digamos que esta lenda foi «inventada» por alguém que reconhecia haver laços de parentesco entre papéis e beafadas.