© Shutterstock. noticiasaominuto.com 03/11/2025 A família da mulher de 36 anos e da bebé recém-nascida que morreram no Hospital Fernando da Fonseca, também conhecido por Amadora-Sintra, desmente a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, que afirmou em pleno Parlamento que a grávida "não teve acompanhamento até à data em que entrou" no hospital.
À SIC Notícias, a família revelou que Umo Cani estava a ser acompanhada nos cuidados de saúde primários antes de ser encaminhada para o Amadora-Sintra e que já tinha, inclusive, ido a quatro consultas e feito vários exames, entre os quais ecografias.
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O canal de televisão de Paço de Arcos teve acesso a documentos oficiais onde é possível comprovar que a paciente realizou consultas e exames no Centro de Saúde de Agualva-Cacém, o que contradiz as declarações iniciais de que não haveria acompanhamento prévio.
À SIC Notícias, Paloma Mendes, amiga da vítima, revelou ainda que a mulher já vivia em Portugal há um ano e que foi à Guiné-Bissau visitar o marido. Quando regressou a Portugal grávida já estava no início do segundo trimestre da gravidez.
Quanto às declarações da ministra da Saúde, tanto família como amigos consideram terem sido "infelizes" e levantam questões sobre a comunicação entre os serviços e a informação prestada pelas autoridades de saúde. Mas vamos à cronologia do caso.
31 de outubro
A CNN Portugal revela que uma grávida, de 36 anos, morreu durante a madrugada de sexta-feira, 31 de outubro, no Hospital Fernando da Fonseca, conhecido como Amadora-Sintra, depois de ter sido mandada para casa no dia antes, apesar de ter sido diagnosticada com hipertensão. Foi feita uma cesariana de urgência e os médicos conseguem retirar o bebé, com vida, mas em estado muito grave.
O hospital garante, em comunicado, que foram cumpridos todos os protocolos. Porém, avança com um inquérito interno ao caso.
Pouco depois, ao início da tarde desse mesmo dia, o direitor do Serviço de Ginecologia e Obstétrica do Amadora-Sintra afirmou aos jornalistas que Umo Cani tinha chegado há pouco tempo a Portugal e que "o seguimento da gravidez não foi o seguimento ideal". O responsável realçou ainda que o episódio de hipertensão diagnosticado era "muito ligeiro", pelo que a mulher foi mandada para casa.
A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) anuncia um processo de inquérito e a Entidade Reguladora da Saúde abre um processo de avaliação com o mesmo objetivo.
Ainda durante o dia, surge a possibilidade de haver atrasos também no socorro à grávida. O pedido de socorro foi feito às 00h28 e a chegada ao hospital às 01h48.
Entretanto, no Parlamento, a ministra da Saúde, confrontada com mais esta polémica, reiterava a sua permanência no cargo e tecia comentários que acabaram por gerar ainda mais controvérsia.
"Maioritariamente são grávidas que nunca foram seguidas durante a gravidez, que não têm médico de família, recém-chegadas a Portugal, com gravidezes adiantadas e algumas nem falam português ou foram preparadas para acionar o socorro. Por vezes, nem telemóvel têm", descreveu Ana Paula Martins sobre o aumento do número de partos fora do hospital.
Já ao final do dia, a RTP avançou com a informação de que o Ministério Público (MP) também tinha aberto um inquérito ao caso.
1 de novembro
Um dia depois de a grávida ter morrido, as reações começam a surgir - nomeadamente, por parte de líderes políticos, com PS e Chega a pedirem o apuramento de responsabilidades.
No Dia de Todos os Santos, o Amadora-Sintra anunciou que o o bebé também não sobreviveu. Era uma menina e encontrava-se desde o seu nascimento "em coma profundo", "sem qualquer reflexo neurológico", tendo ao início da manhã do dia 1 de novembro iniciado quadro de hipotensão e bradicardia progressivas que culminaram na sua morte".
Nesse dia, numa nota enviada à agência Lusa, a ministra da Saúde apresentou as condolências à família, "partilhando a dor por esta tragédia".
2 de novembro
Começam a surgir novas informações. O Correio da Manhã revela o nome da grávida que morreu e dá conta de que Umo Cani era, afinal e ao contrário do que a ministra da Saúde e o hospital tinham dito, acompanhada no SNS desde julho, algo que o Amadora-Sintra só confirmou 48 horas após óbito.
A administração do Hospital de Amadora-Sintra acaba por reconhecer o erro. Segundo o comunicado da administração hospitalar, a mulher fez duas consultas de vigilância de gravidez, em 14 de julho e 14 de agosto, tendo realizado consultas de obstetrícia no Hospital Fernando Fonseca, na Amadora, nos dias 17 de setembro e 29 de outubro, esta última dois dias antes de morrer.
A administração daquela ULS realçou que esta informação do acompanhamento desde julho foi hoje [domingo] transmitida à ministra da Saúde, Ana Paula Martins, e que as declarações feitas pela governante, na Assembleia da República, onde disse que a mulher não tinha tido acompanhamento prévio, tiveram "por base informação e o comunicado emitido pela ULSASI, que se referia ao episódio em concreto que antecedeu o desfecho fatal, que teve lugar no dia 31 de outubro, no Hospital Fernando Fonseca".
Ao mesmo tempo, em declarações à SIC e à CMTV, familiares e amigos da mulher não só garantem que a gravidez estava a ser acompanhada naquela unidade de saúde e que Umo Cani vivia em Portugal há um ano, legalmente, como mostram provas do que dizem.
Aguarda-se agora as conclusões das investigações que estão a decorrer, assim como os resultados das autópsias.